O Plano Crítico, infelizmente, é um site com 100% de seus membros do sexo masculino. Esperamos, um dia, mudar isso. Mas, enquanto não surgem as oportunidades para tanto, fazemos o que podemos e, nesse sentido, não poderíamos deixar o Dia Internacional da Mulher passar em branco completamente. Matutamos e matutamos e, apesar de nossas listas serem publicadas religiosamente nas segundas, resolvemos abrir uma honrosa exceção para listar as mulheres que, de uma maneira ou de outra, tiveram e/ou têm papéis importantes no cinema. Não estamos falando apenas de atrizes, mas, também, diretoras, produtoras e outras profissionais do ramo. Sem elas, o cinema não seria a mesma coisa.
Parabéns às nossas leitoras e à todas as mulheres!
Vamos à lista. Limitamos aos 10 nomes que mais chamaram nossa atenção, tentando ser o mais eclético possível, mas reconhecemos que há muitas outras que deveriam estar aqui. Agradecemos se os leitores nos ajudarem, nos comentários, a lembrar de mais mulheres desse naipe.
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Mary Pickford (1892 – 1979)
É impossível listar a quantidade de coisas cinematograficamente importantes que essa bela atriz fez pela indústria de filmes de Hollywood. Uma amostra? Então vamos lá: além de ter se tornado literalmente uma das primeiras musas do meio, com papéis em filmes como Coquette, The Poor Little Rich Girl, ela fundou a United Artists junto com D.W. Griffith, Douglas Fairbanks e Charles Chaplin e foi um dos 36 fundadores da Academia (a instituição que organiza a entrega do Oscar). Depois de aposentada da carreira de atriz, em 1933, passou a produzir filmes. Não parou quieta até seu falecimento em 1979 e, com isso, literalmente delineou o futuro do cinema.
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Kathleen Kennedy (1953 – )
Quem é Kathleen Kennedy? Bom, ela é uma famosa e extremamente influente super-mega-produtora de Hollywood, que fundou a Amblin Entertainment com Steven Spielberg e Frank Marshall (com quem acabou casando) e, literalmente, quase que sozinha, fez da década de 80 a maravilha que ela foi. Vejam só exemplos do que ela produziu nos anos 80: E.T. O Extraterrestre, Poltergeist, Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones e o Templo da Perdição, De Volta Para o Futuro I e II, Gremlins, Uma Cilada Para Roger Rabbit e A Cor Púrpura, entre outros. Querem mais? Bom, na década de 90 ela produziu A Lista de Schindler, Jurassic Park I e II, As Pontes de Madison, Cabo do Medo, De Volta para o Futuro III e Twister. Na primeira década dos anos 00, veio com Jurassic Park III, Sinais, A.I. Inteligência Artificial, Munique, Guerra dos Mundos, Persepolis e O Curioso Caso de Benjamin Button.
E, não satisfeita, agora é a presidente da Lucasfilm e uma das grandes responsáveis pela aquisição da empresa pela Disney e pela vindoura renovação da franquia Star Wars. Não tem como não tirar o chapéu para a moça.
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Sophia Loren (1934 – )
Sophia Loren, talvez junto com Elizabeth Taylor (ela está por aqui, pode deixar) personifica a profissão de atriz em sua essência. Linda, extravagante, boa atriz, ela participou de obras inesquecíveis do cinema moderno como Duas Mulheres, de Vittorio de Sica e El Cid, de Anthony Mann. Foi reconhecida com diversos prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Atriz (a primeira atriz de língua não-inglesa a conseguir isso depois da era dos filmes mudos).
Sempre radiante, Loren é puro glamour, puro fetiche, pura paixão.
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Ingrid Bergman (1915-1982)
Bela e uma das melhores atrizes que já viveu, a sueca Ingrid Bergman é mais conhecida por seus papéis em Casablanca, de Michael Curtiz e Interlúdio, de Alfred Hitchcock. Nada mal, não é mesmo? Só que sua ilustre carreira também inclui Intermezzo: Uma História de Amor, O Médico e o Monstro, Por Quem os Sinos Dobram e outras obras inesquecíveis.
Ganhadora de três Oscar, dois Emmy e um Tony, Bergman não poderia estar de fora de nossa lista.
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Sofia Coppola (1971 – )
Filha do ilustre Francis Ford Coppola, Sofia conseguiu desvencilhar-se dessa inevitável conexão com o pai, que a colocou no mundo do cinema em papéis nos três filmes da trilogia O Poderoso Chefão. Mas não foi sua atuação que a destacou no mundo do cinema, mas sim sua coragem na direção, exatamente a mesma profissão do pai. Difícil, não é mesmo? Especialmente se pararmos para pensar e notar que há muito poucas diretoras no mundo do cinema.
