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Lista | Succession – 3ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

A impossível tarefa de ranquear essa temporada.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Sempre me pego indagando como uma série que só tem personagens execráveis e que mostra o pior da humanidade pode ser tão apaixonante e tão poderosa nas mensagens que passa a ponto de eu ficar triste quando uma temporada acaba e tenho que esperar a próxima. Succession é um desses raros exemplos em que cada quadro é milimetricamente construído para estabelecer um ecossistema podre sobre os bastidores dos super-ricos, aquela percentagem tão ridiculamente ínfima de pessoas e ao mesmo tempo tão influente e poderosa.

Se o showrunner Jesse Armstrong já havia sido capaz de chegar próximo da perfeição nas duas temporadas anteriores, aqui, no 3º ano da série, ele parece muito facilmente chegar ao ponto mais alto de sua criação, lidando com a desconstrução do clã Roy a partir da traição de Kendall – ou talvez seja melhor dizer libertação – e os efeitos de sua decisão sobre o império do pai. Dando esperança de que o que ele fez poderá resultar em algo realmente bom, a temporada logo puxa o tapete do espectador e mostra que a crueldade de Logan Roy não tem limites e que lutar contra um filho usando os demais como instrumentos de seu poder é brincadeira de criança para ele, e isso enquanto não só se livra da prisão, como também escolhe o próximo presidente e luta para fortalecer sua empresa.

Entre a devassidão de Roman, a frieza de Shiv e o rancor de Connor – sem contar com a profunda depressão de Kendall – não há um personagem da família que demonstre ser feliz. Muito ao contrário, com todo o dinheiro que eles têm, tudo o que eles querem é mais dinheiro e mais poder, fazendo com todos aqueles ao seu redor exatamente o que o pai passou a vida inteira fazendo com eles, Tom que o diga.

Com um elenco afiadíssimo em todas as posições comandado por Brian Cox e Jeremy Strong, a temporada faz uma profunda análise de cada um dos herdeiros da família, revelando sua motivações para fazerem o que fazem, além da submissão deles ao patriarca mesmo nas condições mais adversas, só sendo capazes de encontrar motivos para se unirem quando o império construído por Logan Roy passa a ser ameaçado pela ascensão da GoJo, comandada por Lukas Mattson, representante da nova geração de magnatas. O final, com a possível e surpreendente aquisição do antigo conglomerado pelo novo, tem a possibilidade de alterar a dinâmica da série no vindouro quarto ano.

Apesar de dois momentos menos do que perfeitos – a retirada artificial de Logan da frente de batalha em Retired Janitors of Idaho e o cliffhanger elaborado e poético que dá a entender que Kendall morreu em Chiantishire, que é “desfeito” em All the Bells Say – todo o restante foi tão sensacional que o conjunto da temporada não é menos do que excepcional, do desenho de produção, passando pela fotografia e desaguando na abordagem natural dos conflitos familiares e empresariais. Inegavelmente um dos pontos altos da televisão em 2021.

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior (se é que o conceito de pior é aplicável aqui)? Mandem suas listas e comentários!

Categoria 1:
A Única Colocação que eu Tinha Certeza
e Mesmo Assim Doeu o Coração

9º Lugar:
Retired Janitors of Idaho

3X05

No entanto – e a avaliação lá do começo da crítica não deixa dúvidas – incomodei-me justamente com a forma como Logan é “retirado” do tabuleiro de xadrez para que seu grupo, de certa maneira capitaneado por Shiv, mas tendo Ken também por trás tentando levar todos a um acordo para impedir uma perigosa votação, lide com a crise sozinho, chegando, claro, a um resultado que o Logan lúcido jamais aceitaria (ele não aceitaria NENHUM resultado, só para ficar claro, já que ele não teria participado do processo). A reutilização da premissa da 1ª temporada me pareceu desnecessária, com a doença de Logan – imagino que haja conexão com seu quase desmaio em Lion in the Meadow, mas ela não foi estabelecida firmemente – parecendo mais um artifício simples para criar a tensão no episódio. E o pior é o pareamento, a paralelização de situações no lado dos Roys com Sandi servindo de porta-voz para seu pai Sandy, lúcido, mas preso a uma cadeira de rodas e incapaz de falar normalmente. A primeira coisa que me veio à mente foram aquelas séries de televisão “enlatadas” da década de 80 (ou algumas recentes, como Lucifer) em que o “caso da semana” sempre comentava a situação macro do episódio entre o elenco fixo, ou vice-versa.

