Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Quando comecei a montar a presente publicação, a primeira coisa que fiz foi inserir a avaliação de “Lixo Atômico” para a temporada, pois essa foi a minha reação de reflexo, sem pensar. Enquanto fazia o ranking e redigia o texto sobre a temporada como um todo, porém, comecei a ter dúvidas se deveria ou não ser tão inclemente, considerando que, na minha cabeça, a quarta temporada não era tão ruim quanto a terceira (apenas um pouquinho menos pior), que levou mais do que merecidamente essa qualificação.
Para tirar minhas dúvidas, fiz algo que não gosto de fazer (e mal sei fazer, se quiser ser sincero…), que é recorrer à matemática e fiquei surpreso com o resultado: a média simples das notas da terceira temporada foi 1,807 (de cinco), enquanto que a da quarta temporada foi… rufem os tambores… 1,791 (de cinco). Ou seja, meu reflexo estava corretíssimo e as duas temporadas acabaram se equivalendo em termos comparativos secos, com a última sendo marginalmente pior e não melhor do que a anterior. E, quando parei para realmente matutar sobre essa revelação numérica, creio que ela faça sentido. Tudo bem que não tenho palavras para defender a terceira temporada como um todo, mas ela teve algo que a quarta não teve: um solitário episódio que foi realmente empolgante e memorável, Hank & Dove, em que Hank é explodido pelo Capuz Vermelho.
Portanto, quando eu disse, lá atrás, que queria ver a genialidade de Greg Walker piorar algo que já estava no fundo do poço, só tenho a afirmar que ele conseguiu. A derradeira temporada de Titãs foi recheada de personagens e objetos de uso único, incluindo aí o próprio Lex Luthor; uma narrativa fragmentada e completamente perdida; evoluções não aproveitadas dos Titãs (Tim Drake transformou-se em Robin III, Mutano tornou-se o poderoso chefão do Vermelho, Connor adotou o sobrenome e a careca de Luthor e Ravena mudou o figurino de preto para branco, tudo isso sem nenhum significado efetivo na temporada); dois vilões da vez que se mostraram patéticos, com a Matriarca do Caos sendo, apenas, caras e bocas e o Irmão Sangue um bebê chorão ridículo; o tão propalado retorno de Trigon durando 15 segundos; uma sucessão de demonstrações de burrice extrema da equipe liderada pelo supostamente “grande” Dick Grayson (basta ler meus comentários sobre Titans Forever como prova absoluta disso) e, finalmente, uma resolução preguiçosa, canhestra e vergonhosa.
No final das contas, o que o showrunner conseguiu fazer duas vezes seguidas (não que a segunda temporada tenha sido minimamente razoável, claro) foi consistentemente demonstrar o que não se deve fazer em séries de super-herói. Aliás, minto. Ele deixou claro o que não se deve fazer em série de gênero algum. Se a adaptação de um grupo tão bacana dos quadrinhos já foi um completo desserviço aos personagens – e estou apenas usando um eufemismo aqui -, não há o que se falar de linhas narrativas tiradas diretamente das HQs e destruídas no audiovisual e isso porque eu nem vou abordar os elementos dramáticos que simplesmente não funcionam nessa série e nem funcionariam em qualquer outra, como a violência imbecilizante e sem peso, a abordagem sombria apenas porque sim e coisas nessas linhas.
Titãs está ali de braços dados com Arrow na ruindade super-heróica televisiva absoluta. Resta apenas tentar entender se Titãs foi melhor do que Arrow porque Arrow torturou os espectadores por muito mais tempo ou se Arrow foi melhor do que Titãs porque Titãs chegou ao fundo do poço e, depois de escavá-lo, descobriu um segundo fundo, em velocidade muito maior do que Arrow. Fica para vocês, caros leitores, votarem aqui nos comentários!
