Aproveitamos o lançamento do polêmico Benedetta para fazer um especial sobre o diretor holandês Paul Verhoeven, trazendo as críticas de todos os seus trabalhos de direção, com exceção, apenas, de seus curtas e do documentário em longa-metragem feito para a TV sobre o fascista Adriaan Mussert, de 1970, por não o termos encontrado com legendas em alguma língua que compreendamos. E, claro, não poderíamos encerrar esse trabalho sem nosso tradicional ranking dos filmes.
Mas comecemos, primeiro, pelas regras:
- Trata-se de uma lista feita exclusivamente por mim, Ritter Fan, o único redator do site que viu todos os filmes de Verhoeven. Portanto, todos os elogios e xingamentos podem ser dirigidos a mim lá nos comentários, lembrando que listas são sim subjetivas (assim como críticas) e que sou partidário da tese do “bateu, levou”;
- Para permitir comparações justas, limitei-me aos longas-metragens cinematográficos dirigidos pelo cineasta. Portanto, seus curtas, Floris, seu primeiro trabalho comercial, o citado documentário feito para a TV e também o média-metragem Traição ficaram de fora da lista;
- Como não fiz as críticas de todos os filmes, decidi fazer comentários para justificar cada colocação. As críticas completas podem ser lidas clicando nos títulos dos respectivos filmes e elas não necessariamente baterão com suas respectivas colocações na lista, obviamente.
Vamos lá então? E mandem suas listas!!!
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16º Lugar:
O Homem Sem Sombra
Pelo menos no meu livro, Paul Verhoeven não tem filme ruim. Seu O Homem Sem Sombra, porém, último filme de sua prolífica e polêmica (sempre polêmica!) fase hollywoodiana, é o que mais se aproxima dessa categoria, ainda que ele consiga se manter alguns passos acima. O maior problema do longa e que justifica sua inserção aqui, no último lugar, é que ele não se permite desvencilhar-se de algumas amarras impostas por um roteiro que pende à simplicidade e acaba privilegiando os efeitos especiais. Mesmo assim, o filme faz pensar sobre os limites da ética e moralidade.
15º Lugar:
Negócio é Negócio
O primeiro filme lançado nos cinemas de Paul Verhoeven é, compreensivelmente, o menos “Paul Verhoeven” de toda sua filmografia, com o diretor muito claramente ainda tentando encontrar sua voz. Mas, mesmo com essa característica, é possível perceber algumas de suas marcas de maneira ainda bem leve, como o olhar satírico – no caso, em relação às vidas das prostitutas em Amsterdã – e uma abordagem erótica, mas nunca de mau gosto.
14º Lugar:
Conquista Sangrenta
Conquista Sangrenta é o “filme ponte” de Paul Verhoeven, marcando sua transição de seu país natal para Hollywood. Seu épico histórico com muito sangue e violência foi um retumbante fracasso de bilheteria, mas pavimentou sua carreira do outro lado do Atlântico. O longa tem todas as marcas de um longa do cineasta, mas sofre por sua natureza episódica que torna a experiência um pouco mais claudicante do que deveria ser.
13º Lugar
A Espiã
Filme que marcou o retorno do diretor à Europa, depois de O Homem Sem Sombra, A Espiã é uma sofisticada produção histórica sobre uma judia que se infiltra no alto escalação nazista na Holanda baseada em diversos eventos reais que foram costurados em uma única narrativa. No entanto, esses “pedaços” reais tornam-se sensíveis no longa, que, ainda que de maneira menos saliente, carrega a natureza episódica de Conquista Sangrenta, mas oferecendo personagens fascinantes em todos os seus tons de cinza.
12º Lugar:
O Amante de Kathy Tippel
Já no 12º lugar, Paul Verhoeven mostra sua categoria, pois torna difícil a tarefa de ranquear filmes. Sua adaptação da autobiografia da autora holandesa Neel Doff é desafiadora por lidar com a ascensão da protagonista da completa miséria que a faz sofrer horrores até os mais altos degraus da sociedade da época sem se curvar a maniqueísmos e sem deixar evidente a hipocrisia da postura da própria jovem Kathy que critica o capitalismo, mas, na primeira oportunidade, abraça-o sem nem olhar para trás.
11º Lugar:
Louca Paixão
Louca Paixão é, em poucas palavras, o Love Story de Paul Verhoeven. E, por isso, pela janela vão o romantismo idealizado, a abordagem pudica e o melodrama e pela porta entram o romance realista e cru, a abordagem quase explícita repleta de sexo e um drama maduro sobre o amor jovem sem freios, carnal e desmedido sem verniz e sem embelezamentos. Um dos maiores sucessos do cinema holandês até hoje e não sem razão.
10º Lugar:
Sem Controle
Sem Controle foi o filme que começou a levar Verhoeven para os EUA em razão da recepção pesada que ele teve de diversos críticos que taxaram a obra de misógina, machista, homofóbica, anti-polícia e tudo mais que se possa imaginar, em uma clara demonstração de algo que o cineasta veria novamente diversas vezes ao longo de sua carreira: a incapacidade ou má vontade de muitos em procurar entender sua abordagem satírica que disfarça pesadas críticas sócio-políticas.