Categoria 2:
Quase Perfeições que Podem Trocar de Lugar
Uma com a Outra que Não Faz Diferença

8º Lugar:
Secession

3X01

Como acontece muito na série, Secession é um daqueles episódios em que o espectador inspira no minuto inicial e só vai se lembrar de expirar quando os créditos finais começam a rolar, já que a direção de Mark Mylod, seguindo a pegada semidocumental que a câmera levemente tremida da série estabelece, parece tratar todas as sequências como se fossem longas tomadas ininterruptas. Não são, que fique bem claro, mas Mylod usa sua familiaridade com a série e sua verve como cineasta para trabalhar uma decupagem que não diria que chega a ser frenética, mas sim que ela consegue perfeitamente passar a ansiedade e excitação que Kendall sente da mesma maneira que consegue por vezes parar e deixar o espectador sentir e “ouvir” os pensamentos do patriarca da família lidando com o caos que imediatamente se forma ao seu redor e, claro, com a eterna questão de quem o sucederá já que sua primeira decisão é temporariamente afastar-se como presidente da Waystar-Royco, mas deixando claro que continuará manipulando tudo por trás.

7º Lugar:
The Disruption

3X03

Como uma criança que resolve implicar com a irmã, ele destrói o grande momento de Shiv como a recém-empossada presidente da empresa em seu discurso para tentar acalmar os funcionários. A sequência é absolutamente memorável, com caixas de som recém-compradas tocando em altíssimo e bom som nada menos do que “Rape Me“, do Nirvana, uma mensagem nada sutil, claro, mas que imediatamente alcança o efeito pretendido. Mas a resposta da irmã é igualmente imatura, já que ela parte para o ataque verbal aberto na forma de uma carta apoiada nos bastidores pelo pai, mas que é tão virulenta que Connor e Roman se recusam a assiná-la. Aliás, o jantar em que Shiv propõe essa estratégia aos irmãos é uma cena curta, mas extremamente eficiente novamente naquele espírito de dinâmica familiar que soa ao mesmo tempo impossivelmente natural graças a Sarah SnookKieran Culkin  e Alan Ruck.

Categoria 3:
Morri um Pouco ao Ser Obrigado a Ranquear

6º Lugar:
All the Bells Say

3X09

Mas o que é realmente sensacional em All the Bells Say é como o episódio é o cuidadoso fruto de uma temporada soberba, que tem cada diálogo e cada acontecimento funcionando para nos levar a esse ponto na história em que os filhos, finalmente enfrentando o pai como uma unidade, são derrubados por um Logan mais do que preparado e, claro, capaz de fazer absolutamente qualquer coisa para neutralizá-los, inclusive renegociar o acordo de divórcio com Caroline, efetivamente retirando a força dos filhos. Isso só é possível pela cadeia de acontecimentos ao longo da temporada, especialmente o casamento de Caroline que serve de porta de entrada para entendermos a natureza do divórcio dela de Logan e o quanto isso significa para seus filhos e também para que haja a oportunidade para que Shiv primeiro mostre sua mais absoluta insensibilidade em relação ao marido e, ato contínuo, ao brindar o novo casamento da mãe, use o seu próprio matrimônio como exemplo de união próspera e feliz, funcionando com a gota d’água para que Tom finalmente tome uma posição diretamente contra sua esposa, entregando a alma ao diabo como ele mesmo diz a Greg (e temos que combinar que a alternativa era também outra entrega de alma a outra entidade maléfica).

5º Lugar:
Lion in the Meadow

3X04

Mas é claro que o grande momento do episódio é mesmo quando Logan e Kendall Roy, encontrando-se presencialmente pela primeira vez desde que o escândalo foi escancarado, vão, cabisbaixos, até a mansão de Josh Aaronson para comer na mão dele. Estamos acostumados a ver a força, a insensibilidade e a sana por poder dos Roys – tudo nessa série é por poder, aliás – e chega a ser estranho ver alguém subjugando especialmente a dupla formada por pai e filho traidor. Brody, que há muito tempo não entregava uma atuação realmente boa, entra de imediato na vibe da série e se transforma em um sujeito que consegue ser mais asqueroso que todos os Roys juntos, um cara que quer sentir a pulsação da relação entre a dupla convidada e que, para isso, coloca os dois no que podemos chamar bastante facilmente de ritual sádico, com direito a longas caminhadas por sua propriedade, um almoço que obviamente ninguém toca e diálogos em meias palavras que são enervantes, mas ao mesmo tempo tão corrosivos quanto ácido sulfúrico.

4º Lugar:
Mass in Time of War

3X02

A dinâmica familiar do episódio, com a reunião dos três irmãos em tese ao lado de Logan com o dissidente Kendall, sem que ninguém, sequer por um segundo, admita que está ali porque pensou em mudar de chapéu, é uma obra-prima narrativa que soa natural a cada frame, sejam eles juntos ou separados, algo que é mérito de Jeremy StrongSarah SnookKieran Culkin e Alan Ruck sob as lentes precisas de Mark Mylod. É fascinante ver, de um lado, o discurso ensaiado, cheio de frases de efeito e “lindo no papel” que Kendall faz para defender seu lado e propor uma união contra o pai e, de outro, as reações de Shiv, Roman e Connor, cada um deles fazendo cálculos mentais não sobre os aspectos morais da coisa toda, mas sim, no frigir dos ovos, com que pedaço do império cada um ficaria e, mais importante do que isso, quem seria o mandachuva.

