Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
Depois de matar Edo Voss talvez rapidamente demais na segunda temporada, See retorna para seu terceiro e último ano colocando Tormada, braço direito de Edo, como um dos vilões em razão de seu controle dos filhos de Jerlamarel e da tecnologia para fabricar explosivos que ele sadicamente gosta de usar. Além disso, a temporada reposiciona a ex-rainha Sibeth Kane, de prisioneira de sua irmã Maghra e atual rainha, para novamente alguém em posição de poder fazendo uma aliança profana com Tormada e reconstruindo sua forma maléfica original que tanto encantou na temporada inaugural.
Apesar de a dupla vilanesca funcionar bem para a série, ela demora a ser formada, com Sibeth bem vagarosamente caminhando para sua fuga e Tormada, também as poucos, ganhando relevo no conflito entre Trivantes e Pennsa. Essa construção inicial ocupa praticamente os três primeiros episódios de apenas oito da temporada final, fazendo com que o passo seja lento nesse início e mostrando que havia pouco material para um encerramento que ocupasse o número regulamentar de capítulos. Claro que as sequências de luta, o pareamento de Baba Voss com seu amigo de longa data Ranger, e as maquinações de Lorde Harlan com a embaixadora Trovere ajudam a suavizar o problema, mas não os soluciona completamente.
Felizmente, porém a partir do finalzinho do terceiro episódio, com Sibeth reerguendo-se quase que literalmente das cinzas, a temporada melhora substancialmente e alcança o nível de qualidade da anterior, inegavelmente a melhor da série como um todo, ainda que não por muito. O foco no relacionamento familiar de Baba Voss ganha porte, assim como alguns bons desenvolvimentos narrativos, além da colocação de uma interessante questão que opõe conhecimento à censura e que leva à queima de livros pelo próprio protagonista em uma escolha corajosa da produção.
Como provavelmente não poderia deixar de ser, o encaminhamento da temporada para um final explosivo, com o heroico sacrifício de Baba Voss por sua família e o povo de Pennsa, é fortemente telegrafado. E, diria, não só esse grande momento, como também cada momento do derradeiro episódio, o que retira um pouco do peso e força que ele poderia ter. No entanto, See, uma das séries da fornada inicial do Apple TV+, ganha um final digno que não só consegue matar personagens importantes com ótima lógica interna, como dá função a todos os seus personagens sobreviventes, até mesmo abrindo caminho para o retorno da série – talvez com um bom pulo temporal – em futuro incerto e não sabido.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
8º Lugar:
Heavy Hangs the Head
3X01
O primeiro ponto de lerdeza é frustrante pela lerdeza em si e por esvaziar grande parte daquele gigantesco epílogo “preparador” da temporada seguinte que o terceiro terço de Rock-A-Bye, pois o que vemos, no começo, é uma batalha dos Trivantianos contra um exército desconhecido que tem a Capitã Wren como uma das soldadas e que basicamente estabelece que, a não ser por um milagre, eles não conseguirão manter sua posição de defesa em um navio de guerra abandonado por muito tempo. Apesar de a pancadaria seguida de uma espetacular fuga sejam momentos ótimos de ação, tudo ali é construído com o único objetivo de nos reapresentar a Tormada, o chefe de ciências do exército Trivantiano leal ao falecido Edo que, como sabemos, tem em mãos uma arma “mágica mortal criada por aqueles que enxergam: explosivos. Dizimado o exército inimigo e estabelecido que Tormada é, basicamente, um novo Edo, a ação, então, é deslocada para Payan.
7º Lugar:
Watch Out for Wolves
3X02
Confesso que fico fascinado com os combates mano a mano nesta série, mesmo que eu não tenha, por razões óbvias, a menor condição de determinar se eles se pareceriam com lutas protagonizadas por cegos em situações semelhantes. Mas o ponto não é sequer estabelecer uma verdade tecnicamente indeterminável (eu acho), mas sim o quanto a equipe responsável pelas coreografias e por toda a movimentação corporal envolvida nesse processo, o que certamente inclui consultores cegos, faz tudo parecer absolutamente verossímil. Baba Voss, claro, é o maior exemplo disso, com seu jeito de andar mais próximo ao chão, sempre com a cabeça virada de maneira a ouvir melhor os sons, usando sua arma como uma espécie de extensão do braço para ele poder sentir todo o ambiente e assim por diante, permitindo-lhe aproximações silenciosas e mortais quando ele quer. Aqui, nós o vemos fazer isso com os soldados da embaixadora Trovere e com a própria embaixadora – e Harlan – em sua tenda, em uma sequência que consegue passar muito bem seu desespero para fazer de tudo para salvar Maghra e Payan, mas sem esquecer de sua técnica stealth.
6º Lugar:
This Land Is Your Land
3X03
Toda essa sequência final é muito bem conduzida pela direção de Anders Engström que, mesmo quase sem tempo para desenvolver todas as noções que o roteiro derrama faltando poucos minutos para o episódio acabar, demonstra ritmo e progressão narrativa invejáveis, especialmente se compararmos esses poucos minutos com praticamente tudo o que veio antes na temporada. Afinal, temos que concordar que grande parte de This Land Is Your Land não passa de reiteração daquilo que Watch Out For Wolves e Heavy Hangs the Head já haviam mais do que detalhadamente exposto, ou seja, que vem vindo uma grande ameaça para Payan e que algo precisa ser feito a respeito. Mesmo o problema dos Caçadores de Bruxas inconformados com a descriminalização daqueles que têm o dom da visão é repetido mais uma vez, desta vez com direito tanto a enforcamentos quando a um perdão coletivo pela Rainha Maghra, sem realmente apresentar algo de novo que não pudesse ter sido trabalhado antes.
