Em uma transmissão capitaneada por um Jimmy Kimmel bastante comportado, mas que não se furtou de abordar questões polêmicas, inclusive e especialmente o tapa de Will Smith em Chris Rock no ano passado e que contou com a presença marcante e importantíssima do Urso do Pó Branco, a 95ª cerimônia de entrega dos Oscars transcorreu sem maiores problemas ao longo de quase três horas. Rihanna e Lady Gaga (esta uma surpresa) apareceram para cantar, Harrison Ford entregou o maior dos prêmios para Short Round e apenas três filmes – Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Nada de Novo no Front e A Baleia – levaram mais de uma estatueta, com grandes indicados sequer levando uma, como foram os criminalmente esnobados Tár e Os Banshees de Inisherin.
Placar final:
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo – Sete estatuetas.
Nada de Novo no Front – Quatro estatuetas.
A Baleia – Duas estatuetas.
Vamos à lista, lembrando que todos os comentários abaixo das premiações são meus (Ritter Fan). Aguardo os xingamentos daqueles que amaram Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, he, he, he…
MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA-METRAGEM
Tudo o que Respira
All the Beauty and the Bloodshed
Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft
A House Made of Splinters
Navalny – VENCEDOR
Comentário: Navalny traz à tona a situação de Alexei Navalny, opositor de Vladimir Putin, e já vinha sendo agraciado em diversas premiações, pelo que sua vitória, aqui, era esperada. Trata-se de um bom documentário, mas, para mim, não o melhor, especialmente diante do excepcional All the Beauty and the Bloodshed.
MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
The Elephant Whisperers – VENCEDOR
Haulout
How Do You Measure a Year?
The Martha Mitchell Effect
Stranger at the Gate
Comentário: Neste ano, essa categoria não estava lá muito inspirada, sendo bem sincero. Entre os dois curtas de abordagem mais ecológica, The Elephant Whisperers era o mais fraco, com Haulout sendo bem mais interessante.
MELHOR CURTA-METRAGEM
An Irish Goodbye – VENCEDOR
Ivalu
Le Pupille
Night Ride
The Red Suitcase
Comentário: Praticamente todos os demais curtas desta categoria são, para mim, melhores que An Irish Goodbye, mas foi absolutamente impagável e tocante ver James Martin, de jaqueta de onça e Oscar na mão, ganhando um “Parabéns para você” de todos ali.
MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA-METRAGEM
O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo – VENCEDOR
The Flying Sailor
Ice Merchants
My Year of Dicks
An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It
Comentário: Aqui, ganhou o curta mais… famoso, digamos assim, pois este é o único facilmente disponível mundialmente (via Apple TV+). Muito bonito e com uma mensagem importante, O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo, porém, não me pareceu exatamente o melhor. Talvez My Year of Dicks, não sei…
MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA-METRAGEM
Pinóquio por Guillermo del Toro – VENCEDOR
Marcel the Shell with Shoes On
Gato de Botas 2: O Último Desejo
A Fera do Mar
Red: Crescer É uma Fera
Comentário: Vamos combinar que não tinha nem competição possível aqui, não é mesmo? Pinóquio merecia ganhar até melhor filme geral e não só de animação… E, com essa estatueta, Del Toro ganha um Oscar de Melhor Filme pela segunda vez, com a primeira tendo sido A Forma da Água. Deveria ter sido o terceiro, pois tungaram o dele por O Labirinto do Fauno!
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Nada de Novo no Front – Alemanha – VENCEDOR
Argentina, 1985 – Argentina
Close – Bélgica
EO – Polônia
The Quiet Girl – Irlanda
Comentário: Categoria de altíssima qualidade esse ano, mas era razoavelmente lógico que Nada de Novo no Front, que concorre também à estatueta de Melhor Filme, ganharia a de Filme Internacional. No entanto, além de lógico, foi muito merecido, pois o terceiro filme alemão a abocanhar essa categoria é realmente espetacular. Ah, claro, vale lembrar que Sem Novidade no Front, a adaptação de 1930 do romance de Eric Maria Remarque, levou os Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor (Lewis Milestone).
