Avaliação da temporada:
(não é uma média)
Em seu segundo ano, Mythic Quest mantém sua altíssima qualidade, mas diminuindo o tom cômico que marcou sua estreia e focando mais em drama, o que é inegavelmente uma surpresa e, diria, muito bem-vinda, já que abre mais espaço para o elenco mostrar sua qualidade, especialmente o veteraníssimo F. Murray Abraham, cujo personagem ganha uma belíssima história de origem, com direito a não apenas um, mas dois episódios integralmente dedicados a ele. Mas Ian e Poppy, que trilham caminhos separados por quase toda a temporada, também ganham muita atenção, com a insegurança e infantilidade de Ian marcando o finalzinho da temporada.
E o melhor é que, mesmo com grande parte da temporada sendo dedicada, tematicamente, à nova expansão do jogo, esse assunto é, na verdade, um pano de fundo para que Brad e Jo possam mostrar toda sua vilania maquiavélica, com direito à introdução de Zack, o irmão de Brad que consegue ser ainda mais assustador e também para Rachel e Dana não só iniciarem o namoro, como também se desafiarem a procurar seus próprios caminhos. Com um final corajoso, que subverte expectativas e que poderia ser o término da série como um todo, será muito interessante ver como os showrunners continuarão o trabalho, isso se houver uma terceira temporada, claro.
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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o pior? Mandem suas listas e comentários!
9º Lugar:
#YumYum
2X03
Em paralelo a essas duas histórias, tem uma terceira consideravelmente menos interessante, na verdade o ponto fraco do episódio, que aborda a forma como Ian e Poppy trabalham na expansão Titan’s Rift, ou seja, completamente separados, com equipes e caminhos diferentes, isso às vésperas de uma apresentação para a matriz em Montreal, que precisa ver como a coisa caminho. Mesmo que nessa linha narrativa haja também a mão de Brad, que deseja seguir o caminho mais fácil da criação de um modo Battle Royale no jogo, algo que a dupla criativa simplesmente odeia, toda vez que a história lida com os dois ela perde o ritmo e parece mais uma forma de preencher espaços livres de um roteiro que não é tão coeso quanto normalmente costumam ser na série, algo que reputo como a exceção que confirma a regra, ainda que o trabalho de John Howell Harris não seja nem de longe ruim.
8º Lugar:
Breaking Brad
2X04
E o melhor é que o episódio faz uma abordagem satírica, claro, mas perfeitamente verdadeira desse tipo de investidor capaz de perceber o momento de pico de determinado empreendimento e que força sua entrada somente para potencialmente desmembrar o negócio e vender as “partes” por um valor total maior do que o conjunto, muitas vezes (ou sempre) destruindo a empresa no processo. O uso do “aniversário” de Brad para isso e a reação de Brad para tudo o que acontece ao seu redor, sem que ele consiga esboçar qualquer reação que não seja esconder-se em sua sala e colocar Jo no fronte de batalha, já indica tudo o que precisamos saber sobre Zack e o final, que promete seu retorno, parece indicar um caminho potencialmente desafiador para todos ali na desenvolvedora de jogos. Não duvidaria nada que Zack retornasse já como acionista da empresa, depois de ter uma reunião secreta com a matriz no Canadá.
7º Lugar:
TBD
2X09
Sim, tenho consciência de que esse pode ser um cliffhanger facilmente desfeito ou suavizado na próxima temporada, pois acho difícil uma mudança radical desse jeito, mas o que realmente importa é que TBD nos faz pensar tanto nesta série em particular quanto em qualquer outra série ou “material serializado” que consumimos – jogos, livros, filmes e assim por diante -, além de ter a vantagem de a lição que o episódio tem a passar ser valiosa também para nossa vida em geral. Quantas vezes pensamos em mudar, em arriscar, em fazer diferente e permanecemos inertes por conforto, preguiça, comodidade, facilidade ou uma conjunção desses fatores? Quantas vezes chegamos até a tomar uma decisão mental, mas, na hora de implementá-la, criamos dificuldades para nós mesmos de forma a enterrar a ideia? E quantas vezes – e aí depende da idade da pessoa, lógico – acabamos olhando para trás com aquele gostinho agridoce de arrependimento por não ter feito algo?
