Avaliação da temporada:
(não é uma média)
É um prazer enorme ter uma dificuldade descomunal de ranquear episódios de uma temporada em razão de sua grande qualidade. Foi um sufoco colocar na ordem, mas esse sufoco me fez repensar sobre o 5º ano da série como um todo e eu cheguei à conclusão que mesmo o episódio em tese mais fraco na minha lista, Exodus, o primeiro, muito provavelmente ganharia uma nota mais alta se eu fosse efetivamente reavaliá-lo. E isso diz muito da mais pessoal temporada da série que não só usou magistralmente um artifício clássico, quase clichê, de separar os protagonistas somente para reuni-los ao final, como ainda teve que enfrentar problemas com um de seus atores, Cas Anvar, acusado no meio de 2020 de abuso sexual e uma renovação agridoce, pois veio acompanhada da notícia de que a 6ª temporada seria também a última.
A temporada deu uma aula de como trabalhar núcleos separados de maneira lógica e bem estruturada, sem abandonar personagens e sem perder o ritmo ou criando linhas narrativas separadas por um abismo de qualidade. Mesmo que a jornada de autodescoberta de Amos Burton na Terra e, claro, a odisseia de Naomi Nagata para tentar reconciliar-se com seu filho, levando-a a gigantescos sacrifícios físicos e mentais, tenham sido merecidamente os pontos de maior destaque, todos os demais – Avasarala, Holden, Alex e Bobbi – tiveram tempo de tela que, mesmo variando muito, foi significativo para o desenvolvimento de seus personagens e da história sendo contada. Foi como ver um quebra-cabeças sendo elegantemente montado aos poucos, formando um conjunto harmônico de se tirar ao chapéu ao final.
Mantendo sua pegada de hard sci-fi o tempo todo e afastando a narrativa que gira ao redor da protomolécula mesmo que o assunto tenha sido mantido vivo ao longo da temporada para então ganhar destaque novamente nos segundos finais que armam o último ano, a 5ª temporada colocou o lado humano de seus personagens – inclusive os antagonistas – em absoluto destaque, sem concessões, o que realmente conseguiu criar o tipo de diferenciação bem-vinda no gênero que tão raramente vemos e que foi razoavelmente escanteada na temporada anterior. Será um desafio encerrar satisfatoriamente a saga em apenas mais 10 episódios (fica a torcida para ser um pouco mais do que isso), mas os showrunners já mostraram capacidade de fazer maravilhas mesmo com grandes dificuldades e não há razão para que eles não consigam novamente.
Fiquem com nosso tradicional ranking de episódios e mandem os de vocês!
10º Lugar:
Exodus
5X01
Exodus é o típico episódio formulaico de começo de temporada. Os personagens principais são reapresentados, a trama macro é abordada e todas as peças do xadrez são colocadas no tabuleiro para mais um novo ano de aventuras da tripulação da Rocinante nesse futuro razoavelmente próximo, muito realista, mas que, agora, conta com uma rede de portais interestelares criados por uma civilização extraterrestre desconhecida que altera significativamente o status quo de nossos sistema solar e permite uma onda de colonização das estrelas.
9º Lugar:
Nemesis Games
5X10
Portanto, a convergência narrativa para o momento que leva à batalha espacial é exemplar, um tabuleiro lógico que poucas séries têm paciência e categoria para montar. Diria, porém, que em termos de “tempo de tela”, tudo aconteceu talvez rapidamente demais, levando a uma certa confusão narrativa sobre quem exatamente estava atacando quem, exigindo esclarecimentos de tempos e tempos, incluindo um que vem muito tempo depois, por Monica, sobre o míssil que “não atingiu” a Rocinante que ganha um bom destaque, mas é em seguida esquecido. Dou extremo valor à pegada realista da série, como meus efusivos comentários anteriores deixaram mais do que claro, mas, aqui, eu acho que esse realismo atrapalhou um pouco o grande momento bélico do episódio e talvez da temporada toda, com toda a ação espacial – é importante diferenciar da ação que se passa dentro das naves, estas muito boas – acabou ficando apagada, perdendo muito facilmente pelo uso dos rail guns novos da Rocinante no sensacional Oyedeng.
8º Lugar:
Mother
5X03
Dirigindo um episódio da série pela primeira vez, Thomas Jane, cujo carismático personagem ainda não deu as caras, faz um excelente trabalho com o roteiro de Dan Nowak, reunindo as pontas narrativas sem efetivamente reunir os personagens e entregando aquela perfeita sensação de unicidade que a série sempre teve. Com a Terra gravemente ameaçada, o jogo mudou completamente e olha que sequer chegamos ao ponto em que a protomolécula efetivamente entrou na história.