MELHOR MAQUIAGEM E CABELO
Nada de Novo no Front
Batman
Pantera Negra: Wakanda para Sempre
Elvis
A Baleia – VENCEDOR
Comentário: Apesar de eu normalmente apreciar trabalhos mais discretos, quase invisíveis, de maquiagem e cabelo, é impossível não ficar perplexo diante da transformação corporal protética completa a que Brendan Fraser foi sujeito durante as filmagens de A Baleia.
MELHOR FIGURINO
Babilônia
Pantera Negra: Wakanda para Sempre – VENCEDOR
Elvis
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Sra. Harris Vai a Paris
Comentário: Assim como no caso de maquiagem e cabelo, prefiro figurinos discretos ou que emulam a realidade, como é o caso de Elvis, Babilônia e Sra. Harris Vai a Paris. Mas, claro, o trabalho de Ruth Carter na franquia do Pantera Negra – ela ganhou o mesmo Oscar no primeiro filme – é de se tirar o chapéu.
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Nada de Novo no Front – VENCEDOR
Avatar: O Caminho da Água
Babilônia
Elvis
Os Fabelmans
Comentário: Outra categoria bem equilibrada neste ano. Mas Nada de Novo no Front sem dúvida merecia um pouquinho mais do que seus pares.
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Nada de Novo no Front
Avatar: O Caminho da Água – VENCEDOR
Batman
Pantera Negra: Wakanda para Sempre
Top Gun: Maverick
Comentário: Não tinha outro jeito aqui, pois Avatar 2 é todo CGI feito ao longo dos últimos 118 anos em que James Cameron ficou escondido em sua caverna tecnológica. Mas, blockbuster por blockbuster, eu teria privilegiado os efeitos práticos de Top Gun 2. Fora do clube dos bilionários, acho que Nada de Novo no Front merecia mais esse prêmio.
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
“Applause” de Tell It like a Woman
“Hold My Hand” de Top Gun: Maverick
“Lift Me Up” de Pantera Negra: Wakanda para Sempre
“Naatu Naatu” de RRR – VENCEDOR
“This Is A Life” de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
Comentário: Se tinha uma categoria que eu estava realmente torcendo contra Tudo em Todo o Lugar era nessa aqui, pois This Is A Life é um porre inominável. Portanto, qualquer outra vitória seria bacana e ficou mais bacana ainda com Naatu Naatu levando por ser a primeira música indiana a concorrer ao Oscar, além de ser bem mais divertida que todas as demais.
MELHOR TRILHA SONORA
Nada de Novo no Front – Volker Bertelmann – VENCEDOR
Babilônia – Justin Hurwitz
Os Banshees de Inisherin – Carter Burwell
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – Son Lux
Os Fabelmans – John Williams
Comentário: Em minha análise absolutamente imparcial, eu daria todos os prêmios de trilha sonora para o John Williams sem nem mesmo escutar a trilha. Mas, como minha imparcialidade absoluta não funcionou aqui, a Academia acertou em cheio ao premiar Volker Bertelmann, ainda que o trabalho de Carter Burwell em Banshees tenha sido da mais alta qualidade.
MELHOR SOM
Nada de Novo no Front
Avatar: O Caminho da Água
Batman
Elvis
Top Gun: Maverick – VENCEDOR
Comentário: Essa era uma categoria muito homogênea em sua alta qualidade e o representante dos mega-blockbusters do ano merecia a estatueta.
MELHOR EDIÇÃO / MONTAGEM
Os Banshees de Inisherin
Elvis
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – VENCEDOR
Tár
Top Gun: Maverick
Comentário: Apesar de o discurso de Paul Rogers ter sido péssimo (“apenas meu segundo filme”…), admiro o trabalho enlouquecedor que ele deve ter tido para arrumar a zona completa que os Daniels filmaram e largaram no colo dele. Um prêmio sem dúvida merecido em uma categoria do mais alto nível, vale dizer.
