Foram elegíveis para esta lista, apenas: o que foi OFICIALMENTE lançado nos cinemas brasileiros em 2024; o que foi lançado nos streamings e VODs OFICIALMENTE acessíveis no Brasil em 2024 (ou seja, HBO Max, Hulu e iTunes com conta americana estão fora); o que foi exibido OFICIALMENTE em Festivais brasileiros em 2024 ou filmes de festivais que foram OFICIALMENTE acessível a partir do Brasil.
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FELIPE OLIVEIRA
Para um ano com menos “filmes de bonequinho” à vista – exceto pela Sony e o desastroso live-action do aranhaverso, o que ficaria para uma listagem diferente – o cinema em 2024 se tornou promissor para que títulos independentes ganhassem espaço e chamassem atenção do público. Embora tentem engajar de alguma forma o que foi o fenômeno Barbieheimer, foi interessante observar como vários filmes furaram para além da bolha até atingir discussões, a exemplo do longa nacional Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles ter sido o responsável não só pelo movimento da audiência em conferir o resultado nos cinemas — isso desde Bacurau ? – mas também por fazer o Brasil, mais 15 anos depois, entrar na shortlist do Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional.
Em um momento em que o cinema tem sido desrespeitado por quem acha de bom tom tornar o espaço coletivo algo individual ao ficar trocando mensagens durante a sessão ou mostrar que sabe todas as letras do musical Wicked, consegui ter poucas experiências satisfatórias considerando a quantidade de vezes que costumo ir ao cinema. É fato que minha frequência diminuiu drasticamente, muito por tentar encontrar sessões em horários acessíveis para não ter a experiência estragada isso dentro de uma rotina corrida, mas ainda assim, isso não diminuiu a empolgação para que o ano reservava, o que pontuou momentos marcantes com o expressivo lucro para Terrifier 3 como um filme independente custando menos de 5 milhões (contando o marketing); o retorno de Coralie Fargeat incomodar a quem não entende uma sátira e por fim, Sorria 2 ser uma das sequências de um terror mais criativa depois de muito tempo.
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10º – Assassino por Acaso
Richard Linklater | EUA | 2024
Quem diria que, além do longa transitar sob alguns gêneros apresentaria seu personagem quase como um anti-herói, surgindo de alguém comum – um professor de aparência desleixada, que dirige um Honda Civic e possui gatos – que logo surpreende ao agir tão bem na pele de um assassino de aluguel – e não é à toa que ao se apaixonar e mudar de visual passar a ser visto como alguém mais atraente – que parecia ser parte da liberdade criativa do roteiro, mas que até o final prova realmente ter sido baseado em alguém real que foi tema de um artigo. No final das contas, Hit Man é a história de um matador, mas contada por uma ótica menos noir, e por vezes quente e açucarada que o convencional.
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9º – Duna 2
Denis Villeneuve | EUA | 2024
É graças a exemplos como esse que a discussão de longa duração e blockbuster se complementam, não só pela divisão em partes (que formam uma saga) servir a maneira que a adaptação está sendo feita, tentando ao máximo fazer jus ao romance original, mas também por se tratar de um épico audiovisual por sua estética e técnica. É a combinação de experiência e deleite sensorial impressos em um blockbuster clássico que fazem de Duna: Parte Dois um experimento cinematográfico raro. Se Villeneuve já sinaliza sobre um intervalo maior para uma possível terceira parte, só nessa continuação o cineasta poderá ser lembrado por entregar um evento de quase três horas que faz o telespectador sair da sala de cinema se sentindo maravilhado.
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8º – O Banho do Diabo
Veronika Franz, Severin Fiala | Alemanha, Áustria | 2024
O desfecho encerra não de forma literal a ideia do título, e sim impactante ao deixar para observação como funcionava a estrutura e fundamentos religiosos da época, mas também servindo um paralelo visual angustiante, o que é inevitável não pensar em como somos apresentados a Agnes – radiante em seu casamento e introduzida a como deveria se portar daquele momento em diante – em comparação ao seu declínio psicológico. Com uma abordagem ímpar para o tema, que encontra espaço no gênero do terror como ilustração, O Banho do Diabo é a grande aposta representante da Áustria no Oscar 2025 depois de conquistar o prêmio do Urso de Ouro durante sua estreia no Festival de Berlim.
