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Favoritos do Plano Crítico | Diretores

por Luiz Santiago
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E lá vamos nós outra vez, fundir os neurônios com mais uma lista. Só que dessa vez a coisa é ainda mais pessoal do que em todos os outros casos. Porque esta é uma LISTA DE FAVORITOS, sendo considerados cineastas de qualquer época da História do Cinema, vivos ou já falecidos. As listas estão acompanhadas do nome do cineasta, seu ano de nascimento e, se for o caso, de morte; além de seu país de nascimento e seus primeiros, principais e últimos filmes.

NOTA: Esta é uma versão 2.0 da lista. A primeira publicação aconteceu em janeiro de 2015, com uma estrutura completamente diferente (para começar, era um TOP 5 e não TOP 10) e com muita gente diferente na equipe. Hoje, cinco anos depois, trago a versão atualizada e acrescida de novos comentários e indicações! Vocês também vão notar que fiz uma marcação na seção de comentários, separando visualmente as participações feitas pré e pós a publicação desta segunda versão. Não se esqueçam de comentar abaixo e deixar também a sua lista de 10 diretores favoritos! Divirtam-se!


RITTER FAN

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Fiz umas 15 listas de dez diretores favoritos até chegar nessa abaixo. Não esperava muita dificuldade, mas acabei tendo problemas com nomes que eu simplesmente não poderia deixar de fora como Francis Ford CoppolaMartin Scorsese, Billy Wilder, Fritz Lang, Yasujiro Ozu, Satyajit Ray e Steven Spielberg, isso só para citar alguns. Mas não teve jeito. Tive que cortar na carne. Foi um sofrimento terrível, mas passei a focar nas memórias afetivas que guardava sobre o coletivo de filmes de cada um e, quando fiz isso, reparei que não havia muito espaço para dúvidas.
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Ainda que adore o conjunto da obra de Coppola, por exemplo, os filmes dos diretores de minha lista abaixo são aqueles que eu sei que levaria para uma ilha deserta se tivesse essa escolha e os veria ritualisticamente o resto de minha vida. São os conjuntos cinematográficos que, nesse momento, sei que não me enjoaria jamais. Vale lembrar que essa lista é dos dez diretores FAVORITOS, não necessariamente os melhores, ainda que, de todas as listas dessa natureza que tenha feito para o site, essa é a que mais deixa próximos os dois conceitos. Vamos a ela.
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Luis Buñuel

?? 1900 — 1983
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A primeira vez que tive contato com uma obra de Buñuel não foi por causa de Buñuel. Eu nem sabia quem era o sujeito, na verdade, pois meus hormônios adolescentes só tinham olhos para a beleza misteriosa de Catherine Deneuve em A Bela da Tarde. Hipnotizado, vi aquele filme “proibido” de cabo a rabo, possivelmente só querendo vê-la nua e deixando de captar maiores significados. Mas o fato é que, daí, parti para procurar outras obras do diretor (novamente, não para ver arte e sim para ver corpos femininos desnudos) e acabei mergulhando nesse estranhíssimo e muito particular mundo desse diretor aragonês. Ao longo dos anos, minha admiração só foi crescendo, com suas visões brutais de mundo, com seus sonhos surreais colocados na tela, com sua incrível variedade de obras na Espanha, na França e no México. Luis Buñuel me fisgou com Deneuve e eu nunca mais soltei o anzol.
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Alfred Hitchcock

?? 1899 — 1980.
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram Number 13 (filme inacabado, 1922), Always Tell Your Wife (curta, não creditado, 1923) e O Jardim dos Prazeres (longa, 1925). Seu último filme foi Trama Macabra (1976).
Mestre do Suspense, para mim, é o “menor” dos títulos desse magnífico diretor britânico. Hitchcock, sozinho, literalmente revolucionou o cinema com o uso habilidoso de cenários orgânica e milimetricamente construídos que funcionam como personagens de suas produções, a criação de técnicas fotográficas impressionantes e que até hoje são utilizadas com grande constância, sua capacidade tirânica de extrair de seus atores exatamente o que ele queria, seu gênio em adaptar as histórias mais improváveis, sua ousadia em tentar aquilo que antes não fora tentado, sua plasticidade inigualável, sua parceria épica com Bernard Herrmann, sua teimosia em arriscar tudo por uma produção, sua capilarização pela televisão, sua coragem em pegar o material fonte e contorcer ao seu bel-prazer, sua criação de personagens icônicas, sua descoberta de atores que ficaram marcados por seus papeis. Nossa, se eu sair aqui listando tudo que Hitchcock trouxe para a Sétima Arte, vou tomar essa lista de assalto. Sua enorme filmografia é uma das mais importantes do Cinema, transitando por diversos gêneros (ainda que ele seja mais famoso pelo suspense, há obras dramáticas, outras que flertam com a comédia, filmes de espionagem e por aí vai) e sempre produzindo obras-primas em quantidades apoteóticas. Um verdadeiro gênio.
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Akira Kurosawa

