Desde que a internet se tornou o que é, e milhares e milhares de pessoas passaram a ter acesso ilimitado a informações, as coisas acabaram por sair do controle. Ficou praticamente impossível conter as notícias que partem de todos os lados e não apenas de veículos especializados. Aquele que consome e se informa, automaticamente passa também a ser o emissor, tornando a internet um círculo vicioso e do qual fica difícil se livrar.
Mas, quem quer se livrar da internet? Eu não quero e garanto que você aí que está lendo também não. A grande questão é que, as pessoas, em sua maioria, não sabem usá-la corretamente. E sim, você que continua lendo, pode muito bem estar nessa categoria. Pelo simples fato de não pensar antes de publicar algo, munido apenas do calor do momento em divulgar aquilo, seja o que for, o mais rápido possível e antes de todo mundo, garantindo, assim, um falso status de ter sido o primeiro a postar algo na internet. E, talvez, na metade do tempo que isso ocorra, se trate de um spoiler. Afinal, para que se incomodar com o outro? A internet é minha. Posso postar o que quiser. Certo?
Não. Errado.
A internet, assim como a sua faculdade, a escola que você frequentou, seu local de trabalho e, claro, sua casa, possui regras de comportamento, correto? Regras essas que nos foram passadas quando crianças por nossos pais ou por colegas, professores e chefes na fase adulta. Tivemos tempo de nos habituar a elas, mas sabíamos desde o princípio o que era ou não permitido, e as consequências caso ultrapassássemos esses limites. Infelizmente, a internet não veio com manual de instruções e, por isso, tornou-se quase terra de ninguém. São poucas as pessoas que se atentam à maneira como devem de fato se portar, pois, numa terra sem leis, tudo está permitido. Certo?
Não. Errado de novo.
É necessário que se tenha mais atenção com o que é postado, compartilhado e comentado. Não dá para simplesmente ser verborrágico porque sim e pronto. E é aí que entram os temidos spoilers que deixaram de ser meros comentários e posts criados pelos menos atenciosos e tornou-se uma guerra porque alguém disse que não podia e como a internet é terra de ninguém, quem é que vai falar o que pode ou não? O que é permitido ou não?
Spoiler vem de spoil que quer dizer, no contexto do presente texto, “estragar”. É uma palav
ra da língua inglesa para designar uma comida que passou da validade e até mesmo crianças mimadas, que são chamadas de spoiled brats, o que se aplica, muito bem até, às pessoas que acham que é legal contar o final de filmes, séries e livros, sem qualquer motivo maior que não seja o prazer de estragar a experiência para outras pessoas. E você aí, que ainda está lendo, não tente arranjar desculpas para tal ato. Não é nem remotamente divertido. Principalmente para aqueles que são as vítimas.
Essa guerra, que parece até Westeros, ganhou proporções colossais com a transmissão da série Game of Thrones pela HBO. Fato que o spoiler em si já existia antes, mas, devido ao enorme sucesso do show, acabou tendo outro rumo bem mais sério. Amizades foram desfeitas, xingamentos trocados, dedos virtuais apontados e era um salve-se quem puder. E um fator era comumente usado: a idade dos livros. Os “spoileradores” diziam que nada do que publicassem podia ser encarado como spoiler, pois os livros já haviam sido lançados há muitos anos. E a série nada mais é do que uma encenação do que tinha acontecido nos livros. Mas e as pessoas que não leram os livros e acompanham unicamente pela TV? Merecem ter sua diversão estragada porque esses indivíduos pensam ter encontrado uma brecha no ato ridículo que praticam? Creio que não.
Pensa em como seria a experiência de alguém que se soubesse o final dos seguintes filmes. Sim, spoilers a frente!
- Em Clube da Luta, o personagem do Brad Pitt não existe.
- Em O Sexto Sentido, o personagem do Bruce Willis está morto desde o início.
- Em A Vila é tudo uma encenação, não estão naquela época e vivem numa reserva florestal.
- O vilão Darth Vader é na verdade o pai do Luke.
- É o Professor Snape quem mata o Dumbledore.
- Harry Potter é a última horcrux.
- Rosebud é o nome do trenó dele.
- Em Os Suspeitos, quem todos menos pensavam, o personagem do Kevin Space, era o culpado.
- E, sem esquecer Game of Thrones, Ned Stark, imponente patriarca e protetor de Winterfell é decapitado no final da 1ª temporada.
Será que essas informações não são realmente importantes para serem guardadas? Digo mais, os “spoileradores” estão estragando, sem saber ou sabendo, o trabalho que os roteiristas possuem para criar esses plot twists nos roteiros, seja qual for a mídia.
Então, qual é o verdadeiro sentido em contar para o amigo ou para a internet inteira o que aconteceu em uma determinada série, filme ou livro no exato instante em que aquilo termina? Não existe. Essa subversão que pensam que praticam, querendo confete e atenção, está mais para uma atitude infantil e desrespeitosa para com o próximo. Porque o seu direito começa quando o termina o do outro e não passando por cima dele.
Logo, se você quer continuar estragando a história que seja para os outros, saiba que o feitiço pode se virar contra você algum dia. Esteja preparado. E reflita também se vale mesmo a pena começar essas guerras à toa. Saiba os limites e, principalmente, que a internet não é terra de ninguém. Ela possui muitos donos, todos estão bem atentos e prontos para defender o que lhes é de direito. Quase como Westeros. Que coisa não é?
Aqui vai um vídeo que o pessoal do College Humour criou, sem legendas, com alguns atores conhecidos sobre Regras Oficiais sobre spoilers. Bem que poderiam se tornar reais.