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Lista | Os Melhores Filmes de 2021

O que vocês viram de melhor nos cinemas este ano?

por Luiz Santiago
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Como é de praxe, aqui estamos fazendo a nossa listinha de melhores filmes do ano! Foram elegíveis para as listas, apenas: o que foi oficialmente lançado nos cinemas brasileiros em 2021 + o que foi lançado nos streamings e VODs OFICIALMENTE acessíveis no Brasil em 2021 (ou seja, HBO Max, Hulu e iTunes com conta americana estiveram fora) + o que saiu em Festivais de 2021 que foram OFICIALMENTE feitos no Brasil ou OFICIALMENTE acessíveis a partir do Brasil.

E aí, o que acharam das nossas listas? Com qual ou quais listas você se identificou mais? Pegaram algumas dicas de filmes para assistir? Quais filmes das listas mais surpreenderam vocês por constarem em uma postagem de “melhores do ano”? Não deixem de comentar e deixar também o seu TOP 10!


LUIZ SANTIAGO

Segundo ano de pandemia, mais uma caminhada verdadeiramente estranha de se viver. Pelo menos foi o momento em que eu retornei aos cinemas! Passei 1 ano, 8 meses e 6 dias sem pisar os pés numa grande sala, e voltei, com o coração batendo forte, para ver A Crônica Francesa, no final de 2021. Que maravilha é retornar à casa, não é mesmo? De todo modo, foi um ano em que vi um número bem menor de filmes, se comparado às minhas experiências anteriores. Mas a lista saiu, e é isso o que importa. Vamos a ela!

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10º – Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição

Lemohang Jeremiah Mosese – Lesoto, África do Sul, Itália, 2019

O luto, a resistência, o lado íntimo, poético e aliado ao sobrenatural — pedindo a chegada da morte — descortina a ligação que a protagonista do filme, assim como toda a aldeia, tem com o que herdaram de seus antepassados e que pretendem deixar para os seus descendentes. Há excelentes momentos visuais nesse filme e vale destacar a belíssima direção de fotografia em cenas à noite ou durante o crepúsculo. Para mim, foi a primeira experiência com um filme de Lesoto e uma que me deixou uma excelente primeira impressão. Lutar pelo que é seu, não pelo valor material, mas emocional, acaba sendo o mote do filme. Uma forma de garantir o pouco que resta da identidade do indivíduo com o espaço onde nasceu e cresceu e chegar ao momento onde a mudança de atitude abandona a morte e ressuscita a vontade de reconquistar o que aparentemente se perdeu.

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9º – Annette

Leos Carax – França, Alemanha, Bélgica, EUA, México, Japão e Suíça, 2021

Após um longo hiato, Annette pode representar uma tentativa de Carax de seguir em frente, transferindo suas dores para essa peça artística. A cena pós-créditos, em que ele caminha com balões abraçado em Nastya e junto da equipe de produção, indica isso. Carax está se permitindo amar intensamente de novo. Amar a filha, amar o legado da esposa e amar a arte. Que o diretor francês não nos deixe, novamente, tanto tempo esperando.

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8º – A Mulher Que Fugiu

Hong Sang-soo – Coreia do Sul, 2020

De modo oposto às mise-en-scènes dos encontros femininos, que se passam em locações interiores, Song retrata os três homens que aparecem em cena em ambientes exteriores. Eles estão sempre organizados da mesma forma: de costas para a câmera, enquanto a mulher está de frente para ele (e a câmera). Da horizontalidade do diálogo feminino para a verticalidade do confronto. Os homens surgem não como pessoas individualizadas (pouco vemos de seus rostos), mas um mal sem face que atormenta a vida daquelas mulheres e que precisam ser encarados frontalmente por elas. Eles são insistentes diante da negativa e as mulheres perseveram em suas afirmações. Agora, importa que o espectador as veja justamente porque é o momento de afirmação delas. Elas estão expulsando os problemas de suas vidas e, ainda que não possam fugir, podem ter pequenas vitórias nas batalhas cotidianas.

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7º – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Michael Rianda, Jeff Rowe – EUA, Canadá, França, 2021

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas não decepciona em sua viagem apocalíptica, garantindo um divertimento que terá diferentes pesos dependendo da idade e cinefilia do espectador. Penso que o arco dos robôs poderia ter uma costura com mais detalhes, ao lado da vilã PAL; e também vejo a passagem do apocalipse para o “mundo normal” como rápida demais, com tudo voltando ao lugar muito cedo. O que nos fica, todavia, é o enorme sorriso no rosto e uma vontade de que esses mesmos produtores continuarem investindo em obras que não se contentam em jogar apenas com ingredientes vitoriosos na animação, aliados a uma excelente qualidade imagética e a um marketing agressivo. Bons filmes, como sempre, se fazem assim: com bons diretores e roteiristas tendo liberdade para colocar sua loucura para fora. Nós e o cinema só temos a ganhar com isso.

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6º – O Leopardo das Neves

Marie Amiguet, Vincent Munier – França; 2021

Talvez por isso o final de Leopardo das Neves seja tão potente emocionalmente, justamente pela consciência de que sua aparição se dá em uma circunstância quase que milagrosa, como o destino quisesse que aqueles homens cruzassem frontalmente com aquele animal raro no mundo. Se o plano e contraplano de uma troca de olhares é um dos recursos mais usados da história do Cinema, seu uso aqui é especial, pois ele ressignifica toda a lógica do filme em mostrar esses homens tentando estar um passo à frente da natureza. O contraplano não é o leopardo das neves, mas sim o homem. Se ele achou que estava observando esse tempo todo, na verdade era ele que estava sendo observado. Com seu olhar de superioridade que é mais significativo do que qualquer palavra dita, aquele animal tão majestoso deixa claro: os verdadeiros selvagens somos nós.

