Heartstopper é uma série cheia de momentos muito bonitos. E além de ser um programa tecnicamente muito bem feito e, apesar da pouca idade e experiência da maioria do elenco, ser muito bem atuada, está repleta de cenas que nos fazem suspirar e sorrir como pessoas bobas, contemplando um conto de fadas — aliás, é justamente isso que acontece mesmo. O propósito desta lista é elencar o que, para mim, foram os 10 melhores momentos da 1ª Temporada do show. Claro que estamos falando de uma lista pessoal (como qualquer outra lista já feita na História da humanidade) e que portanto reflete a minha opinião sobre essas cenas, seus significados e importância. Você pode ter uma opinião diferente da minha e está tudo bem: só não a exponha de maneira agressiva, porque aí a nossa conversa não estará mais no campo diplomático. Deixe nos comentários o que acha dos 10 momentos que eu selecionei abaixo e faça você mesmo a sua própria lista, caso não concorde ou caso tenha outras cenas e sequências que queira destacar. Comente também o que esses momentos fez com você, enquanto assistia a série. Vamos à lista!
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10. Tao e Elle entendem que há algo diferente entre eles…
Acho que a maioria das pessoas já estiveram, ao menos platonicamente, apaixonadas por algum de seus amigos ou amigas. Em Heartstopper, essa paixão é representada por um casal improvável: Elle e Tao. De personalidades bem diferentes, com níveis diferentes de maturidade e olhar para o mundo, os dois são imensamente ligados, mesmo depois da transferência de Elle para a escola de garotas, após a sua transição. Esse momento é bem difícil para Tao, e quando encontramos Elle pela primeira vez, também vemos que é difícil para ela. A relação dos dois vai pouco a pouco ganhando outras cores. A primeira vez que a gente percebe isso é na “noite de filme” em que só os dois participam. Os olhares, o toque, a doçura entre os dois cresce a um ponto bem grande. Um outro momento em que isso se torna evidente é no aniversário de Charlie, comemorado no boliche. Mas a cena que realmente deixa o nosso coração quentinho ao indicar a paixão entre os dois, está no último episódio, quando eles estão na Sala de Artes e encaram-se, percebendo de verdade as borboletas no estômago e querendo contar isso um para o outro. É a confirmação de um sentimento que já estava plantado há algum tempo.
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9. Tara e Darcy conversam na Sala de Música
O processo de saída do armário (ou de não saída, já que estamos falando de algo que é uma decisão pessoal e que não é obrigatório) é diferente para cada uma das pessoas LGBTQIA+. E isso não é apenas na experiência. É importante entender que mesmo nos melhores cenários não é algo fácil para ninguém essa compreensão e exposição de si mesmo. Nesta cena do sexto episódio, a gente vê Tara colocando para fora o desconforto que sente em relação à questão. Ela vê na namorada um exemplo de pessoa que lida perfeitamente com a sexualidade, com as críticas e outras falas terríveis das pessoas em torno. E a própria Tara não se vê assim tão confortável, passando a sentir o peso de sair do armário. É uma cena muito delicada, mostrando um conflito real e universal para pessoas LGBT, e ao mesmo tempo indicando que está tudo bem se sentir assim. A frustração, a vergonha e a raiva pelos preconceituosos de plantão também fazem parte do processo de fortalecimento — num mundo ideal isso não seria necessário, mas infelizmente não vivemos num mundo ideal. A forma como o roteiro mostra Darcy dizendo a Tara que, na verdade, não sabe muita coisa e que também sente, com intensidade diferente, esse mesmo desconforto, indicam que essa questão atinge a todos nós. Na cena, o carinho, o amparo e o amor demonstrados entre as duas nesse momento de fragilidade me tocaram imensamente.
