Os jogos são uma incrível ferramenta para permitir o homem simular possibilidades. A associação com os super-heróis, portanto, é uma das mais óbvias, pois estamos falando em seres idealizados, que homens e mulheres, muitas vezes sonham, ainda quando crianças, se tornar. Quando crescem, as representações fictícias passa a ser o único espelho de um sonho completamente inatingível. Quero ser o Batman, disse alguma criança, e outra, e outra, e outra e mais outra. Mesmo assim, os games não conseguiram capturar a essência, em espírito e mecânica, da maior parte dos grandes heróis de todos os tempos, como, por exemplo, o Superman. Uma lista dos piores jogos de super-heróis seria muito mais simples. Ao mesmo tempo, o Homem de Ferro e o Thor, mesmo tendo seus próprios jogos, também foram transportados porcamente de uma mídia para a outra.
Os jogos, contudo, são uma das mídias que mais se tornam datadas com o tempo. Quando os jogos evoluem, os parâmetros passam a ser outros, mecânicas tornam-se atrasadas, gráficos tornam-se horríveis e possibilidades tornam-se escassas. Os filmes, de certa forma, não evoluem da mesma maneira, pois o sentimento de superioridade é inexistente em muitos sentidos, senão alguns, como a computação gráfica, por exemplo, justamente aquilo que é, por excelência, parte essencial dos games. Como criticar um jogo de 20 anos atrás? Como recuperar a mentalidade de 20 anos atrás, ainda mais quando você não tem 20 anos? As críticas de jogos, nesse mesmo passo, também não encontraram um acordo nesse ponto, estando longe da complexidade de uma crítica cinematográfica. Dessa maneira, criar uma lista com os 10 melhores jogos de super-heróis é algo, muito mais do que qualquer outra coisa, subjetivo.
- Como o termo super-herói é bastante vasto, sendo que a maior parte dos jogos lidam com o bem e o mal, manteremos uma visão mais clássica, inspiradas pelos quadrinhos da Marvel e DC, além das dinâmicas desses mundos.
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10. Spider-Man: Mysterio’s Menace
(2001)
Spider Man: Mysterio’s Menace, único jogo desenvolvido exclusivamente para portáteis na nossa lista, não é um dos primeiros títulos que os fãs do Cabeça de Teia pensam logo de cara ao associar o personagem a um videogame. Sendo um dos únicos portáteis que já tive nas mãos, o Game Boy Advanced conseguiu ser uma plataforma ideal para o jogo, bastante fluido, mesmo simples, mas extremamente divertido, tendo como antagonista principal um dos grandes da galeria de vilões do Aranha: o Mysterio. Épico.
9. Saints Row IV
(2013)
Saints Row é uma franquia completamente sem limites, que decidiu, em sua quarta incursão, dar superpoderes ao seu protagonista. Os jogos, com o tempo, deixaram de ser realmente desafiantes, para se tornarem uma diversão mais purista, sem barreiras. Saints Row IV é basicamente isso, visto que o importante da campanha não é ultrapassar os níveis dispostos, mas se divertir basicamente, como qualquer super-herói que também é presidente dos Estados Unidos faria. Nada melhor do que impedir uma invasão alienígena.
8. LEGO Marvel Super Heroes
(2013)
Eu não conseguiria mentir para vocês. Sou um dos maiores entusiastas dos videogames da empresa Lego, começando por LEGO Star Wars: The Video Game, de 2005. A Traveller’s Tale salvou a Lego com esse jogo. Não pela inovação a cada lançamento, que tende a ser mais do mesmo, com apenas as particularidades de cada empreitada diferenciando uma aquisição de outra, mas pela diversão existente em cada um desses exemplares, que sabem explorar, com bastante malícia até, o interesse do jogador pela franquia que a Lego decide reinventar, de Senhor dos Anéis ao Batman, todas sob os seus olhares mais infantis, cômicos e poderosamente entretidos. Não existe um jogo que joguei desta saga que não platinei.
