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Lista | Robert Bresson – Os Filmes Ranqueados

Ranqueando o existencialismo!

por Kevin Rick
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Aproveitando o aniversário de 120 anos de nascimento do cineasta francês Robert Bresson, Mestre do Cinema formal e precursor da Nouvelle Vague, decidimos fazer um Especial pela curta filmografia de 13 longas-metragens do diretor. Eis aqui a nossa lista ranqueando todos os seus filmes, contando com a participação do colunista que vos fala, Kevin Rick, junto de meus colegas Fernando JG e Gabriel Zupiroli. Antes da ordem, vale algumas observações:

  • Era necessário ver pelo menos 8 dos 13 filmes para participar.
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  • Cada participante elaborou seu ranking individual e, em cada ranking, os filmes ganharam uma certa quantidade de pontos, adquiridos de forma inversamente proporcional à sua colocação. Exemplificando: O 1º lugar levou 13 pontos, o 2° lugar,  12 pontos, e assim sucessivamente até o último e 13° lugar, levando apenas 1 ponto;
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  • Com a soma simples dos pontos, chegamos à lista definitiva, uma vez que não houve empates.
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  • A classificação final pode não refletir na avaliação das críticas, visto que, os colunistas presentes, obviamente, têm divergências nas opiniões entre si;
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  • Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos!

E então, já viram algum filme do Bresson? Alguém compartilha do buraco existencial deixado pela obra do cineasta? Compartilhem sua opinião e ranking pessoais!
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13º Lugar: Quatro Noites de um Sonhador

3 pontos

Não parece uma premissa exatamente bressoniana, não é mesmo? Claro, há o tema suicida, a história simples e o olhar detalhista para cenografia e gestos do cineasta, mas também temos uma sensação fantasiosa atípica do diretor. Não é necessariamente um místico religioso como o autor gosta de abordar, e sim uma vertente romântica quase erótica. Existe sedução com cenas de nudez, toques corporais e olhares com desejo, assim como o autor se distancia o máximo possível da feiura de Paris, retratando uma cidade bela com interlúdios graciosos de música e luzes, e até um humor sutil na interação desajeitada e constrangedora dos protagonistas. E, ainda assim, mesmo visualmente belo, a mudez do ambiente e as performances superficiais dos atores amadores continuam passando o sentimento de letargia e inércia bressoniana, especialmente pontuada pela história de solidão.

12º Lugar: As Damas do Bois de Boulogne

5 pontos

É possível notar vislumbres de brilhantismo formal, como na ótima cena que Jean tenta fugir de Hélène no carro, com o personagem masculino parecendo encurralado pela ex-esposa ao ficar manobrando o veículo com dificuldade, assim como uma eficaz construção imagética da maléfica Hélène – mais mérito da atriz do que do cineasta. No entanto, As Damas do Bois de Boulogne é, pelo motivo de não encontrar um termo melhor, genérico. Para além de uma história bem convencional de vingança, o longa pouco propõe em sua mise-en-scène qualquer tipo de proposta ou elemento que não seja uma filmagem passível e monótona de personagens desinteressantes dizendo frases desinteressantes em cenários desinteressantes; tudo bem aquém do trabalho de Bresson. O contextualmente deslocado desfecho romântico e otimista é o ponto final de um filme perdido tematicamente. Não chega a ser uma experiência completamente ruim por causa de María Casares e momentos esparsos da técnica de Bresson, mas caramba, que filme enfadonho.

11º Lugar: Anjos do Pecado

6 pontos

Ainda assim, Anjos do Pecado se mostra um poderoso e interessantíssimo início para uma carreira abarrotada de prestígio. Em suma, a experiência da estreia de Bresson é uma indicação de que não podemos separar nossa espiritualidade da nossa humanidade. Ambos campos se influenciam e se alimentam em uma visão paradoxalmente cínica e autêntica da natureza religiosa. A relação complexa de Bresson com a religião também é vista na beleza austera de cenas punitivas e vulneráveis, como quando as moças deitam no chão de bruços, e a serenidade trágica e conotativa que carrega a obra. Em um desfecho também (positivamente) contraditório, a redenção e a liberdade se encontram na morte e na algema.

