Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Infelizmente, com a venda da CW para a Nexstar e a reformulação da Warner como parte de sua aquisição pela Discovery, Stargirl acabou sendo cancelada. Apesar de nunca ter se provado como uma série espetacular, o trabalho de Geoff Johns a sua frente mostrou-se um grande acerto em termos de séries de super-herói com pegada adolescente, com o autor e roteirista criando um ótimo equilíbrio entre aquilo que “negativamente” se espera de séries assim com componentes diretamente tirados do espírito dos quadrinhos como um todo, não só da personagem que ele criou em homenagem à sua irmã tragicamente falecida.
A terceira e última temporada da série começou muito bem com o misterioso assassinato do Jogador e a investigação de quem teria sido o assassino pela nova Sociedade da Justiça, além de uma boa discussão sobre o papel do revivido Sylvester Pemberton nessa equação. No entanto, essa linha narrativa não demorou a perder a força e a andar de lado, somente para, de repente, ser atropelada inclementemente por dois episódios que tinham a intenção de servir de backdoor pilot para uma série derivada da Corporação Infinito e que traziam de volta Jenny e introduziam seu irmão Todd, efetivamente continuando os eventos misteriosos da temporada anterior, mas sem nenhuma conexão com a terceira. Isso acabou esfriando a história como um todo.
A coisa começou a mudar novamente quando algumas surpresas foram introduzidas, particularmente a presença completamente aleatória (no início) do Ultra-Humanoide e a revelação de que Jordan Mahkent, o Geada, não morrera afinal de contas, o que levou a mais assassinatos e a um episódio – o penúltimo – que, surpreendente e competentemente, foi capaz de costurar todas as linhas narrativas (menos a da Corporação Infinito, claro, pois essa não tinha jeito…) em um conjunto coeso e bem pensado. O encerramento, em razão do cancelamento da série, foi um híbrido entre final de temporada e final de série, com Johns fazendo todo o esforço possível para indicar os caminhos que a série tomaria se continuasse, deixando até mesmo um cliffhanger bacana que poderia, um dia, ressuscitar Stargirl como Starwoman, se o prometido Universo Cinematográfico DC reformulado realmente funcione.
Em seu terceiro e último ano, Stargirl não conseguiu ser melhor do que a segunda temporada, mas certamente foi novamente muito superior à claudicante primeira, mostrando que Johns conseguiu alcançar um ritmo bom para sua narrativa. Quem sabe um dia a personagem não retorna para as telinhas?
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
13º Lugar:
Infinity Inc. (Part One)
3X07
Episódios de séries de TV normalmente têm dois ônus. Eles precisam fazer sentido em relação a eles mesmos e também dentro do contexto geral da série. Nem sempre há um equilíbrio entre os dois requisitos e nem sempre eles são realmente essenciais, além de muitas vezes uma coisa compensar a outra, mas há que haver pelo menos uma lógica interna e externa em conexão com seu momento de inserção em uma temporada. A primeira parte de Infinity Inc., título que referencia a Corporação Infinito dos quadrinhos, é um exemplo clássico da completa ausência do segundo requisito.
12º Lugar:
Infinity Inc. (Part Two)
3X08
Comecei com uma reclamação que não tem relação alguma com o episódio sob análise (mas tem com a série, então não é tão deconectado assim!) e continuarei com outra reclamação, desta vez sobre o episódio em si, ainda que ela seja uma reedição de minha reclamação sobre a Parte Um: o que raios essa história da Helix, com a Jenny, seu irmão Todd, a Enfermeira Love e o Sr. Bones, além de vislumbres de Tao Jones e Tenebra e um name drop safado de Sandy Hawkins tem a ver com Stargirl, especialmente considerando que, conforme descobrimos ao final, o voyeur em Blue Valley não é o cosplayer de Caveira Vermelha? A pergunta, obviamente, é retórica, pois o objetivo muito claramente foi fazer que os dois episódios servissem de “piloto porta dos fundos” (minha tradução literal para backdoor pilot) da Corporação Infinito, supergrupo dos quadrinhos da DC do qual até mesmo Sideral (o nome brazuca de Stargirl) fez parte, mas há maneiras muito melhores de se fazer isso que não exija que a linha narrativa principal seja completamente interrompida e ignorada para satisfazer os desejos de seu showrunner.