E o melhor de tudo é que ela não tentou o caminho fácil, de filmes mais palatáveis pelo amplo público de cinema. Seu primeiro longa-metragem, As Virgens Suicidas, é de difícil assimilação e pesado. Mas foi mesmo o melancólico e genial Encontros e Desencontros que a alçou ao estrelato. Tenho certeza que sua ainda curta carreira fará muitos leitores torcerem o nariz para essa minha escolha, mas Sofia desbravou e ainda desbrava uma densa floresta que poucas mulheres conseguiram sequer adentrar. Com isso, ela ganha muitos pontos em meu livro!
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Jodie Foster (1962 – )
Foster é uma das mulheres mais completas do cinema mundial. Começou na publicidade, como modelo mirim de três anos para os anúncios da Coppertone (aquela menina com o bumbum sendo mordido por um cachorro é ela!) e, daí, partiu para o estrelato como atriz, ganhando o Oscar por sua atuações em Acusados, em que faz uma vítima de estupro e O Silêncio dos Inocentes, em que personifica Clarice Starling, a agente do FBI que enfrenta o terrível e fascinante Hannibal Lecter.
Mas, não satisfeita com o estrelato, ela partiu para a direção em 1991, com Mentes Que Brilham e, mais recentemente, Um Novo Despertar. E, não satisfeita com a direção, passou a ser produtora também.
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Elizabeth Taylor (1932-2011)
Liz Taylor é a epítome da atriz. Linda, feroz, cheia de vontades, ela foi moldada por Hollywood na mesma proporção que moldou Hollywood. Começou criança, desenvolveu-se na adolescência e, adulta, tomou o cinema de assalto sem dar chance para ninguém. Tornou-se, muito rapidamente, a mais importante atriz do mundo em determinada época e a mais bem paga. Seus desejos eram ordens para todos os estúdios. Aliás, seus caprichos junto com a má administração da produção de Cleópatra, quase levaram a Fox à falência nos anos 60. Mas Dame Taylor é muito mais do que a soma de seus sucessos. Ela já fez muito marmanjo suspirar por ela. Afinal, ela ajudou e muito na revolução sexual dos anos 60 e na afirmação dos direitos iguais das mulheres.
No alto de seu charme e personalidade forte, comandou (sim, comandou mesmo) oito casamentos (dois deles com Richard Burton!) e atuou, atuou, atuou. Quem não se lembra de seus papéis em Assim Caminha a Humanidade, Quem Tem Medo de Virginia Woolf, Gata em Teto de Zinco Quente, A Megera Domada e outras dezenas de filmes?
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Fernanda Montenegro (1929 – )
Eu poderia ter incluído Sonia Braga facilmente nessa lista, mas, no quesito atuação, Fernanda Montenegro desbanca Braga e mais essa penca de mulheres que vemos todos os dias nas novelas de nosso país. Fernanda Montenegro talvez seja nossa maior atriz ainda viva, com uma carreira de cair o queixo, que começou com atriz de teatro juntamente com Fernando Torres, que viria a ser seu marido até 2008, quando ele faleceu (aliás, os dois, juntos, formavam um casal fenomenal).
Fazendo escola no teatro atuando em peças de Pirandello, Beckett, Tchekhov, Nelson Rodrigues e Millor Fernandes, Fernanda Montenegro fez o salto para o cinema em 1965 e não parou mais, chegando talvez em seu ápice de reconhecimento mundial quando concorreu ao Oscar, Globo de Ouro e BAFTA de melhor atriz por Central do Brasil.
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Kathryn Bigelow (1951 – )
Bigelow ganhou seu merecido estrelato por sua direção de Guerra ao Terror, que lhe valeu o Oscar de melhor filme. E, provavelmente, é por esse filme que a maior dos leitores lembrarão dela. No entanto, Bigelow tem estado em meu radar desde quando assisti, no longínquo ano de 1987, o que ainda hoje é o melhor filme de vampiro que já vi: Quando Chega a Escuridão. Sim, isso mesmo. Essa obra desbanca qualquer coisa que veio depois (pois perde para o primeiro Nosferatu, claro) e merece muito ser conhecida. Além disso, pouca gente se lembra que ela também dirigiu o bem-sucedido Caçadores de Emoção, com Patrick Swayze e Keanu Reeves.
De toda forma, Bigelow, a segunda e última diretora dessa lista, fez e continua fazendo história como seu recente A Hora Mais Escura prova. Precisamos, definitivamente, de mais mulheres na direção.
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Sally Menke (1953-2010)
Tarantino pode até ser Tarantino, mas ele certamente não seria O Tarantino sem a saudosa Sally Menke por trás da montagem de suas obras desde Cães de Aluguel. Longe dos holofotes, pouco lembrada e discreta, Menke é a proverbial “grande mulher” atrás de um “grande homem”. Sua falta já foi sentida em Django Livre e, tenho certeza, Tarantino sabe muito bem disso.