3º Lugar:
What It Takes

3X06

Nesse fascinante e assustador jogo que tem como cicerone o asqueroso Ron Petkus (Stephen Root perfeito como sempre nesse tipo de papel), vemos Connor Roy ressuscitar seu risível desejo de se candidatar (o que inclui vender sua namorada como se fosse a coisa mais comum do mundo), o vice-presidente Dave Boyer (Reed Birney) alimentando esperanças em ser o grande escolhido por ser a escolha em tese mais fácil, o congressista republicano light Rick Salgado (Yul Vazquez) vendendo-se descaradamente para Shiv, que o compra, e o fascista Jeryd Mencken (Justin Kirk) cortejando Roman. O espaço dado a cada personagem pode não ter sido particularmente grande, mas é meticulosamente perfeito para que compreendamos cada uma de suas personalidades e percebamos que não só todos têm sua própria agenda, o que é natural, como também que, lá no fundo, eles não são tão diferentes assim. O que provavelmente faz Logan eleger Mencken – além do excelente trabalho de Kirk no papel – não foi o viés político dele, mas sim a mistura exata entre ataque frontal ao patriarca e à sua empresa e demonstração de que o candidato fará o que for necessário (what it takes) pelo apoio de Logan, o que é simbolizado pela lata de Coca-Cola que ele leva ao patriarca como seu silencioso gesto de subserviência.

2º Lugar:
Too Much Birthday

3X07

O desenho de produção de Too Much Birthday é impressionante – um espetáculo à parte, diria – e faz das várias “seções” da área da festa ao mesmo tempo um retrato do que se passa na mente mais do que perturbada de Ken, que ele enxerga como positivo, claro, e nós, como negativo, como também, metalinguisiticamente, nos fornece um mapa de sua decadência e, não posso deixar de afirmar, ainda que em um patamar diferenciado, a de sua família toda. Desde a entrada pelo “canal vaginal” que Roman usa como uma piada (em cima de uma piada) que, de tão horrível, ele mesmo fica constrangido, passando pelas “manchetes futuras de jornais” que registra aquilo que Ken espera que aconteça como uma provocação de 5ª série e a “casa na árvore” que, com sexo, drogas e qualquer outra coisa que bilionários possam pedir com um estalar de dedos, tenta representar a infância do aniversariante, e chegando ao sinistro, mas ao mesmo tempo tristíssimo “túnel dos elogios”, em que os transeuntes são bombardeados por afagos em seus egos por pessoas pagas para fazer papeis humilhantes, o que vemos são ecos de tudo o que está errado com Ken, com os Roys e, claro, com o mundo corporativo desse nível estratosférico que provavelmente ninguém que está lendo esta crítica consegue sequer começar a imaginar. Arriscaria dizer que nem Salvador Dalí trabalhando novamente em conjunto com Luis Buñuel, somados de Alejandro Jodorowski chegariam nesse nível de representação de toda uma micro classe social que comanda o mundo.

1º Lugar:
Chiantishire

3X08

E, finalmente – mas certamente não menos importante – temos Kendall e sua admissão de derrota diante do pai em uma cena que, confesso, foi a mais difícil de assistir da temporada até agora. Preparando um jantar sofisticado para o pai de forma que eles possam ter uma conversa realmente séria e com Logan imediatamente usando o neto – o mesmo em quem ele acertou um jarro de geleia lá na primeira temporada, lembram-se? – como “provador real” para saber se seu prato estava envenenado. Só aí, mesmo quem nunca viu Logan Roy antes, percebe que tipo de monstro ele é. Ele não fez aquilo por realmente achar que sua comida estava envenenada, claro, mas sim, apenas, por uma pura e simples demonstração de poder absoluto e da mais completa indiferença por quem quer que seja. Depois disso, é só ladeira abaixo com Ken pedindo – suplicando! – para sair com base na proposta que serviu como início de sua própria desestabilização em sua festa e seu pai simplesmente dizendo não, que, aquilo fora uma “brincadeira” e que talvez ele queira o filho por perto. É como se essa cena se passasse dentro de uma masmorra medieval com um carrasco torturando uma vítima das formas mais cruéis possíveis, o que, para Logan, significa levantar mais uma vez a morte do garçom causada por Ken, que é uma espécie de resumo de sua vida desregrada. O único problema é que Logan não tem a menor consciência (eu acho mesmo isso, confesso) do quanto ele foi e é o abusador de seus filhos e que Ken, por mais defeitos que tenha, realmente sente culpa pelo ocorrido, diferente do pai sobre qualquer ato pelo qual ele tenha sido responsável direto ou indireto.

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