Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
A 3º temporada de The Orville, oficialmente chamada de New Horizons, fez jus a seu subtítulo e alçou novos horizontes para o seriado criado por Seth MacFarlane. Inicialmente uma espécie de homenagem e paródia ao universo de Star Trek, em especial A Nova Geração, a obra gradualmente encontrou seu lado dramático e moldou sua própria identidade, ainda que intimamente ligada a diversas inspirações do gênero de ficção científica.
Com exceção do segundo episódio, o único que desgosto, o terceiro ano é, sem dúvida, o mais denso e emocional da série, incluindo muitas histórias introspectivas, tematicamente reflexivas e com muitos comentários sociais. Outro aspecto curiosíssimo da nova temporada é o grande escopo e a diversidade de tons das direções, variando entre episódios intimistas, surrealistas, políticos e principalmente épicos na narrativa principal de guerra intergaláctica com os Kaylon. Como muitos comentaram comigo durante as críticas semanais, a abordagem de episódios-filmes foi simplesmente sensacional!
Ademais, também foi um verdadeiro prazer ver Seth MacFarlane navegando entre as estranhezas de The Twilight Zone, a ópera espacial de Star Wars e as suas típicas histórias sobre empatia à la Gene Roddenberry, ainda que McFarlane tenha uma abordagem mais realista e em oposição a ideais “preto no branco” de utopias. A essência de diferentes perspectivas de situações complicadas e provocativas continua sendo o maior destaque do seriado, com alguns socos no estômago durante a temporada, como Gordon voltando no tempo e a trama de Topa. Fico na torcida de uma renovação para continuar acompanhando os personagens maravilhosos, o universo fascinante e alguns dos melhores roteiros sci-fis dos últimos tempos.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
10º Lugar:
Shadow Realms
3X02
Apesar de conceitualmente bacana, o episódio em si não tem boa execução, seja do texto ou da direção. Os problemas começam com algumas escolhas estúpidas para estabelecer o contágio do inimigo, com uma equipe entrando numa nave desconhecida sem qualquer tipo de proteção e, logo depois, deixando de monitorar um membro infectado em plena transformação. Suspensão de descrença é sempre necessária, mas as circunstâncias que levam à contaminação são simplesmente preguiçosas, algo também visto na estranha postura e liderança de Mercer em todo o episódio.
9º Lugar:
Electric Sheep
3X01
Obviamente, MacFarlane não tem a mesma profundidade e reflexão de um Philip K. Dick, mas o artista continua mostrando sua diversidade de abordagem, não tendo medo de sair da sua zona confortável da comédia para levar The Orville cada vez mais para situações dramaticamente complicadas. É um episódio meio confuso em termos de timing narrativo e também não funciona tão bem para estabelecer o tabuleiro e o status quo da New Horizons, mas funciona como o fechamento tardio para conflitos passados e como uma história bastante interessante por si só, principalmente em termos de desenvolvimentos de personagens e dinâmicas da nave.
8º Lugar:
Future Unknown
3X10
Future Unknown é, em linhas gerais, uma celebração da própria The Orville, de seus indivíduos e de tudo que ela quis transmitir para seu público. É uma pena que os roteiristas tenham que seguir essa rota de carta de despedida, sem poder trazer um desenvolvimento narrativo com outros desdobramentos e reviravoltas, mas há uma carga emocional muito bonita aqui, especialmente tocante enquanto o canto de Gordon ecoa pelo universo.
7º Lugar:
Mortality Paradox
3X03
O desfecho na mesa, porém, quebra um pouco a experiência para mim, com o capitão Mercer verbalizando as discussões da história sem nenhuma necessidade – odeio textos óbvios e expositivos que duvidam da inteligência interpretativa do público. Mas, no cômputo geral, Mortality Paradox é um mix bem bacana de drama e filosofia num cenário de ficção científica misteriosa. É notável que MacFarlane está apostando em aventuras dramáticas, por mais que as cenas escolares tenham um pouquinho de humor. É interessante que a paródia tenha se tornado escanteada no seriado, o que, para bem ou para mal, rende ótimos episódios como este, e outros genéricos como Shadow Realms, que se beneficiaria da comédia satírica do showrunner. Eu acredito que MacFarlane poderia prezar mais pelo equilíbrio, mas, bem, vejamos como New Horizons se desenvolve.