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7º – Segredos de um Escândalo
Todd Haynes | EUA | 2024
Segredos de um Escândalo, que curiosamente poderia ter sido intitulado Quando Duas Mulheres Pecam com muito mais propriedade do que Persona foi, é um longa angustiante, um estudo de personagens envelopado em um estudo de personagem que resulta em narrativas fascinantes e aterradoras que funcionam bem separadamente, mas que realmente explodem quando colidem e que ainda contam com duas atuações femininas soberbas que, por mais incrível que possa parecer, são atropeladas por uma atuação masculina de um ator com um nível de experiência incomparavelmente inferior.
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6º – Wicked
Jon M. Chu | EUA | 2024
Mesmo se estendendo a ponto de parecer não saber o momento certo de encerrar essa primeira parte, Wicked não perde de vista a missão de criar uma experiência cinematográfica épica, o que fica notável em como a longa duração não tira o fato do filme ser envolvente. Entre erros e acertos, e o visual lavado contrapondo a ideia de realismo que o diretor busca, o resultado aqui é satisfatório, traduzindo de forma encantadora a teatralidade dos palcos para o cinema, e colocando a música como a engrenagem para alcançar esse voo. É só questão de tempo para saber se o estúdio plantará a semente para trazer uma reimaginação do clássico de 1939 ou trará um aceno para Doroty como cânone.
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5º – Rivais
Luca Guadagnino | EUA | 2024
Ao retomar para a partida de tênis inicial e fazer disso a sequência do seu último ato, Guadagnino brinda em Challengers o ápice da tensão depois de filmar com tanta intencionalidade cada curva do seu trio de protagonistas; seja os músculos tensos de Faist, os pelos espalhados no corpo de O’Connor e toda vez que Zendaya usa um creme hidratante, o cineasta italiano quer se certificar que audiência está com os ânimos a flor da pele. Afinal, o tênis aqui é um relacionamento e sua câmera não foge da provocação, e filma cada momento erótico como uma disputa e cada partida em quadra como uma foda em que os personagens competem por seus desejos e satisfações.
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4º – Longlegs – Vínculo Mortal
Osgood Perkins | EUA | 2024
Longlegs é mais um exemplo de Osgood Perkins sendo ótimo em dirigir seus atores e criar uma ambientação específica, embora também traga alguns de seus vícios em inserir várias ideias que soam interessantes isoladamente, mas nem sempre são bem aproveitadas dentro da narrativa. Por mais que eu adore uma obra carregada de questionamentos e debates que você vai ter com seus amigos depois da sessão, Longlegs coloca tudo no guarda-chuva do sobrenatural e do subjetivo, o que não conversa seu lado de thriller policial tão bem quanto as obras que claramente inspiraram essa.
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3º – A Substância
Coralie Fargeat | EUA, Reino Unido, França | 2024
O que potencializa ainda mais a forma criativa com a qual Fargeat dirige, é a maneira com que Moore e Qualley são filmadas, sendo a primeira um retrato de vulnerabilidade, insatisfação e auto-desprezo, e Qualley representando o olhar hipersexualizado que recebe por atender aos padrões que são impostos pela sociedade – mas ainda traçando uma sátira ao fetichismo do olhar masculinl – e no caminho, desrespeita os próprios limites para manter esse status – o que reflete a geração atual que recorre a inúmeros processos estéticos e Ozempic. Encerrando a genialidade de sua fábula monstruosa moderna, é como se, no final, Fargeat virasse o espelho para o público/sociedade que, depois de acompanhar tudo o que Elizabeth Sparkle, atriz rejeitada pela indústria fez, devolvesse o resultado por toda busca sua busca pela aparência perfeita.
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2º – Vidas Passadas
Celine Song | EUA | 2023
Narrando um romance de forma não convencional – tanto que Song usa da autoconsciência no roteiro para se distanciar dos acasos comuns da comédia romântica, principalmente quando forja a expectativa do beijo final – Vidas Passadas esbanja maturidade ao capturar de maneira delicada um retrato sobre relação, conexões e escolhas. A última cena – ilustrada no dilema do triângulo amoroso – fecha de forma arrasadora a ideia de caminhos divergentes com que Nora lida, afinal, por trás da escolha entre Arthur (o presente) e Hae Sung (as renúncias), Nora está fazendo uma escolha sobre sua vida e trajetória como uma premiada escritora.