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5º – À L’abordage

Guillaume Brac – França, 2020

Comentário do Michel: A reflexão é o fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a se propagar no meio de origem, após incidir sobre uma superfície de separação entre dois meios. Refração é o fenômeno que consiste no fato de a luz passar de um meio para outro diferente.” Apropriando-me dos conceitos da física, estava pensando aqui que existem dois tipos de filme: os que fazem reflexão e os que fazem refração. Há filmes maravilhosos que assistimos e ficamos pensando neles próprios, enquanto Cinema. Pensamos no quão genial é a sua realização, naquela direção, no quanto a gente ama o Cinema e suas possibilidades, ficamos com vontade de escrever textos analisando sua mise-en-scène, seus subtextos e temas. Mas há também os filmes reflexivos, e À L’Abordage é um deles. A luz vem da realidade, bate no Cinema, e volta para a realidade. É um paradoxo crítico: eu não tenho vontade de escrever sobre a “obra de arte” À L’Abordage! e nem de ficar gastar meu tempo pensando nele enquanto Cinema. Assim que o filme acaba, diferente dos filmes refratários, eu não quero continuar pensando pra dentro, eu quero ir para o mundo lá fora, viver a vida, ser feliz, estar no mundo empírico, não quero ficar na teoria. Não há nada para se falar deste filme, tudo já está falado. É vida enquanto sentimento contagiante que se espalha pela tela e ocupa cada fotograma. Milagres como esse acontecem de vez em quando e devemos ser muito grato a estes espelhos que nos lembram como o mundo pode ser um lugar tão bonito para se viver e não só ver através de uma tela.

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4º – Matrix Resurrections

Lana Wachowski – EUA, 2021

Matrix Resurrections é um filme que discute sua existência e sua realidade antes de nos contar sua história principal. Lana Wachowski teve um cuidado magistral em fugir do sistema hollywoodiano com a autoconsciência e a autocrítica no seu roteiro sarcástico e cínico, em um dos filmes mais surpreendentemente divertidos do ano. E após essa proposta mais corajosa e complexa, Resurrections se torna um filme de beleza simples dentro de um blockbuster de ação competente. O romance tem menos qualidade por ser convencional, mas a química da dupla é palatável e Lana conduz sua trama de paixão com uma virtude poética emocionante. É uma história reconfortante sobre o poder do amor. Ao final, Neo e Trinity voam se agarrando a uma segunda chance.

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3º – Ataque dos Cães

Jane Campion – Reino Unido, Austrália, EUA, Canadá, Nova Zelândia, 2021

Seja em Montana, em 1925, ou em qualquer lugar do mundo em nossos dias, o que muitos indivíduos deixam escapar é algo que a sabedoria popular já desmistificara há tempos, e cuja lição parece não ter sido plenamente aprendida: “as aparências enganam” — frase que vale igualmente para quaisquer padrões sociais. Em ambientes de hostilidade e preconceito para com pessoas mais fracas, diferentes ou em menor número, isso é ainda mais sentido. Em obras como esta aqui, onde os personagens são verdadeiramente estudados, é possível ver o que está além da face, do corpo, da expressão, daquilo que se mostra para o mundo. E, como alguém em Ataque dos Cães descobre de forma bastante letal, há muita força e muita coragem em corpos aparentemente frágeis e delicados. Aquele surpreso amargor em meio à doçura que pega a todos de surpresa… muitas vezes tarde demais.

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2º – First Cow – A Primeira Vaca da América

Kelly Reichardt – EUA, 2019

O passado de dois indivíduos colocam-nos em uma trilha que os faz mudar a vida um do outro. Conectar-se num mundo de difícil contato é a chave para se entender First Cow, chamando a nossa atenção para as diferentes camadas ou intensidade de contato. Há uma grande tensão no desenvolvimento em meio a tanta beleza visual, e a obra termina com uma reticência, sem responder visualmente “como” os dois amigos morreram, embora possamos subtender isso pelo roteiro. Eu não gosto da introdução da fita, porque mesmo a sugestão narrativa de uma futura conexão entre indivíduo e meio (talvez até com um chamado à memória ou às surpresas do acaso), não vejo como ela se justifica orgânica e dramaticamente no filme, mas o que verdadeiramente importa aqui é a lenta e aplaudível contemplação para um recorte da vida de dois homens, sua busca por um sonho de vida, os mistérios de seu passado e o impacto que causaram no mundo em que viveram. Fuga, encontro, convivência e fim da linha. Um ciclo de beleza e representações da existência humana em um faroeste sensível e inesquecível.

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1º – Sr. Bachmann e Seus Alunos

Maria Speth – Alemanha, 2021

Não é possível chegar ao final desse filme sem uma forte pontada de melancolia e tristeza por ter que se despedir de todos. Aprender é um processo plural e pode ir do trauma ao pleno prazer, dependendo da matéria, do tema, do professor, da classe ou da escola — e nesse filme temos uma comprovação vívida disso. A minha vontade era a de dar um abraço em cada um dos alunos e professores, reservando um bom tempo para longas conversas com Dieter Bachmann. Esta produção vai para a lista dos filmes capazes de transformar pessoas. Certeza que fará parte de muitos cursos de educação daqui para frente, e não é para menos. Seja na forma honesta como essa realidade é cinematograficamente registrada, editada e apresentada; seja pelo conteúdo que vemos na tela, o que encontramos aqui é um verdadeiro mar de bons exemplos, dando uma boa visão do que pode ser uma educação humana, com equidade, amor e alta capacidade de fazer com que o conteúdo e os melhores valores para uma boa convivência em sociedade sejam de fato aprendidos.

 

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