Avaliação da temporada:
(não é uma média)
Trinta e quatro anos depois de Willow – Na Terra da Magia, a aventura de alta fantasia estrelada por Warwick Davis e dirigida por Ron Howard que foi uma das grandes portas de entrada para a era atual da computação gráfica, esse universo é resgatado e transformado em série em uma continuação dos eventos anteriores, agora com Willow Ufgood já como um mago e Elora Danan adulta, mesmo sem, no começo, saber que ela é a prometida. Basicamente repetindo a estrutura de jornada do longa, a série usa o personagem oitentista como trampolim para apresentar um novo grupo que precisa enfrentar a nova ameaça, a Megera Alquebrada.
Em geral, a temporada foi uma pouco inspirada tentativa de espremer algo da mitologia do filme original, expandindo-a, sem, porém, trazer reais novidades. O novo elenco é até simpático quando visto em conjunto e, por muitas vezes, torna-se muito mais importante do que o próprio Willow que acaba quase sempre como um coadjuvante em sua própria série, uma espécie de mentor que fica no banco de reserva na maioria do tempo. A pegada infanto-juvenil do longa de 1988 é mantida, mas os episódios são tonalmente enlouquecidos, ora sombrios, ora cômicos, sem haver uma uniformidade qualquer.
Com apenas dois episódios realmente bons, a curta temporada é uma agradável, mas, em última análise, burocrática aventura de alta fantasia que não faz muito pelo material base além de repeti-lo no novo formato e com novos obstáculos. Pelo menos o último episódio parece prometer uma segunda temporada mais desafiadora, ainda que não tenha muita segurança de que essa promessa será mesmo cumprida.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
8º Lugar:
The High Aldwin
1X02
Esses lacaios vilanescos surgem do nada no reino de Sorsha, de certa forma tornando o escudo de força completamente inútil, e, por razões ainda desconhecidas, sequestram seu filho, o Príncipe Airk (Dempsey Bryk) o que, por sua vez, para surpresa de absolutamente ninguém, dá azo a uma jornada encabeçada por sua irmã gêmea, a Princesa Kit (Ruby Cruz), seu interesse amoroso Jade (Erin Kellyman), o letrado Príncipe Graydon (Tony Revolori) com quem Kit deveria se casar para reunir os dois principais reinos debaixo da redoma anti-magia, o misterioso Thraxus Boorman (Amar Chadha-Patel), que fora escudeiro do agora desaparecido Madmartigan (vivido por Val Kilmer no filme original) e, finalmente, a cozinheira Dove (Ellie Bamber), mais recente interesse amoroso de Airk. Com instruções de primeiro arregimentar a ajuda de Willow, que aparece ao final do primeiro episódio e se une ao grupo no começo do segundo, a “Sociedade do Anel” está criada para ir até lugares com nomes estranhos enquanto os capangas da vilã, remotamente, começam a causar problemas para nossos heróis.
7º Lugar:
The Gales
1X01
Agora, Elora Danan continua tendo a aura messiânica, que ganhou proporção lendária, mas ninguém, a não ser a Rainha Sorsha (Joanne Whalley também retornando ao seu papel) sabe quem ela é na verdade, algo feito para esconder a salvadora do mundo das forças do mal que são mantidas ao longe por um escudo protetor. Claro que a identidade de Elora não resiste sequer ao primeiro episódio, com Willow inexplicavelmente revelando-a para todo o mundo, inclusive para os novos vilões, chamados coletivamente de Os Ventos, emissários de uma entidade ainda desconhecida, mas que fora prevista em sonhos pelo protagonista.
6º Lugar:
Beyond the Shattered Sea
1X07
Ou seja, retornamos ao padrão da série em que tudo até é muito bonito e formalmente competente, mas sem qualquer brilho, sem qualquer novidade realmente interessante que destaque esta alta fantasia de tantas outras que aparecem por aí no vasto mundo do streaming. É como ver uma história que repete tudo aquilo que vimos antes, inclusive o longa-metragem de 1988, mas feito por uma inteligência artificial (que está na moda) não muito inteligente, mas bastante artificial. Fica evidente que Jonathan Kasdan recebeu algum mandamento da produtora em manter a história geral a mais palatável possível, mas ele confundiu palatável com cansativa e modorrenta que mais anda de lado do que realmente de frente.