12º Lugar:
Titans Forever
4X12
Mas o suprassumo da cretinice narrativa foi encerrar a série deixando mais uma vez evidente, em letras garrafais, como os Titãs são burros. Sim, completamente burros, em negrito mesmo. Burros do tipo que precisam ser eliminados da face da Terra para não passarem adiante um DNA vergonhoso desses e piorar ainda mais a humanidade. E do que estou falando? Simples, do tal Projeto Ícarus que tem como objetivo criar um buraco de minhoca e que o Irmão Sangue deseja usar para fazer a Terra e Tamaran se chocarem para acabar com o que ele percebe como ameaças para sua supremacia. Exatamente como a esfera de Lex Luthor – outro projeto secreto tirado da cartola no episódio anterior, temos que lembrar -, o tal buraco de minhoca precisa de uma quantidade absurda para funcionar (uma dúvida: se essa energia não está disponível, como é que Bernard sabe que o negócio funciona???), o que é o momento para o grande detetive Dick Grayson afirmar, com aquela certeza sombria que lhe é peculiar, que nenhuma pessoa capaz de gerar esse tipo de energia deveria chegar perto do laboratório. Hummm, que pessoa seria essa, hein? Alguém tem uma pista? Seria ele próprio e seus bastonetes elétricos? Ou Robin III e seu cajado que nem elétrico é? Ou Mutano, que é capaz de se transformar em passarinho? Ah, talvez seja Ravena que… bem… eu não sei muito bem o que ela faz e para que ela serve na série. Conner nem entra na lista, pois, a essa altura, ele está ainda morto, mesmo depois de receber uma dose de kryptonita vermelha com sei lá mais o que…
11º Lugar:
Project Starfire
4X11
Se esquecermos por um momento que Jason Todd aliou-se a um dos arqui-inimigos do Batman, assassinou Hank com requintes de crueldade e quase destruiu Gotham City, o conceito de um treinamento realista desse tipo para a terceira encarnação do Robin faz todo sentido. Mas, para fazer sentido de verdade – algo que não interessa muito ao showrunner, como bem sabemos – isso deveria acontecer durante toda a temporada e não em menos de 24 horas. Walker certamente não sabe (não vou culpar nem o diretor, nem a roteirista aqui, pois eles são paus mandados apenas) que montagens de treinamento foram criadas para – surpresa, surpresa – mostrar a evolução de um treinamento ao longo do tempo, com esse “ao longo do tempo” devendo ser naturalmente interpretado como meses, semanas ou, na pior das hipóteses, alguns dias pelo menos a não ser que estejamos falando de uma comédia pastelão (será que estamos?).
10º Lugar:
Dick & Carol & Ted & Kory
4X08
Quando Kory acordou ao lado de Dick com pijaminhas combinando em uma idílica casa de subúrbio americano, minha paciência acabou e aguentar os outros 48 minutos exigiu um esforço muito maior do que o de Dick para não se deixar levar pelo literal canto da sereia ou do que o de Bernard para deduzir que Caul’s Folly está em outra dimensão porque sentimentos são reais (fico até com vergonha de escrever essa frase). Eu disse que o recomeço foi modorrento e, por isso mesmo, imaginava que o episódio seguinte fosse mais movimentado. Mas ledo engano, já que tudo o que temos é Dick de camisa rosa gravando memórias “dolorosas” para não esquecer quem é de forma que ganhássemos alguns flashbacks que nos lembram exatamente a ruindade da série como um todo.
9º Lugar:
Inside Man
4X05
Afinal, não há outra maneira de classificar a transformação tripla de Gar em gorila, velociraptor e tatu logo no primeiro episódio da temporada, sua transformação em Gar em todas as lutas seguintes e, agora, sua capacidade inédita de se transformar em um vírus capaz de servir de vetor para cinzas mágicas (também invisíveis, pelo visto) para matar a cobra gestando na barriga de Conner à la xenomorfo de Alien, o Oitavo Passageiro. Como não entender e não apreciar a complexidade narrativa criada ao redor de cada uma dessas incríveis situações que alçam Titãs a um patamar de qualidade raras vezes visto em entretenimento serializado? É como testemunhar o nascimento de uma nova Era de Ouro da TV, talvez Era de Platina ou Diamante, pois ouro não é valioso o suficiente para qualificar o que está acontecendo diante de nossos olhos incapazes de captar a dimensão do que vivemos.
8º Lugar:
Caul’s Folly
4X07
Apesar de querer se aproveitar do genial conceito de Danny, a Rua, apresentado no audiovisual na espetacular – e essa sim injustamente cancelada na quarta temporada – Patrulha do Destino, com a introdução de uma “cidade mágica” que é o título do episódio, Caul’s Folly não poderia ser um recomeço de temporada mais rançoso e sem graça. Os eventos do capítulo seguem a transformação de Sebastian Sanger no Irmão Sangue e a derrota dos Titãs lá no templo da Matriarca do Caos e a aparente morte efetiva, para meu desespero, de Jinx, a única personagem realmente interessante da temporada. Ou, melhor dizendo, o episódio parte desse ponto para colocar nossos heróis em uma busca pelo chifre de Trigon, objeto místico aleatório tirado da cartola pelo roteiro de Melissa Brides (sim, a responsável por Troubled Water…).
7º Lugar:
Game Over
4X10
Tenho certeza de que Greg Walker se acha genial em seu comando de Titãs, sem conseguir perceber que toda a tentativa que ele faz de criar algo mais denso, pesado e cerebral resulta em uma hilária sucessão de imbecilidades audiovisuais que deixa evidente sua completa incapacidade de comandar qualquer coisa mais complexa do que um especialmente simplório episódio de Tetetubbies. Game Over é mais um exemplar dessa incompetência de Walker que, lá no fundo, ensaia aquela boa e velha discussão de que toda a magia é apenas a ciência que não compreendemos, chegando até a materializar a fusão das duas coisas em um videogame que serve para absorver as essências (almas?) de quem o joga, mas que acaba tratando a questão de maneira tão rasa e tão bobalhona que tudo o que nos resta é olhar exasperadamente para o relógio para tentar entender como 51 minutos podem se transformar em 510…
6º Lugar:
Dude, Where’s My Gar?
