Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Depois de uma primeira temporada interessante, atmosférica, mas cambaleante, Servant logo mostrou a que veio em seu segundo ano, tendência que continua firme e forte na terceira e penúltima temporada, focada em transformar Leanne de uma assustada e tímida babá parte de um culto sinistro em uma figura segura de si e, mais do que isso, dominante tanto no lar dos Turners quanto perante novos adoradores de sua dissidência religiosa que aparecem na praça ao lado. Mesmo quebrando uma das regras basilares da série, que é a manutenção da ação exclusivamente no interior da mansão, a narrativa funciona bem e serve como uma competente forma de virar o jogo e preparar o terreno para os 10 episódios finais.
O jogo entre o controle de Leanne sobre Julian e Sean, os seguidores que ela inadvertidamente amealha e passa a apreciar profundamente e, do outro lado, o isolamento de Dorothy em uma paranoia e obsessão cada vez maior, faz a temporada funcionar muito bem e abre ainda mais espaço para Lauren Ambrose e Nell Tiger Free brilharem em posições crescentemente antitéticas. Some-se a isso a maior explicitação do “vudu” de Leanne, especialmente em relação à Dorothy, o que só aumenta seu pavor, e os ingredientes estão todos presentes para uma progressão narrativa marcadamente de queima lenta, como é padrão da série, mas inegavelmente constante e tensa, com um clímax que promete mudar o status quo para a temporada final.
Com exceção de talvez dois ou três episódios, o restante foi homogêneo, mas com a régua lá em cima, o que até tornou o ranqueamento uma tarefa difícil nas colocações que vão do 2º ao 7º lugares. Trata-se, claramente, de um testamento do quanto Tony Basgallop conseguiu colocar a série em velocidade de cruzeiro, mantendo o suspense, a tensão e as reviravoltas, sempre incrementalmente levando a história ao ponto que ela precisava chegar para deixar tudo pronto para seu encerramento.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
10º Lugar:
Hair
3X03
Portanto, para quebrar essa regra sem risco de fazer algo banal e sem maiores significados, era necessária não só uma justificativa muito especial, como também uma execução solene, firme e cuidadosa. Infelizmente, não há nem uma coisa nem outra aqui em Hair, muito ao contrário. Para começar, do nada Leanne aceita passear no parque com Sean e Jericho, o que relativiza sua paranoia que, diante dos acontecimentos anteriores, deveria era ter aumentado. Depois, a ida ao parque – literalmente do lado da saída lateral da casa, o que é uma novidade – é feita completamente sem cerimônia, como se o ato de sair da casa fosse algo comum, que vemos sempre. Em seguida, Sean passa a se compadecer com os jovens sem teto que moram por ali e passa a cozinhar comidas gourmet para eles.
9º Lugar:
Tiger
3X05
Ver Nell Tiger Free sorrir de verdade na série é uma raridade e a atriz se transforma aqui. Não que ela se revele uma grande atriz nem nada, mas estamos tão acostumados a vê-la de semblante sério ou assustado, que vê-la dançar, sorrir, pular, brincar e, ainda por cima, com uma maquiagem “meta” de tigre foi uma surpresa que não esperava e que a muda quase que completamente. Chega a ser contagiante como a fantasmagórica Leanne torna-se uma pessoa “normal” por alguns minutos, o que torna os dois minutos finais ainda mais interessantes com o crescendo de tensão que começa mesmo com aquele dedo sinistro tocando na testa dela durante a sessão de maquiagem.
8º Lugar:
Ring
3X04
O roteiro de Laura Marks lida muito bem com a profusão de situações em tese prosaicas que vão se intensificando muito rapidamente, mas o destaque fica mesmo com a direção de Williams que trabalha excelentes transições entre cômodos e também no foco na cada vez mais oprimida Leanne que cada vez mais fica parecendo um animal acuado, com uma silenciosa, mas bela atuação de Nell Tiger Free. O momento climático, estabelecido antes pelo gancho quase que ritualmente explicado e instalado por Sean e pela imediata irritação que a nova sous-chef gera pela forma como ela trata Tobe. O crescendo é ótimo, as consequências bizarras – dedo decepado que fica na bancada e depois é inadvertidamente jogado no triturador de resíduos da pia que, claro, é devidamente ligado, sobrando, apenas, o anel do título – são muito bem coreografadas e ver Leanne, ao final, desfilando com o objeto em seu dedo novamente dá a entender que ela, de alguma maneira, foi responsável pelo ocorrido.
7º Lugar:
Donut
3X08
Donut foi uma surpresa para mim. Não esperava que o conflito entre Dorothy e Leanne que vimos em Camp não só fosse continuar, como recrudescer aqui, inclusive com uma elipse temporal de algumas semanas que deixa bem claro que a matriarca isolou-se em seu próprio lar, agarrando-se a Jericho, ignorando a babá, obrigando o marido a dormir no sofá e… bem… deixando Julian fazer o que quiser já que, como Sean bem diz, ele não serve para nada mesmo. E essa radicalização do que começou lá atrás com o culto à Leanne revelou – ou deixou bem na superfície, pelo menos – outro aspecto muito interessante, que é o controle que a babá tem sobre todos ali, menos Dorothy.
6º Lugar:
Fish
3X06
No final das contas, Fish consegue não só ser um ótimo episódio por seus próprios méritos, como ele também tem a rara qualidade de elevar o nível do anterior, criando uma bela de uma impressão de conjunto que marca a metade da penúltima temporada da série. Confesso, porém, que não vejo muito mais coisa relevante acontecendo até no mínimo o novo capítulo dado o passo costumeiramente lento e atmosférico da série que, porém, mesmo com altos e baixos, tem valido a pena.
5º Lugar:
Donkey
3X01
Todo o desenrolar a partir desse ponto é frenético, tenso e magistralmente bem orquestrado – menos o FaceTime com Sean dentro do armário, pois a lógica disso, bem ao lado do ladrão, é zero, mas fechemos os olhos e aceitemos pelo bem do episódio -, com uma resolução fácil e até anticlimática que nos deixa propositalmente com dúvida se o que aconteceu foi uma “prosaica” tentativa de furto ou se o sujeito com quem Leanne esbarra é um dos membros de seu culto. Afinal, tudo aponta para a primeira hipótese, com exceção de sua adaga desaparecida.
4º Lugar:
Hive
3X02
Mas, em Hive, a ambientação muda completamente, ainda que lógico, o cenário padrão da casa seja mantido. O que antes era uma casa mal-assombrada clássica com apenas uma habitante carregada de paranoia e desespero, agora é uma literal creche com diversas crianças e suas mães (e um pai) em uma festinha de “congregação da alta sociedade” para Jericho potencialmente ter amigos relevantes quando crescer e, claro, para Dorothy conviver, do seu jeito, com outras mães. O interessante é que o roteiro, também de Ishana, converte a festa em algo que essencialmente constrangedor, de dar vergonha alheia como aquelas festas dos séculos XVIII e XIX (e XX também, sejamos sinceros) em que a filha “debuta” para a sociedade. Ver aquele grupo de gente rica basicamente decidindo se aceitam os Turners em seu círculo social exclusivo é absolutamente patético e mais bizarro do que a própria premissa da série.
3º Lugar:
Camp
3X07
E o resultado disso tudo é quase que a coroação de Leanne como rainha da família Turner. Mesmo que inconscientemente e mesmo que não exatamente encampando o lado sobrenatural da coisa, todos ali perceberam que a presença de Leanne é a garantia de que Jericho continuará vivo e bem. Sem um, não há o outro e, com isso, a babá tem todo o poder que poderia esperar ter e isso sem contar com seus culto protetor a alguns passos da casa que a escuda de seu culto original. O que não sabemos é quem – ou o que – Leanne realmente é e essa dúvida torna tudo ainda mais interessante e assustador. Camp, portanto, é mais um ótimo episódio da temporada que começa a caminhar para seu fim.
2º Lugar:
Mama
3X10
No entanto, a escolha do roteiro de Ryan Scott em privilegiar o encurralamento mental e físico de Dorothy em detrimento à armação de tabuleiro foi acertadíssima. Era importante manter o foco nessa história, especialmente considerando o excelente momento climático da queda de Dorothy pelo vão da escada, com Jericho sendo salvo por Leanne, em uma cena esteticamente linda, apesar do horror e violência da situação. Se era para Dorothy de alguma forma “sair” da história – não duvido que haja um pulo temporal no começo da próxima temporada e a matriarca esteja de alguma forma de volta, mas não sem sequelas graves -, então era essencial que tudo fosse cuidadosamente armado e e é exatamente isso que o roteiro consegue fazer, ainda que o “plano” de Dorothy, fugir de casa com seu bebê, seja, talvez, prosaico demais.
1º Lugar:
Commitment
3X09
O que imediatamente chama a atenção em Commitment é o quanto a fotografia ganhou tons mais escuros, mais claustrofóbicos, de certa forma diminuindo o tamanho da mansão dos Turners na mesma proporção que, como de costume, somos apresentados a “cômodos novos” quase mágicos que nos impedem de entender exatamente a arquitetura do lugar, lembrando, guardadas as devidas proporções, o que Stanley Kubrick faz com o Overlook Hotel, em seu inesquecível O Iluminado. É o penúltimo episódio da temporada e essa atmosfera ainda mais sombria casa muito bem com a abordagem profundamente psicológica dada a Leanne e Dorothy, agora inimigas mortais.