?? 1910 — 1998
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram Uma (direção parcial, 1941) e A Saga do Judô (solo, 1943). Seu último filme foi Madadayo (1993).
Ah, Akira Kurosawa… O que escrever sobre esse diretor? Minha admiração por sua carreira, por suas lutas pessoais, por sua filmografia invejável não tem limites. Deixe-me então ilustrar com um relato pessoal. Meu primeiro contato com o diretor foi completamente inusitado. Meu pai, que já contava histórias do Rei Arthur e de Ulisses para eu dormir, um dia mudou a “prosa” e passou a me contar histórias de samurai. Eu era bem pequeno, algo como 8, 9, talvez 10 anos, mas lembro-me com clareza como fique fascinado pela narrativa de um vilarejo constantemente atacado e abusado por bandidos que tenta recrutar protetores e acaba com sete nobilíssimos samurais ao seu lado. Lembro-me meu pai contando como o samurai principal recrutou os demais, chamando cada candidato para um casebre e testando-os de várias maneiras diferentes. Lembro-me do candidato jovem afobado que não era aceito pelo samurai experiente.
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Anos e anos se passaram até eu descobrir que essa era a história de Os Sete Samurais, clássico imortal de Kurosawa, que devorei de uma tacada só apesar de sua longa duração. E, a partir daí, não parei e descobri que Kurosawa ia muito além de filmes no Japão feudal. Descobri maravilhas como Dersu UzalaViver e Céu e Inferno e não parei mais. Mesmo em suas obras mais fracas, Kurosawa está um passo além de seus pares.
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Sergio Leone

?? 1929 — 1989
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Filmografia microscópica em comparação com outros dessa lista, mas seus poucos filmes, especialmente os da Trilogia dos Dólares e seus dois “Era Uma Vez”, são obras-primas que não me canso de ver e rever. Sem muitas dúvidas, Leone é, para mim, o grande nome do western mundial e não falo aqui apenas do sub-gênero Spaghetti. Seus personagens são as formas usadas em um sem-número de outras obras do mesmo gênero ou de vários outros completamente diferentes. Sua descoberta de atores hoje icônicos é inigualável e sua capacidade de fazer muito com quase nada é imbatível. E, lógico, como poderia deixar de citar que sua parceria com o grande Ennio Morricone é uma das mais prolíficas do Cinema, com grandes composições usadas, reusadas e abusadas.
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Quentin Tarantino

?? 1963
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram Love Birds in Bondage (curta inacabado, 1983) e My Best Friend’s Birthday (longa, 1987). Seu último filme até a publicação da presente lista foi Era Uma Vez em… Hollywood (2019).
Tarantino é uma lenda em seu próprio tempo. Muitos o consideram “superestimado”, mas essa classificação chega a ser ridícula. É difícil – diria impossível – encontrar um diretor dos anos 90 para cá que tenha influenciado tanto o Cinema pop quanto Tarantino. Além disso, suas homenagens – que os detratores gostam de chamar de “cópias” – a filmes dos mais diversos gêneros e nacionalidades vão MUITO além de homenagens. Tarantino tem a invejável habilidade de pegar material obscuro, reempacotar e criar obras com personalidade e assinatura próprias que formam um conjunto cinematográfico quase perfeito.
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E eu poderia falar de sua capacidade de descobrir e REdescobrir atores, de escolher sua trilha sonora à dedo, gerando álbuns inesquecíveis, sua montagem não-linear de tirar o chapéu, de seu domínio narrativo enlouquecedor, de seus diálogos primorosos, de suas próprias pontas hilárias. Mas não vou falar. Assistam Pulp Fiction – ou qualquer outra obra dele – novamente e ponto final!

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David Fincher

?? 1962
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  • Filmografia: O primeiro filme do diretor foi Alien 3 (1992). Seu último filme até a publicação da presente lista foi Mank (2020).

