Produções gays, na maioria das vezes, sempre buscam naturalizar e humanizar um universo que, para nossa sociedade, ainda se mostra desconfortável e incompreensível demais para ser aceito e encarado como algo “normal”. E ouso colocar a palavra normal entre parênteses justamente para ressaltar a fragilidade desta afirmação sobre aquilo que pode ser considerado como algo dentro dos padrões de vida. Tentativas de quebrar esse tabu existem aos montes, e na história dos seriados, Queer as Folk foi a pioneira no que consiste em retratar o cotidiano dos homossexuais e transformá-los em figuras puramente humanas, com seus próprios medos, angústias, dúvidas e desejos.
Novas tentativas surgiram com o passar dos anos, tal qual o seriado Glee, que apesar de sua roupagem adolescente, sempre tratou deste assunto com uma perspicácia digna de um seriado, digamos, “adulto”. Looking, entretanto, pode ser considerado o primeiro grande herdeiro de Queer as Folk, uma vez que sua proposta, simples e direta, em muito lembra Queer as Folk.
Talvez por isso sua premiere tenha desagradado certos espectadores, uma vez que o seriado reserva semelhanças não apenas com Queer as Folk, mas também com Girls, o qual confesso, nunca assisti. Mas apesar das inevitáveis comparações, Looking obtêm o êxito de também trazer uma visão própria sobre tal assunto: a narrativa é mais ágil, o olhar sobre o drama dos personagens é ainda mais naturalista do que em Queer as Folk (apenas para tecer mais uma comparação), e até o próprio uso da tecnologia como ferramenta de encontro é abordada, o que dá ao seriado um ar moderno e, consequentemente, facilmente identificável para o público atual, especialmente os jovens.
De fato, este episódio piloto de Looking dá a impressão de ser um tanto corrido, o que é compreensível, uma vez que muita coisa precisa ser estabelecida de início, como a interação entre os protagonistas, seus dramas pessoais, etc. Apesar da pressa, o episódio conquista e cativa justamente por abraçar a simplicidade das situações, que amparadas por um roteiro bem balanceado, assumem um ar de naturalidade extremamente gostoso de se acompanhar. Ao final, é impossível não estampar um sorriso no rosto.
Entre encontros e desencontros, flertes e situações inesperadas, Looking deixa a promessa de possuir um grande potencial. E tudo parece conspirar para que a série obtenha êxito em seu caminho: bons atores (impossível resistir ao charme de Jonathan Groff), ambientação adequada, diálogos simples e bem escritos, situações verossímeis e um roteiro que oscila muito bem entre a despretensão e a ambição.
É torcer para que o seriado continue seguindo pelo caminho certo.
Looking – 1X01: Looking For Now
Showrunner: Michael Lannan
Roteiro: Michael Lannan
Direção: Andrew Raigh
Elenco: Jonathah Groff, Frankie J. Alvarez, Murray Bartlett, Scott Bakula, Russell Tovey, OT Fagbenle, Lei Andrew, Raúl Castillo, Lauren Weedman
Duração: 29 min.