Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Como alguém que assiste séries desde que a única opção existente era ligar a TV no canal certo e na hora certa, colocar Bombril nas antenas e sentar no sofá para ver tudo dublado e, ainda por cima, com anúncios intermináveis a cada 10 minutos, eu posso dizer com bastante tranquilidade que já vi muita, mas MUITA porcaria na vida e Monarch: Legado de Monstros está longe de ser uma daquelas porcarias intragáveis. No entanto, a série do Apple TV+ inserida no Monsterverse é uma gigantesca decepção que chega a ser tão grande quanto a lagartixa atômica que aparece algumas vezes aqui e ali ao longo dos 10 episódios.
E, sendo muito sincero, eu acho que eu prefiro uma série tenebrosa de ruim do que uma série decepcionante, pois a do primeiro tipo, apesar de alimentar aquela raiva a cada episódio, pelo menos nunca engana no que pretende entregar. Uma série como Monarch já tem a vantagem imediata de ser fácil demais de escrever algo que agrade, mesmo que o custo do CGI não permita aparições constantes das criaturas monstruosas. Trata-se, como 95% dos “filmes de monstro”, uma bobagem e uma bobagem pode ser simplesmente um divertimento descerebrado. Mas a produção de Monarch não aproveita essa característica genética da série e faz algo que é pseudo-sério e pseudo-complexo, com dramas humanos dignos de novela da Globo e personagens que são até genuinamente interessantes como a trinca dos anos 50 e a versão mais velha de um deles vivida por Kurt Russell, ator que faz de sua canastrice sua adorável marca registrada, mas que são simplesmente muito mal aproveitados.
Monarch era para ser uma aventura exploratória com alguns monstros, não uma choradeira imbecilizante que faz perguntas sem sentido e desinteressantes sobre o universo em que está inserida e entrega respostas bobalhonas e clichês até dizer chega que não agregam em absolutamente nada a ninguém. Mesmo que, no meio disso tudo, alguns monstros apareçam com um CGI de qualidade, isso nem de muito longe e com muita boa vontade justifica aturar linhas narrativas que não levam a lugar algum sobre um pai adúltero, sobre dois meios-irmãos insuportavelmente chatos e uma ex-namorada de um deles que até ensaia ter um passado interessante, mas que acaba sendo tão genérica quanto os outros dois. E o que dizer da Monarch em si, a grande agência anti-monstros? Se ela, nos flashbacks para os anos 50, ganha uma origem até bacana, no presente da série – 2015 – ela é uma completa e absoluta negação que mais parece a CONTROL, aquela agência em que Maxwell Smart orgulhosamente trabalha.
Em outras palavras, mesmo não sendo uma completa tragédia, Monarch: Legado de Monstros é uma colossal decepção que não consegue acertar de verdade em nada, absolutamente nada que se propõe a fazer e olha que o que ela se propõe a fazer nem é algo tão difícil assim. Infelizmente, o que temos é uma oportunidade jogada no lixo que gastou milhões de dólares para não entregar nada que eu possa dizer algo na linha de “pelo menos valeu a pena por isso ou aquilo”. Agora é esperar que o próximo filme da franquia tenha algum valor…
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
10º Lugar:
The Way Out
1X05
No entanto, eu fui inocente demais ou, talvez, tenha deixado minha vontade de que Monarch desse certo falar mais alto e influenciasse minhas expectativas, pois o episódio que marca a metade da temporada dança na cara dos desperdícios do anterior e realmente vem para dizer muito claramente que a primeira série live-action do Monsterverse chega a ser cruel de tão monstruosa com seus espectadores. E olha que eu jamais esperaria que os titãs aparecem muito não, pois era óbvio que o lado humano falaria mais alto, seja por uma questão de orçamento, seja pela própria natureza de uma série. O que eu não estava preparado para ver eram roteiros tão tenebrosos lidando justamente com esse lado humano, defenestrando tudo o que poderia ser bom – como um Kurt Russell completamente badass e uma abordagem bacana sobre as origens da Monarch – e dando destaque para dramas adolescentes (ou jovens adultos, o que é a mesma coisa, se pensarmos bem) mal escritos e que, pior ainda, não têm relação direta alguma com as criaturas gigantescas que causam o pandemônio na Terra.