4X09
Depois de marcar o recomeço da quarta e (ainda bem!) última temporada de Titãs com dois episódios muito ruins, Greg Walker nos presenteia com mais uma porcaria, desta vez focada em Gar, personagem que eu, sinceramente, tinha até esquecido que estava na série (ok, eu lembrava, claro, mas simplesmente não ligaria se ele nunca mais aparecesse…). Reconheço que não é uma porcaria no nível dos dois anteriores, mas, a essa altura do campeonato, uma tentativa de jornada de autoconhecimento repleta daqueles fan services safados para agradar fãs que só pensam nesse tipo de artifício idiota e que resulta em um filler não é o que a série precisava.
5º Lugar:
Super Super Mart
4X04
Como o Capitão América, eu entendi a referência romeriana feita em Super Super Mart que conecta um mercado e/ou shopping com zumbis que só morrem (de novo) tendo suas cabeças decepadas. Ha, ha. Super inteligente esse Greg Walker, não é mesmo? Ele cada vez mais surpreende com sua habilidade de não surpreender absolutamente ninguém com sua estratégia canhestra de trabalhar um grupo tão interessante como os Titãs, transformando-os em paspalhos de cabelos coloridos (com Jinx, são já quatro membros com madeixas de cores não naturais) que andam para lá e para cá sem uma lógica minimamente razoável e sem uma coesão narrativa que ultrapasse os didatismos de sempre.
4º Lugar:
Jinx
4X03
De positivo, devo destacar Lisa Ambalavanar como Jinx, imediatamente cativante, mesmo que a personagem seja derivativa e seus poderes mágicos sejam da categoria aleatória, mais conhecida como a categoria da conveniência de roteiro, seja pela forma idiota como ela foge da penitenciária de Blüdhaven, seja por sua habilidade de “vergar” laser. Mas tudo bem. Sua participação é definitivamente carismática no episódio, especialmente porque permite que Dick tenha um momento solo descendo a lenha nos capangas de Lironne e, depois, na própria Lironne, na melhor sequência de longe desses 41 e minutos. Bela coreografia que foi bem dirigida, mesmo que tenha durado algo como um piscar de olhos.
3º Lugar:
Brother Blood
4X06
Separadamente de todo o restante, Brother Blood tem tudo o que faltou aos demais. Gar finalmente se transforma em algo que é mostrado em tela, no caso um gorila, além de ser contactado por um avatar do Vermelho que lhe passa uma mensagem críptica e perigosamente cita Buddy Baker, o Homem Animal, e – não tão perigosamente assim, Mari McCabe, a Víxen; Rachel recobra seus poderes e se transforma em Ravena Branca, em tese sua forma mais poderosa com direito até mesmo ao seu icônico capuz; Kory, ainda que um tanto aleatoriamente, é informada que, agora, tem controle sobre 80% de seu poder, seja lá o que isso signifique e, finalmente, Conner Kent transforma-se no protótipo de Lex Luthor, possivelmente em razão do que a cobra fez dentro dele (interpretem isso como quiserem…). É transformação para caramba para um episódio só, não é mesmo?
2º Lugar:
Mother Mayhem
4X02
Falando do segundo episódio em si, devo dizer que gostei muito da atmosfera gótica de filme de horror das sequências de assassinato da mãe da jovem Aria (Emma Ho) seguida das de pesadelo e da invasão do armazém da morte do sujeitinho fazendo cosplay de Konshu. Bela direção de arte e mais bela ainda fotografia que joga com as sombras como um slasher satânico daqueles bem pesados como a própria série acha que é. Claro que é um pouco decepcionante que os embates entre o serial killer e Ravena tenham sido tão rápidos, pois, sem dúvida alguma, o capítulo teria se beneficiado enormemente se o roteiro tivesse permitido uma construção atmosférica mais lenta e eficiente, sem correr para pagar seus dividendos como se não houvessem ainda 10 episódios pela frente que, não tenho dúvida, não serão sempre usados de maneira eficiente.
1º Lugar:
Lex Luthor
4X01
Intercalando esses eventos, vemos Lex Luthor – nesta versão encarnado por Titus Welliver que, vale dizer, está muito bem e sinistro em seu papel – chegando a lugar incerto e não sabido e sendo recebido por May Bennett, uma cientista vivida por Franka Potente (sério, tem nome de atriz mais bacana do que esse?), que lhe apresenta ao Templo de Azarath, prometendo poder ilimitado ao magnata vilanesco depois de um misterioso ritual, somente para ele sumariamente demiti-la sem dar maiores explicações. Além disso, vemos Sebastian Sanger (Joseph Morgan), um taxidermista, em sua loja e o que parece ser um serial killer mascarado. Mortes e visões de sangue se seguem, com Rachel participando dessas experiências visuais desagradáveis, mas, novamente, sem que tenhamos maiores explicações, ainda que, claro, os leitores dos quadrinhos saibam o que isso significa, lógico, mas que eu não pretendo abordar aqui.