Uma série sobre superpoderes, super-heróis, jovens desajustados, sexo, drogas e música pop já não é mais algo novo na TV, porque, mesmo que não tenhamos tantos exemplos assim de produções com esses ingredientes como foco, eles podem ser encontrados em maior ou menor grau em um sem-número de outros shows.
Mas às vezes é só uma questão de perspectiva. De saber o que fazer com determinada história. De conseguir encontrar o insólito nos clichês. E então a mágica se faz. Misfits (2009), série criada por Howard Overman, é um exemplo de como fazer algo novo sem ser necessariamente novo.
Misfits mostra um grupo de desajustados (cada um a seu modo) que após uma tempestade misteriosa (possivelmente alien, com aparição de “efeitos B”, algo como os efeitos de Doctor Who em 2005), passam a agir de maneira estranha. Eles recebem algum tipo de poder, e aos poucos descobrem qual, só não sabem ainda como controlá-los.
Num primeiro momento temos basicamente um cotidiano acompanhando de perto. O grupo faz o serviço comunitário que tem de fazer e estreita alguns complexos laços de relacionamento. E digo “complexos” não porque seja difíceis de se entender ou algo assim, mas porque as relações entre os misfits são pontuadas por brigas, tiração de sarro, segredos de sangue e silêncios. Daí já temos um lado humano exposto de maneira jovem: por mais que a aparência desses jovens seja selvagem e suas posturas não sejam socialmente aceitas ou politicamente corretas, são todos marcados por eventos trágicos em suas vidas.
Conforme os dias avançam e a temporada caminha para o final, percebemos que a tempestade não mexeu apenas com os jovens do grupo. Há outras pessoas que foram influenciadas pelo misterioso evento e que surgem como pequenos tropeços ou provas de relações entre cada um dos misfits. Assim, a garota virgem e certinha que aparece no Finale ou o bebê que tem o poder de fazer os homens quererem ser seu pai parecem ser os primeiros de muitos exemplos.
E aí chegamos em um coadjuvante misterioso: o padastro de Nathan. Ele se torna uma espécie de cão em algumas noites (devido a tempestade) e depois some de cena. Mas na abertura da série vemos um cão seguir Nathan. Imagino que haja alguma ligação, algo que ficou mais ou menos indicado quando alguém (quem?) salva o garoto do grupo dos “certinhos”, liderados pela virgem puritana. Não tenho muita certeza de que seja o padastro dele, mas antes da segunda temporada não é possível saber.
E quanto aos obstáculos e inimigos a serem enfrentados, temos um modo um tanto diferente de guiar a narrativa. Isso porque na série não existe propriamente um vilão, mas pontuais ameaças aos misfits, o que é realmente vital para eles, porque ainda não sabem usar seus poderes direito ou quando querem (exceto e provavelmente, Simon e Curtis, o invisível e o manipulador do tempo). Já em relação aos poderes, há uma ligação absurdamente genial no modo como foram distribuídos. Todos eles possuem alguma relação com uma característica do personagem, dentre os quais, o mais notável é Simon, cuja invisibilidade é perfeitamente ajustável ao que ele é até para seus amigos e o que sempre foi para as pessoas com quem lidou durante a vida.
As irregularidades dessa primeira temporada são poucas, o que faz da estreia curta de Misfits (são apenas 6 episódios) uma ótima diversão. Uma história que mistura improbabilidade, realidade e submundo sobrenatural, com origens diferenciadas para seus personagens e exploração psicológica compassada de cada um deles, tendo ainda uma ótima reta final e com um cliffhanger de tirar o fôlego. Um baita drama sobre heróis desajustados e com super poderes.
Misfits – 1ª Temporada (Reino Unido, 2009)
Criador: Howard Overman
Direção: Tom Green, Tom Harper, China Moo-Young, Amanda Boyle
Roteiro: Howard Overman
Elenco: Antonia Thomas, Robert Sheehan, Lauren Socha, Iwan Rheon, Josef Altin, Nathan Stewart-Jarrett, Danny Sapani, Michelle Fairley, Alex Reid, Jamie Davis, Michael Obiora, Ben Smith, Jessica Brown Findlay
Duração: 50 min. (cada episódio)