Obs: Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.
Mesmo sendo mais divertida do que tinha o direito de ser, Prison Break precisava acabar. E logo. A premissa básica da série, muito bem realizada na primeira temporada, esgotou-se já na temporada seguinte, ganhando um “repeteco” na terceira que só funcionou mesmo porque foi um momento atípico em que a greve dos roteiristas obrigou que a estrutura de 24 episódios fosse reduzida para uma de 13 e com a decisão de Sarah Wayne Callies de sair, evitando desvios narrativos. Mas era evidente que o grande mistério por trás de toda a trama – a misteriosa Companhia e suas intenções malignas – ainda não havia sido resolvido e uma derradeira temporada ainda era necessária.
Evidentemente que, sem problemas com a greve, a Fox voltou com uma temporada de 22 episódios, tornando a então derradeira temporada muito mais longa do que ela realmente precisava. Com isso, não só as dezenas de pontas da temporada anterior são amarradas, como diversas outras são criadas e abordadas ao longo dos episódios, chegando a um final críptico que só seria explicado no terrível telefilme Prison Break: O Resgate Final que, hoje, foi incorporado como o 23º e o 24º episódios da quarta temporada, mas que, para os efeitos da presente crítica, não será avaliado aqui, mas sim em uma análise separada, como originalmente ele foi lançado.
Quem acompanhou as três primeiras temporadas sabe que a série sempre se fiou em um altíssimo grau de suspensão da descrença, com situações que, por mais que sejam planejadas em seus detalhes, sempre dão errado na primeira tentativa e acabam dando certo nem que seja por vias transversas por uma combinação de pensamento rápido, trabalho em conjunto e uma saudável dose da boa e velha sorte. Michael Scofield, a essa altura, é um personagem quase folclórico, capaz de montar planos intrincados em alguns segundos e executá-los brilhantemente, mesmo que isso leve o espectador a risadas, olhos rolando e cabeças balançando negativamente em descrédito absoluto. Portanto, não é nenhuma surpresa que esse mesmo jogo seja amplificado na quarta temporada que é catapultada a partir da tentativa de Michael de vingar-se pela morte de Sarah somente para descobrir que ela, na verdade, está vivinha da silva (Callies decidiu voltar para a série e foi inserida na nova temporada pela produção). Com isso, a velha gangue é mais uma vez reunida para achar Sarah e, no processo, desbaratar a Companhia, com reviravoltas sendo jogadas no colo do espectador não de tempos em tempos, mas quase que literalmente a cada episódio.
Em outras palavras, nada sobrou da velha estrutura de “planos de fuga”. O que o showrunner Paul Scheuring faz é converter cada um – ou quase cada um – dos 22 episódios da temporada em um micro-Prison Break, com Michael Scofield, Lincoln, Sucre e Mahone sendo recrutados por Don Self (Michael Rapaport), um oficial da Homeland Security, para derrubar a enigmática e poderosa Companhia que tem mais tentáculos do que um polvo. Com isso, pode-se dizer tudo da temporada, menos que ela é parada. Se existe um comparativo minimamente razoável, seria com a quase mítica série MacGyver, com Richard Dean Anderson, em que o personagem título conseguia criar os mais mirabolantes planos com goma de mascar, clipe de papel e cartolina. Claro que o lado camp da saudosa série oitentista (objeto de recente remake, claro) abre espaço para uma pseudo-seriedade que, no frigir dos ovos, acaba funcionando até surpreendentemente bem, com um elenco bem integrado e operando de maneira simpática nas missões mais diversas como libertar reféns, entrar em cofres, furar túneis, impedir assassinatos, descobrir pistas e muito mais. A produção resolve – acertadamente – esquecer de vez a já pouca verossimilhança da série, partindo logo para o total e absoluto exagero, com 10 reviravoltas e 15 revelações chocantes por episódio (se a série pode exagerar, eu também posso!).
O que realmente funciona como uma âncora para a temporada, assim como foi com a segunda, é sua duração. Mesmo com os roteiristas trabalhando para trazer ao máximo novas e mais complicadas situações das quais Scofield têm que sair, é inegável que o fator “repetição” é cansativo demais. E dispersivo até, pois os planos e os mistérios acabam sendo banalizados, tornando-se previsíveis lá pela segunda metade da temporada. Mesmo considerando a consistentemente boas atuações de William Fichtner e Robert Knepper como Alex Mahone e T-Bag respectivamente, não há como escapar à conclusão que eles não têm mais muito o que oferecer à série a não ser uma incessante corrida atrás do próprio rabo para tentar trazer algo novo. Os demais do elenco, notadamente Dominic Purcell, que tem cara de paisagem, só funcionam mesmo como dinâmica de grupo, com episódios leves no lado dramático e pesados em ação.
Apesar de todos os pesares – e esquecendo-se por um minuto do telefilme e também da quinta temporada ou “temporada-evento” que a ressuscitou oito anos depois – a quarta temporada de Prison Break consegue a milagrosa função de fechar corretamente uma improvável série. Quem conseguiu fechar os olhos e absorver o dilúvio de absurdos, coincidências e deus ex machina dos roteiros, ganhou consistentemente bons momentos de divertimento ao longo de quatro anos.
Prison Break – 4ª Temporada (EUA – 1º de setembro de 2008 a 27 de maio de 2009)
Criador e showrunner: Paul Scheuring
Direção: vários
Roteiro: vários
Elenco: Dominic Purcell, Wentworth Miller, Amaury Nolasco, Marshall Allman, Wade Williams, Sarah Wayne Callies, Paul Adelstein, Robert Knepper, Rockmond Dunbar, William Fichtner, Chris Vance, Danay Garcia, Jodi Lyn O’Keefe, Michael Rapaport
Duração: 960 min. (22 episódios)