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Lista | Perry Mason – 2ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

A consolidação de Perry Mason.

por Ritter Fan
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Temporada:
(não é uma média)

Em sua segunda temporada, Perry Mason confirma sua altíssima qualidade mesmo considerando a sempre temida troca de showrunners. É, definitivamente, um produto do gabarito da HBO, mesmo que ela não tenha o mesmo destaque por aí que outras séries da mesma prestigiosa produtora, o que pode significar que o público em geral, talvez em razão da grande oferta de séries, só preste atenção em obras grandiosas, com chamarizes “embutidos” como fazer parte de um franquia já estabelecida, ser uma adaptação de um jogo famoso e assim por diante. É só uma pena que uma série literária outrora tão longeva e popular que gerou diversas obras televisivas em priscas eras não consiga chamar tanta atenção nos dias de hoje.

Seja como for, o segundo ano da série triunfa por duas principais razões que representam bem a forma como a produção nada contra a corrente. Primeiro, no lugar de deixar a “origem” de Perry Mason somente na temporada inaugural, a continua na segunda usando ganchos narrativos importantes que informam o personagem, tornando-o ainda mais complexo e interessante. Seria muito mais simples e talvez até mais atraente para os espectadores se os novos showrunners partissem direto para o Perry Mason confiante dos livros que usa sua esperteza e dons detetivescos para ganhar os mais variados casos na Justiça. Além disso, apesar de usar diversos clichês e tropos narrativos do gênero, a temporada não entrega a simples soma de suas batidas partes, mas sim subverte expectativas tanto na forma como trata os irmãos acusados de assassinato que Mason e Della Street agora defendem, quanto na maneira como o próprio Mason é desenvolvido, especialmente no que se refere seu final.

Fora esse dois principais elementos, há o desenvolvimento de Della Street como uma personagem que carrega o ônus de ter que esconder quem ela verdadeiramente é em razão de sua orientação sexual, algo que a temporada lida com elegância, mas sem jamais deixar de sublinhar suas dificuldades ao mesmo tempo em que deixa evidente sua vocação para o trabalho de advogada. E, claro, há Paul Drake, o ex-policial que passa a ser investigador para Mason e Street, que precisa lidar com seus próprios demônios e aprender que ele, por ser afrodescendente, não tem nem de longe as mesmas facilidades de seus colegas.

E é claro que a direção de arte desta obra noir é de se tirar o chapéu. A reconstrução da Los Angeles dos anos 30, tanto os lugares mais ricos quanto os mais pobres, é cuidadosa e imersiva, com figurinos perfeitos e um trabalho de maquiagem sutil que enriquece a narrativa sem chamar atenção si mesmo, algo que é refletido na direção de fotografia em tons eminentemente sépia, mas mantendo uma rica paleta de cores adaptáveis a cada região e a cada situação, por vezes até a cada personagem. Trata-se, não tenho muita dúvida em afirmar, uma das mais visualmente belas séries da atualidade, não deixando nada a desejar nestes aspectos a outras obras serializadas de época como The Crown ou Peaky Blinders.

Confiram nossa ranqueamento e mandem os de vocês!

8º Lugar: Chapter Fifteen

2X07

Que Camilla estava envolvida com a trama, não tinha a menor dúvida e que ela envolvia de alguma forma o petróleo, eu também já esperava. Mas a internacionalização da intriga que traz um Japão expansionista e imperialista no período entre guerras e McCutcheon e Nygaard ilegalmente vendendo o ouro negro para eles em uma operação marítima talvez mais complicada do que ela precisasse ser me fez coçar a cabeça e não por incompreensão. Afinal, uma reviravolta dessas acontece comumente em filmes e séries de menor qualidade, em que novos personagens e novas situações são completamente tiradas da cartola para fazerem as peças todas se encaixarem. No entanto, de forma alguma eu esperava isso de Perry Mason. E menos ainda com o grau de didatismo que é apresentado aqui, seja pela incursão improvável de Perry e Pete no navio do magnata – e, ainda por cima, tendo que voltar nadando… -, seja pelo enfrentamento bis in idem de Perry e Lydell para explicar o que já era evidente.

7º Lugar: Chapter Fourteen

2X06

O antepenúltimo episódio da temporada tem seus ótimos momentos, em especial o destaque dado a Della Street no interrogatório cruzado, mas ele pecou em tentar correr talvez um pouco demais com a trama, usando, para isso, alguns atalhos incômodos. Não é nada muito sério, claro, mas qualquer coisa menos do que o ideal torna-se chamativo dada a excelência costumeira da série como um todo. Seja como for, agora, ao que tudo indica, todas as peças estão posicionadas no tabuleiro para permitir que o caso dos irmãos Gallardo seja encerrado, seja favoravelmente ou não a eles.

6º Lugar: Chapter Eleven

2X03

Sobre o caso em si, os desenvolvimentos são razoavelmente esperados para uma série desse tipo. Temos o juiz mais linha dura que já está criando e continuará criando dificuldades para Mason e Street, basicamente pré-condenando os réus, um McCutcheon usando toda a sua influência para impedir que o “bom nome” de seu filho seja jogado na lama por um Mason enxerido, a descoberta de uma mulher aparentemente em estado catatônico em uma clínica chique que parece ter conexão com a vítima, e, claro, a descoberta de que os irmãos Gallardo tiveram acesso à arma do crime, cortesia de Drake. Ou seja, tem muito ainda o que acontecer em termos de reviravoltas de tribunal até que tenhamos um veredito sobre os acusados, mas tudo, ainda bem, vem seguindo uma linha lógica e inegavelmente interessante que os próximos episódios, não tenho dúvida, descortinarão.

5º Lugar: Chapter Nine

2X01

Mas quem esperava que essa “transformação” fosse um processo de uma temporada só, enganou-se completamente, pois, ao que tudo indica, o segundo ano da série continua esse processo lento e doloroso em que Perry Mason (Matthew Rhys) aprende que a Justiça que ele tanto almeja para seus clientes talvez seja algo inatingível, uma verdadeira ilusão como o promotor público Hamilton Burger (Justin Kirk) diz muito claramente para ele a certa altura do episódio inaugural. Apesar de já ser um homem maduro e experiente na vida, Mason é claramente um sonhador, com um grau elevado de inocência em relação ao seu recente ofício que, temos que lembrar, ele só alcançou por vias menos do que ilibadas. Sofrendo ainda dos mesmos males que o acometiam somado do trauma do suicídio de Emily Dodson (Gayle Rankin), sua primeira cliente, no intervalo entre temporadas, Mason, agora vivendo em um apartamento cuja bagunça muito claramente reflete seu tormento interior, assim como o completo abandono da fazenda de sua família que ele acabou vendendo para a empreendora – e sua amante casual – Lupe Gibbs (Verónica Falcón) refletia seu desespero completo na primeira temporada, trabalha ao lado da sempre segura de si Della Street (Juliet Rylance) em mais casos cíveis do que criminais para manter solvente o escritório da dupla.

4º Lugar: Chapter Ten

2X02

Mas é importante notar que esse artifício batido não é, de forma alguma, um ponto negativo para a temporada, pois, como eu sempre digo, o importante é como os clichês são usados. E, aqui, ele serve não só como um instrumento para colocar Mason e Street no caso, como, também, para realmente unificar as pontas narrativas que foram deixadas no episódio anterior. O melhor exemplo disso talvez seja o fantasma de Emily Dodson que ainda assombra Perry Mason e que o afastou de casos criminais. Dodson é a razão para que a família Gallardo procure sua ajuda e é, também, a razão pela qual ele inicialmente nega a ajuda e, depois, muda de ideia e arregaça as mangas para fazer uma investigação preliminar depois que seu amigo Pete Strickland aguça sua curiosidade sobre como o crime aconteceu.

3º Lugar: Chapter Thirteen

2X05

Mas Drake não é um personagem trabalhado de maneira lateral. Muito ao contrário, seu ex-policial transformado em investigador é um poço de contradições talvez até maior que Perry Mason. Por um lado, ele não admite que Mason simplesmente largue o caso por achar que os Gallardo são culpados – ou culpados em algum grau, pelo menos, e não sozinhos -, por outro, ele mantém uma abordagem essencialmente ética do trabalho que tenta fazer, com as fotografias que tirou do agiota Perkins no primeiro episódio a pedido de Pete Strickland sempre pesando em sua consciência. E é alvissareiro notar como Perkins retorna à série como uma forma agridoce de Drake buscar absolvição por seu pecado, já que ele é obrigado usar seus punhos para arrancar uma confissão do atravessador que contratou os Gallardo por dois mil dólares. Ou seja, como a série já provou diversas vezes – e, vamos combinar, é um ensinamento universal – não há almoço grátis e o preço, aqui, é a sua alma.

2º Lugar: Chapter Sixteen

2X08

O final da segunda temporada, na verdade, soube subverter os clichês e tropos do gênero em que a série se insere, criando um encerramento sobriamente redondo, ou seja, fugindo da teatralidade, das reviravoltas de último momento e de conclusões simplistas e maniqueístas. Muito ao contrário, o que vemos é um fechamento coerente com a lógica de um mundo palpável em que nada realmente é preto ou branco, que nos obriga a navegar constantemente em mar revolto, tentando fazer de tudo para evitar um naufrágio. É fantástico ver que Perry Mason, mesmo com o soluço que foi o episódio anterior, não se deixou levar por uma corrente suave e tranquila, preferindo encarar a tempestade.

1º Lugar: Chapter Twelve

2X04

E essa é uma das razões pela qual essa série é tão bacana e diferenciada. Perry Mason – a série – está muito menos preocupada com os meandros investigativos e jurídicos de seus personagens do que com seu lado psicológico. O próprio Drake parece ser um profundo conhecedor da mente de seu empregador, um homem movido quase que exclusivamente pela paixão que tem uma visão utópica da Justiça e que é sim capaz – como ele quase faz – de desistir de um caso somente porque há uma boa chance de seus clientes serem culpados. Quando Drake, depois de conversar com a esposa em uma bela e rara cena de amor entre pessoas casadas (o audiovisual normalmente se esquece que ainda há amor e paixão mesmo em casamentos de anos), finalmente conta sobre a arma e sua investigação para Mason e Street, aquilo que ele imaginou que aconteceria acontece imediatamente, com Mason basicamente implorando por um acordo com a promotoria que evitaria a pena de morte a seus clientes, mas que os deixaria na prisão por pelo menos 25 anos(!!!) e, depois, em uma cena para lá de estranha, mas muito original, em que  ele sai para cavalgar com o cavalo campeão de Lydell McCutcheon na calada da noite em uma espécie de vingança pela campanha de difamação movida pelo magnata contra ele.

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