Avaliação da temporada:
(não é uma média)
A 2ª temporada de The Boys veio para mostrar que o objetivo da série não é só chocar os espectadores, como basicamente são as HQs em que foi baseada. Eric Kripke tem conseguido comandar uma adaptação que se inspira no material fonte, mas que vai além, preocupando-se com algo tão pouco em “voga” em séries de super-heróis: a construção e o desenvolvimento de personagens. Claro, toda aquela porralouquice que se espera da série está lá, como o inesquecível abalroamento de baleia, mas ela é temperada com doses generosas de atenção com seus personagens tanto de um lado quanto de outro do conflito macro, assim como de críticas sociais, aqui especialmente caracterizadas pela introdução da Super Nazista Tempesta, vivida sensacionalmente por Aya Cash, em papel que vem para rivalizar – e, em muitos momentos, ultrapassar – o de Antony Starr como Capitão Pátria, por sua vez cada vez melhor em seu personagem, mostrando uma profundidade dramática que muito claramente lhe faltava em seu papel em Banshee.
Do lado dos rapazes, houve espaço para que Hughie evoluísse em seu relacionamento com Annie, além de Kimiko ter ganhado mais história pregressa com a introdução de seu irmão como um super-terrorista. Billy, apesar de também ter ganhado destaque com seu tão esperado reencontro com Becca, acabou sofrendo um pouco pelas consequências da rejeição dela em razão do jovem Ryan. Aliás, todo o meio da temporada, em que Karl Urban teve seu personagem arrefecido por roteiros que foram menos do que eficientes em lidar com a equipe dele, criou uma certa barriga narrativa, muitas vezes deixando a desejar na forma como os Rapazes passaram a ser abordados. Por outro lado, a trama andou bem no que se refere a Vought e também aos super-heróis, incluindo Profundo e Trem Bala, que foram utilizados como instrumentos de introdução à Igreja da Coletividade, em uma clara crítica à Cientologia.
No entanto, o balanço da temporada foi muito positivo, com um encerramento eficiente que amarra pontas soltas e refaz todo o tabuleiro, transformando as duas temporadas em, essencialmente, um alongado prelúdio para a base dos quadrinhos. Com os Rapazes agora potencialmente atuando como um grupo fundeado e sancionado pela CIA, os Sete enfraquecidos e a Vought mostrando seus tentáculos na política americana, o futuro da série parece mais promissor do que nunca!
Vamos então ao nosso ranking tradicional? E mandem os seus!
8º Lugar: The Bloody Doors Off
2X06
A primeira delas é a localizada, ou seja, é a que está presente apenas neste episódio por enquanto e que espero que não se repita. E muitos de vocês, leitores, revirarão os olhos quando eu disser o que é, especialmente depois desse suspense todo: a montagem. Sim, a montagem. Detalhe desimportante que só crítico chato percebe? Nem de longe, meus caros, nem de longe. Peguemos, por exemplo, Nothing Like it in the World como exemplo ilustrativo. No episódio, nenhum personagem foi esquecido e nenhuma sub-trama deixou de ser abordada e, em momento algum, ao longo de seus 68 minutos que, diga-se de passagem, quase não tem ação alguma, houve a impressão de que as linhas narrativas estavam se chocando umas com as outras. Tudo correu de maneira fluida, lógica, com cada segmento tendo o tempo necessário para ser desenvolvido sem que a trama paralela o interrompesse e sem que o raciocínio fosse quebrado, resultando em uma joia narrativa como poucas.
7º Lugar: We Gotta Go Now
2X05
Mas a qualidade do lado super-poderoso de We Gotta Go Now não é repetida do lado dos Rapazes. Se é um feito a ser comemorado a introdução oficial de Terror na série – inclusive com a versão light do “fuck it” dos quadrinhos! -, isso se dá em meio a uma trama cansada em que Billy parece querer desistir de tudo em razão do fora que leva de Becca. Digo que é cansada por duas razões óbvias: esse Billy cabisbaixo não é o Billy que a série vem construindo e era mais do que óbvio que Hughie, o derrotado de plantão, reverteria esse quadro com duas palavrinhas aqui e ali. Teria sido melhor pular a fase do “durão tadinho” e focar na ameaça de Black Noir observando tudo a mando de Stan Edgar, definitivamente aproximando o silencioso personagem de sua função primordial das HQs (e que não mencionarei para não comentar possíveis spoilers de outras mídias).
