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Lista | Os Melhores Filmes de 2024 – Ritter Fan

Segredos, identidades e rivalidades.

por Luiz Santiago
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Foram elegíveis para esta lista, apenas: o que foi OFICIALMENTE lançado nos cinemas brasileiros em 2024; o que foi lançado nos streamings e VODs OFICIALMENTE acessíveis no Brasil em 2024 (ou seja, Hulu e iTunes com conta americana estão fora); o que foi exibido OFICIALMENTE em Festivais brasileiros em 2024 ou filmes de festivais que foram OFICIALMENTE acessíveis a partir do Brasil.

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Esse ano marcou meu retorno efetivo ao Festival do Rio desde a pandemia, o que me deixou muito feliz, tão feliz que eu nem reclamei tanto da costumeira (des)organização do evento e nem de ter que quicar de um lado para o outro da cidade em meio ao trânsito caótico. Também foi meu primeiro ano que eu consegui tabular, via aplicativo, todos os filmes que vi e revi, sejam lançamentos ou catálogos, dando-me uma sensação de desafio cumprido com louvor (e nem adianta procurar por minha lista, pois eu não só não uso meu nome, como eu coloco tudo no privado).

E, no geral, foi um baita ano de CINEMA para mim. Uso caixa alta para deixar bem claro que falo daquela sala escura, com ar-condicionado, por vezes com cheiro de mofo e sempre com pipoca com preço exorbitante, algo que também há algum tempo não fazia de maneira tão constante. Não fui a tantas sessões quanto gostaria de ter ido, mas foi bem mais do que os anos anteriores e, melhor ainda, com minha atual flexibilidade de horários, escolhendo a dedo horários e salas que eu tinha certeza que haveria a menor quantidade possível de mal educados.

Sobre a lista, vale alguns comentários sobre como eu cheguei ao Top 10 diante da quantidade de filmes que vi. Eliminei dos filmes elegíveis todo e qualquer filme que estreou em circuito nacional em 2024, mas que eu já havia colocado na minha lista de melhores de 2023, por ter assistido antes, em festivais, para evitar repetições (esse é o caso especialmente de Monster). Como critérios de “filtragem”, privilegiei filmes originais a continuações, filmes de ficção a documentários e filmes lançados no cinema a filmes exclusivos de streaming. Como resultado, nenhuma continuação ou documentário entrou (então perguntas do tipo “cadê Duna 2?” ou “cadê Super/Man?” não têm cabimento na minha lista) e, de streaming, só dois filmes entraram. Mas, claro, fiz uma listinha de Menções Honrosas também para não deixar nenhuma obra merecedora totalmente de fora!

Menções Honrosas
(em ordem alfabética):

Ainda Estou Aqui
Anatomia de uma Queda
Divertida Mente 2
Duna: Parte Dois
Jurado Nº 2
Meu Amigo Robô
A Música de John Williams
Planeta dos Macacos: O Reinado
Robô Selvagem
Super/Man – A História de Christopher Reeve

TOP 10

10º – Rebel Ridge

Jeremy Saulnier | EUA | 2024

Mas Saulnier é isso, filmes de personalidade que não se curvam às convenções e que procuram entregar o convencional de maneira pouco ou nada convencional e com apuro técnico, olhar criterioso e sempre trabalhando bem motivações e elenco. Rebel Ridge não vai mudar a vida de ninguém, mas é filme de ação como os filmes de ação deveriam ser mais frequentemente feitos, ou seja, sem maneirismos imbecilizantes que Hollywood teima em despejar em nossos colos para entorpecer as mentes de quem só quer pão e circo.

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9º – Rivais

Luca Guadagnino | EUA | 2024

Ao retomar para a partida de tênis inicial e fazer disso a sequência do seu último ato, Guadagnino brinda em Challengers o ápice da tensão depois de filmar com tanta intencionalidade cada curva do seu trio de protagonistas; seja os músculos tensos de Faist, os pelos espalhados no corpo de O’Connor e toda vez que Zendaya usa um creme hidratante, o cineasta italiano quer se certificar que audiência está com os ânimos a flor da pele. Afinal, o tênis aqui é um relacionamento e sua câmera não foge da provocação, e filma cada momento erótico como uma disputa e cada partida em quadra como uma foda em que os personagens competem por seus desejos e satisfações.

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8º – Assassina

Eva Nathena | Grécia | 2023

Não se trata, portanto, de um filme para ser visto esperando algum respiro. Assassina é desgraça, morte, dor e angústia do começo ao fim. Uma obra que agride o espectador para acordá-lo de seu torpor. Não tem filme de horror que consiga fazer o que Eva Nathena faz aqui.

