Estamos finalmente chegando ao fim desse longo ano de 2022! Muita coisa aconteceu ao longo desse período no mundo e, naturalmente, isso repercutiu também na arte, sobretudo na maior e mais antiga delas: a música. Como é de costume todo final de ano por aqui, é hora das famosas listas de melhores do ano do Plano Crítico. Assim, seguindo nossa tradição, como fazemos desde 2015, listamos os melhores álbuns internacionais de 2022. Vale lembrar que não há ranking ou ordem de preferência na lista, apenas o objetivo de listar e recomendar o que consideramos os 15 discos internacionais de maior destaque nesse ano. Esse foi mais um ano sensacional no cenário mundial do mercado fonográfico, com excelentes lançamentos do início até o finalzinho do ano, com direito a álbuns entrando nesta lista aos 46 do segundo tempo devido a seu lançamento recente. Muitos álbuns mereciam lugar nessa lista e foi um verdadeiro desafio selecionar os 15 aqui indicados. Dito isso, confira abaixo, os melhores álbuns internacionais de 2022 segundo o Plano Crítico e compartilhem conosco suas opiniões nos comentários! E aqui você pode conferir nossa lista de melhores álbuns nacionais de 2022, já publicada!
Ants From Up There – Black Country, New Road
O auge criativo do post rock como gênero já passou, mas isso não quer dizer que bandas como Black Country, New Road ainda não representem extremamente bem o estilo. No caso, esta banda britânica consegue entregar uma sonoridade muito autêntica ao encapsular vários gêneros em sua música. Podemos encontrar neles influências que vão de Godspeed You! Black Emperor e Arcade Fire até bandas experimentais inglesas recentes, como o Black Midi. Mas a verdade é que com apenas dois álbuns o grupo já é aclamado como uma das maiores revelações recentes do mundo da música. Ants From Up There entrega algumas das canções mais catárticas que ouvi esse ano: The Place Where He Inserted The Blade e Snow Globes são faixas irretocáveis que conseguem alcançar os limites da sensibilidade humana.
Aumenta!: The Place Where He Inserted The Blade
Estilo: Post rock, indie rock
Mr. Morale And The Big Steppers – Kendrick Lamar
É um privilégio inacreditável viver no mesmo tempo que aquele que indiscutivelmente é um dos maiores gênios que já surgiu no hip-hop e na música contemporânea. Temos aqui novamente um álbum cheio de desabafos e confissões de Kendrick, mas dessa vez existe uma maturidade que garante a distinção desse álbum de suas obras anteriores. Se por um lado, Mr. Morale And The Big Steppers pode ser considerado o álbum mais irregular de Kendrick, por outro ele continua mantendo o patamar absurdamente elevado de complexidade de suas obras. Uma grande sessão de terapia realizada publicamente, pautada em assuntos como ego, relacionamentos, fama, cultura do cancelamento e um turbilhão de outros assuntos. Uma obra que se preocupa muito mais em te fazer refletir do que fazer qualquer tipo de comentário moralista em cima de assuntos tão delicados.
Aumenta!: Mirror
Estilo: Rap/Hip-Hop
Renaissance – Beyoncé
É até difícil escrever algo de Renaissance que já não tenha sido dito por centenas de veículos de mídia ao longo de 2022. Primeiramente, eu vou discordar de alguns que esse seja seu magnum opus, isso na minha opinião ainda pertence a Lemonade (2016). Agora, dito isso, seu novo álbum é a maior pérola da música pop desse ano. Um grande tributo à house music e um trabalho absurdamente autêntico em meio aos lançamentos atuais da indústria. Mesmo em tempos onde sonoridades retrô são tão predominantes, Renaissance parece se diferenciar de tudo que ouvimos nos últimos anos. Neste disco existe uma ousadia, uma força, um poder criativo e interpretativo que só pode ser definido com uma palavra: Beyoncé.
Aumenta!: Virgoo’s Groove
Estilo: Pop, House, Disco
The Car – Arctic Monkeys
Poucas bandas contemporâneas mudaram tão drasticamente quanto o Arctic Monkeys. E essa mudança realmente parece não ter volta, o grupo está longe de se preocupar que seu novo som encontre menos reconhecimento popular, não importa o quanto os viúvos da era antiga possam reclamar. Depois do brilhante Tranquility Base Hotel & Casino, o sensacional novo álbum da banda – The Car – reitera o quanto o grupo segue no ápice da exploração musical. Um trabalho de arranjos luxuosos bem ao estilo James Bond, preocupado em construir texturas cinematográficas e a desafiar a concepção esperada de um álbum de rock nos dias de hoje. Se The Car hoje divide opiniões, daqui a alguns anos a percepção geral da obra será provavelmente muito diferente – tal qual já é para TBCH. Como um vinho que fica cada vez mais refinado conforme envelhece.