6º Lugar: Proper Preparation and Planning
2X02
Por outro lado, a maneira como o roteiro lida com a cronologia do que aconteceu ao final da temporada anterior me pareceu desconjuntada, sem muita preocupação com a lógica. Onde estava Billy esse tempo todo? Na verdade, nem sei se é mesmo “tempo todo”, pois tudo indica que poucos dias se passaram desde que ele descobriu que sua esposa estava viva. E o que o Capitão Pátria fez – ou não fez – com ele é também algo muito enevoado que, espero, ganhe algum tipo de explicação mais para a frente.
5º Lugar: The Big Ride
2X01
O cliffhanger da temporada anterior é usado muito eficientemente como justamente o artifício para construir curiosidade e até mesmo um pouco de ansiedade para entender exatamente o que aconteceu. Mas, no lugar de nos entregar isso, o roteiro escrito pelo showrunner Eric Kripke usa esse gancho para comprar tempo, sem demonstrar nenhuma pressa em mergulhar na pergunta quente: onde está Billy? Com isso, vemos os quatro Boys remanescentes escondidos no quartel-general da bandidagem amiga de Francês, um submundo de todo tipo de marginais e de crimes, ou seja, o lugar perfeito para representar toda a podridão que a série aborda.
4º Lugar: Butcher, Baker, Candlestickbaker
2X07
Seja como for, esse Billy, então, canaliza toda sua fúria no excelente momento em que ele ameaça toda a família (novamente a família!) de Jonah Vogelbaum (John Doman de volta ao seu breve papel da 1ª temporada), o homem responsável pelo Capitão Pátria e, pior ainda, pelo desaparecimento de Becca, caso ele não deponha na CPI instaurada contra a Vought. Karl Urban novamente revela-se muito bem dentro das limitações de seu papel e ele nos faz acreditar em sua promessa da mesma maneira que acreditamos que o Capitão Pátria poderia matar qualquer um ao seu redor por puro prazer. Afinal, ainda que seja óbvio que os super-heróis desse universo sejam, em sua grande maioria, grandessíssimos FDPs, a grande e dura verdade é que Billy – especialmente ele – não fica lá muito atrás. Na verdade, o que o separa da psicopatia do Capitão Pátria é que Billy pelo menos é impulsionado por seu desejo de vingança e não por caprichos.
3º Lugar: What I Know
2X08
What I Know encerra bem – não maravilhosamente bem – a temporada e aponta para um recomeço da série em seu próximo ano. Os Sete enfraquecidos, os Rapazes fortalecidos, ainda que separados, e a Vought mostrando-se muito mais ardilosa do que parecia, com laços profundos na política, são os ingredientes perfeitos para um apetitoso festival de atrocidades. Basta que Eric Kripke continue trilhando seu caminho, mas sem perder de vista um final programado para evitar prolongamentos que venham esvaziar o que ele conseguiu até agora.
2º Lugar: Over the Hill with the Swords of a Thousand Men
2X03
Não existe nenhum cenário em que um episódio em que Billy e seu grupo abalroa uma baleia cachalote com uma lancha não seja uma obra-prima que precisa ser apreciada pela insanidade da coisa. Ver os Boys ensanguentados saindo de dentro da baleia moribunda – desculpem-me os protetores de animais, mas isso não tem preço! – foi um daqueles momentos em que você percebe muito claramente que a mensalidade do serviço de streaming é dinheiro bem gasto.
1º Lugar: Nothing Like It in the World
2X04
The Boys pode ser lembrada e até adorada porque tem super-violência aos borbotões e momentos impressionantemente escrachados em uma narrativa que não parece ter limites para o que é capaz de colocar na telinha, mas o que realmente faz da série algo fora do comum, efetivamente separando-a do que poderia ser apenas mais uma obra cheia de pancadaria e explosões para agradar o público, são episódios como Nothing Like It in the World. São 68 minutos perfeitos que não querem saber de deslumbrar pelo exagero ou chocar com sangue e tripas, mas sim trabalhar seus personagens de maneira significativa e criativa e sem esquecer de impulsionar a trama, com revelações bem colocadas e bem trabalhadas.