9º Lugar:
Will the Real May Please Stand Up?
1X07
Acho que, depois de Will the Real May Please Stand Up?, podemos dizer que Monarch entrou em sua reta final e que já está bastante clara a proposta da série, que é a de responder perguntas sobre o Monsterverse a partir do Dia-G que vimos em Godzilla, de 2014. O grande problema disso é que ninguém nunca fez essas perguntas e, mesmo que tenham feito, elas sequer interessam de verdade. Ainda que seja interessante ver um pouco das origens da Monarch nos anos 50, tenho dificuldades de me importar com esse passado ou com seus personagens e, se isso acontece com o que a série tem de melhor, imaginem então a ação em 2015 e os flashbacks para pouco tempo antes que insistem em focar no trio de jovens adultos, dois deles que se descobrem meios-irmãos de um pai desaparecido e a terceira uma hacker habilidosa de passado nebuloso?
8º Lugar:
Beyond Logic
1X10
Que finalzinho vagabundo esse… Não ruim, vejam bem. Só vagabundo mesmo, daquele tipo que reúne todo os clichês possíveis do gênero em um pacote só sem conseguir dar um pingo sequer de personalidade para eles, para seus personagens ou para suas linhas narrativas. Toda a suposta “grande história” de Monarch se resume a um mapa, a um homem adúltero que tem duas famílias em continentes diferentes, três jovens adultos completamente insuportáveis e uma trinca de personagens do passado (um deles apenas, envelhecido, chegando ao presente) que até é bastante interessante, mas que, no frigir dos ovos, acaba mal aproveitada. Sobre monstros, bem, diria que não deve ter nem cinco minutos deles ao longo de 10 episódios, o que nem seria tão frustrante se a história fosse mais do que meramente descartável e imediatamente esquecível.
7º Lugar:
Aftermath
1X01
No entanto, eu não chegaria a reclamar muito disso se o lado humano fosse uniformemente bem realizado. Infelizmente, porém, a ação que se passa em 2015, que é o presente da série, ou seja, logo após o “Dia G”, ou a revelação para o mundo de que monstros existem conforme vimos no longa original de 2014, e que lida com a chegada de Cate Randa (a neta de Bill vivida por Anna Sawai) à Tóquio para tentar descobrir o paradeiro de seu pai Hiroshi (Takehiro Hira), é consideravelmente cansada. Como o flashback com Bill, o uso de Cate como uma traumatizada sobrevivente do ataque à São Francisco cujo pai parece ter alguma ligação com a Monarch, o que o roteiro faz é trabalhar em cima de retcons – ou continuidade retroativa -, inserindo fatos não mostrados antes para poder construir sua própria história que, por escolha da produção, se passa nos primórdios do tal Dia G.
6º Lugar:
Parallels and Interiors
1X04
Eu realmente queria muito poder dizer que Paralells and Interiors continua a tendência de melhoria que a série vinha apresentando ao longo de seus três primeiros episódios. No mínimo eu teria adorado afirmar que o ponto de equilíbrio alcançado em Secrets and Lies manteve-se aqui, mas a grande verdade é que o quarto episódio da temporada defenestra o que de melhor Monarch tinha, que são, de um lado, a narrativa no passado e, de outro, o bom uso de Kurt Russell no presente. O episódio até é o que mais teve minutagem de monstro até agora, mas nem isso conseguiu fazer dele algo apreciável para além da linha mediana.
