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Lista | WandaVision: Os Episódios Ranqueados

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

WandaVision é, muito claramente, o resultado de um projeto cuidadoso e muito bem pensado que quase que cientificamente reúne doses iguais de ousadia narrativa com o  uso brilhante de metalinguagem e uma boa dose de filosofia e acontecimentos trágicos, de pancadaria padrão que é o que a maioria do público realmente quer e de uma delicada expansão de universo com uma fascinante história de origem para Wanda Maximoff, outra bem mais rápida e simplificada para Fóton (a persona que Monica Rambeau muito provavelmente adotará em futuro próximo) e a continuidade do desenvolvimento do Visão, um dos personagens que mais passou por transformações no Universo Cinematográfico Marvel. A showrunner Jac Schaeffer comandou uma minissérie exemplar e quase que perfeitamente azeitada que não poderia marcar de maneira mais eficiente o começo da Fase 4 do projeto de dominação mundial do Marvel Studios.

Homenageando nada menos do que seis décadas de sitcoms americanas, com Wanda criando, com seus poderes, um mundo seguro em que ela vive a vida perfeita com o Visão e seus dois filhos gêmeos e usando isso como a principal estrutura narrativa e instrumento de marketing, a minissérie trabalha com carinho e originalidade o luto de uma mulher que perdeu todos aqueles que amava. Na medida em que a narrativa progride, exatamente como essa “realidade falsa” que ela construiu começa a ruir, a ousadia da premissa vai se esvaindo e sendo substituída por uma estrutura decididamente mais batida, mais comum, mas mesmo assim muito bem executada, novamente mostrando que, mesmo lidando com o que poderia ser taxado de formulaico, a série triunfa.

Se houve um ponto fraco, este foi a abordagem dada à S.W.O.R.D. e ao diretor Hayward. A entidade de defesa da Terra criada nos quadrinhos é introduzida no UCM na minissérie e logo ganha contornos vilanescos graças a seu diretor que quer a todo custo eliminar Wanda e, secretamente, usar o corpo remontado do Visão como arma, atitude que, se pensarmos friamente, diante de tudo o que ocorreu ao longo de todos os filmes anteriores, especialmente Guerra Infinita e Ultimato, não é algo completamente inaceitável. Mesmo assim, o clichê da entidade vilanesca poderia ter ganhado um desenvolvimento melhor e Hayward poderia ter se mostrado mais multifacetado e não um recorte em cartolina de personagem. Por outro lado, não podemos esquecer que esse lado da história teve dois objetivos muito claros: tornar possível a “origem” de Fóton e ressuscitar o Visão. E essas duas tarefas foram cumpridas com louvor.

XXXXXXXXXX

No final das contas, WandaVision foi uma minissérie muito homogênea e de alta qualidade. Basta notar que a avaliação mais baixa que dei foi 3,5 HALs, o que, claro, tornou complicada a tarefa de ranquear os episódios. Mesmo assim, eu tentei e aqui vai minha ordem para que possamos trocar figurinhas lá nos comentários, com vocês mandando suas próprias listas!

9º Lugar:
Previously On

1X08

Previously On é esse episódio explicativo, tecnicamente o segundo da temporada depois de We Interrupt This Program que, temos que lembrar, teve a vantagem de ser o porrete disruptivo da narrativa. Em uma estrutura simpática de flashbacks meta-narrativos forçados por Agatha em Wanda como forma de a mega-bruxa de Salem descobrir a fonte dos poderes da super-heroína, retornamos ao passado remoto dos gêmeos Maximoff em meio ao caos de Sokovia em que, com um retcon maroto, aprendemos de uma vez por todas que Wanda já tinha poderes antes de tê-los amplificados pela joia do infinito no centro de Loki. Seria ela uma mutante, então? Seja como for, o episódio teria sido ainda melhor se ele se concentrasse no inédito, no que realmente era importante entendermos, talvez, por exemplo, sem a sequência de Wandinha quase usando seu poder quando criança, de forma que seu momento seguinte como voluntária de Strucker pudesse ser explorado em mais detalhes.