LEGO Marvel Super Heroes é o ápice de toda essa diversão, porque, enquanto LEGO Batman 2: DC Super Heroes abraçava a mitologia daqueles super-heróis, de uma distinta concorrência, um pouco mais além da mitologia do Batman, o jogo da Marvel chegou com muitos, mas muitos personagens, encontrando espaço entre os Vingadores, o Quarteto Fantástico e o X-Men, em um tempo antes destes dois últimos serem jogados completamente para escanteio, como é o caso de Marvel Vs. Capcom: Infinite e LEGO Marvel Super Heroes 2. Os visuais dos personagens são ótimos e o jogo é uma diversão só, pois não dá para se divertir quando você pode ser qualquer um dos seus mais amados heróis.
7. Marvel Ultimate Alliance
(2006)
Como seria a sua equipe perfeita de super-heróis? Marvel: Ultimate Alliance – e sua sequência Marvel: Ultimate Alliance 2 – permite o jogador montar times de quatro personagens, variando entre um número considerável de figuras icônicas. Além disso, os fãs dos quadrinhos irão ter uma vantagem ao montar equipes com precedentes nos quadrinhos, como os Vingadores. Marvel: Ultimate Alliance é divertidíssimo.
A grande chance de vocês, nossos queridos leitores, jogarem esse jogo está com as remasterizações, disponíveis para Playstation 4 e Xbox One, algo que mostra também o quanto o jogo está superando as gerações que passam, estando presente no mercado desde quando foi originalmente lançado, em 2006, para Playstation 2, Xbox e PC. Essas versões também são as que possuem o maior número de personagens extras, deixando tudo ainda mais interessante.
6. The Incredible Hulk: Ultimate Destruction
(2004)
Quem nunca quis ser o Incrível Hulk? Na infância, o personagem é um dos mais fáceis de ser imitado. Só ser aquele pentelho chato dando soco em todo mundo e gritando a rodo, sem qualquer medo de ser feliz. No videogame, infelizmente, temos poucas oportunidades de explodirmos todo o nosso ódio em caras malvados e construções humanas.
The Incredible Hulk: Ultimate Destruction, lançado para Playstation 2, Xbox e Nintendo GameCube, foi desenvolvido pela Radical Entertainment e, como o nome bem diz, não poderia ser menos radical. O jogo acumula bastante destruição em uma duração curta, mas, mesmo assim, estamos diante de um mapa aberto interessantíssimo, que pode ser destruído o quanto você quiser, de carros a animais.
Os gráficos desta experiência escarlate estão datados, por ser um jogo da geração retrasada, lançado há mais de uma década atrás, mas, na época, o visual foi recebido de modo positivo, assim como grande parte das características da obra. Apesar disso, este jogo de ação-e-aventura pode muito bem trazer altas doses de diversão nos dias de hoje. Um dos jogos que mais consegue capturar o poder de ser um determinado super-herói.
5. Infamous
(2009)
De fato, jogar com os super-heróis que já amamos é muito gostoso, mas poder conhecer novas figuras e tornarmo-nos ela, sem nenhum contato anterior, através de quadrinhos, filmes ou séries de televisão, é ainda melhor, pois permite criarmos uma identidade própria para este personagem, justamente o que acontece com Infamous, exclusivo para Playstation 3 e primeiro exemplar de uma franquia de sucesso, possuindo duas sequências: Infamous 2 e Infamous: Second Son.
O protagonista da jornada desenvolvida pela Sucker Punch Productions, em uma investida posterior ao encerramento da participação da empresa na franquia Sly Cooper, é Cole MacGrath, jovem tendo que lidar com a emergência de poderes e a emergência de ameaças. O grande destaque da obra, porém, é a questão do carma, com as missões paralelas existindo para moldar quem nós somos como herói, um verdadeiro ser do bem ou um anti-herói, tendendo para uma vilania a ser alcançada por definitivo ou não.
Apesar de eu ter jogado muito mais Infamous 2, continuação do game, Infamous é um primeiro passo extremamente necessário, de alta qualidade, para uma franquia que deve ser vista com mais seriedade no futuro, com mais exemplares a renovarem uma ótica diferencial para enxergamos o jogador como protagonista da obra e não mero intérprete dela, sempre buscando deixar a experiência ainda mais complexa, não meramente nas mecânicas do jogo, mas na construção do sentimento entorno dele.