9º Lugar:
Showgirls
Falando em incompreensão da crítica e público, Showgirls talvez tenha sido o ápice da carreira polêmica de Verhoeven, com o filme inclusive tendo concorrido a diversos Framboesas de Ouro e ganhado nada menos do que sete que o diretor, de forma inédita, foi lá receber sem problema algum. Até hoje visto com desconfiança, o longa é um excelente e pesado retrato da indústria do entretenimento como forma de se criticar as estruturas de poder e a cobiça humana. Um clássico maldito que dá até pena de deixar aqui nesta colocação, mas é que Verhoeven tem muito filme bom, como já disse algumas vezes!
8º Lugar:
Benedetta
Mais polêmica! Afinal, só mesmo Verhoeven para ter a coragem de dirigir um filme sobre uma freira lésbica que tem visões eróticas milagrosas com Jesus Cristo em plena Itália da Renascença. Muita gente reclamou, muita gente se escandalizou, mas completamente em vão, não percebendo – DE NOVO! – que Verhoeven coloca o óbvio polêmico como chamariz para discutir questões muito mais sutis e importantes do que o que está na superfície. Se ele precisa fazer isso com cenas eróticas entre freiras? Claro que não! Mas Verhoeven não seria Verhoeven se não fizesse exatamente isso!
7º Lugar:
Soldado de Laranja
Filme infelizmente muito pouco lembrado na filmografia de Paul Verhoeven fora de seu país natal, Soldado de Laranja é seu segundo drama histórico e o primeiro a abordar a resistência holandesa contra a invasão nazista, só que, diferente de A Espiã, baseado em história real. O longa nada em direção contrária a esse tipo de longa, tratando os heróis da resistência não como heróis infalíveis que fariam de tudo pelo país, mas sim como homens falhos, movidos por razões bem mais egoístas.
6º Lugar:
Tropas Estelares
Um filme que muitos veem apenas como uma obra de ação sci-fi, outro vários como uma ode à guerra e ao belicismo e alguns felizardos da única maneira correta de se interpretar o longa: como um excelente sci-fi de ação de veia satírica que critica pesadamente a guerra, a política e a suja estrutura hierárquica que as tornam possíveis. Muitos insetos morreram na produção desta obra, mas cada morte gosmenta mais do que valeu a pena!
5º Lugar:
Elle
Talvez o filme mais difícil de se assistir do diretor em razão de seu tema – o estupro – Elle marca o início do que podemos chamar de sua “Fase Francesa” e ele pode ser encarado de diversas formas, com repugnância, como o puro enaltecimento de um ato abominável, algo que o cineasta ajuda ao emprestar ao longa com uma inquieta, mas absoluta elegância, exatamente o que não esperamos de uma obra assim. Mas, como acontece com Tropas Estelares e diversas outras obras suas, a verdade está abaixo da superfície e ela não é nada bonita. O que se exige é a vontade se olhar para além das aparências.
4º Lugar:
O Quarto Homem
A partir desse ponto, saímos da categoria de quase-obras-primas para a de obras-primas. Escolher a ordem foi um suplício. O Quarto Homem está aqui unicamente porque ele, por ser o último representante de sua Fase Holandesa, com o diretor já com um pé nos EUA, parece ser levemente menos acabado que seus demais, como um proto-Instinto Selvagem. Mas isso não o faz ser menos obra-prima…
3º Lugar:
O Vingador do Futuro
O mestre da sátira cinematográfica adaptando uma obra de um dos mestres da ficção científica? Não tinha como O Vingador do Futuro não estar aqui próximo do topo dessa lista. Um filme que alia, quase à perfeição, pancadaria, efeitos especiais, Arnold Schwarzenegger e Sharon Stone com críticas políticas e socioeconômicas, além de uma fina camada filosófica e uma robusta discussão sobre a memória.
2º Lugar:
Instinto Selvagem
Em Instinto Selvagem, Paul Verhoeven canaliza Alfred Hitchcock ao mesmo tempo em que subverte e erotiza a infraestrutura fílmica do Mestre do Suspense, sem deixar de escandalizar – de novo! – o público, especialmente o americano, com suas sequências despudoradas de sexo e a mais inesquecível (des)cruzada de pernas da História do Cinema. Sharon Stone brilha. Michael Douglas brilha. E Paul Verhoeven sorri de canto de boca…
1º Lugar:
RoboCop
Dentre todas as obras-primas de Verhoeven, RoboCop é a que está no mais alto lugar do pódio em minha lista. O filme funciona como uma máquina perfeitamente azeitada em tantos níveis – como filme de ação, como policial, como ficção científica, como distopia, como sátira sociopolítica, econômica, jornalística – que é quase impossível apontar a melhor cena ou o melhor diálogo. Vivo ou morto, não tem como não admirar de queixo caído essa maravilha ultraviolenta desse grande e desafiador diretor.