5º Lugar:
I See You
3X08
I See You anda perigosamente na fronteira entre o que a previsibilidade tem a oferecer de bom e o que ela às vezes inadvertidamente pode fazer para banalizar uma história. Deixe-me ilustrar com exemplos concretos essa diferença começando justamente pelo começo do episódio, em que vemos Baba Voss e Ranger silenciosamente infiltrados no acampamento de Tormada e Sibeth assassinando um a um os soldados. Qualquer um sabe que os dois juntos são próximos de invencíveis, mas que um número grande de inimigos procurando-os simultaneamente pode ser um problema, pelo que era previsível que eles fosse detectados de alguma forma e que, com isso, o grau de violência aumentasse. E, quando se fala em lutas e violência em See, normalmente o show coreográfico e explícito de sangue jorrando e cabeças cortadas é de se tirar o chapéu. Esse crescendo é o que ocorre e pequenos detalhes como a forma como Tormada morre, com Ranger usando o corpo de seu inimigo mortal como escudo para a granada que ele estava prestes a jogar é excelente, pois dá ao vilão o fim literalmente explosivo que ele merecia, com um coup de grâce particularmente violento, com Ranger cravando a adaga em seu olho em seguida.
4º Lugar:
God Thunder
3X07
Ou seja, fiquei com receio que God Thunder acabasse sendo um puro filler daqueles evidentemente desnecessários, que poderia ser facilmente pulado para o momento em que Baba Voss e seu fiel amigo Ranger partem para acabar com a ameaça representada pelo cientista insano e rainha louca. Mas existem fillers e fillers. Porque sim, o episódio é inegavelmente um “preenchedor de espaço” entre dois eventos importantes, mas a grande verdade é que o roteiro de Jennifer Yale e Jonathan Tropper mantém uma lógica razoável, faz uso de bons momentos de flashback para quando Baba e Maghra se conheceram e, com isso, acaba reiterando a coesão familiar que existe entre os dois, Kofun e Haniwa e apontando para um final trágico para esse núcleo se e somente se Steven Knight tiver coragem em seguir por esse caminho que, em minha cabeça, levaria à morte do protagonista.
3º Lugar:
The Storm
3X04
Falando neles, outro grande acerto do episódio foi abrir espaço para a revelação da traição de Tormada e, surpreendentemente, de Nevla, o Banco, e da própria Embaixadora Trovere, que passa a ser o vértice do povo do Triângulo que rege Trivantes depois que dois terços foi sumariamente eliminado por uma das queridas bombas do braço direto do finado Edo Voss. Alguns provavelmente dirão que essa movimentação toda era previsível, mas minha resposta para isso é um sonoro “ainda bem!”, pois surpresas imprevisíveis costumam depor contra a qualidade de qualquer obra. A reformulação do equilíbrio de poder em Trivantes, com Trovere potencialmente como o elo mais fraco nessa corrente, elo esse que, desconfio, será aproveitado por Lorde Harlan, que dificilmente trairá sua nação e seu amor platônico, a Rainha Maghra, em um esforço final para puxar o tapete dos trivantianos golpistas em algum momento.
2º Lugar:
The Lowlands
3X06
Como eu estava errado em pedir a cabeça de Sibeth Kane nas críticas dos primeiros episódios da temporada final de See! Afinal, desde que o terceiro ano finalmente engrenou, a partir de The Storm (na verdade antes, pois o final de This Land Is Your Land foi ótimo em razão dela) ela vem protagonizando os melhores momentos políticos e, agora, em The Lowlands, depois de arregimentar os Caçadores de Bruxas para seu lado novamente, ela entabula uma aliança profana com Tormada, de Trivantes, prometendo fazê-lo rei e sacrificando Lucien Bray no processo, só para marcar seu ponto. Não que eu realmente acredite que ela cumprirá sua promessa ao cientista assassino, mas a mera reunião dos dois para colocar Payan de joelhos com as bombas já é algo a ser temido, mesmo que isso seja mesmo efêmero.
1º Lugar:
The House of Enlightenment
3X05
Mais até do que isso, a ação de Baba Voss cria uma conexão historicamente muito interessante entre conflitos bélicos e tecnologia, que, para muitos estudiosos, são inseparáveis, um alimentando o outro. A necessidade doentia de Tormada de “dominar o mundo” o levou a continuar o trabalho de Edo Voss, ou seja, usar aqueles que enxergam para reviver tecnologia há séculos dormente neste mundo pós-apocalíptico e o que Baba Voss deseja, sendo muito prático, é quebrar esse ciclo infernal e, para quebrá-lo, em sua cabeça binária de “guerreiro reformado e pai de família”, é necessário eliminar o conhecimento, pois, sem conhecimento, o mundo que ele conhece em princípio volta ao normal.