11º Lugar:
The Evidence
3X04
E essa velocidade tira do episódio aquilo que ele tinha de melhor, pois o que resta é basicamente burocrático e pouco inspirado, com Beth usando seu “poder” (para que aquele uniforme todo elaborado até com capa se tudo o que ela faz é usar aqueles óculos?) para achar uma pista no trailer do Jogador que aponta para o retorno do Dragão Rei, mas que é revelado – para nós, apenas – que é Shiv quem está se transformando no que o pai era, ao que parece. Isso a coloca novamente como suspeita principal, mas é bem provável que haja mais nessa história, como ela ter tido algum blecaute, ter sido controlada pelo pai que pode estar vivo em sua mente e assim por diante.
10º Lugar:
The Betrayal
3X06
Brec Bassinger tem ficado cada vez mais confortável em seu papel de Courtney Whitney, mas a jovem atriz ainda tem grande dificuldade de demonstrar sentimentos mais agudos, como grande alegria ou grande tristeza, sem fazer caretas que às vezes me fazem rir, outras me levam a sentir vergonha alheia. Em The Betrayal, episódio que exigiu mais de Bassinger nesse departamento, confesso que senti até aflição com o rosto contorcido da menina tentando o máximo nos convencer de sua tristeza ao ser rechaçada por seus colegas de equipe depois que Cindy revela a eles que Court vem ajudando Cameron a lidar com seus poderes gelados.
9º Lugar:
The Thief
3X05
Mas, estruturalmente, The Thief sofre da “Síndrome de Assuntos Demais para Tempo de Menos” e acaba tirando o espaço para momentos mais relevantes, como reputo ser o ataque de raiva de Starman na sala de reunião da antiga SIA e a conexão entre Court e Cindy. Até mesmo o flashback incriminador de Cindy poderia ter ganhado mais alguns segundos para não parecer tão corrido, algo que vale também para a conversa constrangedora, mas hilária, entre os Crocks e os Whitmore-Dugans no diner da cidade em que os esportistas não só falam de sua vida sexual agora que são “heróis”, como surpreendentemente trazem informações relevantes sobre o Jogador em sua investigação paralela.
8º Lugar:
The Reckoning
3X13
The Reckoning deixa evidente que Geoff Johns sabia da possibilidade de cancelamento de sua série-xodó, pois, o que ele entrega não é o que podemos chamar exatamente apenas de final de temporada. O showrunner vai além e cria algo híbrido que não deixa de ser estranho, dando conta não somente de encerrar o arco da temporada, como também de toda a história futura da nova Sociedade da Justiça com uma sucessão de epílogos que expõe com bastante clareza seus aparentemente ambiciosos planos de longo prazo para a protagonista e sua equipe super-heróica. Obviamente que o que resulta daí não é o ideal, mas certamente era o possível e é interessante e certa forma até respeitoso com os fãs da série que Johns tenha preferido seguir esse caminho.
7º Lugar:
The Monsters
3X09
Apesar de começar lentamente, especialmente no que se refere à talvez desnecessariamente longa demais conversa de Pat com Barbara sobre Mike, resultado da vista do ex-sidekick ao mundo das sombras, é muito bom ver que The Monsters faz a temporada finalmente retornar à história principal depois de dois episódios que descaradamente serviram de backdoor pilot para eventual série da Corporação Infinito que, se duvidar, ainda aparece no final para ajudar a nova Sociedade da Justiça. Mas o episódio sofre quase que como um começo de temporada, com diversas linhas narrativas sendo abordadas ao mesmo tempo, como se o roteiro tivesse que correr atrás do prejuízo.
6º Lugar:
The Haunting
3X11
The Haunting, o antepenúltimo episódio de Stargirl, segue a grande revelação de que o Geada estava vivo esse tempo todo fazendo algo completamente inesperado, que é trabalhar na base da completa calmaria, perigosamente ali na linha entre o filler e o episódio realmente útil para a temporada. Não que eu ache fillers realmente soltos da continuidade necessariamente ruins, pois há alguns realmente especiais, mas sim porque, a essa altura do campeonato, com a série para acabar, eu esperava algo mais movimentado, mais enraizado nas linhas narrativas ainda a serem resolvidas, especialmente considerando que os Crocks foram assassinados no cliffhanger anterior.