4. Spider-Man
(2000)
O Homem-Aranha é, de longe, o personagem com o maior número de reproduções para os games de todos os super-heróis já conhecidos. Spider-Man, de 2000, poderia muito bem ser o primeiro de uma das franquias mais interessantes de jogos, mas a Activision, distribuidora da obra criada pela Neversoft, decidiu, com o lançamento dos filmes do Sam Raimi, partir para uma jogada mais desinteressante, ainda que não ruim.
Marvel’s Spider-Man, novo lançamento da franquia, pode muito bem ser um sucessor espiritual de Spider-Man 2: Enter Electro, continuação do clássico de 2000, mesmo sendo desenvolvido por uma produtora completamente diferente. O jogador se pendura na teia da aranha, capaz de se prender em qualquer lugar da terra e do céu, e não apenas interpreta o Homem-Aranha, como se torna o Homem-Aranha.
A história de Spider-Man está extremamente longe de ser ruim, sendo simples, mas divertida ao extremo, ainda possuindo aparições especiais do Demolidor, do Justiceiro e do Tocha Humana, além da Gata Negra, parte desse universo do Aranha. Temos versões para todos os gostos, sendo a original, para Playstation, a mais interessante. Porém, o jogo também pode ser encontrado para Game Boy Color, Nintendo 64, Dreamcast e PC.
Um jogo que fui jogar apenas mais velho, em um Playstation qualquer usado, achado nos confins da humanidade. Nenhum outro jogo – até agora – conseguiu entreter os fãs do Teioso tanto quanto esse, que mexe sabiamente com as nossas emoções ao enfrentarmos clássicos inimigos, como o Mysterio, o Escorpião, Rhino, Venom, Carnificina e o Doutor Octopus. Além de tudo isso, o game ainda é narrado por ninguém mais ninguém menos que Stan Lee.
3. Injustice 2
(2017)
Injustice 2, continuação de Injustice: Gods Among Us, é a obra mais recente da nossa lista, mas também é uma das melhores, tratando-se de um jogo de luta que, muito mais do que um jogo de luta, também promete ter uma campanha relevante para o conceito geral que tratamos os games desse tipo. A história segue a anterior, em um mundo no qual Superman tornou-se um criminoso e fora derrotado por Batman e seus amigos, que agora buscam trazer a paz mundial novamente para o mundo.
A problemática da vez é Brainiac, enquanto Supergirl é uma adição forte no rol de protagonistas. Com pouquíssimos personagens a mais do que no jogo anterior, Injustice 2 é um símbolo da nova geração de games, possuindo 10 lutadores pagos, todos a serem adquiridos pelos jogadores por meio de transações em pacotes caríssimos. Pelo menos, entre esses lutadores pagos, temos as Tartarugas Ninja, em um crossover que não poderia dar mais certo. Em outros tempos, os lutadores extras seriam desbloqueados de acordo com o progresso na obra.
Por outro lado, Injustice 2 é uma das melhores, senão a melhor, empreitada da NetherRealm Studios, responsável pelos dois últimos Mortal Kombat, jogos que, também possuindo esse problema com os downloadable contents, ainda assim caíram na graça do público e da crítica. A história dessa franquia, porém, vem de “muito mais tempo atrás”, com Mortal Kombat Vs. DC Universe, irregular game lançado em 2008. Já Injustice 2 está presente para Playstation 4, Xbox One e PC.
2. Marvel Vs. Capcom 2: New Age of Heroes
(2000)
O crossover dos crossovers. Em jogos de luta, existe uma característica muito interessante e controversa a ser observada na evolução deles, de sequência a sequência. Enquanto os primeiros exemplares de um respectivo título possuíam pouquíssimos personagens, como o primeiro da consolida franquia Marvel Vs. Capcom, X-Men Vs. Street Fighter, de 1996, que apenas continha 17 jogadores disponíveis, os seguintes, um atrás do outro, sempre tinham a proposta de aumentar mais e mais a variedade de opções para o espectador. A mesma coisa valia para os mundos abertos. De um lado, os personagens da Capcom, como Ryu, Felicia e Mega Man, e do outro, os personagens da Marvel, como o Capitão América, Wolverine e, aleatoriamente, Shuma-Gorath.
