Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Contra todas as probabilidades, depois de uma 1ª temporada que até mostrou alguma promessa, mas que tropeçou tanto que acabou não passando de mediana, Stargirl amadureceu rapidamente e, já em seu segundo ano, mostrou a que veio ao equilibrar a pegada mais boba e exagerada da Era de Ouro dos quadrinhos com uma abordagem que soube ser séria quando necessário. Ajudou muito que o vilão, o poderoso Eclipso, foi trabalhado muito mais como uma entidade manipuladora que permanece nos bastidores do que um antagonista comum, trivial, daquele tipo que vemos quase que semanalmente em séries de super-heróis que adotam a velha e ultrapassada estrutura do “caso da semana”.
A introdução de fleumático Penumbra, como um vilão que não é tão vilanesco assim, bem como a recusa da série em “esquecer” os traumas do passado, especialmente o assassinato que Yolanda teve que cometer e refletindo esse assassinato na história da Sociedade da Justiça, foram duas outras jogadas de mestre que firmaram os pés da temporada no solo e permitiram um foco dramático muito interessante. Até mesmo a protagonista, a normalmente prototípica adolescente resmungona Courtney Whitmore, beneficiou-se da atmosfera a seu redor e caminhou a passos largos para se tornar uma jovem equilibrada e responsável, ainda que nem sempre com sucesso, claro.
Mesmo que muitos personagens tenham sido subaproveitados, como a família Crock, os recém-introduzidos Relâmpago, Jakeem e Jenny, além de um Sylvester Pemberton que não serve para outra coisa que não um deus ex machina safado ao final, a temporada soube trabalhar o arco de Eclipso com muita proficiência, sem deixar de preparar o terreno para o terceiro ano, Frenemies, que provavelmente terá como ameaças o Senhor Bones e o novo Nevasca, além de, esperamos, mais destaque para a filha do Lanterna Verde original e seu irmão apenas citado. Agora que Stargirl provou-se digna do nome que carrega – e por nome eu quero dizer Sociedade da Justiça, claro – sinto-me bem mais tranquilo para aguardar as novas aventuras do grupo adolescente de super-heróis e super vilões de Blue Valley.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
13º Lugar:
Chapter Thirteen
2X13
Era óbvio que a quantidade de personagens, aí contando os principais, os antagonistas da primeira temporada e os que surgiram neste segundo ano, seria um problema e comprimir tudo em apenas 39 minutos, sendo que vários deles usados como dénouement para estabelecer as linhas narrativas da 3ª temporada, que se chamará Frenemies, acabou criando momentos decepcionantes, como a subutilização de Jenny, o uso apenas protocolar de S.T.R.I.P.E., Relâmpago e Solomon Grundy, e a completamente inútil – ainda que engraçada – chegada dos Crocks no último segundo. Até mesmo a dupla de Drs. Meia-Noite ficou perdida em meio as “vinhetas” de luta, sem conseguir fazer muito mais do que olhar para os pais de Beth em um loop supostamente mortal que apenas o bem-vindo retorno do Penumbra conseguiu quebrar.
12º Lugar:
Chapter Five
2X05
É como se o roteiro de Steve Harper estivesse apenas premiando os espectadores que acompanharam a série até aqui com uma promessa do que pode estar por vir lá na frente, mas sem que essa promessa realmente signifique muito para o momento atual da temporada. Não diria que chega a ser um filler, mas com certeza é algo parecido com isso, o que, para mim, é um problema considerando o tanto de personagem que ainda precisa ser trabalhado, especialmente Sylvester 2.0, Jade e Jakeem que tiveram seus 15 minutos de fama (na verdade, só Jade teve 15 minutos, os outros dois não chegaram a ter nem 15 segundos…) somente para sumirem completamente da temporada, o que obviamente começa a tornar a segunda metade do ano potencialmente carregada demais de eventos e personagens.