Fincher começou sua carreira como diretor de videoclipes e caiu de paraquedas em Hollywood como “diretor de emergência” do conturbadíssimo Alien 3. Do jeito que foi a coisa toda, era para ele ter pendurado as chuteiras imediatamente e mandado tudo às favas, mas ele perseverou e seu filme seguinte, Seven, mostrou toda sua categoria. Dali em diante, foram só maravilhas que reúnem técnica invejável com roteiros impressionantes e uma direção de atores de se tirar o chapéu. Com exceção de seu début hollywoodiano, Fincher não tem um filme sequer que é só mediano.

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Stanley Kubrick

?? 1928 — 1999
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Eu odiei 2001 – Uma Odisseia no Espaço todas as vezes que vi esse filme forçado pelo meu pai. Troço chato, parado, sem graça, com exceção do início com os homens da caverna, claro, já que eu era tarado por tudo da pré-história (ainda sou, na verdade). Mas aí eu cresci e notei que 2001 faz a expressão obra-prima parecer inadequada até. E mais: seu diretor, Stanley Kubrick, foi o responsável pelo melhor filme sobre a Primeira Guerra Mundial, pelo melhor filme de terror já feito, pelo melhor filme de época com fotografia natural já feito e, claro, pelo melhor filme com laranja no título já feito. Não, sério, o cara era um gênio que morreu cedo demais, mas deixou um legado de fazer inveja.

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F.W. Murnau

?? 1888 — 1931
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram Der Knabe in Blau (curta, 1919) e Satanas (longa, 1920). Seu último filme foi Tabu (1931).

Eu tive uma professora de teatro e cinema em inglês (o que raios estava eu fazendo essas aulas com meros 18 anos, não me pergunte!!!) que me apresentou a Nosferatu em meio às aulas sobre o expressionismo alemão. Foi paixão à primeira vista e até hoje eu tenho dificuldade de encontrar um filme de terror melhor do que esse. Não foi fácil achar o resto da filmografia de Murnau, especialmente considerando que, quando eu tinha 18 anos, a internet era coisa de ficção científica. Por tanto, demorei DÉCADAS para ver tudo, mas, um dia, consegui e descobri que o sujeito é realmente espetacular, já que ele conseguiu me fazer chorar copiosamente (mentira, eu não choro, mas fica legal escrever isso em um texto com esse) com A Última Gargalhada.

  • 5 Filmes de Destaque: O Castelo Vogelöd (1921), Nosferatu (1922), A Última Gargalhada (1924), Fausto (1926), Aurora (1927).

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Guillermo del Toro

?? 1964
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram Doña Lupe (curta, 1986) e Cronos (longa, 1997). Seu último filme até a publicação da presente lista foi A Forma da Água (2017).

Guillermo del Toro é um diretor complicado, que se envolve em muito mais projetos do que consegue efetivamente fazer, o que resulta em uma filmografia por enquanto ainda muito acanhada, mas que se destaca tremendamente graças à sua marca registrada: o detalhismo extremo e o estilo muito característico que mistura pegadas góticas, lovecraftianas e até mesmo “deltorianas” em obras cinematográficas inesquecíveis como O Labirinto do Fauno. Minha admiração pelo simpático mexicano com cara de bonachão aumentou exponencialmente quando tive a oportunidade de ver uma exposição de parte de sua coleção pessoal (que ele deixa exposta em sua mansão, vale dizer) em um museu em Los Angeles. De cadernos de anotação que fariam inveja à Leonardo da Vinci passando por esculturas gigantescas que adornam seu hall de entrada, o sujeito é um sensacional nerd completamente apaixonado pelo que faz.

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Denis Villeneuve

?? 1967
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  • Filmografia: Os primeiros filmes do diretor foram REW FFWD (curta, 1994) e 32 de Agosto na Terra (1998). Seu último filme até a publicação da presente lista foi Duna (2020).

Meu primeiro contato com Villeneuve foi completamente sem querer e sem maiores pretensões com nada menos do que Incêndios, filme que me deixou perturbadíssimo por semanas após a sessão de cinema. Foi como tomar uma surra sem sequer ver o que me atingiu. O diretor canadense, então, tornou-se alvo de um “pequeno surto obsessivo” meu, que me fez correr atrás de tudo o que ele havia dirigido em sua ainda curta carreira. Mais obras excelentes se seguiram tanto ao descobrir seu passado, como quando eu – e o mundo, na verdade – comecei a ver a fase Hollywoodiana dele com uma obra-prima atrás da outra: Os Suspeitos, O Homem Duplicado, Sicario: Terra de Ninguém, A Chegada e Blade Runner 2049.


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