O ápice desse crescendo é Marvel Vs. Capcom 2, com mais de 50 personagens jogáveis. Porém, quando quantidades extremamente altas de possibilidades começaram a ser atingidas pelas desenvolvedoras, o inverso passou a acontecer em jogos de luta, para a infelicidade das nações. Isso acontece, por exemplo, tanto em Marvel Vs. Capcom quanto nos jogos do Dragon Ball, sendo que em Budokai Tenkaichi 3, por exemplo, qualquer personagem lutador da marca tornou-se um personagem disponível para combate, sem muito juízo de valor. Como sempre, a Nintendo parece estar fazendo a coisa certa, quebrando essa maré, pois o novo Super Smash Bros., que será lançado ainda esse ano, promete trazer todos os personagens que já apareceram na franquia.
1. Trilogia Batman: Arkham
(2009, 2011 e 2015)
Eu passei muito tempo da minha vida apaixonado pelo Batman, em um sentido platônico mesmo. Uma história de amor definitivamente melhor que Crepúsculo. Não sou da geração da Série Animada clássica, que abordei no Top 10 – Melhores Séries Animadas da DC. Batman: Arkham Asylum, por sua vez, foi o responsável por fazer com que eu andasse com serenidade pelos corredores do meu colégio, mas, sempre que eu visse uma proteção, aproximasse com cuidado para ficar em stealth e poder observar os meus colegas de classe sem que eles me notassem. Em seguida, eu jogava umas canetas neles, como se fossem batarangues. Creepy? Nenhum pouco. Eu era o Batman.
Como não lembrar dos sons do Asilo Arkham, um lugar assombrado, mesmo que sem nenhum único fantasma espreitando o Homem-Morcego, senão o passado do próprio Bruce Wayne? A criação atmosférica de Arkham Asylum é uma das coisas mais bem feitas dessa espécie em relação a videogames, permitindo o jogador tornar-se o herói muito antes de enfrentar o primeiro inimigo, em uma das mecânicas mais bem-resolvidas e orgânicas já criadas, desenvolvida pela Rocksteady Studios, a quem sempre deverei eterna gratidão. O caminho da entrada do Asilo para a fuga do Coringa é justamente o que precisamos para a imersão começar, que apenas ganha mais e mais poder com o passar do tempo. O Asilo Arkham é um personagem e estamos convivendo com ele.
Já Arkham City, aumentando imensamente o escopo, criou uma expansão que se aliou com a qualidade da obra, tão boa quanto a primeira jornada, apesar de extremamente mais grandiloquente. O combate contra o Sr. Frio é um dos mais inteligentes da franquia, enquanto o subterrâneo de Gotham dava origem a todo um novo universo. Quantas lembranças! Arkham Knight, contudo, tirou a mística de um lugar, antes o asilo e, depois, a cidade, e a colocou na cabeça de Bruce, com as paranoias envolvendo o Coringa, morto no último jogo, em uma conclusão épica – acredito que seja tão poderosa quanto a de A Piada Mortal. Uma das grandes trilogias da cultura popular e três dos meus jogos favoritos de todos os tempos.
Hors Concours
Marvel’s Spider-Man (2018)
O novo jogo do seu Amigão da Vizinhança, desenvolvido pela Insomniac Games, já está disponível nas lojas, em mídia física e digital, exclusivamente para Playstation 4. Contudo, ainda não o jogamos, mas já estamos segurando o caminhão do hype, porque, de acordo com a crítica internacional, a aventura de Peter Parker pela cidade de Nova Iorque parece ser épica. Sendo assim, estamos adiantando uma posição para o game nessa lista e realmente esperamos não nos decepcionar, porque, se isso acontecer, essa classificação não fará o menor sentido. A vida, contudo, tem sentido sem o hype? Sem aquela empolgação toda que, no final das contas, dificilmente cumpre com as expectativas? Sabemos que não somos de entregar muitos textos sobre jogos, mas, eu, Gabriel Carvalho, o Cavaleiro do Arkham, prometo a vocês, nossos queridos leitores, que, um dia, abordaremos Marvel’s Spider Man por aqui.