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Lista | Pacificador – 1ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Transgressão sem transgredir de verdade.

por Ritter Fan
5,K views

Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Como no caso do mais recente filme do Homem-Aranha, Pacificador faz parte daquelas obras que são, individualmente, as “melhores já feitas na história do mundo da semana”. O fenômeno, que talvez tenham algum nome científico – histeria coletiva? -, mas que eu gosto de chamar de “hipérbolemania”, não é novo, mas tem se intensificado e cria um frenesi que parece o Taz dos Looney Tunes, girando furiosamente, fazendo um escarcéu momentâneo, mas, depois voltando ao normal como se nada tivesse acontecido.

E com isso eu não quero dizer que não é bacana entrar nesse “transe” e deixar-se embeber pelo filme ou série do momento. Faz parte. Eu apenas gostaria que as pessoas soubessem separar o joio do trigo e não achar que toda obra que gostam ou não gostam (porque tem também o lado negativo da coisa) são sempre a melhor ou pior coisa do mundo e que mais ninguém pode achar o contrário. Pacificador, já digo logo, é uma série divertida, simpática, ocasionalmente com ótimos lampejos de criatividade, mas que é fundamentalmente falha.

Seu maior problema pode ser resumido como uma dependência de repetição temática com um humor cansativo e de falta de coragem para realmente transgredir, quebrar regras, de forma, aliás, muito semelhante ao que aconteceu no terço final do ótimo O Esquadrão Suicida, filme de que a série é spin-off. James Gunn sabe sem dúvida alguma lidar bem com o material que lhe é dado, mas sua filmografia inteira é mais ou menos assim, com suas propostas sendo eventualmente derrubadas por sua própria “covardia” em ir até o fim com o que começou.

Por outro lado, Gunn é um ótimo diretor de atores e isso se reflete em John Cena e Freddie Stroma, com o primeiro conseguindo ter seu carisma elevado à categoria de quase-atuação e o segundo tendo seu timing cômico muito bem aproveitado, mesmo que eu próprio, no começo, tenha achado o personagem um chato de galochas. Obviamente, porém, o destaque fica mesmo com a sempre excelente Danielle Brooks que arrebenta em sua participação e parceria com Cena, mesmo que todo o conjunto do elenco fixo, talvez com exceção de Chukwudi Iwuji, como Murn que não tem o mesmo espaço que os demais.

No final, o lado pessoal, traumático e trágico do Pacificador conseguiu falar mais alto e tirar a série do simples-lugar comum das séries violentas, mas rasinhas, de super-heróis. Seu passado e sua relação com seu pai racista Auggie foi o ponto algo da série – juntamente com seu dueto com Adebayo na fábrica de envasamento de gosma alimentar dos Borboletas – e seu grande diferencial, com todo o restante apenas parecendo cenas que preenchem o espaço vazio entre um desenvolvimento realmente bom e outro. Mas, sim, não tenham dúvida: Pacificador é uma série divertida. Apenas não é a Oitava Maravilha do Mundo Audiovisual. Nem de longe, aliás.

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês, lembrando que os textos abaixo são apenas trechos das críticas completas que podem ser acessadas ao clicar nos títulos dos capítulos. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!

8º Lugar:
It’s Cow or Never

1X08

Aqui, Gunn mostra que não tinha história mesmo para preencher seus episódios ou – pior ainda – que ele não queria dedicar muito tempo à verdadeira história que ele tinha para contar, aquela séria sobre os traumas de infância do protagonista e sua relação conturbada com o pai. Em Stop Dragon My Heart Around ele mostrou estofo ao fazer justamente isso e sem perder o timing galhofeiro e tosco. Aqui, ele ensaia uma continuidade para isso com o fantasma de Auggie aparecendo para Smith, mas tudo o que ele consegue gerar são momentos estranhos, que parecem completamente deslocados desse final. No lugar de demorar 10 minutos com a suposta piada da águia com o capacete, ele poderia ter distribuído melhor o tempo para abordar mais esse lado e entregar um final de temporada que fosse além do fan service dos minutos finais, mas Gunn preferiu ser Gunn e tropeçar na chegada como, aliás, aconteceu com ele em O Esquadrão Suicida.

7º Lugar:
Better Goff Dead

1X03

O criador confunde abordagem transgressora com abordagem didática. Confunde paródia de um gênero, que ele fez tão bem em boa parte do filme, com comentários diluídos e, portanto, sem força. Peguem como exemplo a cena no restaurante em que o Pacificador chama a garçonete de “sweet cheeks”. Quando ele faz isso, todo mundo ali na mesa o olha horrorizado e ele não entende o porquê. A graça está aí, até esse ponto. Mas Gunn não para por aí e parte da premissa que mais ninguém entendeu o porquê e, então, faz o que nenhum comediante pode fazer: ele explica a piada. E não explica em poucas palavras não, ele cria toda uma seção de diálogo resultante desse “elogio” e quase desenha um gráfico sobre as razões de isso não ser apropriado (tem gente que reclamada do didatismo de Christopher Nolan, mas o que Nolan faz é hermético e críptico perto do que Gunn entrega aqui e na maioria das outras sequências semelhantes.