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1º – Sorria 2
Parker Finn | EUA | 2024
Vira e mexe surge um filme com premissa estranha prometendo vários sustos, e é como se Finn pegasse todos esses elementos e utilizasse a fim de assumir novos riscos. E por mais que o fator genérico seja apontado aqui, não há terror mais pop e digno de ser aclamado no terror do que Sorria. Diria que a maior inspiração do diretor que se une a outros títulos vem do fraco Verdade ou Desafio que fazia do próprio conceito uma bola de neve apelativa, e aqui ele aproveita a ideia do “sorriso do mal” em algo mais consistente, e o final é a prova do caminho cheio de possibilidades que o cineasta pode explorar. Para seu segundo filme, Finn mostra que não tem apenas licença para explorar uma possessão com toques de body horror — com uma perspectiva oposta ao anterior —, efeitos práticos e susto fácil, mas que no fim, faz você sorrir por isso.
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ROBERTO HONORATO
Um ano de grandes surpresas, com continuações que superaram o original, não só em escala, mas criatividade por trás da câmera; também com novas releituras de clássicos que acabam sendo melhores que o original — isso sem contar o sucesso de um filme que, mesmo cheio de sequências absurdas e de horror corporal, virou um queridinho do público. Ainda que a lista tenha sido quase dominada por produções estadunidenses, ela traz um filme nacional incrível (não é aquele que você está pensando), além de dar atenção para uma animação que, pra mim, talvez se transforme em um futuro clássico… mas só o tempo dirá.
Por conta de algumas cabines e festivais, essa lista tem um filme ou outro que está prestes a estrear no Brasil, então já serve também como uma indicação do que está por vir. Foi um bom ano pro cinema, principalmente porque tivemos sucessos entre os públicos sem precisar ser um filme de boneco, ainda que tenhamos uma franquia ou outra aqui, mas no geral os melhores do ano são obras originais e criativas.
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10º – A Primeira Profecia
Arkasha Stevenson | EUA, Itália, Sérvia, Canadá | 2024
Embora The First Omen seja eficiente em oferecer uma leitura distinta a um clássico consagrado, se divide entre um encerramento anticlimático que deseja dar continuidade para esse novo prisma feminino que não se rende em satisfazer com homenagens mas que também quer fazer parte do anseio de Hollywood de produzir sequências. O resultado final pode não ter sido tão chocante quanto Imaculada ou bem amarrado como A Morte do Demônio: A Ascensão, mas apresentou um longa habilidoso não visto há muito tempo quando o assunto é uma prequela, e o melhor, deixa o Anticristo em segundo plano.
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9º – Sorria 2
Parker Finn | EUA, Canadá | 2024
Diria que a maior inspiração do diretor que se une a outros títulos vem do fraco Verdade ou Desafio que fazia do próprio conceito uma bola de neve apelativa, e aqui ele aproveita a ideia do “sorriso do mal” em algo mais consistente, e o final é a prova do caminho cheio de possibilidades que o cineasta pode explorar. Para seu segundo filme, Finn mostra que não tem apenas licença para explorar uma possessão com toques de body horror — com uma perspectiva oposta ao anterior —, efeitos práticos e susto fácil, mas que no fim, faz você sorrir por isso.
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8º – A Substância
Coralie Fargeat | Reino Unido, França, EUA | 2024
O que potencializa ainda mais a forma criativa com a qual Fargeat dirige, é a maneira com que Moore e Qualley são filmadas, sendo a primeira um retrato de vulnerabilidade, insatisfação e auto-desprezo, e Qualley representando o olhar hipersexualizado que recebe por atender aos padrões que são impostos pela sociedade – mas ainda traçando uma sátira ao fetichismo do olhar masculinl – e no caminho, desrespeita os próprios limites para manter esse status – o que reflete a geração atual que recorre a inúmeros processos estéticos e Ozempic. Encerrando a genialidade de sua fábula monstruosa moderna, é como se, no final, Fargeat virasse o espelho para o público/sociedade que, depois de acompanhar tudo o que Elizabeth Sparkle, atriz rejeitada pela indústria fez, devolvesse o resultado por toda busca sua busca pela aparência perfeita.
