Essa postagem é uma espécie de filhote tardio do Plano Crítico. Eu e Ritter temos esse projeto desde há muito tempo e, agora, depois de muito suor sulfúrico ritteriano, conseguimos realizá-lo. O propósito aqui é ranquear todos os vencedores do Oscar de Melhor Filme, desde a vitória dupla de 1929 até a vitória chocante de 2020. Isso significa que, em breve, essa versão da lista estará “desatualizada“, mas este é o tipo de datação que acomete a maioria dos rankings. No futuro, é claro que podemos fazer uma outra colocação, talvez quando chegarmos ao 100º vencedor. Cruzaremos esta ponte quando chegarmos lá. Por enquanto, ranquearemos apenas os 93 longas que receberam o prêmio máximo da Academia até o momento em que pensamos nessa classificação, ou seja, em março de 2021.
- Oscar de Melhor Filme: Os Vencedores Ranqueados – Parte 3
- Oscar de Melhor Filme: Os Vencedores Ranqueados – Parte 2
- Oscar de Melhor Filme: Os Vencedores Ranqueados – Parte 1
E como sempre, fica aqui a nossa advertência de praxe: se você ficou muito triste porque o seu vencedor favorito do Oscar não está na posição que você adoraria, peço que use e abuse do espaço de comentários nessa postagem para criar o seu próprio ranking! Não adianta chorar, espernear e xingar a gente porque a nossa lista não espelha a sua. Entre também na brincadeira, crie a sua versão da lista nos comentários e aí vamos falar sobre nossas escolhas, sobre concordâncias e discordâncias diante delas e sobre os filmes dessa premiação como um todo.
As poucas linhas que acompanham cada indicação são trechos das críticas do site, que podem ser lidas na íntegra, basta você clicar nos links. Vale também reafirmar aos desatentos que a presente lista foi feita sob um acordo de opiniões entre eu e Ritter Fan, e que as críticas para todos esses filmes não necessariamente foram escritas por nós dois.
Lembre-se: toda lista é opinião. E como em qualquer concordância ou discordância de opinião, você precisa apresentar algo em troca, respeitosamente, para que haja um debate. Apenas chorar pitangas e lamentar supostos absurdos não vai adiantar em absolutamente nada. Liste também, seja educado, proponha uma conversa! E vamos falar de cinema!
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25º Lugar: …E o Vento Levou
Gone with the Wind — 1939 / Direção: Victor Fleming, George Cukor, Sam Wood
…E o Vento Levou, apesar de suas inadequações da retratação da escravidão (isso para usar um eufemismo, claro), ainda é um excelente filme romântico, com temática forte para a época e, de certa forma, mesmo para os cínicos dias de hoje. É um fruto de seu tempo e a “obra hollywoodiana” por excelência, se é que essa classificação pode ser feita. No mínimo, merece a compreensão de todos os cinéfilos de que é um tipo de obra que os ventos que a fizeram não sopram mais.
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24º Lugar: Parasita
Gisaengchung — 2019 / Direção: Bong Joon Ho
Duas famílias são o foco deste enredo. Os Kim, família pobre que vive de dobrar caixas de pizza e que mal possui dinheiro para comer; e os Park, família muito rica que acaba empregando, por indicação, o jovem Ki-woo (Woo-sik Choi), que se torna tutor de inglês da filha mais velha dos abastados, a insegura Da-hye (Ji-so Jung). Uma diferença de classes sociais é imediatamente exposta pelo roteiro, que primeiro ressalta um lado não muito conhecido ou mesmo escondido da Coreia do Sul — a pobreza, a periferia das enormes cidades — e depois usa dessa informação para criar um drama que, embora seja político e crítico, não pontifica sobre esse abismo social. O interesse do diretor é mostrar o meio marcando os indivíduos a ferro e fogo. E essa marca se dá aqui através do trabalho.
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23º Lugar: Moonlight: Sob a Luz do Luar
Moonlight — 2016 / Direção: Barry Jenkins
Moonlight: Sob a Luz do Luar é um inesquecível espetáculo intimista que tocará cada espectador de um jeito. Se o filme pode ser visto como sendo sobre a busca de uma identidade, ele nunca perde a sua, caminhando a passos largos na direção de um futuro incerto, mas carregado de vida, escolhas, imposições e, sim, amor.