11º Lugar:
Chapter Ten
2X10
O problema maior é que, com a exceção da revelação surpresa de que tudo não passou de um plano do educadíssimo Penumbra (está decidido: ele é o melhor personagem da série!) para se curar, ainda que com o efeito colateral da convocação de Eclipso para a brincadeira, da revelação (finalmente!) de que ele na verdade não matou o Dr. Meia-Noite original e que este está nas Terras das Sombras, exatamente o mesmo lugar para onde Court foi enviada e, claro, onde Cindy está já há algum tempo, apontando para o retorno da vilã adolescente, a road trip de enteada e padrasto foi, pela falta de uma palavra melhor, um completo sonífero. Primeiro que a cara emburrada de Court cansou já no final do episódio anterior, pelo que vê-la novamente aqui bufando e batendo o pezinho me levou a um único pensamento que eu prefiro não escrever aqui para que ninguém me acuse de fomentar violência contra crianças…
10º Lugar:
Chapter One
2X01
O que funciona melhor no capítulo é a forma como ele lida com as consequências da derrota da Sociedade da Injustiça pela versão adolescente da Sociedade da Justiça. É interessante o cuidado em criar pontas narrativas para cada um dos quatro super-heróis estreantes, com Beth lidando tanto com a falta que sente de Chuck como com o divórcio dos pais; Yolanda sofrendo estresse pós-traumático depois do que teve que fazer com o Onda Mental; Rick tentando encontrar Solomon Grundy e Courtney… bem… sendo Courtney. Sim, ao passo que seus amigos mostram sinais claros de desenvolvimento, de amadurecimento, a protagonista continua a adolescente egoísta e cansativa que apenas algumas poucas vezes deixou de ser, com sua insistência em patrulhar sua pacífica cidade detraindo de seu tempo de estudo (e certamente de seus colegas, menos Beth, claro) e criando problemas para a família Whitmore no processo, que precisa cancelar as férias de verão para que a jovemzinha faça Curso de Verão – daí o nome da temporada – em razão de sua reprovação em duas matérias.
9º Lugar:
Chapter Two
2X02
Do lado vilanesco do episódio, confesso que já adorei a introdução de Richard Swift (Jonathan Cake) como o Penumbra (ou Sombra) com um Jaguar 65, ops… 67 chegando à cidade com toda sua fleuma britânica, inclusive o clássico figurino de Mandrake e sotaque tão emplumado que é hilário. Dentro do contexto da série, ele poderá resultar em um ótimo vilão se não resolverem descartá-lo logo cedo, até porque, nos quadrinhos, ele tem poderes que conversam com os de Todd, irmão de Jennie, que deverá aparecer alguma hora. Na mesma linha, fiquei com pena da madrasta de Cindy. Tão feliz, tadinha, preparada para ir embora, e acaba virando pó graças ao maligno e voraz Eclipso controlando Shiv e já mostrando que a adolescente não conseguirá segurar o poder do vilão por muito tempo. Só espero que, mesmo sendo possuída uma vez ou outra pela entidade maligna, Shiv continue sendo Shiv e não sucumba de vez como um avatar do cristal roxo.
8º Lugar:
Chapter Three
2X03
Todo o desenvolvimento de mais esse super-herói empresta uma dinâmica cômica e divertida ao episódio, valendo destaque para Mike desejando que os valentões “parem” e para a sequência em que o grupo tenta montar um desejo específico infalível para que Relâmpago indique o óbvio ululante, ou seja, que Penumbra está escondido na antiga casa dos Zaricks (onde mais um cara que está atrás de algo que estava na posse de William Zarick se esconderia, não é mesmo?), levando ao já citado conflito por lá. Mas essa abordagem também preludia uma reviravolta sobre Mike que, ao que tudo indica, não vai gostar muito de ter sentido o gostinho de ser super-herói, somente para ter seu brinquedo tirado de sua mão cedo demais (aliás, tivemos também a introdução a jato de Jakeem Williams – vivido por Alkoya Brunson – que em breve deverá ser o novo Johnny Trovoada). Fica fácil ver como Cindy recrutará o jovem para sua nova equipe com a preparação que esse episódio faz.
7º Lugar:
Chapter Twelve
2X12
São os momentos prosaicos intercalados com os mais sérios ou interessantes que fazem o episódio funcionar de verdade. Um exemplo disso é a alegria esfuziante de Beth Chapel ao finalmente encontrar-se com o Dr. Meia-Noite original, com os dois logo estabelecendo uma parceria investigativa para mais uma vez descobrir o paradeiro de Eclipso. Não há nada nisso além de uma personagem que sempre pareceu deslocada na série sendo a simpatia que ela sempre foi interagindo com Charles McNider, que basicamente acabou de entrar na série (e que eu havia esquecido que era cego!), um homem fora de seu tempo que perdeu sua filha há muitos anos. Impossível não abrir um sorriso na hora.
6º Lugar:
Chapter Four
2X04
Pelo momento, porém, o que realmente importa é que Summer School tem conseguido se dar ao luxo de dedicar a linha narrativa principal de um episódio inteiro à relação entre pais e filha na família Crock, com direito a fuga de prisão, uma hilária conexão hesitantemente amistosa com Pat e Barbara, tudo para criar uma historinha de origem simpática para Artemis como vilã do grupo sendo formado por Cindy com a ajuda providencial da boa e velha voz incorpórea e maléfica chamada Eclipso. Afinal, é impagável ver Crusher confraternizando com Pat na sala de estar da casa do eterno sidekick, enquanto Paula e Barbara encontram nas respectivas filhas um ponto em comum. Acho que eu poderia muito facilmente ver um episódio inteiro só disso.
