Nota da 1° Temporada de The Walking Dead – World Beyond
(não é uma média):
A primeira temporada de World Beyond foi cheia de altos e baixos, ou seja, foi bem correspondente ao que o título The Walking Dead carrega nos últimos anos. A proposta até apresentou boas ideias para se desvincular um pouco desse rótulo que hoje tem a marca, que virou sinônimo de pobreza de conteúdo e entrega dele apenas em momentos chave que dependiam exclusivamente do apelo gráfico que o universo zumbi proporcionava.
Com personagens adolescentes e narrativa entrelaçada em flashbacks, World Beyond buscava um novo público que enxergasse o potencial dramático da série também em sentimentos humanos palpáveis, potencializados pelo contexto de fim do mundo, ao mesmo tempo em que sustentava seu anterior com o mistério e a expansão do universo para além de Alexandria, e o grupo de Rick (Andrew Lincoln) que tem em seu paradeiro uma ligação direta com o contexto explorado aqui. Fui aberto à ideia, ela por si só nunca foi uma baixa automática para a série, mas sua execução, que por muitas vezes não tinha controle da melosidade de seu tom ou continha substância suficiente para construir personagens carismáticos e dinâmicas em grupo que nos fariam comprar a história deles como um grupo.
Isso foi mudando, a série foi melhorando bastante do meio para o fim, principalmente por pensar essa nova identidade numa mescla transicional e híbrida com as características ainda boas de The Walking Dead enquanto série principal, especialmente nos personagens de Huck (Annet Mahendru) e Felix (Nico Tortorella), os mais interessantes até o momento. Pena que a parte de expansão e motivação da jornada acabou sendo deixada muito para o final, o que acarretou num desfecho que ainda não confirmou a série em sua própria e nova identidade, tampouco ofereceu conteúdo suficiente para convencer quem a acompanhou por motivos terceiros sobre o porquê de tê-la começado. De qualquer forma, a série demonstrou carisma em vários momentos isolados, bons o suficiente para ainda acreditar em seu potencial.
Como de costume, faremos aqui o ranking tradicional de episódios ao final da nossa cobertura de temporada, ordenando os seus episódios do pior ao melhor com links das críticas de cada episódio em separado para conferirem. Comentem aí qual seria sua ordem e o que vocês acharam desta primeira temporada do segundo spin-off de The Walking Dead. Pretendem continuar assistindo? Concordam com o ranking? Não deixem de colocar sua opinião!
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10º Lugar: The Tyger and the Lamb
1X03
Fica evidente depois desses três episódios que os flashbacks não têm uma coesão comum na narrativa ou na montagem, indo de acordo com o que supostamente combina no momento, o que nesse caso não combinou. Do quarteto principal, Silas (Hal Cumpston) parecia ser o mais interessante, mas só parecia mesmo. Além de seu flashback não ser muito claro sobre o direcionamento da traumática do personagem, a orquestração do drama é manipulada pela trilha sonora melosa, de modo a querer puxar um sentimento de pena pelo personagem, por sua fisionomia e personalidade caladona. Assim, toda a sua reluta no presente de querer desistir da missão fica com cara de uma imensa vitimização que trava inutilmente o episódio em vários momentos, porque não é preciso ser inteligente o suficiente para pensar que ele não vai morrer, nem mesmo desistir, então pra que ficar fazendo tanta picuinha com seu passado?
.The Walking Dead World Beyond
9º Lugar: Brave
1X01
Não que as personagens sejam chatas por serem jovens, mas elas são chatas porque são desinteressantes, falta química e energia em suas interações, algo que vale para os outros dois secundários, que surgem ali só por surgir, não conquistam presença e formam naturalmente um time por qual iremos torcer para conseguir cumprir a missão. Até se tenta fazer isso, mas sem sucesso por enquanto. Num cenário ainda neutro de zumbis, soa artificial. E não tem jeito, não há série no mundo que se sustente sem bons personagens, ao menos não temos a sensação de condená-los pela péssima iniciativa de sair em caminhada de quase 2000 quilômetros, sem experiência, no mundo em que já conhecemos bem.
.The Walking Dead World Beyond
8º Lugar: The Deepest Cut
1X09
O grande pecado do episódio é não ter focado em Huck também, porque se era para deixar claro seu envolvimento nos conflitos até o momento – como o forjar de Silas (Hal Cumpston) como culpado da morte do mágico (Scott Adsit), ou a própria do episódio em ter cortado a perna de Felix (Nico Tortorella) –, teria que haver uma aproximação à personagem para deixar claro que essas atitudes na sua mente estariam divididas, tal como o flashback dela estabeleceu. Ao invés disso, a série prefere ficar de misteriozinho que infla o capítulo, pois fica bem claro desde a investida consciente da personagem para furar o pneu até o momento que não mostra Felix se cortando no arame, passando para o momento que revela que Percy (Ted Sutherland) levou um tiro, de que Huck foi a responsável geral sobre tudo.
