Home Espetáculos Crítica | Ennio Morricone em São Paulo (2008)

Crítica | Ennio Morricone em São Paulo (2008)

por Ritter Fan
365 views

estrelas 5

*Crítica originalmente publicada em 30 de março de 2008.

Estava calmamente assistindo televisão sábado passado quando o Jornal Nacional (eu acho) começou a mostrar um reportagem sobre Ennio Morricone, que estava no Brasil visitando crianças carentes. O nome dele logo acendeu um alerta e comecei a efetivamente prestar atenção para saber o que ele estava fazendo por aqui. Ano passado ele veio tocar no Municipal mas estava viajando no dia e não pude ver esse gênio da música de cinema, com mais de 400(!!!) trilhas sonoras compostas. O final da reportagem foi singelo: “O maestro tocará semana que vem no Brasil”.

Corri para o computador para procurar mais detalhes. E, voilà, ele tocaria não “na semana que vem [semana passada]” mas na segunda feira, em menos de 48 horas. Achei os ingressos online mas não consegui comprar via o site que os vendia. Muito devagar, com muita coisa para preencher e meu cartão era recusado toda hora…

Liguei para lá no dia seguinte e, depois de ficar pendurado uns 15 minutos ao telefone, consegui comprar dois ingressos para o show em SP (o único no Brasil) às 21:00h da segunda-feira, dia 24.

Daí, corri para conseguir duas passagens de milhas para SP e um hotel se bem que, pensando depois, friamente, eu teria ido a pé e dormido ao relento…

Depois do trabalho, na segunda, corri para lá (minha esposa foi um pouco antes) e o avião chegou razoavelmente na hora. Ficamos meia hora no hotel e partimos para o Teatro Alfa que eu não conhecia, mas é excepcional, tanto em design quanto em suas instalações.

Com 30 minutos de atraso, graças ao pessoal mal-educado que espera até literalmente o último minuto para entrar e sentar (só vão aprender se os organizadores do show trancarem as portas com eles fora), o espetáculo começou. Primeiro, tivemos o prazer de ouvir aquele grupo de crianças carentes que o maestro havia visitado. Muito simpático dele convidá-los.

Ennio Morricone, com 79 anos (completa 80 em novembro desse ano), entrou depois do Coral Paradiso de 80 pessoas e da Orquestra Roma Sinfonietta de cento e poucos membros. Foi muito aplaudido. Sem uma palavra, começou o show, diretamente com o tema principal do filme Os Intocáveis. Forte, pontente, a música invadiu o teatro, juntamente com o insuportável barulho de meia dúzia de repórteres mal-educados que insistiam em clicar a performance toda. Pelo preço que paguei e pela falta de respeito, deu vontade de chutar os caras para fora. Mas, por sorte, os organizadores estavam por perto e, depois de 1 minuto, eles foram escorraçados.

Assim, pudemos ouvi o Tema de Deborah (de Era Uma Vez na América), seguido de Poverty e o tema principal desse mesmo filme. Perfeito! Nada a reclamar. O maestro acabou a primeira metade da Parte 1 com o tema de A Lenda do Pianista do Mar  (não um dos trabalhos mais conhecidos do mestre mas, mesmo assim, brilhante).

A segunda metade da Parte 1 começou com o inesquecível tema de Cinema Paradiso e acabou com o de Malena. Em outras palavras, Ennio Morricone regeu seguidamente três composições de três filmes de Giuseppe Tornatore.

A segunda metade da Parte 1 foi dedicada aos westerns de Sergio Leone. Primeiro foi o tema de abertura de Três Homens em Conflito (talvez a mais famosa obra do compositor), depois o tema de Era Uma Vez no Oeste e, sem parar, o de Quando Explode a Vingança (esse filme tem títulos horríveis em todas as línguas!).

Para encerrar a Parte 1, Ennio Morricone chamou a soprano Susanna Rigacci e regeu The Ecstasy of Gold, música brilhante do inesquecível “trielo” do final de Três Homens em Conflito e abertura de todos os shows do Metallica. Sensacional!

Ennio Morricone foi aplaudido efusivamente e agradeceu muito, mas não disse uma palavra, nem mesmo obrigado.

A segunda parte começa com o tema de A Terra Prometida – A Verdadeira História de Moisés, uma série de televisão da década de 70 que também foi editada e virou filme. Nunca o vi, mas a música, suave, é muito boa. O tema de Marco Polo (um filme feito para TV) seguiu o de A Terra Prometida.

O tema de Pecados de Guerra e a música “cantada” Abolisson (de Queimada ou Burn!) foram tocadas em seguida. O coro pareceu-me bastante repetitivo e monótono, mas a música acaba cumprindo sua missão de quase interlúdio. Outra música cantada – em inglês – se seguiu: Here’s to You (de Sacco e Vanzetti).

No entanto, qualquer reclamação que eu tivesse naquele momento foi para o espaço pois o maestro regeu em seguida três músicas de A Missão: Gabriel’s Oboe, Falls e Come in Cielo Cosi’ in Terra. O som da flauta ou oboé característico da trilha desse impressionante filme tomou de assalto toda a sala, em uma das melhores sensações musicais que já tive.

O show havia acabado: foi aplaudido de pé por vários minutos; saiu e voltou do palco algumas vezes e nós da platéia não nos cansamos de aplaudir.

Para nossa surpresa, ele volta e rege o tema de Era Uma Vez na América novamente. E é aplaudido de pé mais uma vez.

Mas o mestre volta mais uma vez, dessa vez com a soprano a tiracolo, para repetir The Ecstasy Of Gold do começo ao fim. O teatro vem abaixo de aplausos.

E, sem se fazer de rogado e mostrando o quanto estava agradecido pela recepção calorosa que teve (mesmo que tenha se recusado a falar uma palavra sequer), Ennio Morricone volta ainda mais uma vez para reger o tema de A Missão. Ele me pareceu bem emocionado, pois o pessoal (nós) não paramos de aplaudir em pé. O show havia acabado mas foi difícil fazer a plateia parar de aplaudir e sair.

Ao fim, foram um pouco mais de 2 horas de música sensacional, criada e regida por um garoto de 79 anos cuja voz nem sequer ouvimos durante o show.

Essa experiência ficará gravada em minha mente para sempre. Sem igual. Valeu cada centavo.

Obrigado, Maestro!

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais