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Lista | The Boys – 4ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

O ranking da decepção.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Nunca tive tanta dificuldade para decidir como avaliar uma temporada de série. Normalmente, tenho problemas no ranking de episódios, como foi o caso dos episódios da temporada anterior de The Boys, mas, aqui, no penúltimo ano da série, peguei-me pensando bem mais do que seria razoável. Se, por um lado, eu tinha certeza de que eu não conseguiria afirmar que temporada foi mais do que apenas “boa”, ou seja 3 HALs, por outro a cada minuto que eu passava relembrando os problemas da temporada ou conversando com leitores nas áreas de comentários das crítica, mais eu pensava em descer a lenha no trabalho de Eric Kripke depois do frustrante episódio final da 3ª temporada.

E, nessa “conversa interna” que tive, notei que o problema macro que inicialmente detectara como sendo o mais relevante acabou, na comparação, não sendo tão irritante assim. Falo da guinada para o didatismo exacerbado que a temporada passou a ter, tentando mais expressamente correlacionar personagens e situações ao mundo real, algo que, para mim, é uma mistura de preguiça narrativa com uma forma de subestimar o espectador. Sei que, quando Kripke passou a “desenhar” o que queria dizer, uma horda de gente com capacidade cognitiva reduzida acordou para as críticas políticas e socioeconômicas que a série vinha trabalhando desde seu primeiro episódio lá em 2019, mas não é porque existe gente assim que o showrunner precisa nivelar tudo por baixo. E sim, eu sei muito bem que The Boys nunca foi uma série sutil. Aliás, sutileza é uma palavra que definitivamente não está no DNA da série. Mas uma coisa é ser direto e escrachado, outra bem diferente é pegar na mão do espectador para explicar tudo em detalhes, sacrificando, com isso, a arte.

Por mais que esse didatismo constante tenha me incomodado e ainda me incomode, a grande verdade é que ele não é nada para as estratégias equivocadas de Kripke que basicamente transformaram a 4ª temporada em um grande filler, fazendo a narrativa andar de lado constantemente. E olha que eu gosto de um filler bem feito, mas nem isso eu posso dizer da temporada e, muito sinceramente, não consigo aceitar uma temporada toda como filler. Afinal, remexer nos passados de Kimiko e Francês para fazê-los reviver situações que apenas ratificam aquilo que já sabíamos sobre os personagens somente para, no final, reuni-los romanticamente foi, na falta de uma palavra mais delicada, uma cretinice sem tamanho, uma gigantesca perda de tempo que não levou a lugar algum. De maneira semelhante, todo o drama de Hughie com seu pai comatoso e sua mãe, que abandonara a família, retornando, foi corrido e, no frigir dos ovos, tratado como mais uma terça-feira na vida do sofrido personagem. E não foi diferente quando ele passou 10 dias transando com um transmorfo achando que era Annie, somente para isso ser objeto de um diálogo simples de casal lavando roupa suja e pronto, tudo certo mais uma vez.

Falando em Annie, a invenção de um “passado sujo” para ela foi outra maneira que Kripke encontrou para enrolar a história, ainda que, nesse caso, a costura com a narrativa principal e com a nova personagem Espoleta tenha sido  mais relevante. Mas tudo foi jogado, literalmente inventado do nada, tirado da cartola do showrunner que resolveu criar novas histórias completamente inorgânicas a esse ponto da série. E, nessa mesma toada, ainda que não exatamente relacionado com passados escusos, tivemos MM sendo maltratado por roteiros que não souberam fazer dele algo relevante como líder dos Rapazes, mais parecendo um personagem novo que foi criado para servir de substituto temporário para Billy Bruto. Retirem mentalmente MM da temporada e me digam: em que ela mudaria?

E o que falar da transformação de Profundo, de uma espécie de alívio cômico – babaca como todos os supers, claro – para capacho sanguinário do Capitão Pátria? E Black Noir II, preciso mesmo sequer mencionar a patetice que foi a introdução e uso dele na temporada? Os dois, juntos, ganharam o prêmio de personagens mais bipolares da série, ainda que, tenho que admitir, Profundo tenha protagonizado duas das melhores cenas da temporada, o impagável dueto musical com Espoleta e a lobotomia pré-sexo anal com Mana Sábia.

Mas nem tudo se perdeu na temporada.

Tivemos as sequências com Ryan sendo manipulado pelos dois lados, seu pai e Bruto, que levaram a outros ótimos momentos na temporada, assim a introdução de Espoleta e Mana Sábia, duas personagens manipuladoras, cada uma de seu próprio jeito. Claro que até nisso Kripke meteu os pés pelas mãos ao inventar a doença conveniente de Espoleta em razão de seu tratamento leiteiro e ao não conseguir criar um plano minimamente verossimilhante para que Sábia chegasse ao final com aquela empáfia dizer que tudo o que aconteceu ela havia previsto que aconteceria graças à sua capacidade de lidar com todas as variáveis do mundo. E, contra todas as probabilidades, acabei realmente gostando do processo de redenção de Trem Bala. Ainda do lado positivo, tivemos a costumeiramente excelente atuação de Antony Starr e as bizarrices tradicionais da série, que foram muito boas, seja o ataque das ovelhas assassinas (e voadoras) na “fazenda do Velho MacDonald”, a já citada lobotomia de Sábia por Profundo e o sadomasoquismo a que Hughie (sempre ele) foi vitimado na masmorra de Tek-Knight.

No entanto, os aspectos positivos da série não conseguiram, para mim, fazê-la ficar acima da sempre incômoda linha da mediocridade, algo que é particularmente surpreendente considerando-se o quanto a série acertou nos anos anteriores. Eric Kripke perdeu-se no quase imaculado caminho que vinha trilhando com The Boys, tudo para enxertar uma temporada a mais do que a série deveria ter. Entre o andar de caranguejo da história, a falta de coragem de matar personagens realmente importantes e a insistência em escrever roteiros for dummies, a 4ª temporada da série foi uma enorme decepção com alguns lampejos de qualidade, lampejos esse a que me agarrei para chegar à nota final aqui. Agora só nos resta esperar que esse descaminho não contamine a 2ª temporada de Gen-V e, claro, a derradeira de The Boys, mas já não consigo mais confiar em Kripke como antes.

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!

8º Lugar:
We’ll Keep the Red Flag Flying Here

4X03

Mas este episódio deixa evidente um outro tipo de problema, que é o exacerbamento do didatismo, algo que reputo como sendo o efeito mais nefasto da irritante moda de transformar tudo em meme ou em algo semelhante que possa ser propagado virtualmente com facilidade, expandindo o alcance de um produto audiovisual. Senti isso na Truthcon, no episódio anterior, mas a pegada satírica, ali, fez valer o esforço. Em Vamos Manter a Bandeira Vermelha Hasteada, o uso exagerado de diálogos explicativos é frustrante a ponto de ser hilário, mas não do jeito bom. Será que o espectador médio é tão burro a ponto de precisar que o Capitão Pátria vilanize para seus torcedores o grupo que torce para Luz-Estrela? Era mesmo necessário que o plano maligno envolvendo os super-heróis e Victoria Neuman fosse descortinado daquele jeito bê-á-bá, com Hughie escutando tudo e, pasmem, ele mesmo ficando surpreso com o óbvio ululante?

7º Lugar:
Department of Dirty Tricks

4X01

O que o episódio faz de “errado”, por assim dizer, é o que uma gigantesca percentagem de primeiros episódios de novas temporadas de série costuma fazer, ou seja, transformar quase toda a minutagem em uma recapitulação do que aconteceu antes, com alguns elementos novos aqui e ali para dar aquele verniz de importância, mas não trazem realmente nada de radicalmente novo ou que efetivamente impulsione a narrativa. O que temos é a reiteração de que os Rapazes, agora, trabalham diretamente para a CIA sob o comando de Grace Mallory, com Billy Bruto tendo sido colocado para escanteio por tudo o que ele fez antes de errado, o pouco tempo de vida que o ex-líder em tese tem em razão do uso do Composto V e assim por diante e que Luz-Estrela, que agora só quer ser chamada por seu nome civil, tornou-se a contrapartida ideológica ao fascismo do Capitão Pátria (Antony Starr é, de longe, o destaque do elenco aqui), em uma nação dividida entre dois campos aguerridos como acontece na vida real em basicamente tudo, de questões políticas até o uso de biscoito ou bolacha para identificar o que obviamente só podem ser biscoitos.

6º Lugar:
Life Among the Septics

4X02

Mas eu falei de decisões equivocadas no episódio, não foi? Pois bem. Elas recaem na categoria geral de “criações e reutilizações de passados para os Rapazes”. Temos Francês em um círculo vicioso em que ele namora Colin (Elliot Knight), mas se odeia por isso já que ele é responsável pela morte da família do sujeito. Temos Kimiko retornando à sua época de cativeiro, largando a terapia e partindo, ao que tudo indica, para a vingança. Temos Marvin e Bruto naquele velho conflito ideológico deles. E, finalmente, temos Hughie lidando com a mãe que o abandonara e a seu pai, que retorna agora que Hugh Sr. está acamado. Não estou reclamando dos dramas em si, pois, como eu disse logo no começo, é com eles que The Boys costuma sobressair-se quando não está abalroando baleias ou lidando com prazer intrapeniano. O problema está no momento em que essas situações estão sendo abordadas.

5º Lugar:
The Insider

4X07

Nesta quarta temporada de The Boys, mesmo os acertos de Eric Kripke são repletos de erros e problemas. O showrunner, que vinha mostrando completo controle da série até o final do penúltimo episódio da temporada anterior, parece ter se perdido completamente dali em diante, passando a desfazer desenvolvimentos da história e a fazer com que tudo andasse consideravelmente de lado, deixando quase que todos os grandes eventos em banho maria e em compasso de espera pela última temporada, em que, pelo menos em tese, os freios poderão ser retirados e ele poderá dar o fim que bem entender a seus personagens. Se Negócio Sujo e Cuidado com o Jaguadarte, Meu Filho trouxeram algum grau de esperança por uma temporada que pudesse sair ali da incômoda linha logo acima da mediocridade, O Informante vem para jogar um pouco que água fria nessa possibilidade.

4º Lugar:
Wisdom of the Ages

4X04

Mas confesso que, de momentos subversivos genuínos mesmo, algo que era tão presente em The Boys, só vi duas cenas – e muito breves -, ambas com Profundo em tela. A primeira delas foi o dueto dele com Espoleta cantando o clássico Up Where We Belong que, espero, seja lançado em sua integralidade em algum lugar, seja no Prime Video, seja no YouTube ou em algum serviço de streaming de música. A outra foi, claro, a lobotomia pré-sexo que ele faz em Mana Sábia a pedido dela, uma cena daquelas que é ao mesmo tempo difícil de ver e irresistível de saborear pelo grau de doença da imaginação de Kripke e equipe. Esse é, aliás, o segundo momento justificado de violência explícita que comentei mais acima.

3º Lugar:
Beware the Jabberwock, My Son

4X05

Confesso que minha nota final exageradamente alta para o episódio (meio HAL a mais do que deveria ser) vem do fato de eu ter rolado no chão de rir quando Old MacDonald Had a Farm começou a tocar nos créditos finais, com direito à minha esposa aparecer na sala para ver se eu não estava tendo um ataque cardíaco ou algo semelhante. Escolha absolutamente genial da produção em um capítulo que tem um terço de sua ação acontecendo justamente em uma fazenda repleta de bichos normalmente dóceis sendo transformados em assustadores super animais assassinos. Mesmo descontando o uso da canção, com direito ao chiado do disquinho de vinil, Beware the Jabberwock, My Son é facilmente o melhor episódio da temporada até agora, o único que eu posso dizer com tranquilidade que eu realmente gostei, mesmo que ele naturalmente carregue e repita os mesmos problemas que vêm assolando este quarto ano de The Boys.

2º Lugar:
Assassination Run

4X08

Ironias à parte, o ex-Assassination Run foi um ótimo final de temporada, uma inversão do que aconteceu no ano anterior, que foi muito bom, mas acabou muito mal, e tudo porque o roteiro, aqui, seguiu a estrutura do que vimos em Negócio Sujo, ou seja, ajustou seu foco, trabalhou um tema e conseguiu reunir as mais variadas linhas narrativas em algo efetivamente coeso. Meu medo de que a tentativa de assassinato fosse simplesmente uma estratégia de Kripke para evitar super confrontamentos felizmente não se justificou e o texto de Jessica Chou e David Reed conseguiu usar essa premissa para costurar uma história que funciona muito bem como prelúdio para a temporada final, ultrapassando aquela impressão quase inafastável de que todo quarto ano não passou de um grande filler. Mas não se enganem: a temporada continua sendo um grande e indesculpável filler, um intervalo em sua maior parte desnecessário para que finalmente chegássemos aos eventos finais e não, o rebatizado Final da 4ª Temporada não cura isso e ele mesmo tem seus graves problemas naquele esquema de acertos eivados de erros que mencionei em minha crítica anterior.

1º Lugar:
Dirty Business

4X06

Mas o melhor é que, em cima disso tudo, há muita diversão. Ver Annie genuinamente assumir os erros de seu passado perante Espoleta somente para drogá-la foi um momento excelente, assim como foi o ataque de pânico de MM, finalmente deixando claro que ele não tem capacidade de fazer aquilo que precisa ser feito. E, claro, a tortura de Hughie, que quase ganha um novo buraco, foi inspirada e inteligente por também refletir a dor que ele sente internamente pelo que teve que fazer ao seu pai, mesmo que ele inicialmente diga que está bem. Em Negócio Sujo, não só os personagens convergem, mas os roteiros também em um pacote coeso e único que se mantem bem estruturado do começo ao fim, sem fazer concessões a narrativas laterais repetitivas e sem perder o foco.

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