10º Lugar: Lancelot do Lago

7 pontos

Lancelot do Lago é despojado de qualquer heroísmo. Bresson pegou o mito arturiano e o transformou em uma tragédia anunciada propositalmente sem grandiosidade. Ele trabalha a fantasia com seu conhecido pessimismo analítico da condição humana. É um dos filmes mais subversivos do cineasta, especialmente para quem não tinha contato prévio com seu trabalho, nos oferecendo uma visão singular do épico das lendas arturianas. Faltou o costumeiro cuidado com a imagem e simbologia do cineasta, em uma de suas obras tematicamente mais vazias. Mas, mesmo com ressalvas, Lancelot do Lago consegue ser fascinante da sua própria maneira. Desprovido de ação e aventura, temos o mito britânico austero.

9º Lugar: Uma Mulher Delicada

8 pontos

Na minha interpretação, Uma Mulher Delicada é o retrato de um casamento infeliz com diferentes camadas. Há um teor materialista, eu diria com viés de crítica, na construção do matrimônio de Luc e Elle, já que o marido penhorista apenas se preocupa com o comércio e trata sua esposa como um objeto a ser conquistado e mantido em sua posse – não há amor aqui. O fato de Dominique Sanda ser uma modelo na vida real e uma mulher de beleza estonteante é mais um indicativo de que Bresson queria propor essa discussão.

8º Lugar: O Processo de Joana d’Arc

10 pontos

A estrutura narrativa d’O Processo… às vezes torna-se morosa. Ela é baseada numa intercalação entre depoimentos aos bispos e cenas mais introspectivas na cela, num enredamento repetitivo que intensifica a sensação de prisão e de fatalidade da situação da protagonista. Por falar nisso, cabe lembrar que o encarceramento sempre interessou ao diretor, preso de durante a Segunda Guerra Mundial; filmes como Um Condenado à Morte EscapouO Batedor de Carteiras e O Dinheiro voltam ao mesmo tema, sendo novo o tratamento do drama de Joana d’Arc porque ele adiciona uma realidade histórica muito mais distante no tempo.

7º Lugar: Mouchette, a Virgem Possuída

12 pontos

Bresson continua sua visão metódica de buscar firmeza na simplicidade de cortes e enquadramentos, com muitas elipses e planos estáticos, a ausência de trilha sonora e diálogo que aumentam o vazio depressivo do longa e desempenham nosso papel como espectador ativo para retirar significado da imagem e de sons ambientes; e um aperfeiçoamento magnífico no uso de “modelos” (seus atores amadores) para ações e não performances com identidade própria – tudo é sobre universalização do ato e das metáforas, e não necessariamente sobre seus personagens, que cada vez mais se assemelham a um elemento técnico para contar a história imageticamente.

6º Lugar: O Diabo, Provavelmente

15 pontos

O Diabo, Provavelmente é quase um filme de horror. Não de gênero, mas de realismo. Os momentos mais poderosos deste terror tão próximo da nossa realidade atual estão nos slides e imagens de documentário sobre poluição, destruição ambiental e crueldade animal que cercam as discussões desses ativistas juvenis. Existe uma literalidade hostil em como a montagem intercala vários momentos de desespero global com o debate sem emoção e seco da juventude revolucionária. É a partir dessas situações que vemos o tal “ativismo silencioso” que citei, conforme Bresson não traz grandes discursos ou debates calorosos. É até difícil de delinear a vertente desses garotos, se são punks, reacionários ou até vanguardistas.

5º Lugar: O Batedor de Carteiras

19 pontos

Pode-se mesmo vislumbrar uma consciência transcendental nas entrelinhas da trajetória do ladrão que se apaixona. Antes ele dissera, em tom de chacota, que acreditava em Deus, “mas por três minutos”; antes, ele atravessaria sem qualquer escrúpulo as barreiras de conduta que lhe fossem impostas, tudo em nome de sua pretensa superioridade intelectual e aversão às regras de manada. Em Jeanne, Michel encontra o sentido que faltava, mas o fato interessante é que o vício pretérito é visto como passo necessário, percurso incontornável, sem os quais a reconciliação final não seria lograda: sob as linhas tortas, a rota certa. Predestinação divina e caminho próprio, determinismo e livre-arbítrio como faces da mesma moeda.