Aumenta!: There’d better Be A Mirrorball
Estilo: Rock, Experimental
Fear of the Dawn – Jack White
Um dos álbuns mais subestimados desse ano, Fear Of The Dawn é a prova de duas coisas: que Jack White segue no ápice criativo de sua carreira solo e que a mídia e jornalismo musical faz vista grossa quando são lançadas obras que realmente ousam em experimentar com os limites do rock. A palavra mais predominante nas matérias jornalísticas sobre o disco foi “esquisito”, definição rasa que só reforça o quão mal compreendido o novo trabalho de Jack White foi. Aqui, o gênio da guitarra mistura rock e metal pesado (colocando o fuzz no talo) com experiências insanas de elementos de hip-hop, reggae e música eletrônica. Uma obra que questiona e provoca o gênero rock como poucas fizeram nos últimos anos, além de saber valorizar o imenso poder oculto que está alocado em uma guitarra.
Aumenta!: Into The Twilight
Estilo: Rock, Metal, Experimental
Cheat Codes – Black Thought and Danger Mouse
A união de um dos maiores rappers ever com um produtor afiadíssimo só poderia resultar em um dos destaques do hip-hop em 2022. Cheat Codes surge do encontro de Black Thought – um dos gênios por trás do The Roots – e Danger Mouse, o rato mais perigoso das produções musicais (responsável por produzir discos do Gorillaz, The Black Keys, U2 e tantos outros). Neste álbum fantástico Danger Mouse entrega beats de enorme criatividade enquanto Black Thought desfila versos certeiros com seu flow preciso. Ainda há espaço para participações brilhantes: o finado MF DOOM surge glorioso em Belize, Michael Kiwanuka acalenta com seu soul maravilhoso em Aquamarine e A$AP Rocky e Run The Jewels chegam com o pé na porta nos versos de Strangers. Um álbum feito para qualquer um que ama a essência do hip-hop.
Aumenta!: Belize
Estilo: Rap, hip-hop
Crash – Charli XCX
Já faz um tempo que Charli XCX me ganhou completamente. A garota realmente é uma das melhores coisas a surgir no pop moderno, sendo uma especialista em fazer músicas pop perfeitas para as pistas, sem perder o senso de criatividade e experimentalismo musical. Crash nos apresenta uma Charli XCX um pouco mais conformada em entregar um pop, digamos, mais “padronizado”. O que não quer dizer que seja uma obra menor de sua carreira, muito pelo contrário, existe um cuidado meticuloso na produção, alcançando uma sonoridade irresistível, garantindo que aquela dose açucarada de energia musical esteja pulsando no sangue de qualquer um que escutá-la.
Aumenta!: Twice
Estilo: Pop
Impera – Ghost
Uma das melhores e mais relevantes bandas de metal hoje na ativa, o Ghost é uma das poucas do gênero que nasceu nesse segundo milênio e ainda consegue receber grande prestígio repercussão com seus novos lançamentos. Parte disso vem de toda performance teatral e conceitual do grupo, idealizada pelo frontman e mente por trás da banda, Tobias Forge. Impera reitera o caminho traçado pelo Ghost desde Prelude, seguindo mais pela sonoridade do hardrock e glam rock do que pelo doom metal que já foi uma vez marca da banda. Um disco que sabe extremamente bem o poder pop do rock/metal e usufrui muito bem disso.
Aumenta!: Call Me Little Sunshine
Estilo: Rock, Metal
WE – Arcade Fire
O Arcade Fire nunca errou, por mais chatos que os fãs possam ser e por maior que tenha sido o hate em cima de Everything Now, seu álbum de 2017. Esse ano eles retornaram com WE, uma obra que captura um pouco de cada era da banda, dosando a recente fase mais “eletrônica” e dançante, com o indie rock que definiu o início da carreira do grupo. O resultado é um álbum excelente, com direito a refrões explosivos, instrumentais minunciosos, letras críticas e tudo que se espera de uma obra do grupo canadense. É também um trabalho que diz muito mais sobre o próprio grupo do que sobre a sociedade que eles por tanto tempo dissertaram sobre em suas músicas.
Aumenta!: Age Of Anxiety (Rabbit hole)
Estilo: Rock alternativo, indie rock
Emotional Eternal – Melody’s Echo Chamber
A cantora e musicista Melody Prochet, junto de seu projeto entitulado Melody’s Echo Chamber, foram um dos principais destaques do revival do rock psicodélico no início da década passada. Depois de passar por um grave acidente que a deixou hospitalizada por meses em 2017, é bom demais ver a francesa lançando duas obras consecutivas excelentes. Depois da ótima Bon Voyage (2018), esse ano tivemos Emotional Eternal, uma experiência lisérgica maravilhosa que sabe ser pop na mesma medida que sabe ser imersiva, encantando os ouvintes com os doces e hipnotizantes vocais da cantora.