5º Lugar:
Departure
1X02
Afinal, mesmo considerando que a ação no presente melhora um pouco na medida em que o trio de jovens passa a ser perseguido por Tóquio pelo particularmente incompetente Tim (Joe Tippett) e sua sidekick consideravelmente mais útil Duvall (Elisa Lasowski), ambos da Monarch, que querem recuperar as fitas que eles acharam, a trama não anda muito e acaba perdendo tempo demais com resquícios do dramalhão familiar sem graça que o criador e showrunner Chris Black realmente achou que era o proverbial “ó do borogodó” narrativo. Mas, para além do problema mais sensível, falta algo ali, seja uma química maior entre os três jovens atores, seja uma abordagem menos genérica para a trama de mistério na linha do “onde está o papai?”, ou, ainda, menos aleatoriedade nos atos de todos os envolvidos que mais parecem terem ganhado páginas de roteiro de séries diferentes que por acaso se passam na capital nipônica.
4º Lugar:
Terrifying Miracles
1X06
Depois de dois episódios decepcionantes seguidos, adjetivo que uso meramente como um simpático eufemismo do que eu realmente achei deles por estar generoso hoje, Monarch: Legado de Monstros volta a fazer o que sempre devia fazer e que eu já veementemente mencionei quando da crítica do terceiro episódio: abrir espaço para Kurt Russell ser Kurt Russell e dar destaque à ação nos anos 50 que é infinitamente mais interessante do que a que se passa em 2015. Terrifying Miracles é outra prova de que não muito erro quando esses dois elementos narrativos são aproveitados, mesmo que, no âmbito geral, a série continue a não mostrar a que veio.
3º Lugar:
Birthright
1X08
Como se já não bastassem todos os outros problemas de Monarch que discuti nas críticas anteriores, outras duas características da série me incomodam demais. A primeira é que a premissa da temporada é que Lee Shaw, Keiko e Bill Randa guardaram segredos da agência anti-monstros que ajudaram a fundar por décadas a fio e eles nunca sequer começaram a ser decifrados, apesar de todo o tempo e dinheiro que diversas equipes tiveram ao longo de sei lá quanto tempo. A segunda é que, por alguma razão misteriosa, quer parecer que todo mundo acha que Cate e Kentaro, por representarem o legado de Hiroshi e, por via de consequência, da trinca original que vemos em flashbacks para os anos 50, têm algum tipo de “conhecimento” especial. E essas duas questões nunca ficaram tão evidentes quanto em Birthright, episódio que, por incrível que pareça, apesar de todos os pesares, é o primeiro a parecer contar uma história minimamente coesa e que poderia ser interessante não fosse o desgaste da série até aqui.
2º Lugar:
Axis Mundi
1X09
Alguns poucos episódios de Monarch provam que havia uma série razoavelmente boa por trás de um conceito que acabou sendo aprovado e colocado no ar de maneira equivocada, esticando uma narrativa simples ao longo de 10 episódios longos e, no final das contas, diluindo a força de tudo, algo que é amplificado pela desconcertante falta de monstros. Na crítica do episódio anterior, eu disse que ele era “pouco demais, tarde demais” e essa tendência continua aqui, com Axis Mundi, mesmo considerando as importantes revelações inseridas no roteiro escrito pelo quadrinista Matt Fraction, uma das mentes por trás da série.
1º Lugar:
Secrets and Lies
1X03
Mesmo considerando o alto grau de incidência de momentos instrutivos em que o roteiro derrama diálogos expositivos que poderiam muito bem ser podados, o Old Man Shaw tem ótimos momentos que não só fazem pouco justamente de toda a lenga lenga filial entre Cate e Kentaro, como também focam na ação, sempre seguindo a estrutura do “Shaw sabe tudo, tem contatos em todo lugar e não precisa de ajuda de ninguém”, o que é ótimo, já que, com isso, May passa a ser a única jovem que se mostra útil é a única que realmente pode acrescentar algo à história – e que, claro, guarda seu próprio segredo -, com Kiersey Clemons dando um banho de interpretação naquela “modorrência” dramática de Anna Sawai e Ren Watabe.