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7º – Um Homem Diferente
Aaron Schimberg | EUA | 2024
Até o espectador menos atento entenderá as nuances centrais do enredo e alguns dos principais caminhos interpretativos que a obra nos permite ter, tudo isso porque concentra suas forças nas atuações e em tudo o que essas performances consegue nos transmitir de desconforto, medo e expectativa de ações ruins. Está tudo lá, no rosto do elenco. E isso é bastante positivo, embora enfraqueça outro aspecto da fita, que poderia receber maior atenção, sem prejudicar a escolha inicial. Para Edward, a saudade da “outra vida” é tamanha, que ele sequer permite alguém ofender seu inimigo. É pessoal demais para ele. Mas não pelo que classificaríamos como “motivos corretos“. Ele está preso num corpo dos sonhos, lamentando o que poderia ter sido da sua vida, se nada tivesse mudado. A definitiva zona de conforto de alguém que não amadureceu e nunca aprendeu o significado da expressão “seguir em frente“. Um homem diferente… apenas na aparência.
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6º – Robô Selvagem
Chris Sanders | EUA, Japão | Ano
Há um melodrama muito bem construído através dos vários dilemas que o longa está constantemente nos apresentando, e mesmo que isoladamente alguns elementos sejam batidos, eles estão em completa harmonia quando entram em choque com personagens tão bem caracterizadas e uma direção confiante que mostra como premissas são irrelevantes se o desenvolvimento for feito com coração; isso é um tremendo acerto considerando a importância desse contraste entre natureza e máquina que já foi feito várias vezes, mas raramente é tão impressionante quando aqui.
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5º – Os Enforcados
Fernando Coimbra | Brasil | 2024
Com uma mistura de comédia, drama, ação e thriller policial que poderia ser facilmente estragada na mão de alguém que talvez tratasse o material de forma pretensiosa, Os Enforcados não está interessado em debater a condição política e social do Rio de Janeiro com tanta profundidade, apenas utilizá-lo de pano de fundo para enriquecer o lado dramático, o que acaba fazendo dele bem mais interessante e não deixa de levantar uma reflexão sobre a forma como os jogos de poder são uma grande performance na qual fica difícil distinguir entre o que é real ou ficção.
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4º – Rivais
Luca Guadagnino | Itália, Estados Unidos | 2024
Ao retomar para a partida de tênis inicial e fazer disso a sequência do seu último ato, Guadagnino brinda em Challengers o ápice da tensão depois de filmar com tanta intencionalidade cada curva do seu trio de protagonistas; seja os músculos tensos de Faist, os pelos espalhados no corpo de O’Connor e toda vez que Zendaya usa um creme hidratante, o cineasta italiano quer se certificar que audiência está com os ânimos a flor da pele. Afinal, o tênis aqui é um relacionamento e sua câmera não foge da provocação, e filma cada momento erótico como uma disputa e cada partida em quadra como uma foda em que os personagens competem por seus desejos e satisfações.
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3º – Furiosa: Uma Saga Mad Max
George Miller | Austrália, EUA | 2024
A sensação final é de que Furiosa: Uma Saga Mad Max é mais contexto do que espetáculo, focada em expandir a mitologia da franquia com uma abordagem menos visualmente criativa. Ainda assim, a exploração do passado de Furiosa é dramaticamente engajante dentro desse pós-apocalipse que continua sendo cruel, enquanto a ação, se menos inspirada, ainda é melhor do que a maioria dos blockbusters recentes. O mundo continua interessante, a protagonista também, mas claramente faltou um pouco mais de personalidade narrativa e tato visual.
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2º – Segredos de um Escândalo
Todd Haynes | EUA | 2023
Segredos de um Escândalo, que curiosamente poderia ter sido intitulado Quando Duas Mulheres Pecam com muito mais propriedade do que Persona foi, é um longa angustiante, um estudo de personagens envelopado em um estudo de personagem que resulta em narrativas fascinantes e aterradoras que funcionam bem separadamente, mas que realmente explodem quando colidem e que ainda contam com duas atuações femininas soberbas que, por mais incrível que possa parecer, são atropeladas por uma atuação masculina de um ator com um nível de experiência incomparavelmente inferior.