4º Lugar: O Dinheiro

20 pontos

A frieza dos atos e do próprio tratamento entre as personagens ajudam a construção de uma atmosfera impessoal e indiferente. A fotografia é tomada por tons neutros e frios, cores pardas para os figurinos e móveis e muitíssimo difusas para a iluminação dos espaços cênicos. Assim como não há um verdeiro motivo para a transfiguração de um trabalhador e pai de família em um psicopata (o filme certamente é um prato cheio para o pessoal da psicologia), não há perdão ou condenação infame a qualquer ato cometido. O horror que temos ao presenciar os acontecimentos parece tirar de nós toda a capacidade de julgar ou classificar o que acabamos de ver, a última e melhor parte do filme.

3º Lugar: A Grande Testemunha

21 pontos

E então adentramos o subtexto da filosofia cristã. Balthazar no início da fita é batizado, e por esse motivo ganha a possível interpretação de que o burro seria uma figura divina, uma espécie de alegoria levemente remetente a Jesus em relação a passar pelos sofrimentos da iniquidade humana para, então, receber o descanso do paraíso – metáfora, também, levada ao ser humano. Eu entendo essa leitura, mas vejo o filme mais por outra vertente. Balthazar é o ícone máximo de inocência do Cinema do Bresson, servindo à narrativa para expor um retrato austero e perturbador da crueldade humana. A emoção frente ao sofrimento elevada à maior simplicidade possível: a de aceitação do destino. Nesse meio, vemos um jogo entre a iconoclastia e as crenças do cineasta, em que Bresson questiona a bondade e a empatia humana, e a possibilidade de uma punição ou absolvição divina. Afinal, em nossa inteligência cruel, existe santidade ou apenas o vazio do destino cíclico? Eu acredito na primeira, mas Bresson certamente não te dá essa resposta, criando uma experiência impiedosa em torno desses questionamentos. Tal qual a ótima tradução brasileira do título original, Balthazar é A Grande Testemunha dos nossos pecados e indagações.

2º Lugar: Diário de um Pároco de Aldeia

27 pontos

O tom melancólico, outra característica que o diretor desenvolve com maestria, constrói a atmosfera realista de seus personagens miseráveis. Para Bresson, “o cinema é um movimento interior”, e ele prova isso com um filme que simboliza como poucos a batalha interna de um personagem e debate um tema tão importante quanto religião sem comprometer sua trama, que poderia ter ido por um caminho muito mais perigoso, mas acaba sendo uma obra sensível e indispensável para qualquer um interessado na filmografia do diretor.

1º Lugar: Um Condenado à Morte Escapou

29 pontos

É por isso que Um Condenado à Morte Escapou se mostra um “simples enganoso”. O cuidado magistral de Bresson para colocar em foco apenas o que é fundamental para entendermos a angustiante luta de Fontaine, nos situando da rotina tediosa e aflita do protagonista, ao mesmo tempo que constrói um lado implícito de experiência sonora, demonstram a genialidade da sua mise-en-scène. Autêntico até o âmago. Como se não fosse o bastante, Bresson ainda adiciona uma camada de subtexto espiritual e religioso. Na primeira cena que vemos Fontaine, Bresson foca a câmera em suas mãos enquanto o personagem tenta fugir de um carro. Em outro determinado momento, temos uma conversa em que um padre diz a Fontaine que “Deus vai salvá-lo”, ao que Fontaine responde: “apenas se tiver ajuda”. Esse dois momentos em especial, dentre vários do longa, retratam o discurso moral e devoto de Bresson. A fé é essencial, mas faz parte de um processo em que seus personagens são postos em circunstâncias que precisam lutar, prevalecer e perdurar. Fontaine certamente fez isso.

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