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Crítica | Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque

A história de uma menina que tinha medo do medo.

por Luiz Santiago
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Quando alguém tem afilhados, filhos, sobrinhos, primos mais novos ou contato com professores de Ensino Infantil, é muito provável que mais dia, menos dia, esse alguém se veja com um livrinho ilustrado nas mãos, lendo histórias em uma interpretação canastrona para um público muito atento, de olhos arregalados e expressões de medo ou de encanto. Assim foi comigo, e o tal livro que me vi interpretando durante a leitura foi o gracioso Chapeuzinho Amarelo, obra de Chico Buarque ilustrada por Ziraldo. O livro, como o título nos diz, conta a história de Chapeuzinho Amarelo, uma menina que tinha “medo do medo” e não vivia como uma criança livre e normal, por temer se machucar, se engasgar, descolar, ensopar, cair…

Ao passo que acompanhamos o medo de Chapeuzinho Amarelo e até sentimos dó da menina, que se priva de todos os prazeres de criança, mergulhando profundamente em seu medo, em um estado muito parecido com o da depressão — onde estão os pais dessa menina? — Chico Buarque traz a reviravolta vitoriosa, onde a protagonista se encontra, um dia, com o seu maior temor, o LOBO, e o enfrenta, até que o transforma em outra coisa: BOLO. E assim é feito com os outros medos que ela tinha, todos transformados em companheiros, renomeados e vencidos.

Ao inverter o conto original dos Irmãos Grimm, Chico Buraque consegue estimular tanto a imaginação da criança quanto do leitor adulto, que passa a dar um novo significado para a história que já conhecem muito bem. Embora eu particularmente não ame o modo como ele estruturou narrativamente o final da trama, gosto e aplaudo o que acontece ali: Chapeuzinho Amarelo vence o “medo do medo” e passa a conviver com eles como parte de sua vida cotidiana, não deixando de aproveitar a sua infância por temer de maneira paralisante alguma coisa. O medo, ao cabo, é reconhecido como parte da vida, observado com atenção quando — esta lhe é devida –, mas não transformado em algo maior que a própria existência.

O ritmo e a musicalidade do poema no livro ajudam a narração e, juntos, são elementos decisivos para tornar a história ainda mais interessante. Outro fator de destaque aqui é a simpática arte de Ziraldo, que forma um contraponto entre as cores da história original e as cores dessa inteligente paródia buarqueana, gerando uma rede de novos símbolos que podem ser facilmente percebidos pelo leitor mais perspicaz e gerar boas comparações, debates e perguntas para os leitores de menor idade. Chapeuzinho Amarelo é uma história sem diálogos; um poema que narra a superação e o entendimento do medo e a chegada do amadurecimento para uma garota. Uma história Universal que merece ser lida e contada várias vezes, sem medo de soar repetitiva.

Chapeuzinho Amarelo (Brasil, 1970)
Autor: Chico Buarque
Arte: Ziraldo
Editora: Autêntica
38 páginas

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