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1º – Anora
Sean Baker | EUA | 2024
Anora é um filme que se disfarça dos tropos de uma comédia romântica para brincar com a percepção do espectador, nos dando momentos desconfortáveis e uma narrativa agridoce de uma protagonista buscando escapar da própria realidade, ainda que para isso precise abraçar uma nova na qual não se sente realmente livre. É uma triste fábula, estrelada por uma figura incrivelmente carismática e determinada contra um mundo feito para derrubá-la. Anora não é perfeita, mas ninguém é, e Sean Baker entende isso como poucos.
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DAVI LIMA
Foi um ano de altos e baixos com o cinema. Pela rotina, o cinema foi ficando de lado, até retornar no meio e no final do ano. Assim, muitos filmes bons não estarão nessa lista, especialmente internacionais, e alguns filmes questionáveis assumiram o top 10 — sem linhas de explicação. Além disso, poderia haver um abismo entre os dois primeiros colocados e os outros classificados, para evidenciar como a minha cinefilia foi bagunçada em 2024, apesar de ter voltado com tudo. E de todos no ranking, só Evidências do Amor ficou entre meus favoritos, mesmo não sendo o melhor do ano. Vai entender!
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10º – Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes
Zack Snyder | EUA | 2024
O desfecho do filme ainda tem a coragem de jogar um monte de conveniências ruins para tentar indicar que estamos em uma franquia de rebelião e que teremos novas sequências sobre uma guerra genérica em um universo ordinário com heróis ruins salvando uma princesa que ninguém liga. Se você ainda está lendo o texto e, por alguma razão não viu o filme, não veja, tá? Vai assistir Os Sete Samurais ou qualquer outra obra do Akira Kurosawa; vai rever os filmes originais de Star Wars; e se quer algo provocativo, assista a Tropas Estelares. Se você viu o filme, porém, esse é um espaço seguro, pode reclamar também e até chorar se quiser. Eu entenderei.
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9º – Fazendo Meu Filme
Pedro Antonio, Marco Antonio de Carvalho | Brasil | 2024
Se por um lado, as qualidades para alguns é que haja fidelidade em uma adaptação literária, o certo mesmo é que a narrativa seja convincente e que ao menos haja, se não uma interpretação plausível do livro, uma real adaptação para o universo do cinema – mundo também a ser investido. Nesse sentido, Fazendo Meu Filme encontra, com muito pouco, uma aventura a ser escrita pelo mais básico e um dos fatores mais importantes da Sétima Arte: o espaço cinematográfico com seu próprio tempo e sua própria imagética, podendo continuar imaginados, tal como a realidade em que se baseia.
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8º – Armadilha
M. Night Shyamalan | EUA, Canadá | 2024
Mesmo com a atuação de Harnett sendo tão precisa, o tom do filme sempre soa caricato, como se não quisesse levar a própria premissa a sério. É mais um filme de Shyamalan, mas também em um nível estranho, que se sustenta mais pelo nome principal do elenco do que as ideias que deixa na linha da sugestão – como a chefe da operação, liderando a polícia incompetente. A tensão do momento é logo quebrada pelos excessos e as obviedades das escolhas. A exemplo da cena que a artista pop toca piano, o que ao mesmo tempo é um artifício genérico para o gênero, mas que em Armadilha se mostra ridículo – o que é aceitável dentro da proposta do pai do suspense em oferecer, conscientemente, essa experiência para o público.
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7º – Evidências do Amor
Pedro Antonio, Zaga Martelletto | Brasil | 2024
Seguindo a tendência do cinema brasileiro de usar músicas para contar histórias — indo de Legião Urbana a produções como Todas as Canções de Amor, inspirada por Maria Gadú — Evidências do Amor busca ser mais ousado. Ao invés de apenas adaptar canções ao estilo nacional, aposta em um tom nerd e aventureiro no gênero da comédia romântica. Por meio de uma narrativa retrospectiva, a obra explora como uma música como Evidências pode tanto reacender o amor quanto trazer à tona erros do passado. Para o diretor Pedro Antônio, as rom-coms são quase como um registro de memórias esquecidas, especialmente pelo casal que protagoniza a história.