6º Lugar:
Titan’s Rift
2X01
É ao redor dessa trama que o episódio gira, com David, assim como Poppy, também tentando fincar o pé como chefe de todos por ali, o que ele só é tecnicamente, já que sua personalidade simplesmente o impede de ter qualquer nesga de assertividade. Claro que tudo piora quando descobrimos que a diabólica Jo, sua assistente, é, agora, assistente do ainda mais diabólico Brad, criando uma dupla do mal que é absolutamente irresistível e tem David na pior conta possível, obviamente. Só essa nova dinâmica já dá a Mythic Quest muito pano para manga para ser trabalhada ao longo da nova temporada, até porque, como Brad muito bem diz à Jo sem rodeios, ela tentará devorá-lo na mesma medida em que ele tentará devorá-la. Nada como um ambiente de trabalho sadio, não é mesmo?
5º Lugar:
Please Sign Here
2X05
Portanto, como é de se esperar, o episódio é um exercício quase experimental que comprime as características de cada um dos personagens da série em breves interações comandadas, digamos assim, por Carol, algo que o roteiro de Katie McElhenney faz com grande precisão, sem deixar que barrigas narrativas sejam criadas, algo que a direção da showrunner Megan Ganz amplifica com uma decupagem excelente que não só faz excelente uso do razoavelmente limitado – apesar de tecnicamente grande – espaço dramático e do timing de entrada de personagens, sejam alguns que já estavam ali, mas que espertamente não haviam sido mostrados, seja Poppy, que chega sem aviso. É como uma sessão de terapia para todos dentro da série e um “resumo” do que é a série para nós, que estamos do lado de fora.
4º Lugar:
Juice Box
2X08
É no leito do hospital, com Ian sendo diagnosticado com absolutamente nada físico e sendo receitado uma caixinha de suco de laranja e suas pílulas para calvície, que vemos de vez o lado vulnerável do mais egoísta personagem do mundo. Rob McElhenney desconstrói sua criação, literalmente fazendo o sempre seguro de si Ian revelar toda sua insegurança, todo o seu medo, revertendo-o a literalmente uma criança que pede cafuné para dormir. É uma sequência incrivelmente emocionante, especialmente considerando o quanto Ian implora perdão de Poppy e o quanto ela com seu “it’s ok” vai aos poucos realmente perdoando seu colega, algo que a câmera de Todd Biermann, cada vez mais próxima dela, revela com seu olhar de compreensão sobre Ian e sobre a relação profissional entre eles.
3º Lugar:
Backstory!
2X06
Backstory! é um enorme desvio narrativo, sem dúvida, e um desvio feito maior ainda considerando o quão pouco o personagem de Abraham apareceu na temporada considerando as limitações que o ator teve em relação à pandemia. Mesmo assim, como aconteceu com A Dark Quiet Death, por seu turno bem menos conectado com a história principal, ganhamos mais um capítulo sensacional que amplifica nossa visão sobre o backstory da série e oferece espaço para experimentações.
2º Lugar:
Grouchy Goat
2X02
Os melhores momentos de Mythic Quest são aqueles em que o roteiro trabalha uma estrutura de South Park, só que com atores reais. Afinal, não tem nada melhor do que abordar temas quentes do momento, como as questões do relacionamento homossexual e do empoderamento feminino, só que subvertendo as expectativas, quase que literalmente tirando o tapete por debaixo de nossos pés. Diferente do que muitos que adoram gritar “lacração” com o dedo em riste imaginam, isso só deixa ainda mais evidente os problemas e resultam em críticas relevantes e com mais poder contundente do que textos expositivos ou situações clichê.
1º Lugar:
Peter
2X07
O episódio é, basicamente, o desfecho nos dias presentes da dramática história pregressa do detestável C.W., mas com a coragem de quase que completamente extirpar o humor do roteiro, deixando, apenas, toda a amargura de 40 anos de inveja e inimizade que o personagem mais velho da equipe de Mythic Quest nutre por Peter, que ele reputa responsável por ter roubado a mulher que amava. Toda a pouca comicidade que existe é do tipo que é cuidadosamente construída para mais uma vez delinear muito claramente a personalidade de C.W., com o uso da coitada da Rachel, que concorda em levá-lo até a mansão de Cromwell para que os dois possam ter uma conversa final, como o alvo de todas as piadas inquietantes, duras, beirando o mau-gosto, algo que, repito, é proposital e parte da qualidade do roteiro de Humphrey Ker.