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7º – A Substância

Coralie Fargeat | EUA, Reino Unido, França | 2024

O que potencializa ainda mais a forma criativa com a qual Fargeat dirige, é a maneira com que Moore e Qualley são filmadas, sendo a primeira um retrato de vulnerabilidade, insatisfação e auto-desprezo, e Qualley representando o olhar hipersexualizado que recebe por atender aos padrões que são impostos pela sociedade – mas ainda traçando uma sátira ao fetichismo do olhar masculinl – e no caminho, desrespeita os próprios limites para manter esse status – o que reflete a geração atual que recorre a inúmeros processos estéticos e Ozempic. Encerrando a genialidade de sua fábula monstruosa moderna, é como se, no final, Fargeat virasse o espelho para o público/sociedade que, depois de acompanhar tudo o que Elizabeth Sparkle, atriz rejeitada pela indústria fez, devolvesse o resultado por toda busca sua busca pela aparência perfeita.

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6º – O Menino e a Garça

Hayao Miyazaki | Japão | 2023

Marcando ou não o verdadeiro fim da carreira de Hayao Miyazaki, O Menino e a Garça é outra estupenda animação na filmografia desta lenda viva que une uma abordagem de cunho pessoal com uma invejável criação de mundo que leva Mahito e os espectadores a uma jornada inesquecível. Experimentar o longa em toda sua grandeza é como viajar por um mundo ao mesmo tempo desafiador e deslumbrante que assusta e faz sorrir, choca e afaga. E, quando os créditos começam a subir, o que fica, dentre as lembranças multicoloridas e dinâmicas, é aquela sensação gostosa de ter visto um grande mestre fazendo aquilo que nasceu para fazer.

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5º – Clube dos Vândalos

Jeff Nichols | EUA | 2023

Clube dos Vândalos, por seu tema, estilo e abordagem narrativa, tem talvez a natural tendência de passar completamente despercebido do público em geral, como, aliás, aconteceu com toda a filmografia de Nichols. Essa é uma das principais razões pela qual eu advogo que o diretor tenha oportunidade de entregar um blockbuster que chame atenção para seu trabalho anterior, como aconteceu, por exemplo, com Denis Villeneuve. Por outro lado, advogando ao contrário e de maneira até egoísta, o cineasta é uma relativa raridade no panteão de diretores jovens americanos e seus filmes todos pequenos joias imperdíveis a ponto de dar vontade de mantê-lo “escondido” para evitar sua corrupção como o clube transformado em gangue que ele retrata em mais este belo exemplar de sua carreira.

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4º – Bring Them Down

Chris Andrews | Irlanda | 2024

Se Chris Andrews continuar pelo caminho que inaugura com Bring Them Down, sem deixar-se levar pela tentação do lado comercial da Indústria Cinematográfica, consigo perfeitamente visualizar obras ainda mais perturbadoras vindo dele em futuro próximo. Com certeza essa é uma carreira nascente a ser devidamente acompanhada.

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3º – Segredos de um Escândalo

Todd Haynes | EUA | 2023

Segredos de um Escândalo, que curiosamente poderia ter sido intitulado Quando Duas Mulheres Pecam com muito mais propriedade do que Persona foi, é um longa angustiante, um estudo de personagens envelopado em um estudo de personagem que resulta em narrativas fascinantes e aterradoras que funcionam bem separadamente, mas que realmente explodem quando colidem e que ainda contam com duas atuações femininas soberbas que, por mais incrível que possa parecer, são atropeladas por uma atuação masculina de um ator com um nível de experiência incomparavelmente inferior. Tenho certeza de que Todd Haynes sabia o que conseguiria extrair de Portman e de Moore, mas duvido que até mesmo ele imaginaria ver em câmera um trabalho tão surpreendentemente complexo e meticuloso como o de Melton ao construir um personagem sufocado por décadas por um momento de seu passado que se tornou toda sua percepção do que é viver.

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2º – Dias Perfeitos

Wim Wenders | Japão, Alemanha | 2023

Dias Perfeitos encontra a beleza no mundano e coloca Koji Yakusho para conquistar todos como a figura central na jornada de um homem que parece contente com seu próprio exílio, e mesmo que deixe o mundo ditar suas próprias regras, utiliza o silêncio ao seu favor, o que faz com que seus pequenos momentos de diálogo entre figuras do presente e passado sejam ainda poderosos e não deixem de trazer ao menos um pouco de esperança.

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1º – Emília Pérez

Jacques Audiard | França, Bélgica | 2024

Emilia Pérez é, portanto, uma experiência audiovisual inesquecível do começo ao fim que funciona sem engasgues como thriller de crime, como musical, como drama, como crítica social, como aprendizado e como plataforma para quatro atrizes se reinventarem. Jacques Audiard criou algo único e que renova aquela sensação de que o Cinema é para ser, no fundo, um instrumento disruptivo, tão destruidor quanto criador e que existe, acima de tudo, para fascinar.

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