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Lista | Os Melhores Álbuns de 2024 – Handerson Ornelas

O que houve de melhor na música em 2024!

por Handerson Ornelas
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Eu sei que todo ano eu inicio esse parágrafo ressaltando como o ano foi incrível para a música. Sim, isso não é diferente dessa vez, mas 2024 surpreendeu como um ano de destaque na música dessa década que já vai chegando a sua metade.  Um ano dominado por um compilado invejável de álbuns: o mainstream e o alternativo seguem intercambiando artistas e rediscutindo tais definições, o country teve um ressurgimento criativo, o hip-hop seguiu em terreno fértil e todas as divas pop parece que resolveram lançar álbuns.

Como já é tradição aqui no Plano Crítico,  reunimos os melhores álbuns de 2024 em uma seleção especial, destacando o que de mais notável foi produzido na música ao longo desse ano. Diferente dos anos anteriores, dessa vez reunimos os álbuns nacionais e internacionais na mesma publicação, ainda que continuem duas listas segregadas. Confira a lista logo abaixo!

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ÁLBUNS INTERNACIONAIS

Esse ano de 2024, provavelmente um pouco mais do que em anos anteriores, foi complicado definir esse top 10 álbuns internacionais. O ano foi realmente extraordinário. Tive que deixar de fora algumas ótimas obras, entre elas o que considero ser o melhor álbum de Billie Eilish (Hit me hard and soft) e do MGMT (Loss of Life), um álbum de house/eletrônica que me fez mergulhar novamente no gênero (In Waves, do James xx), uma magnífica revelação feminina do hip-hop (Alligator Bites Never Heal, da Doechii), uma linda viagem pop retrô cósmica (Imaginal Disk, da Magdalena Bay) e tantas outras deliciosas obras internacionais. O resultado dessa difícil seleção segue abaixo!

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10º – No Name – Jack White

Estados Unidos | Indie Rock | Aumenta!: What’s the Rumpus?

Jack White é um espírito inigualável dentro do rock n’ roll. A maior prova disso é o fato do artista – que já revolucionou o rock alternativo com o White Stripes 20 anos atrás – seguir implacável com a melhor fase de sua carreira solo. Estamos falando da fase “quarentona” de Jack, desde o deliciosamente bizarro Boarding House Reach (2018), passando pela explosão criativa de Fear Of The Dawn (2022) até chegarmos no excelente No Name (2024), uma obra que revisita o som punk e garageiro do White Stripes com imensa atitude. E por atitude eu me refiro até mesmo ao modelo original que o artista optou por divulgar a obra, começando com uma estratégia de marketing genial que consistiu em “presentear” clientes de sua loja de vinil – Third Man Records – com um álbum misterioso e sem título que viria a ser No Name. Depois de viralizar nas redes e gerar inúmeras discussões sobre a obra desconhecida, veio o lançamento oficial nas plataformas despejando seus riffs e solos de guitarra enfurecidos com algumas das melhores performances do gênero neste ano.

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9º – The New Sound – Georgie Greep

Reino Unido | Jazz Fusion | Aumenta!: The Magician

Georgie Greep, o frontman e guitarrista da banda britânica Black Midi, resolveu se aventurar por uma carreira solo que preserva grande parte do espírito experimental, caótico e avant-garde de sua banda. The New Sound, título de seu álbum, parece até um nome um tanto pretensioso, mas define bem o caminho seguido aqui. Estamos falando do disco mais desafiador e explosivo desta lista. Em linhas gerais, Georgie fez essencialmente um álbum de rock progressivo e jazz fusion, gêneros irmãos que há bons anos já pareciam mortos na cena musical, de tão pouca atenção que recebem até mesmo do mercado alternativo nos dias de hoje. E se pareciam mortos há uma razão: haja paciência para gostar de rock progressivo nos dias atuais. Nesses casos é muito fácil um artista cair na armadilha do puro virtuosismo, o que não é o caso aqui. O britânico convida o ouvinte por uma viagem sonora de absoluta catarse, misturando gêneros que vão desde as mais loucas cacofonias do jazz até o embalo mais doce de samba.

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8º – In Lieu of Flowers – Aaron West & The Roaring Twenties

Estados Unidos | Rock Alternativo | Aumenta!: Smoking Rooms

Capitaneada pelo americano Dan Campbell, a banda/projeto Aaron West and The Roaring Twenties é uma das mais gratas descobertas que fiz em 2024. Terceiro álbum do grupo, In Lieu of Flowers é um trabalho que possui aquele maravilhoso sentimento que o indie rock já nos entregou de adrenalina pulsante de um coração jovem em chamas. Um pouco de Arcade Fire nas composições orquestradas e arranjos voluptuosos, um pouco do espírito indomável da melhor fase de Bruce Springsteen em sua juventude. Revezando entre a melancolia e a euforia, In Lieu Of Flowers é um prato delicioso de rock alternativo e exemplifica bem os trabalhos e bandas excelentes que o cenário independente vem produzindo e passam despercebido pelas “Pitchforks” do mercado musical.