5º Lugar:
The Suspects
3X02
Quando The Suspects começou retrocedendo no tempo e dedicando seu preâmbulo ao detalhamento da chegada do Jogador à Blue Valley, sua acomodação em seu trailer e as duas visitas que recebe ali, fiquei genuinamente feliz com a estrutura de whodunit estilo Agatha Christie que achei que reinaria ao longo de quase toda a minutagem. Confesso que, quando a história muito rapidamente retornou ao presente, com a JSA adolescente – menos Cindy – conversando sobre o crime cometido, não escondi minha decepção. Achei que havia espaço para essa abordagem mais detetivesca, mas fico por outro lado feliz em notar que o mistério ao redor do assassinato (se é que foi assassinato) realmente tomará se não toda, pelo menos um bom pedaço da temporada.
4º Lugar:
The Blackmail
3X03
The Blackmail continua a estrutura de “suspeito da semana” que naturalmente deriva do misterioso assassinato do Jogador no primeiro episódio da temporada, além de manter boa parte do foco narrativo na presença de Sylvester Pemberton no seio familiar dos Whitmore-Dugans. Essa escolha estrutural, que acaba por reduzir a presença dos membros da nova Sociedade da Justiça – com exceção de Courtney, claro – e, por via de consequência, o lado “fantasiado” das ações dos jovens, me parece muito acertada pelo momento, evitando tumulto e mantendo contidos os episódios desse simpático whodunit que, imagino, deve marcar pelo menos a metade da temporada.
3º Lugar:
The Killer
3X10
Seria muito fácil, óbvio e 100% esperado se The Killer continuasse quase que exclusivamente a partir do cliffhanger de The Monsters, em que somos brevemente apresentados ao gorila albino falante Ultra-Humanoide, em tese o grande vilão escondido da temporada. Seria. Mas ainda bem que não foi. Ao deixar o cliffhanger em segundo, talvez terceiro plano, e inesperadamente retornar à família Mahkent como ponto focal, Geoff Johns mostra que uma série adolescente de super-heróis não precisa seguir caminhos pré-estabelecidos e mais do que batidos para contar uma boa história. Aliás, ele mostra que, para contar uma boa história, é muito mais interessante seguir um caminho nem que seja um pouquinho menos viajado, só parafraseando o clichê.
2º Lugar:
The Murder
3X01
Depois de um final decepcionante em sua segunda temporada, Stargirl retorna muito bem para seu terceiro ano, agora batizado de Frenemies – ou Aminimigos – com um episódio que equilibra cuidadosamente a leveza da premissa geral que coloca heróis e vilões hesitantemente convivendo lado-a-lado com o mistério central que leva ao assassinato do título do episódio e ainda conseguindo reinserir Starman na história como um elemento tendente a causar discórdia no lar dos Whitmore-Dugans seja pela relação mestre-pupilo entre ele e Pat, seja pela “disputa” pelo cajado senciente. É um começo que sabe esconder o que exatamente a temporada abordará em termos de ameaça macro, mas que, por outro lado, oferece muita diversão simpática com um fundo sóbrio de conflito entre os personagens já conhecidos.
1º Lugar:
The Last Will and Testament of Sylvester Pemberton
3X12
E as duas reviravoltas cerebrais – chamemo-las assim – têm ainda outra vantagem, que é a capacidade que elas têm de terminar de montar o quebra-cabeças iniciado com o assassinato do Jogador e que inclui todos os eventos “estranhos” da temporada, especialmente a manipulação de Rick para retirar o limitador temporal de sua ampulheta e os arroubos de raiva de Sylvester, além de, claro, toda aquela explicação mequetrefe sobre como ele teria ressuscitado. Sim, reconheço que a introdução do gorila branco com o que agora sabemos é o cérebro do Rei Dragão foi tardia e que o retorno do Geada, apesar de fazer um bom movimento circular na série, retornando à sua primeira temporada, foi conveniente, e, mais ainda, que todo o plano mestre dele dependia de uma quantidade infindável de partes móveis, mas creio que isso faz parte do jogo de mistério que tomou de assalto o derradeiro ano da série. Some-se a isso a pegada adolescente que Johns nunca escondeu e pronto, podemos simplesmente aceitar que, mesmo tendo que fechar os olhos para algumas coisas, existe sentido no que foi feito.