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22º Lugar: Gandhi
Gandhi — 1982 / Direção: Richard Attenborough
Gandhi é um filme sobre uma pessoa e seu olhar para muitos povos. A obra nos coloca sua busca pela liberdade, pela igualdade e pela paz. É um daqueles filmes que precisam ser conhecidos e revistos de tempos em tempos, já que a humanidade parece não ter aprendido a lição que tantas vidas custou e sabe-se lá até quando esta cegueira bélica e desprezo dos Estados e grupos ideológicos para com humanos que são diferentes, ou que querem viver com dignidade e alcançar direitos que lhes são negados, ainda irá durar.
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21º Lugar: Forrest Gump, o Contador de Histórias
Forrest Gump — 1994 / Direção: Robert Zemeckis
A decisão de Zemeckis de repetir o plano-sequência da pena voando me parece a melhor possível, ao renovar o tom fabular e quase mágico de todas as histórias que Forrest nos contara sentado no banco da praça. É como se o diretor nos dissesse que nem seria preciso acreditar em tudo o que fora narrado. O que me parece relevante após terminar cada uma das sessões que já fiz de Forrest Gump é compreender o que somente uma história com um pé na realidade e outro na fantasia poderia nos dizer – que às vezes é preciso ser um tanto ilógico para ser saudável em um mundo tão doente.
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20º Lugar: Titanic
Titanic — 1997 / Direção: James Cameron
É uma tarefa tão prazerosa quanto surpreendente reconhecer e atestar a importância cultural e o poder influenciador de um fenômeno como o que foi, e ainda é, Titanic. Prazeroso por, a cada revisita, percebermos de que se trata de um dos projetos mais justificáveis em sua ambição já feitos, algo que começou à partir do posicionamento autoritário e tirânico de um nome já solidificado aquela época, James Cameron; e surpreendente por poucos dos espetáculos já idealizados para o cinema se igualarem a cinematografia majestosa de algo que, nos anos 90, assumiu a posição de produção mais cara já levada para a tela grande, nada menos que 200 milhões envolvidos na jogo entre brigas com produtores, elenco e um diretor que abriu mão de seu próprio cachê e tirou dinheiro do próprio bolso para permitir que tudo chegasse ao fim.
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19º Lugar: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance) — 2014 / Direção: Alejandro González Iñárritu
Preenchido por ironias como essa, Alejandro González Iñárritu nos traz uma verdadeira obra-prima, um retrato distorcido da indústria hollywoodiana e uma emblemática experiência cinematográfica. Seja para estar completamente imerso, seja para testemunhar uma atuação de se aplaudir de Michael Keaton, Birdman merece e deve ser visto na sala do cinema – trata-se de uma obra pensada e concebida com esse propósito e, somente assim, traz por completo o êxtase e o incômodo almejado.
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18º Lugar: Perdidos na Noite
Midnight Cowboy — 1969 / Direção: John Schlesinger
A marcação de momentos de quebra de paradigma é sempre perigosa, mas Perdidos na Noite foi o choque de realidade que Hollywood precisava explicitamente reconhecer em suas premiações para ajudar a abrir de vez suas portas para uma nova e desafiadora abordagem por pelo menos a década seguinte. Grandes obras e grandes personagens como os que vemos aqui podem e deve ter esse efeito e a amizade de Joe e Ratso, com toda sua dor e tragédia, é inesquecível.
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17º Lugar: Platoon
Platoon — 1986 / Direção: Oliver Stone
Quais são os verdadeiros inimigos da pátria, do homem? Um conjunto de perguntas dolorosas com as respostas mais pessimistas possíveis. Essa é uma guerra que nunca originaria um Capitão América, ou qualquer outro possível símbolo da “grandeza americana”, da verdade e da justiça. Que a Segunda Guerra Mundial seja a base para sustentar a filosofia de como os Estados Unidos são sensatos em sua luta por ideais inestimáveis. A Guerra do Vietnã é sua inabalável contra-argumentação.
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16º Lugar: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
Annie Hall — 1977 / Direção: Woody Allen
Annie Hall é um espetáculo de falsa simplicidade em todos os seus quesitos. Parece uma comédia romântica, mas é muito mais do que isso. Parece um filme comum, mas trabalha técnicas cinematográficas como nenhum outro até então. Há defeitos? Sim, talvez. Mas diante de seu conjunto, nem mesmo consigo me lembrar deles, se existirem. Vejam e revejam e depois revejam de novo. Isso é Cinema. O resto é la-di-da, la-di-da, la la.
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15º Lugar: Aurora
Sunrise — 1927 / Direção: F.W. Murnau
Um novo dia começava para o casal do filme. A esperança de uma vida melhor estava semeada… É com essa mensagem que ficamos após o término do longa e percebemos que “o novo começo” também se dava na realidade. Aurora marcava uma nova fase na carreira de Murnau e o diretor sabia que o filme era parte de um novo momento do cinema. Pois é. Aurora nasceu como obra especial por dentro e por fora. E depois de assisti-la, chegamos à conclusão de que ela permanece assim até os nossos dias.