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8. Nick defende Charlie de Ben e Harry
Nosso querido Golden Retriever realmente se coloca contra as pessoas com ações ruins nessas duas cenas. É verdade que o vemos enfrentar Harry algumas outras vezes, uma na festa de aniversário e outra no portão de entrada da escola, mas nas duas ocasiões aqui selecionadas, Nick não segue as ideias de não-violência que tem e vai fisicamente para cima desses dois garotos podres. Primeiro acontece no episódio de abertura, quando Ben literalmente abusa de Charlie, prendendo-o contra a parede e dando-lhe um beijo à força. A chegada providencial de Nick não se dá apenas verbalmente: ele puxa Ben de cima de Charlie, o empurra para longe e o ordena para cair fora. A segunda cena acontece no sétimo episódio, quando Nick convida Charlie para ir ao cinema com os amigos. Inicialmente Harry não estaria presente, mas isso mudou de última hora. Este foi um dos momentos em que eu mais odiei Harry e quis eu mesmo dar um soco na cara dele. É uma cena satisfatória em diversos sentidos. Assim como Nick e sua mãe, eu não sou uma pessoa que apoia a violência. Mas tudo tem limites. E nesse caso, o soco em Harry foi muitíssimo merecido, pois todos os limites foram rompidos pelo garoto.
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7. A tarde chuvosa
O final do terceiro e o início do quarto episódio da série trazem um dos cenários mais clichês e ao mesmo tempo mais líricos em histórias de amor: cenas na chuva. Eu adoro cenas na chuva, especialmente quando envolvem beijos e outras fofuras entre um casal. Aqui a gente tem Nick indo até a casa de Charlie após os eventos da noite anterior, no aniversário de Harry. Nick faz a coisa certa aqui. Era mesmo algo para falar pessoalmente. E por mais clichê que seja, a beleza da cena é inegável e seu significado é ainda maior, tanto no momento em que Nick aparece sem guarda-chuva na porta de Charlie, até o momento em que eles se beijam. Aliás, esse guarda-chuva com as cores amarelo e azul (as cores de cada um deles combinadas num único objeto) dá um toque simbólico todo especial à cena, assim como o sorrisinho de Nick após o beijo. Charlie tem seus problemas de confiança, mas o menino sabe tomar atitude, viu!
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6. No corredor da escola
Dentre as muitas cenas que eu selecionei para compor esta lista (a das “luvas azuis” quase entrou, por sinal — eu amo aquela cena!) esta tem um significado todo especial. É a resolução madura e até mesmo inesperada para uma problemática aberta logo antes, com Charlie se culpando por “estragar” a vida de Nick e cortando todos os contatos com o rapaz: ele evita encontrá-lo, sai do time de rugby e começa uma conversa que realmente indica um rompimento. Charlie quer proteger Nick de toda forma dos preconceitos que surgem juntamente com a exposição da sexualidade. E Nick, por sua vez, tenta proteger Charlie a todo custo. É muito fofura para um casal só. Aliás, é parte da essência do que deve formar um casal: o sentimento de fazer bem, de proteger, de impedir que coisas ruins aconteçam com a pessoa que a gente ama. Nesta cena do último episódio, Nick abre o coração para Charlie, toca no assunto do término, diz que irá respeitar se Charlie quiser se afastar, mas que não ficará feliz. É uma belíssima declaração e, na minha interpretação, marca o começo oficial do namoro dos dois, mesmo que isso não seja dito nesse momento.
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5. Assistindo a um filme
Esta cena, ao lado da sequência da neve e da sequência onde Nick conta para a mãe sobre sua sexualidade, traz um dos melhores momentos da direção de fotografia de toda a série. Eu estava lendo entrevistas com a produção e equipe técnica do show e descobri que a composição estética desse momento foi inspirada na obra-prima Tudo o Que o Céu Permite e no ótimo Palavras ao Vento, ambos filmes do grande mestre dos melodramas, Douglas Sirk. Ou seja, não tinha como não ficar uma cena visualmente perfeita! E não é só visualmente não. Trata-se de um momento de grande ternura, quando Nick sente fortemente sensações em relação a Charlie. Ele tentando pegar na mão do crush e as faíscas saindo é uma representação tão fiel, tão bonita, inocente e correspondente à idade desses personagens que nosso sorriso não se dissipa mais. A angulação e a paleta de cores para essa cena são verdadeiramente sublimes. Um daqueles momentos que não saem da nossa cabeça.
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4. A tarde na praia
No Finale da temporada a gente tem todo o caminho de oficializações para Nick e Charlie. A cena na praia é inteira de grandes momentos: a cabine de fotografias, Nick gritando para o mar que gosta de Charlie de um jeito romântico, os dois deitados nas toalhas conversando, Nick com Charlie nos braços, parcialmente dentro d’água… Eu fico muito feliz que Alice Oseman tenha escrito e desenhado esta cena na praia e que a adaptação tenha sido muitíssimo fiel às escolhas da autora. Os abraços que Nick dá em Charlie e a confirmação do namoro são a cereja do bolo. É um final que prova que a gente pode ser feliz assistindo a ficções LGBT. E isso, infelizmente, é algo raro.