5º Lugar:
The Battle of the Slaughtered Lamb
1X03
E, literalmente aos trancos e barrancos causados pela montagem estranha, The Battle of the Slaughtered Lamb realmente consegue fazer a história andar ao deixar para trás dúvidas sobre Elora e sobre Willow, ao eliminar os vilões imediatos e ao salpicar de mortes relevantes (sim, incluo as das lenhadoras nessa conta, mesmo querendo que elas voltem de algum jeito!), chegando a um cliffhanger que pode ter consequências interessantes se esse caminho for seguido. O que falta, agora, é um cuidado técnico maior para elevar a série à estatura que ela começa a indicar que merece.
4º Lugar:
Wildwood
1X05
Em outras palavras, todo o objetivo prático do episódio foi criar essa pano de fundo para Jade e, lateralmente, dizer que Boorman e Scorpia foram/são apaixonados, com os dois compartilhando um passando que inclui também o desaparecido Madmartigan, pai de Kit e do raptado Airk. Não é, claro, um episódio ambicioso e, como a pegada é de (re)construção de família, o roteiro de Hannah Friedman suaviza os diálogos e as situações, criando até mesmo uma fruta, servida na celebração da reunião de Scorpia e Jade, que faz com que todo mundo diga a verdade para o outro, o que naturalmente leva a situações cômicas (no caso de Boorman e Scorpia), reveladoras (no caso de Willow e Graydon) e românticas (no caso de Kit e Jade), havendo até mesmo tempo para os Ladrões de Ossos barbearem Graydon somente para, depois, ele ser informando que mulheres gostam de homens barbados.
3º Lugar:
The Whispers of Nockmaar
1X04
Confesso que gosto do elemento poltergeist do episódio, com os mencionados fantasmas e, também, com os sussurros do título servindo como cantos da sereia para segregar o grupo e virar um contra os outros. Não é nada que não tenhamos visto infinitas vezes antes, especialmente em aventuras de cunho fantástico, mas a grande verdade é que o roteiro de Julia Cooperman faz bom uso do tropo narrativo, com a direção de Debs Paterson sabendo distribuir as situações de maneira razoavelmente equânime, ainda que subaproveitando personagens como o grandalhão Boorman que não tem muito o que fazer a não ser tentar, um tanto quanto obsessivamente, abrir uma porta redonda que ele acha que o separa de tesouros incertos e não sabidos.
2º Lugar:
Prisoners of Skellin
1X06
Claro que o grande destaque do episódio é a introdução de Christian Slater ao elenco vivendo Allagash, parceiro de Madmartigan e também de Boorman na derradeira missão para encontrar a Couraça Kymeriana. Inicialmente apresentando-se como sendo o próprio Madmartigan e usando um tapa-olho, o personagem é o típico malandro simpático que verga as verdades para encaixá-las em uma narrativa favorável a ele, algo que Slater faz muito bem graças a um roteiro esperto que mantém o espectador na dúvida não se ele está ou não mentindo, mas o quanto da mentira é realmente verdade. A dinâmica dele meio que de “pai e filha” com Kit e, depois, beligerante, com Boorman, são pontos altos do capítulo que, de quebra, descortina um pouco mais do destino do personagem vivido por Val Kilmer, com direito até mesmo a ouvirmos a voz de seu filho Jack Kilmer como Madmartigan em um canto da sereia para atrair Kit a um destino incerto.
1º Lugar:
Children of the Wyrm
1X08
O roteiro de Rayna McClendon e Jonathan Kasdan é uma sucessão de obviedades ululantes, os famosos tropos narrativos, mas que, aqui, são usados de maneira harmônica e relevante, seja o “canto da sereia” que corrompeu Airk e que tenta corromper Kit e Elora com promessas de utopia, sejam os sacrifícios feitos, como o de Graydon que faz de tudo para salvar sua amada e acaba “explodido” pela Megera Alquebrada somente para ressurgir em outro canto da sereia, um bem mais sombrio e interessante ou mesmo o de Boorman que entrega para Kit sua Couraça Kymeriana que finalmente funciona e se revela uma armadura que daria inveja em Tony Stark. Até mesmo os efeitos práticos casados com computação gráfica para dar vida à versão horrenda da Megera merece comenda por criar uma fusão excelente das duas técnicas que realmente cria a impressão de uma ameaça terrível.