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14º Lugar: Hamlet
Hamlet — 1948 / Direção: Laurence Olivier
A verdade, porém, é que Olivier teve a coragem – e a inteligência – de, respeitando o espírito de um clássico da dramaturgia mundial, criar uma obra instigante com traços autorais próprios. Ele foi ousado? Certamente! Ele foi herege? Não, mas se foi, aplausos para ele. A Sétima Arte precisa de mais hereges brilhantes assim. O resultado é uma das obras cinematográficas mais fantásticas já realizadas e uma das adaptações mais belas – quiçá a mais bela – de uma tragédia shakespeariana.
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13º Lugar: Golpe de Mestre
The Sting — 1973 / Direção: George Roy Hill
E, assim, no intervalo de apenas quatro anos, George Roy Hill colocou nas telonas duas obras-primas cinematográficas que até hoje mantem-se intactas e atemporais. Mesmo que seu nome fique esquecido nas sombras de sua recusa em se beneficiar da fama, seu legado é realmente impressionante, com Golpe de Mestre sendo, sem dúvida alguma, o ponto alto de sua razoavelmente breve carreira.
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12º Lugar: Dança com Lobos
Dances with Wolves — 1990 / Direção: Kevin Costner
Dança com Lobos é um filme que, apesar da trama central ser batida (a eterna releitura da história de Pocahontas), surpreende pelo conjunto composto pelo visual embasbacante, a trilha sonora arrebatadora, a direção eficiente de Costner, além de um elenco azeitado, que nos convence de cada papel, mesmo os mais caricatos e vilanescos. E, talvez o mais importante: ele nos faz refletir.
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11º Lugar: O Homem que Não Vendeu Sua Alma
A Man for All Seasons — 1966 / Direção: Fred Zinnemann
Retratando um dos mais significativos momentos da história britânica sob o ponto de vista de um grande homem, O Homem que Não Vendeu sua Alma é ao mesmo tempo uma aula de dramaturgia e Cinema e de estadismo em sua forma mais pura. Todo político ou pretendente a político deveria no mínimo ser obrigado a absorver as lições que o More de Scofield passa aqui (já que pedir que estudem Thomas More talvez seja demais para eles…). O mundo político com certeza seria melhor mesmo que apenas um décimo da moralidade e honestidade do personagem fosse internalizada.
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10º Lugar: O Silêncio dos Inocentes
The Silence of the Lambs — 1991 / Direção: Jonathan Demme
Assim como O Exorcista, é um dos raros casos de filmes de “terror” a participar de grandes premiações da indústria do cinema. Eu, particularmente, não consigo ver o filme na ótica do gênero terror, como muitos catalogam. Prefiro pensar num drama psicológico adornado por doses generosas de suspense. Visceral, brilhante, necessário e ainda assustador, O silêncio dos inocentes pode ter sido copiado numerosas vezes, mas dificilmente igualado.
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9º Lugar: A Lista de Schindler
Schindler’s List — 1993 / Direção: Steven Spielberg
Certamente, a cena mais emblemática de A Lista de Schindler é a que apresenta uma garotinha de vermelho em meio ao preto e branco até que ela se esconde em um refúgio diante dos olhos assustados de Schindler. Além do momento servir como um gatilho para o protagonista, Spielberg destaca que o sentimento, doçura e amor do mundo precisou esconder-se diante de uma das maiores atrocidades cometidas na história da civilização humana. Não foi o diretor que tirou as cores do ocorrido, mas sim os autores da guerra, pintando nossa biografia com pesados tons escuros. Até mesmo o diretor mais otimista de todos os tempos desistiu do colorido diante de tal história.
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8º Lugar: Um Estranho no Ninho
One Flew Over the Cuckoo’s Nest — 1975 / Direção: Milos Forman
Sem dúvida alguma, porém, os problemas existentes apequenam-se diante da quase perfeição técnica do trabalho de Forman e da relevância da narrativa sobre a eterna luta do Homem contra a conformidade, contra a rotina, contra o comodismo. Precisamos de mais MacMurphys para enfrentar as Enfermeiras Ratcheds que aparecem em nosso dia-a-dia.