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7º – Bright Future – Adrianne Lenker

Estados Unidos | Folk, Country | Aumenta!: Sadness As a Gift

O ano de 2024 foi marcado por um sopro de reinvenção do country. Há quem diga que muitas dessas obras de 2024 que chamaram atenção para o country nem deveriam ser citadas como parte do gênero. Mas é inevitável a inspiração e o olhar reverenciado para o estilo quando ouvimos uma obra como Bright Future, novo álbum solo de Adrianne Lenker, vocalista da banda Big Thief. Estamos falando de uma das artistas mais aclamadas do folk contemporâneo, mérito que ela faz questão de honrar novamente nesse seu mais novo trabalho. Dessa vez, apesar de um disco essencialmente folk, existe uma ode muito clara ao country como um gênero praticamente irmão, algo que vai desde a capa do álbum. A abertura do disco com Real House e Sadness As a Gift estão entre as melhores dobradinhas musicais que ouvi esse ano, imprimindo uma atmosfera de melancolia, delicadeza e suavidade que materializam a definição de paz.

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6º – Cowboy Carter – Beyoncé

Estados Unidos | Pop, Country | Aumenta!: YA YA

Bem, disse no parágrafo anterior e terei que repetir aqui de novo: 2024 foi o ano do country. E se essa afirmação dominou vários veículos do jornalismo musical, isso se deve não apenas, mas principalmente, a Beyoncé e seu maravilhoso Cowboy Carter. Seu álbum se destaca por reapropriar de um gênero que historicamente passou a ser dominado por brancos, mas vai muito além disso ao misturar diversos gêneros da música pop. Entre cover de Beatles, sample de Beach Boys, uma reformulação de Jolene da Dolly Parton e duetos com figuras como Miley Cyrus e Willie Nelson, essa é uma obra que não cansa de surpreender. Cowboy Carter talvez não tenha a mesma consistência de Lemonade ou Renaissance, mas é provavelmente o trabalho mais criativo e original da cantora.

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5º – Chromakopia – Tyler, The Creator

Estados Unidos | Hip-Hop | Aumenta!: St. Chroma

Apesar de perder um pouco de fôlego em sua segunda metade, Chromakopia não abre mão em nenhum segundo de seu espírito criativo, sensível e autêntico como expressão musical. Trata-se do quarto capítulo desde o desabrochar de Tyler em Flower Boy, onde iniciou seu desbravamento por essa odisseia de álbuns de desenvolvimento pessoal. Chroma é o avatar ideal para desabafar suas inseguranças diante de uma mudança geracional, sem perder sua marcante autoestima. Por fim, a resposta que Tyler procura ele já oferece literalmente no início (primeira frase de St. Chroma) e fim do álbum (últimos versos de I Hope You Find Your Way Home): “A luz vem de dentro / Espero que você encontre o caminho de casa”.

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4º – Grasa – Nathy Peluso

Espanha/Argentina | Latin Pop | Aumenta!: EL DÍA QUE PERDÍ MI JUVENTUD

Dentro da cena cada vez mais popular do pop latino, esse ano encontrei em Nathy Peluso uma de minhas mais gratas surpresas. Grasa, o segundo álbum da cantora de origem Argentina/Espanhola, é uma vitamina pesadíssima de ritmos ‘calientes’ no melhor estilo latino. A farofa de estilos é tão eclética que fica até difícil rotular a artista. No melhor estilo Rosalia, temos aqui uma cantora que reveza entre o trap, o pop e a salsa com extrema maestria e naturalidade. O que tinha tudo para soar deslocado e perdido na verdade soa com fluidez e uma riquíssima personalidade. A impecável interpretação de Nathy é a cereja do bolo da experiência, sabendo vincular muito bem seus sentimentos às canções, sabendo ser sexy, frágil e agressiva em cada momento que a música necessita.