MELHOR FOTOGRAFIA
Nada de Novo no Front – VENCEDOR
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
Elvis
Império da Luz
Tár
Comentário: Uma categoria difícil este ano, com uma seleção realmente de altíssima qualidade. No entanto, o trabalho de James Friend em Nada de Novo no Front simplesmente precisava ser reconhecido.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Nada de Novo no Front
Glass Onion: Um Mistério Knives Out
Living
Top Gun: Maverick
Entre Mulheres – VENCEDOR
Comentário: Aqui, uma grande e boa surpresa. Óbvio que, pessoalmente, estava torcendo para Nada de Novo no Front (até porque é uma piada de mau gosto Glass Onion e Top Gun concorrerem nessa categoria), mas isso porque eu achava que Entre Mulheres não tinha a menor chance. E eis que Sarah Polley leva a estatueta por uma adaptação dificílima de fazer, mas com uma mensagem poderosa que incomoda como deveria mesmo.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Os Banshees de Inisherin
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – VENCEDOR
Os Fabelmans
Tár
Triângulo da Tristeza
Comentário: Minha torcida estava com Banshees e Tár, mas era bem óbvio que o queridinho da vez levaria o prêmio dessa categoria também. Original, ele sem dúvida é. Mas melhor do que seus pares, especialmente os dois que citei, eu diria que nem aqui, nem em qualquer outro universo…
MELHOR DIREÇÃO
Os Banshees de Inisherin – Martin McDonagh
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – Daniel Kwan e Daniel Scheinert – VENCEDORES
Os Fabelmans – Steven Spielberg
Tár – Todd Field
Triângulo da Tristeza – Ruben Östlund
Comentário: Não havia muitas dúvidas que os Daniels levariam o prêmio aqui. Tenho para mim que os trabalhos de Todd Fiel e Martin McDonagh são muito superiores, mas faz parte do jogo.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Angela Bassett (Pantera Negra: Wakanda para Sempre)
Hong Chau (A Baleia)
Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin)
Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) – VENCEDORA
Stephanie Hsu (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)
Comentário: Assim como no caso de Ke Huy Quan, foi bacaníssimo ver Jamie Lee Curtis, a Scream Queen original, subir no palco e agradecer a equipe do filme e, também, por toda a apreciação dos fãs sobre os filmes de gênero que ela sempre fez.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Brendan Gleeson (Os Banshees de Inisherin)
Brian Tyree Henry (Passagem)
Judd Hirsch (Os Fabelmans)
Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin)
Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) – VENCEDOR
Comentário: Apesar de eu não ser o maior fã do filme, foi inegavelmente muito bacana ver Short Round/Data subir no palco emocionadíssimo para levar a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. É só uma pena que Banshees, com isso, tenha que ter sido deixado de lado.
MELHOR ATRIZ
Cate Blanchett (Tár)
Ana de Armas (Blonde)
Andrea Riseborough (To Leslie)
Michelle Williams (Os Fabelmans)
Michelle Yeoh (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) – VENCEDORA
Comentário: Michelle Yeoh é muito querida e é impossível ficar triste com a vitória dela aqui. Não seria a minha escolha pessoal – achei a atuação de Cate Blanchett a melhor, seguida do trabalho de Ana de Armas -, mas ver Yeoh no palco foi muito especial de toda forma.
MELHOR ATOR
Austin Butler (Elvis)
Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin)
Brendan Fraser (A Baleia) – VENCEDOR
Paul Mescal (Aftersun)
Bill Nighy (Living)
Comentário: Se formos honestos, o Oscar para Brendan Fraser é em razão do ator e de sua luta e o valor do “retorno” aos holofotes. A atuação dele foi boa em A Baleia, mas não excepcional e certamente não no mesmo nível dos trabalhos de Bill Nighy, Paul Mescal e Colin Farrell. Mas a premiação da Academia não é exatamente sempre sobre o melhor – até porque isso é completamente subjetivo – e premiar um retorno desses sem dúvida faz parte do espírito de Hollywood.
MELHOR FILME
Nada de Novo no Front
Avatar: O Caminho da Água
Os Banshees de Inisherin
Elvis
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – VENCEDOR
Os Fabelmans
Tár
Top Gun: Maverick
Triângulo da Tristeza
Entre Mulheres
Comentário: Serei bem antipático aqui: a Academia sempre ignorou os filmes de ficção científica e não fiquei lá muito feliz com o primeiro filme desse gênero a levar o prêmio máximo ser o pior concorrente desse gênero até agora. Mesmo assim, uma coisa eu tenho que aceitar: pelo menos Hollywood está tentando ampliar seu horizontes.