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3. Nick conta para a mãe sobre ele e Charlie
Uma das coisas mais difíceis para qualquer LGBT (ou pelo menos para a maioria de nós, vamos colocar dessa forma) é o momento da conversa com os pais. Isso pode ser bastante opressivo e até mesmo impossível em algumas famílias, infelizmente, mas mesmo nas famílias mais abertas e receptivas, a saída do armário não é algo fácil. Como comentei na cena sobre Tara e Darcy na sala de música, é sempre muito difícil dar um passo na direção da demonstração de nossa identidade e sexualidade para o mundo. Isso faz desse momento de Nick com sua mãe (a maravilhosa Olivia Coleman) um dos mais importantes de toda a série. É uma conversa filmada em ritmo mais lento. Nick está nervoso, mas não desesperado. A mãe ouve o que o filho tem para dizer e sua reação é aquela que deveria ser a de qualquer pai, mãe ou familiar: abraçar e aceitar essa característica afetiva da outra pessoa. A cena é escrita e encenada de maneira honesta. Não há exagero, não há longo discurso ou explicações com detalhes desnecessários. Fala-se o que se deve falar, numa situação de fragilidade e abertura do coração do filho para a mãe. Para mim, é uma das melhores cenas de saída do armário que eu já vi na vida, e isso contanto tanto produções de TV quanto de cinema. Reproduzindo o meme da minha colega Isabela Boscov: “virou queridinha da academia? Virou, mas não é porque ela é queridinha, é porque ela é boa mesmo“.
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2. Nick, Charlie e Nellie brincam na neve
Em termos de composição estética e até dramática, esta cena está no sentido oposto àquela que aconteceria na chuva ou à cena que aconteceria na praia (note as variações do tempo e a maneira como são utilizados em diferentes blocos emotivos da temporada). Este é o primeiro grande momento de “fofura de casal” que Nick e Charlie compartilham, embora nesse ponto da história ainda sejam só amigos, e ainda no início de uma amizade. Gosto muito do contraste que o fotógrafo usou para essa cena, e devo dizer que a locação é realmente maravilhosa. A presença de Nellie coroa toda a brincadeira na neve, deixando o que é fofo ainda mais fofo, se é que isto é possível. É aqui que vemos plantar-se uma semente definitiva no coração de Charlie e Nick, e cada um deles irá regar essa semente de maneiras diferentes no decorrer dos episódios seguintes.
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1. O primeiro beijo
Esta cena de beijo em Heartstopper tem, para mim, uma das melhores construções pré-beijo que eu já vi, não apenas em tramas LGBT, mas em qualquer tipo de trama envolvendo pessoas se beijando pela primeira vez. E olha, os dois atores aqui são verdadeiramente incríveis em suas interpretações. Desde quando eles chegam nesse quarto, no hotel que Harry alugou para a festa de aniversário, uma forte tensão se estabelece. E então a conversa entre os dois começa. É uma conversa onde as duas partes querem dizer algo ou querem que algo aconteça, mas estão sondando o terreno ou esperando que possam avançar para chegar em um lugar feliz. Em dado momento, após um comentário, Charlie tem a certeza de que heterossexual Nick não é. E isso faz com que ele dê “o primeiro passo“. Tudo nesse momento é filmado em ângulos frontais e com edição precisa. Charlie move o pé para perto de Nick. Depois move o dedinho. Eles se tocam, a animação de faíscas aparece e então a câmera foca nos rostos dos personagens. Planos médios e depois os primeiros planos capturam o desejo e a tensão dos dois. É muito bonito de ver, tanto no sentido dramático (o significado disso na ficção, na história sendo narrada), quanto dramatúrgico (o significado disso sendo representado tão maravilhosamente por dois atores). E então, após a resposta de Nick de que sim, ele beijaria Charlie, eles se aproximam levemente para um beijo absurdamente doce. Para mim, é uma das melhores construções para um primeiro beijo, além de ser muitíssimo bem dirigida e atuada. Tinha que ser o primeiro lugar dessa lista!