Aumenta!: Looking Backward
Estilo: Indie rock, rock psicodélico
Dawn FM – The Weeknd
Outro artista que segue no ápice de sua carreira criativa é o The Weeknd. Depois de bater recordes com seu hit Blinding Lights, oriundo do sensacional After Hours (2020), Abel Tesfaye lança um sucessor de atmosfera muito similar, cheio de sintetizadores oitentistas que bebem da fonte do synthpop, mas dessa vez com uma carga melancólica levemente maior. Esse melodrama é apoiado na visão conceitual do disco, que funciona como uma espécie de rádio FM no purgatório, uma ideia que só poderia sair da cabeça de Abel Tesfaye. A própria ideia de trazer Jim Carrey como fio condutor da obra, atuando como uma espécie de entidade “radialista do além”, corrobora com a proposta cinemática do álbum, sendo a cereja do bolo. É uma verdadeira experiência musical, sem abrir mão de seu espírito pop.
Aumenta!: Gasoline
Estilo: Pop, R&B
Once Twice Melody – Beach House
Se existe um grupo no universo indie que possui uma discografia de respeito, esse é a Beach House. O duo surgiu ali no início dos anos 2000 e reformulou completamente o gênero shoegaze/dream pop, chegando ao ponto de se tornarem referência desse estilo. Once Twice Melody, o mais novo registro de estúdio da dupla, assim como outros de seus álbuns, não acrescenta nenhuma mudança muito drástica à sua sonoridade, mas consegue executar tudo com uma produção absurdamente luxuosa e caprichada, entregando uma coleção de canções densas e viciantes, com alguns dos melhores refrões de sua carreira. Na realidade, Once Twice Melody se mostra tão irretocável ao longo de seus 1h24min que é fortíssimo candidato a melhor obra do grupo.
Aumenta!: Over And Over
Estilo: Indie rock, shoegaze, dream pop
We’re Not Here To Be Loved – Fleshwater
Todo ano existe algum álbum de metal que acaba se destacando para mim, um ouvinte que assumidamente já perdeu um pouco da animação que outrora teve com o gênero. No caso deste ano esse álbum é a estreia do grupo americano Fleshwater, entitulado We’re Not Here To Be Loved. A influência de Deftones é clara, pegando um pouco da sonoridade do metalcore, shoegaze e metal alternativo. É música pesada proclamada com o máximo de sentimento possível, se revezando entre a agressividade e a melancolia, a fúria e a melodia. Um álbum fantástico que segue em elevado nível do início ao fim de toda sua duração, assegurando uma estreia invejável para a banda.
Aumenta!: Baldpate Driver
Estilo: Metal alternativo
NO THANK YOU – Little Simz
Esse aqui entrou de última hora para roubar o lugar do Freddie Gibbs nessa lista. Não tem jeito, a britânica Little Simz é totalmente diferenciada. O seu já clássico moderno, Sometimes I Might Be Introvert, lançado ano passado, é uma das obras mais complexas a surgir do hip-hop no início dessa década, garantindo um destaque que a coloca a frente de 99% dos rappers atuais. Não satisfeita em lançar um álbum brilhante em 2021, ela lança NO THANK YOU agora no finalzinho do ano, um disco que não imaginava sair tão rápido depois de um trabalho tão impactante e aclamado. Seu novo álbum mantém o nível lá em cima, incorporando agora influências da música gospel e mantendo aquele flow e ritmo perfeito da rapper.
Aumenta!: Who Even Cares
Estilo: Rap, hip-hop
Skinty Fia – Fontaines DC
Bem, diferente do que alguns veículos dizem por aí, Skinty Fia não é o melhor álbum do Fontaines DC. No entanto, esse terceiro álbum é uma reiteração de que estamos diante de uma banda de proporção grandiosa e que veio para ficar. Os irlandeses acertaram altíssimo com seus três álbuns em apenas 4 anos, se consolidando como uma das principais bandas dessa renascença do post punk nesses últimos anos. Skinty Fia reforça a ótima qualidade do grupo e demonstra o quanto ele é versátil, entregando um pouco de folk (The Couple Across The Way), rock alternativo para as pistas (Skinty Fia), desert rock (Roman Holiday) e influências claras de Joy Division, os maiores influentes do gênero post punk.
Aumenta!: Jackie Down The Line
Estilo: Post punk