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3º – Wild God – Nick Cave & The Bad Seeds

Estados Unidos | Rock, Post Punk | Aumenta!: Song of the Lake

Nick Cave possui uma das discografias mais invejáveis da história da música. E tudo isso sem precisar reinventar completamente sua marca, sempre mantendo sua alcunha de príncipe da escuridão e sua atmosfera sombria e melancólica. Bem, Wild God entrega o que sempre se espera de Nick Cave & The Bad Seeds – e que nunca deixa de ser surpreendente. A questão é que Nick é um autêntico filósofo musical, desbravando arranjos de tom contemplativo e temas profundos entre vida e morte. Mas dessa vez o artista, junto de seu parceiro de composições Warren Ellis, imprime uma perspectiva mais otimista em sua filosofia musical. Ainda que continue falando de morte e de dor, o artista abre espaço para contemplar também sobre felicidade e contentamento. As melodias dos arranjos orquestrados do álbum são imponentes, chegando bem próximo de materializar a tradução sonora do que é a vida.

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2º – Brat – Charli xcx

Reino Unido | Pop | Aumenta!: i think about it all the time

Em livre tradução, “brat” poderia ser classificado como “atrevida” ou “pirralha”. Entretanto, Charli se apropria da palavra de tal forma que a resignifica completamente, imprimindo uma conotação tão poderosa que, ao se fundir com a internet, parece ter se tornado praticamente um estilo de vida. Ainda que inerentemente reflexo de um nicho, é impressionante um álbum produzir tamanho efeito nas redes em tempos onde conteúdo é tão volátil. Diante de uma era onde a reciclagem musical se faz cada vez mais frequente, Charli comprova que a autenticidade musical ainda pode gerar um impacto absurdo no ouvinte, sem perder rastro do que faz uma música ser essencialmente pop.

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1º – NO HANDS – Joey Valence & Brae

Estados Unidos | Hip-hop | Aumenta!: NO HANDS

Por favor, eu imploro que nesse caso aqui você não julgue o material pela capa. Ou julgue, dependendo se desperta seu interesse. O fato é que NO HANDS, segundo álbum de estúdio da dupla Joey Valence e Brae, foi a maior catarse musical que ouvi esse ano. Os beats peso pesado e flow sagaz e cômico da dupla foram responsáveis por me fazer bater cabeça igual um maluco. A comparação imediata que qualquer um fará precisa ser dita: são os Beastie Boys da nova geração, a influência é clara. Minha maior surpresa foi, após o álbum acender em mim uma vontade incessante de ouvir Beastie Boys, notar que ao mesmo tempo que a dupla tem tudo a ver com Beastie Boys… também é absolutamente diferente. O espírito dos rappers nova-iorquinos claramente está ali, mas Joey e Brae colocam esteroides no som do rap noventista a fim de soar mais agressivo, pop e moderno.

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ÁLBUNS NACIONAIS

A cena musical brasileira segue um verdadeiro fervor criativo. Com a curadoria certa e um pouco de pesquisa, é fácil encontrar uma vasta lista de obras nacionais especiais lançadas esse ano. Tanto que algumas obras admiráveis ficaram de fora dessa lista. No Reino dos Afetos 2 do Bruno Berle, Cererê do Carne Doce, Erasmo Esteves do Erasmo Carlos junto de vários artistas, 333 do Matuê e diversos outros – só para citar alguns exemplos. Além das possíveis injustiças que eu possa cometer – pois nenhum ser humano ouviu todos os álbuns nacionais desse ano e há sempre chance de uma pérola passar batida. No meu caso, em 2023 foi o brilhante Xande Canta Caetano, do Xande de Pilares, que só foi entrar no meu radar em 2024 e provavelmente seria meu top 1 de 2023. Bem, já estou divagando, mas deixo o disclaimer antecipadamente. Fique abaixo com a lista de 10 álbuns maravilhosos de nossa música em 2024.

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10º – Caju – Liniker

Brasil | Soul, MPB | Aumenta!: Veludo Marrom

Esse ano a música nacional foi dominada por um fenômeno chamado Caju. Para aqueles que acompanham Liniker desde o ótimo Remonta, de 2016 – estreia da cantora junto da banda Caramelows – é uma satisfação gigantesca ver seu reconhecimento chegar. É basicamente a versão brasileira do que foi o fenômeno BRAT lá fora, onde o alternativo abriu novas portas de discussão sobre o que é mainstream. Ainda que eu precise confessar que prefiro os álbuns prévios à carreira solo – quando ainda tinha os Caramelows como banda de apoio – é inegável a amplitude criativa de Caju e sua variedade de sonoridades. Seu maior feito é abranger toda brasilidade possível de nossa música, com participações que reforçam essa diversidade: há espaço para o batuque do BaianaSystem, a melancolia de ANAVITORIA, a fritação do Tropkillaz, o pop rock de Lulu, o pop brega de Pablo Vittar e tantas outras sonoridades. É uma obra que representa a inabalável música brasileira brilhantemente bem, tanto seu ontem quanto o seu agora.