6º Lugar:
Best Friends for Never

1X02

Esse é, diria, o ponto nodal problemático da trinca inicial de episódios. Gunn tenta se inspirar nos longos diálogos verborrágicos de Quentin Tarantino para criar a voz de seu Pacificador – e, não demora muito, também do insuportavelmente chato Vigilante vivido por Freddie Stroma -, mas falhando miseravelmente. Gunn não sabe – nunca soube, na verdade – trabalhar diálogos pop mais relevantes do que algumas frases de efeito aqui e ali que criam situações memoráveis por todos os cinco segundos que se seguem a elas. Não que ele não consiga criar filmes memoráveis, pois ele consegue, mas falta a ele a verve de Tarantino para ele manter uma estrutura narrativa que é quase que completamente baseada em diálogos supostamente transgressores e ousadamente engraçados.

5º Lugar:
A Whole New Whirled

1X01

Enquanto o primeiro episódio faz essas introduções – o que inclui Eagly, a águia-de-cabeça-branca digitalmente muito bem-criada que é o “bichinho” de estimação do Pacificador – ele também trata de humanizar o protagonista. Ele continua sendo o machista e misógino de sempre, mas ele decididamente ganha atenuações narrativas que o tiram um pouco daquela pura caricatura do machão valentão que Gunn estabelece no filme. Na verdade, talvez a questão, aqui, seja que o Christopher Smith de Cena não tenha, em relação antitética, alguém como o Robert DuBois de Idris Elba ou mesmo o Rick Flag de Joel Kinnaman para criar aquela atmosfera oitentista de “bros” que permeou pelo menos dois terços do longa-metragem e, com isso, ele perde em relevância e em graça, com Gunn não conseguindo, em momento algum, fazer do Pacificador um personagem realmente interessante, nem que seja apenas por sua comicidade inerente de grandalhão musculoso fantasiado de forma espalhafatosa.

4º Lugar:
The Choad Less Traveled

1X04

Talvez o que tenha havido no episódio que já marca a metade da temporada inaugural de Pacificador (a não ser que seja uma minissérie como a Marvel vem fazendo) é que James Gunn se segurou no roteiro. Menos verborragia fazendo enorme esforço para ser engraçado e falhando miseravelmente e mais drama no sentido clássico da expressão, com o já citado Vigilante querendo mostrar-se útil ao grupo e, claro, Christopher Smith ganhando mais tempo para lidar com seus problemas com o pai e com o assassinato de Rick Flagg. É o primeiro episódio da série, aliás, que não fica o tempo todo querendo mostrar o quanto é esperto e o quanto sabe clicar nas teclas que fazem os fãs babarem de felicidade.

3º Lugar:
Murn After the Reading

1X06

Mas há compensações. Se Gunn faz de seu mais recente episódio uma sucessão de mini-episódios, pelo menos eles são inspirados, começando pelo hilário cold open com o Pacificador na escola da filha do zelador do hospital que vimos no primeiro episódio chamando cada aluno por suas “características”, continuando no diálogo quase surreal entre ele e o completamente imbecil do Vigilante diante de Goff na jarra – “sua cor favorita é azul-petróleo?” – e o momento, mais para o final, em que ele percebe que há algum segredo em seu grupo que ninguém quer dividir com ele. John Cena e Freddie Stroma funcionam tão bem aqui quanto Cena e Danielle Brooks funcionaram na semana passada, mesmo que a estrutura de esquete desgaste um pouco a beleza da coisa.

2º Lugar:
Monkey Dory

1X05

Claro que ajuda muito o fato de Danielle Brooks continuar dando seu costumeiro show, seja na parceria com John Cena, seja nas cenas focadas apenas em sua personagem, com o segredo que guarda e o que sua mãe a ordena fazer. Mas Gunn conseguiu chegar no ponto ideal em que a pancadaria come solta – e o episódio é, basicamente, uma única missão de extermínio de Borboletas em uma fábrica do líquido viscoso que serve de alimento para eles – do jeito mais explosivo possível, literalmente, e com muitas cabeças estouradas, mas com espaço cômico para o tipo de humor para cada um dos atores da dupla. Cena fica com a violência extrema auxiliada por seu capacete raio-x e, claro, pelo uso de uma eficiente escopeta e de uma delicada granada-míssil ou talvez míssil-granada, enquanto que Brooks vem atrás daquele seu jeito hesitante, dando seus “tiros de misericórdia” com uma pistolinha mixuruca e reclamado que Smith não a avisa para correr depois de jogar uma bomba.

1º Lugar:
Stop Dragon My Heart Around

1X07

Mas o que realmente destaca o episódio é que, apesar de toda a sua comicidade inerente, recheada de humor corporal como Economos entrando no carro com esforço, Eagly logo atrás bicando-o e, em seguida, ele saindo se arrastando, é que tudo é construído para ser o momento verdadeiramente catártico de Christopher Smith. Não só finalmente temos a oportunidade de saber exatamente o que aconteceu com seu irmão – e é mais horrível do que poderíamos imaginar, com Auggie fazendo rinha de galo, com direito a apostas, com os filhos -, como o fim de tudo é mesmo o fim de tudo, sem que Gunn tentasse passar um verniz de recém-adquirida fortaleza moral do protagonista, fazendo-o deixar o pai viver. Aqui, o Pacificador é o Pacificador que esperávamos ele ser desde o começo da série, só que, agora, com verdadeiro significado e não só zoeira. O tiro na cabeça do pai pelo filho é o filho lidando com seu trauma da única maneira que ele sabia lidar, ou seja, acrescentando mais trauma à sua vida.

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