8º Lugar:
All-New Halloween Spooktacular!

1X06

Por outro lado, mesmo considerando a manifestação mais ampla do poder de Wanda ao expandir as fronteiras da barreira, transformando as instalações da E.S.P.A.D.A. em um circo, com a absorção até mesmo de Darcy e dando a entender que ela realmente está controlando tudo (ainda que não se lembre de como tudo começou, o que me deixa de sobrancelha levantada), toda a ação do lado de fora de Westview me pareceu pouco inspirada, quase burocrática. O ponto mais alto dessa minha impressão foi a forma canhestra com que Darcy informa a Monica que ela é basicamente uma super-heroína agora. Claro que não precisava ser Sherlock Holmes para imaginar algo assim e, quem leu os quadrinhos, sabe que Monica Rambeau foi a verdadeira primeira Capitã Marvel e que, no UCM, deverá adotar o codinome de piloto de sua mãe, Fóton, também usado nos quadrinhos, mas o problema é que o didatismo de sua “transformação” foi quase uma partícula expletiva do roteiro, como se a equipe tivesse esquecido de inserir isso e tivesse que escrever qualquer coisa em um guardanapo no set de filmagens.

7º Lugar:
On a Very Special Episode…

1X05

Vou ser chato e falar algo que pode ser incômodo. Tenho quase certeza que muita gente considerará On a Very Special Episode… o melhor episódio de WandaVision até agora e, ainda que gosto sempre seja gosto, diria que a razão verdadeira por trás seja que o quinto episódio é o mais estruturalmente “comum” até agora, ou seja, o mais facilmente digerível e apreciável por um número maior de pessoas. Os três primeiros episódios ganharam a pecha de “arghh, sitcom velha sem graça em que nada acontece” e o quarto explicou a lógica por trás de tudo em uma excelente reviravolta narrativa, mas, agora, o que temos é a velha estrutura – já esperada, vejam bem – de “um pouquinho lá e um pouquinho cá” com os entrelaçamentos naturais que vêm daí.

6º Lugar:
Now in Color

1X03

Mesmo que o episódio tenha sido inegavelmente movimentado com a gravidez, os eventos macro, aqueles que acontecem com outra razão de aspecto como essa sequência final com Geraldine, ganham mínimos incrementos, mantendo a série misteriosa e intrigante. No entanto, essa queima lenta sobre o que afinal está acontecendo não me parece algo que possa se sustentar até o final sem trazer fadiga ao modelo escolhido. Calma. Não se enganem. Eu veria fácil uma série inteira de Wanda e Visão vivendo em sitcoms antigas, mas muito claramente esse não é o objetivo da produção e ela precisará, creio, abrir espaço para que a barreira entre utopia e realidade comece a ruir de verdade. Considerando que estamos falando de apenas nove episódios no que até agora tem sido vendido como uma minissérie que se encaixará em filmes futuros, é de se presumir que haverá uma inversão da distribuição de tempo entre sitcom e realidade na medida em que avançamos, o que, pela estrutura clássica de filmes, pode começar a acontecer de verdade já no próximo episódio, que marca o começo do segundo terço da história.

5º Lugar:
Filmed Before a Live Studio Audience

1X01

Os dois primeiros episódios nos fazem viajar para as sitcoms americanas dos anos 50 e 60, notadamente I Love Lucy no primeiro e A Feiticeira (Bewitched) no segundo, como as aberturas customizadas não deixam dúvidas. Apesar de parecem capítulos autocontidos, eles claramente contam uma história única, com personagens coadjuvantes – notadamente a vizinha abelhuda Agnes (Kathryn Hahn, de I Know This Much Is True) – que transitam de um para o outro mesmo que os cenários internos e externos, além dos figurinos, maquiagem e penteados mudem na medida em que as décadas televisivas também passam. Aliás, a fotografia em preto e branco e o design de produção são irretocáveis na missão muito bem cumprida de capturar os estilos das referidas eras da televisão, com Elizabeth Olsen e Paul Bettany perfeitamente à vontade em seus papeis e finalmente recebendo a atenção merecida nesse universo tão rico.