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9º – Não leve a mal – Pluma

Brasil | Indie pop, Indie rock | Aumenta!: Plano Z

A banda paulista Pluma foi responsável por uma das melhores estreias desse ano com seu ótimo Não Leve a Mal. O uso dominante de sintetizadores dentro dos moldes clássicos do indie rock é um clichê que existe não é de hoje, mas usar esse elemento tão bem quanto o grupo liderado pela frontwoman Marina Reis, isso não é todo dia que se acha. As composições da banda dominadas por synths constroem no imaginário cenários de memórias e desabafos da vida moderna que casam perfeitamente bem com o ar contemplativo de suas letras. Mesclando um som entre o indie pop e o indie rock, o álbum consolida com um pé na porta a banda que já se apresentou no Primavera Sound Barcelona em 2022 e se apresentará no Lollapalooza Brasil de 2025. Um grupo para acompanhar a carreira de perto.

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8º – Lampião Rei – Papangu

Brasil | Rock Progressivo | Aumenta!: Acende a luz: II. O Escandeio / III. Saguatimbó

Se existe um gênero do rock que, por vezes, eu tenho impressão de estar morto, esse é o rock progressivo. O estilo perdeu força ao longo das décadas, mas desde os anos 2010 vejo quase nenhum assunto em torno dessa “comunidade” que hoje é dominada por saudosistas dos anos 70 e virtuosistas de tecnicalidades musicais. Por isso fico feliz de ver uma banda como Papangu, que em Lampião Rei incorpora uma sonoridade totalmente voltada para um tipo regional de rock progressivo. Afastando bastante do som pesado e “metaleiro” de sua estreia em Holoceno, o novo álbum é claramente uma obra mais acessível, o que de forma alguma significa abrir mão da qualidade. Ok, preciso confessar que a mudança me deixou levemente frustrado – realmente gostaria que seu som mantivesse preso no metal. Só que o resultado é tão positivo e diferenciado que é melhor concentrar a atenção no excelente feito da banda. Suas composições ilustram brilhantemente bem com suas guitarras a riqueza de contos imersos no árido brasileiro.

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7º – Novela – Céu

Brasil | MPB, Pop | Aumenta!: Raiou

Apesar de ser uma das vozes mais aclamadas da MPB do século XXI, não é todo trabalho da Céu que realmente consegue me capturar. Fiquei feliz que funcionou para seu mais recente trabalho, o excelente Novela. O álbum, a começar pelo seu título, escancara energia latina e exalta a brasilidade de seu som. Produzido em Los Angeles por Adrian Younge, Novela é uma verdadeira ode à música orgânica, com arranjos ricos que pegam elementos de gêneros diversos, como soul, rap, rock, bolero e reggae. Céu já teve várias facetas em sua carreira, inclusive trabalhos dominados por sintetizadores (fase pixelada do Tropix), mas essa sua versão “natural” e latina é facilmente seu melhor lado, possibilitando amplificar ainda mais o impacto de sua linda voz.

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6º – Sonhos que nunca morrem – Adorável Clichê

Brasil | Indie rock, dream pop | Aumenta!: as coisas mudam pra melhor

O mundo dos sonhos e das memórias são terreno fértil para alguns gêneros musicais, mas em especial o dream pop e o shoegaze são sonoridades totalmente vinculadas a esse campo do imaginário. Os catarinenses da Adorável Clichê são um belíssimo exemplar dessa escola musical. Sonhos que nunca morrem, o mais novo trabalho do grupo, tem o pé na nostalgia e na esfera imaginária a começar pelo título e pela capa com o forte apelo dos anos 90. Quando chegam aos ouvidos as maravilhosas vibrações das composições da banda, impossível fugir da sensação contemplativa sobre a efemeridade da vida e os relacionamentos que o tempo levou. Acordes encharcados de emoções dão o tom desse álbum obrigatório para consumidores da boa e velha música indie.

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5º – YOPO – Nego Gallo

Brasil | Hip-hop | Aumenta!: Hienas

O cearense Carlos Eduardo – famoso Nego Gallo – comprovou mais uma vez que o melhor do rap nacional muitas vezes se encontra afastado do eixo sudestino. YOPO é sequência do excelente Veterano (2019) e referencia uma erva medicinal indígena que o artista utiliza em seu processo criativo de viagem interior e expansão da consciência. Bem, independente de qual seja o efeito dessa medicina, eu agradeço por ter proporcionado a explosão criativa desse notável álbum. Fugindo dos beats óbvios que dominam o mercado, o rapper envereda por uma sonoridade de reggae, dub e gêneros latinos para conduzir seu flow preciso e afiado.  O resultado é um frescor criativo revigorante e fascinante de ouvir no hip-hop em 2024, sabendo entreter sem abrir mão da veia questionadora essencial para o gênero.