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7º Lugar: Shadow Puppets
1X06
Até os desdobramentos finais, estava gostando demais do episódio, mas as coisas inevitavelmente se concluem da forma mais anticlimática possível. Falo inevitavelmente porque já era de se esperar que a série não correria riscos, mas é broxante porque a construção vendeu minimamente um potencial a mais do que podia. Se, por exemplo, tivesse a mesma conclusão em um outro capítulo, não seria tão ruim, porque é preciso dar esse gostinho amargo de vez em quando.
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6º Lugar: In This Life
1X10
“É sobre o futuro…”, como dizem várias vezes os personagens ao longo do episódio. Realmente, a série em si parece pensar tanto nele que se esquece de traçar uma linha coerente com seus movimentos presentes, resolvendo e abrindo tantas portas que esquece de fechar as anteriores por completo. Para que fazer mistério com o fato de o pai delas (Joe Holt) estar bem ou não com aquela doutora (Natalie Gold)? Por que não deixar essas cenas para quando isso fosse realmente importante? Essas entregas de respostas em cima da hora, junto de ganchos para um futuro na prática um tanto distante, vão inflando o episódio a ponto de passar a sensação de dependência de fatos que ainda vão acontecer, e não de fatos que já aconteceram e precisavam ser valorizados em desfecho.
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5º Lugar: Wrong End of a Telescope
1X04
Nesse conforto, surge o mérito deste episódio que, como dito, fica nas interações em separado, especialmente Felix (Nico Tortorella) e Elton (Nicolas Cantu) que têm seus momentos. Gosto de como é implementado um mini conflito ali no personagem para acontecimentos próximos, essa de ajudar ou não Felix a convencer o pessoal a voltar. Ele assume a dianteira inclusive de personagem mais interessante até o momento, é o que teve o flashback mais assertivo, logo, sua comunicação com Elton sobre inseguranças criam uma química improvável bastante funcional.
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4º Lugar: The Sky Is a Graveyard
1X08
Ver o que realmente aconteceu no momento em que Silas matou seu pai (Kai Lennox) honestamente não faz muita diferença ao episódio em termos de história, a condução ali está mais como auxílio à dramática presente, então para que ficar criando vários “mistérios” sobre o que vai acontecer a cada próxima cena da sequência? É um equívoco bem específico, porque no geral a montagem é o que faz o capítulo conseguir dosar os demais conflitos entre os personagens e organizá-los de forma cirúrgica para criar o efeito de separação do grupo em vários níveis. São divisões que vão das mais urgentes, como acreditar ou não na palavra de Silas, até as mais complexas, como a conclusão de Elton (Nicolas Cantu) para o conflito plantado com Hope (Alexa Mansour) sobre a morte de sua mãe (Christina Brucato). Essa inclusive é minha cena favorita do episódio…
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3º Lugar: Blaze of Gory
1X02
Passado esse primeiro momento, este segundo capítulo tem muito mais espaço para desenvolver essas motivações fora de gatilhos genéricos e mostrar que o buraco é mais em baixo, sem necessariamente apostar em artimanhas expositivas de roteiro para demonstrar isso. Elas fluem naturalmente por meio de diálogos verdadeiros nas interações entre eles, que vão começando a se conhecer melhor através dos primeiros desafios que o mundo morto os oferece. Percebe-se uma gradação bem interessante na introdução desses desafios em conjunto ao descascamento dos personagens.
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2º Lugar: Madman Across the Water
1X05
Ao mesmo tempo em que é bem-conduzido e singelo por esse lado sentimental, em contraponto à figura fragilizada comprável de Elton sob pressão de estar no meio de um conflito entre o grupo, implanta um novo extremamente promissor, num twist tão bem-programado que não culpo a necessidade de ter sido ditado pela montagem na última cena. Falo do fato de Hope ter matado a mãe de Elton (Christina Brucato) e percebido isso logo depois de tê-lo consolado por sua história, dando-lhe uma falsa esperança de que a mãe e a irmã poderiam estar vivas ainda. Confesso que foi uma cena que me pegou bem desprevenido, até peguei a reprise para tentar perceber o processo, e de fato, o twist estava lá desde o momento em que a mãe dele aparece, mas só é perceptível depois do reforço porque o caminho conjuga sua construção emocional também como um desvio de atenção.
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1º Lugar: Truth or Dare
1X07
Na resolução espelhada, Huck o mata mesmo prometendo sua salvação, em contrapartida, vemos que ela no passado não matou os civis, e sim seus companheiros militares. Ou seja, a casca criada em tese por uma boa atitude a levou à frieza de ser uma sobrevivente. Mas ela relembra isso por meio da cicatriz no rosto, do lado inverso à cicatriz no rosto daquele seu amigo no bar, o que deixa implícito que ela o amava. Sem precisar dizer nada, apenas com a sugestão das imagens, o episódio consegue transmitir perfeitamente a densidade dramática da personagem, dentro da intenção da série em não precisar confirmar dramas com apelo gráfico. Michael Cudlitz até a mostra dando o tiro, mas não mostra quem está levando, porque a dor está em quem é mostrado. Escolha perfeita do diretor, que se demonstrou com esses dois últimos capítulos ser o nome de melhor calibre para conduzir a série.