7º Lugar:
Down and Out
5X05
É impressionante como, além de ser uma das melhores séries sci-fi já produzidas, The Expanse consegue mostrar excelência até mesmo na estrutura mais do que batida de desenvolvimento de núcleos separados que é usada no audiovisual desde tempos imemoriais. Se puxarmos pela memória, poderemos até mesmo concluir que essa é uma característica tão importante quanto a abordagem realista da ficção científica na série, já que os tripulantes da Rocinante começaram separados, juntaram-se e volta e meia são obrigados a se separar novamente, como parece ser o mote da integralidade – ou quase isso – da 5ª temporada.
6º Lugar:
Tribes
5X06
Episódios como Tribes têm a tendência de serem mal compreendidos, mas não por sua complexidade ou hermetismo, pois não é o caso, e sim pelo simples fato de ele ser um episódio já na segunda metade de uma temporada que, em um primeiro momento, pouco parece mover a narrativa macro. E essa impressão que muitos podem ter é perfeitamente aceitável, pois é justamente isso que o roteiro de Hallie Lambert faz, ou seja, caminha um pouco de lado para focar no drama humano, sacrificando o impulsionamento da história como um todo, algo que de forma alguma é grave aqui.
5º Lugar:
Winnipesaukee
5X09
Mesmo plenamente ciente que um episódio com esse título só poderia mesmo ser focado em Amos e Clarissa, já que ela sugerira o roubo de uma nave sub-orbital dos ricos dessa região, tinha ainda esperança de que o resgate de Naomi acontecesse de alguma maneira, o que, claro, nem de longe ocorre. Acontece que, considerando a estrutura da temporada, essa escolha faz todo sentido e deixar a convergência final se não de todos, pelo menos de quase todos os tripulantes da Rocinante para o derradeiro episódio é a melhor opção. Com isso, restava mesmo focar na dupla perdida na Terra saindo do planeta.
4º Lugar:
Churn
5X02
Churn trabalha muito bem o que há de mais especial em The Expanse, ou seja, a capacidade que a série tem de construir excelentes dramas humanos em meio a um ambiente sci-fi que é tratado simplesmente como pano de fundo, como lugar-comum, nada especial, apenas parte de cotidiano. Os segundos finais do episódio, com Amos (ou Timothy) no porto antigo e todo arrebentado de Baltimore deixando um recado para “Chrissie” (ele chamar Avasarala pelo apelido é sensacional) enquanto vemos, ao fundo, a decolagem de um foguete, é o exemplo máximo disso e que ajuda a opor as duas eternas e distantes pontas do espectro socioeconômico da Terra que, nesse futuro, muito diferente de uma utopia de Star Trek, é ainda mais grave e inconciliável.
3º Lugar:
Gaugamela
5X04
Claro que o desespero de Avasarala – e, bem lá no fundo, satisfação por estar certa, não tenham dúvida – ao ver a Terra atacada e sua estratégia para entrar em contato direto com Nancy Gao para trazer a solução também merecem ser destacados no episódio. Não só Shohreh Aghdashloo mostra total controle sobre cada minúcia de sua fascinante personagem, como parece que o cenário foi armado para que ela volte ao poder nem que seja na base da última pessoa disponível, como em Battlestar Galactica ou, mais recentemente, em Designated Survivor. A diferença, claro, é que Avasarala está mais do que preparada para arregaçar as mangas e montar um contra-ataque ou, no mínimo, chegar a algum tipo de cessar fogo temporário.
2º Lugar:
Oyedeng
5X07
Mais uma vez, o roteiro de Dan Nowak é muito cuidadoso ao estabelecer todas as conexões necessárias, primeiro a de Marco com Naomi, depois de Naomi com Filip, em seguida Cyn com Naomi e depois com Marco e, finalmente, Marco manobrando Filip, tudo sempre ao redor da mesma temática de culpa, abandono e sacrifício em movimentos circulares que extraem o máximo do elenco, com grande destaque para Dominique Tipper e Brent Sexton, alguns minutos para Jasai Chase Owens mostrar a que veio e outros tantos para só confirmar que Keon Alexander é mesmo um completo canastrão e não exatamente um personagem multidimensional de verdade (o que não é, confesso, um problema sério considerando todo o contexto e sua caracterização como alguém extremamente orgulhoso e narcisista).
1º Lugar:
Hard Vacuum
5X08
E essa construção digna de filmes sofisticados de horror espacial – Alien me vem à mente imediatamente – chega ao ponto mais alto quando seu plano inicial fracassa e ela então bola outro completamente críptico que Adler mantém misterioso até literalmente quando os créditos começam a aparecer. É angustiante ver Naomi, uma vez atrás da outra, ingressar em um corredor não pressurizado para testar os fios até localizar aquele especificamente responsável pela transmissão, tendo que voltar a cada poucos segundos para lutar por ar. A perseverança da personagem impressiona ainda mais do que sua inteligência em usar a própria mensagem falsa para criar uma outra, que conta a verdade para quem realmente souber ouvir. Ela pode não ser capaz de controlar a Chetzemoka, mas Naomi com certeza não deixará de controlar seu próprio destino e é simplesmente incrível ouvir a mensagem final nos créditos silenciosos do episódio.