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4º – Maria Esmeralda – Thalin, Cravinhos, VCR Slim, iloveyoulangelo, Pirlo

Brasil | Hip-hop | Aumenta!: Dedo Cheio de Anel

Essa beleza entrou no meu radar nos últimos instantes do ano. Confesso que não sei como esse disco passou despercebido por mim, Maria Esmeralda possui um impacto sonoro que parece até que estamos diante de um supergrupo musical. O disco é resultado da colaboração de uma série de rappers e produtores da cena musical brasileira, tratando de uma obra que revigora a fé na cena do hip-hop nacional. Uma espécie de mistura do maravilhoso estilo de produção do som do MF Doom e Madlib com a dinâmica e fôlego criativo dos Racionais MCs, Maria Esmeralda é uma verdadeira ode ao espírito colaborativo na música. A consistência de um álbum feito por tantas mentes criativas diferentes é um fato bastante admirável, juntando faixas completamente distintas sem perder a qualidade. Uma bela expressão do coletivo refletida em uma obra de arte única.

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3º – Acelero – Crizim da Z.O.

Brasil | Experimental, Funk, Eletrônica  | Aumenta!: Festa da Carne

Acelero é para quem às vezes se engana que não há nada de novo ou autêntico sendo feito na música brasileira. Pode ser que não seja para seu paladar, afinal, o som do projeto Crizim da Z.O. – formado pelos cariocas Cris Onofre e Danilo Machado em parceria com o músico paranaense Marcelo Fiedler – é uma paulada criativa que destinada aos fortes adeptos da música experimental. Definitivamente não é um trabalho para o ouvinte comum. No entanto, aqueles malucos por um experimentalismo eletrônico de primeira irão se deleitar com a mistura de sonoridades tão distintas como o rock industrial, funk carioca, eletrônica, rap e metal – resultando em um som nada menos que autêntico. Mesmo aquele que não conseguir ser fisgado pelo groove avassalador do grupo, há de, no mínimo, admitir a originalidade de sua música.

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2º – Pedra de Selva – Curumin

Brasil | MPB, Soul | Aumenta!: Paixão Faixa Preta

Há mais de uma década que sou um fã do excelente trabalho de Curumin, nome artístico de Luciano Nakata, um dos grandes nomes da famosa “nova MPB” – que de “nova” em “nova” já tem 20 anos. Depois de Boca, um disco que não me agradou tanto, o artista voltou com tudo em Pedra de Selva. Dominado pela malemolência e swing do soul essencialmente brasileiro que marca a trajetória do compositor, o álbum parece recheado de uma aura de ancestralidade tupiniquim. Qualquer comparação desse tipo não deixa de ser injusta, mas sempre vi Curumin como um expoente que poderia ser referenciado como o Jorge Ben da geração millennial. Ambos souberam criar identidade própria dentro da música black e sabendo usufruir extremamente bem do seu recorte geracional.

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1º – Bacuri – Boogarins

Brasil | Rock Psicodélico | Aumenta!: Poeira

Parece que foi ontem que eu descobri o Boogarins através de uma matéria no New York Times, aclamando a estreia dos goianienses com As Plantas que Curam. Dentro de pouco mais de uma década de carreira vieram 4 álbuns de estúdio bastante consistentes e um marco na música psicodélica nacional. Bacuri, o recente lançamento que marcou o retorno do grupo, é provavelmente a obra da banda que mais me tocou. Alguns poderiam dizer que aqui não há nada além do que já conhecemos do Boogarins, e isso não seria mentira. Exceto que esse é um exemplo perfeito de artistas que dominaram com maestria a arte de seu próprio som. Ouvir Bacuri é ouvir a epítome do amadurecimento musical de uma banda. Tudo na obra é do mais refino cuidado musical. Em tempos onde o movimento do rock psicodélico parece impopular até mesmo no cenário alternativo, ouvir um trabalho do gênero com essa imponência me traz emoções um tanto melancólicas. A obra lisérgica do grupo é indissociável do sentimento de nostalgia, construindo riffs e synths em cima de memórias de acalento. Como diria a catártica Poeira, talvez minha faixa brasileira preferida de 2024: “desconfio que estou sem tempo”.

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