Os acontecimentos que nos anos 80 conduziram a URSS a uma queda do comunismo e à desagregação do país deram lugar a numerosos reexames de sua história. Dessa forma, o cinema russo e soviético foi objeto de um processo de reavaliação. Reflexo da ideologia burguesa, o cinema pré-revolucionário havia sido ocultado pelo governo comunista, que também silenciou seus próprios cineastas. Apenas com a glasnost e a perestroika, uma revelação quase total se deu para o Ocidente do cinema, práticas e influências do cinema daquele país, até então conhecido apenas pelos filmes de grandes mestres e por momentos ímpares da história da nação soviética.
Hoje, o panorama do cinema russo difere da imagem ilhada que há três décadas sustentava. Os “últimos perseguidos” (Tarkóvski e Paradjanov) são ícones e bons exemplos de uma fase dura do cinema gerido pelo realismo soviético e pelo forte controle dos estúdios. Da fase da repressão, ainda temos vivos e ainda dirigindo filmes, os diretores Aleksandr Sokúrov e Kira Murátova. Da herança do passado russo, Andrei Zvyagintsev é um bom exemplo, trazendo para os seus filmes o ambiente natural típico de Tarkóvski.
Mesmo tendo se subordinada durante 70 anos ao poder político (com poucas exceções e “burlas” ao sistema), o cinema soviético teve grande influência sobre sua população. Foi o primeiro país do mundo a abrir uma escola de cinema e carregar na pele de alguns realizadores a marca autoral ou original de fazer cinema – uma quebra total com os sistemas vigentes, embora tenha adaptado parte de suas criações a a partir desses sistemas.
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Os Grandes Estúdios
Roskino, Ermoliev e Goskino (que no período de 1926-1930 foi chamado de Lenfilm) são Estúdios da “Era Clássica” ou inicial do cinema soviético. Uma dessas companhias, fundada em 1920, é hoje um dos grandes estúdios da Rússia, com produções de filmes e animações. Em 2011, a Companhia disponibilizou em uma página oficial um precioso catálogo de suas produções clássicas, para serem vistas online. A Goskino ainda funciona como Estúdio / Produtora, sendo uma grande especialista em séries de TV, como por exemplo a elogiada O Mestre e a Margarida.
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Periodização Cinematográfica
Era Czarista ou período pré-revolucionário (1908 – 1917)
- Diretores importantes: Goncharov, Bauer e Protazanov.
- Obras em destaque: A Defesa de Sebastopol (1911) e Canto do Amor Triunfante (1915).
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Idade do Ouro / Vanguardas (1919 – 1930)
- Revolução e guerra civil (1917 – 1922).
- Efervescência da NEP (1922 – 1932).
- Diretores importantes: Vertov, Eisenstein, Pudovkin e Dovzhenko. Obras em destaque: O Encouraçado Potemkin (1925), Tempestade Sobre a Ásia (1928), O Homem da Câmera (1929).
Era do Realismo Socialista (1932 – 1989)
- Anos de chumbo (1932 – 1941).
- Recrudescimento e início do degelo (1941 – 1955).
- Degelo (1955 – 1968).
- Estagnação (1968 – 1986).
- Reestruturação (1986 – 1991).
- Diretores importantes: Donskoi, Chiaureli, Kalatozov, Guerasimov, Romm, Savchenko, Chukrai, Bondarchuk, Tarkóvski, Konchalovski, Panfilov, Mikhailkov, Guerman, Sokúrov, Soloviev e Lopushanski.
- Obras em destaque: Alexander Nevski (1938), Ivan, O Terrível (1944 – 1948), Quando Voam as Cegonhas (1957), A Infância de Ivan (1962), Cavalos de Fogo (1965), Rei Lear (1971), Peça Inacabada Para Piano Mecânico (1976), A Pequena Vera (1989).
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O pós-comunismo (1991 – )
- Diretores importantes: Omirbayev, Amirkulov, Zvyagintsev, Bekmanbetov e Lugin.
- Obras em destaque: Páginas Ocultas (1993), Mãe e Filho (1998), O Retorno (2003), Guardiões da Noite (2004), A Fronteira (2010), Fausto (2011), Leviatã (2014).
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Influências artísticas da vanguarda
- Artes plásticas: Futurismo, construtivismo, suprematismo, Malevich, Rodchenko.
- Teatro: Stanislavski, producionismo, Meyerhold, Arvatov, Prolecult.
- Literatura: Brik, Shklovski, Tynianov, Maiakovsky, Eikhenbaum, formalismo.
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Teorias da Montagem
- Lev Kuleshov: movimento, velocidade, importância da plasticidade da imagem.
- Dziga Vertov: montagem durante o filme, câmera rápida, desenquadro, contra o “cinema drama”; a favor do “cinema-crônica”, investigação do mundo pelo “cine olho”.
- Vsevolod Pudovkin: montagem como o “fundamento estético do filme”, a favor do roteiro e da dramaturgia.
- Sergei Eisenstein: montagem como produtora de sentido – “todo o filme é uma ideia”; apenas a montagem dá sentido aos “fragmentos”, arrancar estímulos através da realidade, acionar o espectador para a realidade fílmica interligada ou resultado de sua própria realidade.