5º Lugar:
Chapter Eleven
2X11
Mas chega de falar de Titãs por agora. Deixe-me focar em Stargirl que, independente de qualquer coisa, começou o episódio de maneira decepcionante, devo admitir. Afinal, no início tínhamos apenas Blue Valley na versão em preto e branco, em uma daquelas escolhas tão absurdamente preguiçosas que minhas pálpebras reviraram na hora. Mas, interessantemente, na medida em que o episódio evolui, ele conseguiu ficar muito mais interessante e desafiador. Há o encontro esperadíssimo de Court com Cindy e, depois, com o Dr. Meia-Noite, enquanto Barbara e Pat fazem de tudo para convencer um moribundo Penumbra a abrir um portal para as Terras das Sombras, algo que ele faz daquela maneira elegante que esperamos dele, ou seja, usando uma tela em que O Retrato de Dorian Gray está sendo projetado.
4º Lugar:
Chapter Eight
2X08
Mas, claro, a surpresa mesmo vem por conta de Beth Chapel, pois o roteiro de Steve Harper é afiado ao fazer duas coisas muito bem. Primeiro, ele faz com que os medos da jovem reflitam exatamente o que todo nós, espectadores, achamos dela, de uma forma ou de outra. Não, não quero dizer nada relacionado com o racismo (já abordo esse aspecto), claro, mas sim sua utilidade ao grupo, algo que começa por ela realmente não ter sido “escolhida” por ninguém, tendo entrado na equipe mais por ser enxerida e por querer pertencer a um grupo do que por qualquer outra coisa e continua com o fato inescapável de que ela, em conflitos, não passa de uma figurante fantasiada, sem oferecer muita ajuda a quem quer que seja. Ao deixar isso às claras, o texto do episódio nos faz até ficar com vergonha de termos esses sentimentos e acaba nos manipulando também.
3º Lugar:
Chapter Six
2X06
O mais curioso do episódio foi que, mesmo não sendo uma série exatamente violenta, o roteiro de Paula Sevenbergen não economizou nos momentos de pancadaria, de sangue e de mortes, o que aumenta as apostas sobre a série mesmo que a retire bastante daquela pegada gaiata da Era de Ouro dos quadrinhos que tanto venho elogiando. Mas, como acredito que tudo deve ser equilibrado, tenho para mim que a abordagem mais pueril da série não poderia mesmo ser mantida como uma constante, sem quebras em momentos específicos como no duro espancamento de Pat por Artemis (aliás, o que são aquelas bolas de beisebol que ela usa no uniforme, hein?) e Isaac, o sequestro de Mike por Cindy (então era para isso que ela o queria!!!) e, claro, o grande momento em que Eclipso deixa de ser uma voz desencarnada e passa a ser um Orc vestido para o Halloween na Terra-Média, claramente sua versão menos assustadora se comparada com a tal voz, o controle físico de Cindy e, claro, a pior de todas, o pequeno e sinistríssimo Bruce que retorna ao final.
2º Lugar:
Chapter Seven
2X07
Uma das mais corajosas decisões criativas nesta segunda temporada de Stargirl foi não varrer para debaixo do tapete o assassinato que Yolanda cometeu. Matar Onda Mental pode ter sido necessário, talvez inevitável, mas teria sido o atestado de infantilidade para a série se o grande momento “heróico” não passasse de mais uma terça-feira para a adolescente. E, agora, no sétimo episódio de Summer School, quer parecer que essa abordagem chega a seu clímax, finalmente abrindo o espaço necessário para Yvette Monreal mostrar seu trabalho dramático.
1º Lugar:
Chapter Nine
2X09
O caráter híbrido de manipulação mental e flashback é excelente, com as sequências no passado a partir do enterro da filha do Dr. Meia-Noite original sendo usadas para fazer as últimas conexões que restavam e, claro, para abrir a oportunidade para que os antigos membros aparecessem mais detalhadamente na série, inclusive e especialmente o Jay Garrick de John Wesley Shipp, uma das mais inspiradas escalações da CW lá atrás primeiro como pai de Barry Allen e, depois, como o velocista original em The Flash. Essa é, aliás, a primeira aparição de Shipp em Stargirl e até nisso o roteiro de Alfredo Septién e Turi Meyer acertou em cheio ao trabalhá-lo de forma reverencial, como um bastião da integridade que, mesmo com o apoio de Pat (só um motorista…), perde na votação sobre o destino de Bruce Gordon e, claro, do próprio supergrupo.