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7º Lugar: Onde os Fracos Não Têm Vez
No Country For Old Men — 2007 / Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Mas a questão maior e mais espinhosa de Onde Os Fracos Não Tem Vez é: para onde a história nos conduz enquanto deixamos nosso rastro de ruína? A mensagem final não é nada otimista. O mal segue adiante. Prevalece e se renova. E seguimos com ele sem qualquer ponto de chegada. Somos todos como o xerife Ed Tom Bell e seu velho pai – cavalgando sem norte em um sonho banal.
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6º Lugar: Casablanca
Casablanca — 1942 / Direção: Michael Curtiz
Provando que clichês e estereótipos podem funcionar dentro de uma estrutura enxuta e que preza pela simplicidade, com roteiro e atuações inesquecíveis, Casablanca é uma joia da Sétima Arte, um filme que melhora a cada nova conferida. Here’s looking at you, kid.
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5º Lugar: O Poderoso Chefão II
The Godfather: Part II — 1974 / Direção: Francis Ford Coppola
A queda de Michael Corleone se faz completa em O Poderoso Chefão: Parte II, o personagem que era “fora da Família” se torna o líder dela e aqui acaba se isolando de todos a seu redor. Com uma cena que simboliza tal acontecimento – a festa surpresa de Vito – Coppola encerra esta segunda parte de sua trilogia. Diante de todos os elementos que dialogam com o primeiro filme, esta continuação, ainda assim, se sustenta como obra separada, única. Trata-se de um relato mais íntimo sob diversos aspectos, que garante uma maior sutileza não só no desenvolvimento do enredo, como na lenta transformação de cada personagem. Francis Ford Coppola não queria continuar a história de O Poderoso Chefão e acaba nos trazendo mais uma verdadeira obra de arte.
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4º Lugar: A Noviça Rebelde
The Sound of Music — 1965 / Direção: Robert Wise
A Noviça Rebelde encanta geração atrás de geração por trazer uma história de esperança, perseverança e inconformidade com embalagem de conto de fadas musicado que surpreende a cada canção, sem jamais ser repetitivo ou cansativo. Cada letra dos imortais compositores ganhou seu devido destaque sob as lentes precisas de Robert Wise, que soube ampliar o efeito de músicas enganosamente simples, como Do-Re-Mi ao retirá-la da formatação estanque da peça teatral e transformá-la em um passeio turístico por Salzburgo. Transformou Edelweiss em um hino anti-nazista com duas performances tocantes de Plummer. Divertiu plateias com as ótimas My Favorite Things, So Long, Farewell e Maria e as fez ficar emocionadas com Climb Ev’ry Mountain e Sixteen Going on Seventeen.
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3º Lugar: Os Imperdoáveis
Unforgiven — 1992 / Direção: Clint Eastwood
E eu termino minha já demasiadamente longa crítica com uma pergunta que decorre de minha afirmação no início no sentido de que Os Imperdoáveis seria um faroeste revisionista. Diante da maturidade e da crítica do que Peoples e Eastwood colocam na telona, será que revisionismo é mesmo o melhor termo? Será que o longa não é um atrasado, mas muito bem vindo longa “enquadrador” de narrativa? Uma forma de realinhar o que entendemos como sendo os componentes clássicos de todo um gênero e, nessa toada, tornando-se quase que um reboot de décadas e décadas de abordagem cinematográfica? Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: Peoples, Eastwood e Os Imperdoáveis destroem lendas estabelecendo-se como lendas da Sétima Arte.
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2º Lugar: O Poderoso Chefão
The Godfather — 1972 / Direção: Francis Ford Coppola
Com todos esses fatores em mente fica fácil enxergar o porquê de O Poderoso Chefão ser considerado um dos melhores filmes já feitos, influenciando centenas de outras produções, com elementos como o tratamento mais familiar da máfia. De Família Soprano até A Vingança dos Sith, as mais diversas produções beberam desta obra-prima de Francis Ford Coppola. Seja no elenco, no design de produção, roteiro, fotografia ou trilha sonora, cada um dos elementos que compõem essa obra audiovisual merece um cuidadoso estudo. A mágica, porém, está aqui: mesmo não entendendo o porquê podemos e somos cativados pelo filme, solidificando, de uma vez por todas, a harmonia de cada aspecto desta inesquecível obra. Como já dito: estude O Poderoso Chefão e você estará estudando o cinema em si.
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1º Lugar: Lawrence da Arábia
Lawrence of Arabia — 1962 / Direção: David Lean
E não só Peter O’Toole, como o restante do elenco e, lógico, David Lean na direção, Freddie Young na fotografia e Maurice Jarre na retumbante trilha sonora. Lawrence da Arábia é um feito único, uma obra de escopo tão amplo quanto intimista que moverá o espectador que estiver disposto a seguir Al Lawrence pelas arábias.