4º Lugar:
The Series Finale

1X09

O que o roteiro da showrunner fez foi, pura e simplesmente, amarrar as pontas que precisavam ser amarradas de forma que a história pudesse ser encerrada a contento e isso, diferente do que se pode imaginar, não é nada fácil ou trivial. Afinal, só é realmente possível fazer o que Shakman fez porque o trabalho dela ao longo de toda a minissérie foi exemplar: ela abordou de maneira inteligente uma crise nervosa, uma explosão de tristeza e luto a que qualquer ser humano pode ser vítima. A diferença que é o ser humano, aqui, era Wanda Maximoff, uma super-heroína com poderes que, conforme vamos aos poucos descobrindo, são infinitamente superiores a “lançar raiozinho” com as mãos. Então sim, mesmo inconscientemente, a Feiticeira Escarlate é a vilã em sua própria série, com Agatha Harkness mais parecendo um parasita, um ser oportunístico que tem a função dupla de ser a “vilã da vilã”, por assim dizer, e, ao mesmo tempo, a mentora da vilã que, mesmo por vias transversas, explica a natureza dos poderes e do que aconteceu e deixa entrever algo ainda mais sombrio para o futuro da protagonista.

3º Lugar:
Don’t Touch That Dial

1X02

Em termos de história mesmo, no sentido tradicional, ainda não está clara a linha narrativa da série para além da paródia das sitcoms clássicas, algo proposital, evidentemente. Mas o fato de Wanda e Visão, no primeiro episódio, não saberem de seu próprio passado ou mesmo a natureza do compromisso que têm naquele dia e, no segundo, Wanda ser chamada pelo rádio e os dois verem um apicultor saindo do bueiro, sem contar com os “intervalos comerciais” que citam os icônicos nomes Stark e Strücker, já estabelecem o mistério que, não duvido, será constantemente alargado e explorado nos capítulos seguintes.

2º Lugar:
Breaking the Fourth Wall

1X07

O que realmente funcionou no episódio para além das simpáticas “surpresas” acima foi a combinação do roteiro de Cameron Squires, efetivamente preocupado em fazer pontes fluidas entre as sequências dentro e fora do domo, com a direção de Matt Shakman mais uma vez tomando as rédeas da progressão narrativa, sem deixar nada sobrar ou ficar de fora por muito tempo, isso tudo embalado por uma simpaticíssima mímica de Modern Family como infraestrutura atmosférica e estilística e Família Addams para comemorar, digamos assim, o divertido flashback de Agatha Harkness. É como ver o proverbial melhor dos dois mundos.

1º Lugar:
We Interrupt This Program

1X04

O que dizer de um episódio que, em exatos 27 minutos, consegue, desde seu perfeito título, criar uma ponte entre o final de Vingadores: Ultimato, com o retorno das pessoas “estaladas” por Thanos, e o final do terceiro episódio da própria série enquanto nos reapresenta à Monica Rambeau (ex-Geraldine), agora adulta (desde que foi apresentada criança em Capitã Marvel), situando-nos sobre o destino de sua mãe Maria, nos introduz à S.W.O.R.D. (ou E.S.P.A.D.A.), organização dos quadrinhos responsável pela defesa planetária, traz de volta a astrofísica Darcy Lewis (Kat Dennings) e o agente do FBI Jimmy Woo (Randall Park) dos dois primeiros Thor e de Homem-Formiga e a Vespa respectivamente e, de quebra, consegue explicar quase que de forma metalinguística tudo o que vimos na série até agora? Será que podemos dizer que estamos diante de um roteiro cuidadoso, talvez até mesmo hiperbolicamente perfeito em seus mínimos detalhes? Ou será que podemos dizer que a direção consegue navegar sem falhas entre eventos no passado, na “realidade virtual” e no presente do Universo Cinematográfico Marvel sem precisar recorrer a artifícios externos como legendas explicativas ou coisas do gênero?

 

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