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6º – Alien: Romulus
Fede Alvarez | Reino Unido, EUA, Hungria, Austrália, Nova Zelândia, Canadá | 2024
Felizmente, os 10 minutos de sofrimento ao final, apesar de terem deixado um gosto amargo e uma mancha em uma obra que poderia muito facilmente prescindir disso, não apagam o que Fede Alvarez fez em seu Alien: Romulus, que é finalmente ressuscitar uma franquia moribunda ao fazer um básico muito bem feito com efeitos especiais práticos de qualidade para os monstros, uma fotografia escura, mas muito eficiente para invocar claustrofobia e desespero e sequências inventivas que prendem a atenção, com um design de produção muito cuidadoso. Agora resta saber se precisaremos esperar mais quase quatro décadas para ver outro filme desse nível na franquia.
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5º – Meu Malvado Favorito 4
Chris Renaud, Patrick Delage | EUA | 2024
Enfim, a qualidade é redirecionar a mesma narrativa da Pixar a seu favor, incluir no mundo de esquetes dos Minions – e flutuar no universo de heróis e se capacitar para o drama mais convincente. Se antes era tudo sobre conquistar o mundo entre os vilões nessa franquia, o que pode ser só humor agora mais evidência paródica. Quando eles cantam “Everybody Wants To Rule The World”, a década de 80 – traços da quadrilogia – encerra, finalmente, o foco da paródia, característico do cinema dessa época. Traduzir um roteiro Pixar nesses formatos é muito divertido.
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4º – Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice
Tim Burton | EUA, França | 2024
A sacada do título “pronunciando” o nome de Beetlejuice duas vezes para sua sequência se torna apenas um eco por, no fim, não parecer que retornamos àquele mundo pós-vida, mesmo com as piadas e a nostalgia feita por tabela. Embora Hollywood tenha arrumado uma fórmula de fazer continuações e referências e o apelo pela memória ser a coisa do momento, ao menos, a parceria entre Burton e a música de Danny Elfman ainda rende alguma magia nos momentos em que a comédia e o tom irreverente de Beetlejuice conseguem se alinhar a premissa do filme. Chega a ser irônico que, enquanto o roteiro se inclina em fazer um comentário sobre mídias e internet – Black Mirror Black Mirror ? -. , cai no mesmo ponto que se tornou sátira no original ao colocar os humanos como ricos consumistas e céticos ao sobrenatural que queriam vender em um filme feito por medida.
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3º – Rivais
Luca Guadagnino | Itália, EUA | 2024
Ao retomar para a partida de tênis inicial e fazer disso a sequência do seu último ato, Guadagnino brinda em Challengers o ápice da tensão depois de filmar com tanta intencionalidade cada curva do seu trio de protagonistas; seja os músculos tensos de Faist, os pelos espalhados no corpo de O’Connor e toda vez que Zendaya usa um creme hidratante, o cineasta italiano quer se certificar que audiência está com os ânimos a flor da pele. Afinal, o tênis aqui é um relacionamento e sua câmera não foge da provocação, e filma cada momento erótico como uma disputa e cada partida em quadra como uma foda em que os personagens competem por seus desejos e satisfações.
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2º – Wicked
Jon M. Chu | EUA, Japão, Canadá, Islândia, Reino Unido | 2024
Mesmo se estendendo a ponto de parecer não saber o momento certo de encerrar essa primeira parte, Wicked não perde de vista a missão de criar uma experiência cinematográfica épica, o que fica notável em como a longa duração não tira o fato do filme ser envolvente. Entre erros e acertos, e o visual lavado contrapondo a ideia de realismo que o diretor busca, o resultado aqui é satisfatório, traduzindo de forma encantadora a teatralidade dos palcos para o cinema, e colocando a música como a engrenagem para alcançar esse voo. É só questão de tempo para saber se o estúdio plantará a semente para trazer uma reimaginação do clássico de 1939 ou trará um aceno para Doroty como cânone.
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1º – Twisters
Lee Isaac Chung | Japão, EUA | 2024
Em linhas gerais, uma proposta de entretenimento para ser aplaudida. Diverte e não ofende ninguém com a tentativa de ser levado à sério demais. E sim, dramaticamente melhor que o filme de 1996, trama que pode ser um clássico hoje, mas não tem personagens tão charmosos quanto esse. Você, leitor, se já assistiu, o que achou?