6º Lugar:
Midnight Blue
3X08
Midnight Blue continua a onda de episódios-filmes de The Orville, no que é possivelmente um dos capítulos de maior escopo do seriado. Tenho algumas reclamações como vocês leram, principalmente do lado estrutural, mas também em algumas sequências forçadas, como na citada participação da Dolly Parton ou nesse possível romance entre Bortus e Kelly (?). Entretanto, no cômputo geral, temos mais uma ótima história para a trama dos Moclan e o arco de Bortus, Topa e Klyden, incluindo cenas memoráveis como a tortura da garotinha (adorei a atuação e design do torturador macabro), o momento no tribunal da União e o fechamento cheio de ternura entre pai e filha. A história de Topa, aliás, vem ganhando camadas bem interessantes de coming-of-age com elementos de conflitos universais. Vai ser divertido ver como os roteiristas irão expandir e explorar essa trama futuramente.
5º Lugar:
Gently Falling Rain
3X04
Além disso tudo, Gently Falling Rain é um capítulo tematicamente notável. Existem tantos tópicos abordados na história que é difícil falar sobre tudo, como as críticas ao totalitarismo, racismo, nacionalismo e extremismo político (seja da direita ou esquerda), como também representações de insurreição e polarização doutrinária. Sinto até que o roteiro poderia ter sido dividido em dois episódios para tratar tudo com mais nuances e sutileza – não gosto, por exemplo, da cena sobre aborto, inserida de forma abrupta na narrativa. Mas, ainda assim, temos um história que gera debate, reflexão e desconforto no telespectador, algo que um sci-fi com tantos paralelos sociais como The Orville sempre deve almejar, especialmente quando o lado temático é reproduzido através de uma boa narrativa, com bons arcos e bons dramas, que, como bônus, puxa antigas tramas para trazer novas consequências e eventos para o restante da temporada. Sem dúvidas, uma ocasião histórica para a série.
4º Lugar:
From Unknown Graves
3X07
Assim como acontece em Twice in a Lifetime, a série nos “rouba” de um final feliz. É um desfecho realista de deixar corações partidos, mas também há uma linha narrativa interessante para se pensar sobre Isaac: o seriado quer humanizá-lo sem atalhos ou facilitadores, percorrendo o caminho difícil. Eu respeito, gosto disso, e espero que a obra ganhe mais temporadas para continuar seu ótimo trabalho com desenvolvimento de personagens. Em última instância, From Unknown Graves mantém aquela impressão geral de que vimos um filmão, além de ser surpreendentemente coesa, seja tematicamente entre comédia, drama e romance, seja narrativamente com tantas tramas e flashbacks, mantendo como essência da história o sentimento de empatia.
3º Lugar:
Domino
3X09
Também é interessante notar como Domino, como o título indica, é um episódio que finaliza muitas tramas e serve como o catalisador das histórias que vimos na temporada, passando pelo golpe político de Teleya; a continuação do conflito com os Kaylon e sua trajetória para descobrir emoção/empatia; e, claro, a exclusão dos Moclan. Por mais que seja caracterizada como uma série episódica, Seth MacFarlane e seus roteiristas mostram a capacidade de The Orville para ligar episódios “soltos” com uma narrativa geral sequencial e um universo coeso e fascinante, nos dando um “desfecho” em grande escala e digno de óperas espaciais. Só fico com dúvida do que será o verdadeiro encerramento da temporada, mas tenho total confiança na produção.
2º Lugar:
A Tale of Two Topas
3X05
Ainda mais interessante, então, que num roteiro com tanta abrangência temática, a abordagem da direção e da narrativa seja íntima e particular. Saindo das reflexões, simbologias, analogias, críticas e comentários sociais, A Tale of Two Topas é essencialmente um estudo de personagem e um drama familiar, transbordando angústia e empatia na história de uma criança tentando entender a si mesma e descobrindo o poder de voz de maneiras espetacularmente emocionantes, seja nas conversações de Kelly, seja no momento que Topa se vê representada com orgulho e felicidade no discurso de Heveena. The Orville continua dando aula!
1º Lugar:
Twice in a Lifetime
3X06
Como um dos leitores sagazmente pontuou em uma das minhas críticas, os episódios de The Orville estão parecendo filmes. Twice in a Lifetime passa essa impressão com sua história de “e se?” completamente fechadinha e com duração acima de 60 minutos, ainda que seja bem possível que tenhamos desdobramentos deste evento em futuros episódios. O desfecho com a Orville voltando no passado mais dez anos para resgatar Malloy antes dele construir uma família, consequentemente apagando a existência de seus filhos (será?), é simplesmente angustiante. A narrativa é tão eficiente em transpor a situação que Ed e Kelly se tornam antagonistas aos nossos olhos, enquanto Malloy é um homem fora do tempo em uma história sobre uma escolha impossível, o dilema do dever e os cacos emocionais que sobraram de um evento super dramático.