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Lista | Melhores Leituras em 2024: Livros – Luiz Santiago e Ritter Fan

História e memória.

por Luiz Santiago
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Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2024, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado. Clique nos links dos títulos para ler as críticas! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de livros em 2024! E caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, clique aqui!

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LUIZ SANTIAGO

Tive, em 2024, uma jornada literária muito proveitosa, com muitas leituras políticas e acadêmicas, um pouco diferente do que experimentei no ano passado. Por conta da corrida literária, dei uma arrancada boa nos primeiros meses do ano, e consegui colocar muitos livros da minha lista de espera na leitura do dia. Espero, neste ano de 2025, seguir com essa mesma pegada. Tem muita coisa boa da minha área (História) saindo no Brasil recentemente, e eu também quero seguir com alguns projetos literários do site neste ano. Bora pra cima!
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10º – A Primeira Cruzada: Um Chamado Para o Oriente

Peter Frankopan | Reino Unido | 2012

Peter Frankopan torna o seu Chamado Para o Oriente uma viagem cheia de boas surpresas, mesmo para historiadores. A presença das fontes orientais e a bem amarrada construção da importância de Aleixo Comneno para a Cruzada que transformou para sempre a Europa — e, a longo prazo, o mundo que se moldou a partir desse continente transformado — fazem do livro uma agradável, rica e necessária produção contemporânea sobre a “expedição dos príncipes“. Uma história de pouca fé, muito jogo de poder, sangue, lucro e traições.

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9º – Pequena História da República

Graciliano Ramos | Brasil | 1940

É com certeza uma leitura que pode ser apreciada por crianças e adultos, mas com interpretações ou valorização bem diferentes daquilo que é exposto. Uma pequena joia de nossa literatura cronista com mesclas superficialmente acadêmicas e uma visão às vezes considerada “subversiva“, às vezes paternalista e moral demais (como a análise para os presidentes de 1894 a 1930, ou seja, de Prudente de Morais a Washington Luís), ou mesmo marcada por erros factuais, como na análise do autor para a Guerra de Canudos, mas sempre engajante e altamente admirável.

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8º – Torto Arado

Itamar Vieira Junior | Brasil | 2018

A região da Chapada Diamantina é destacada com riqueza, cheia de diversidade, numa atmosfera que versa sobre agricultura, misticismo, instâncias de espiritualidade, conteúdos que tornam ainda mais forte esta história sobre pessoas que cultivam para os patrões e ficam com as sobras para sobreviver, que constroem suas casas e precisam reerguê-las diante das chuvas, pois o barro se dissipa diante do fenômeno meteorológico, numa travessia cíclica num cenário tomado por fortes índices de violência rural. Lançado em 2018, o romance em questão tornou-se um fenômeno literário incomum no esquema editorial brasileiro, uma pompa merecida. Com belíssima capa de Elisa V. Randow, ilustrada com imagem inspirada na famosa fotografia de Giovanni Marrozzini, Torto Arado é um dos melhores textos literários da atualidade, já posicionado num lugar de conforto para ser canonizado no futuro de nossa história literária.

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7º – Eu, TARDIS – Memórias de uma Caixa Azul Impossível

Stephen Cole | Reino Unodo | 2024

 É apenas ruim o fato de transitarmos de uma abordagem humana para uma repetição dos mesmos eventos mirando o espaço geográfico e as consequências da viagem; mas isso se torna meramente um detalhe aborrecedor com o qual conseguimos lidar bem, face à ótima proposta e execução dos doze capítulos da obra. Eu, TARDIS é uma produção engraçada, cheia de informações muito legais sobre a série, sobre a nave do Doutor e uma maneira peculiar de revisitar 60 anos de programa. Creio, porém, que este é, acima de tudo, um louvor às pessoas que fizeram parte de sua história e viajaram na nave ao longo de todos esses anos. Uma ode cômica e às vezes ácida à pluralidade de vida no Universo, ao espírito aventureiro e rebelde, e à necessidade de um idiota de bom coração com uma nave que o leva para onde ele precisa ir.

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6º – 73 Jardas

Scott Handcock | Reino Unido | 2024

Eu gostaria que a BBC Books tivesse definido uma maior construção de Universo, o que tornaria o livro mais interessante e não o fizesse parecer corrido em partes que claramente mereciam maiores detalhes; mas, ainda assim, esta é uma novelização charmosa, com um bom acréscimo de informações para um episódio que sempre dará o que falar. A “mulher sempre distante” é, a meu ver, a Vigia de Ruby. Se o Doutor teve um Vigia para ele (que… “era o Doutor o tempo todo!“), fundindo-se com o corpo primário no momento da morte, por que uma companion também não poderia passar por um processo aproximado, no caso de uma tulpa criada pelo Universo para evitar um mundo pior?

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5º – A Escravidão no Brasil

Jaime Pinsky | Brasil | 1988

São pontuados os óbvios erros de contexto histórico nesse pensamento (assim como em outros!), fazendo dessa edição revista e ampliada um livro que se encaixa perfeitamente no século XXI, onde a reescrita da História pelas mãos dos algozes ganha corpo, mídia e milhões de vozes para reproduzi-la. Usando a correta definição do autor sobre a “funcionalidade da História“, dá para dizer que este é um livro que nos fornece elementos para uma visão crítica do passado, uma melhor compreensão do presente e iluminação do futuro, que basicamente significa tentar erguer uma sociedade (para a nossa e para as futuras gerações) que discute esse tema sem passar pano pra escravocrata, e que entende as implicações contemporâneas geradas por quase 400 anos de um sistema como este.

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4º – Casas Ilustradas – Campos dos Goytacazes

Rapha Pinheiro | Brasil | 2024

As ilustrações, minuciosas e delicadas, revelam a beleza muitas vezes ignorada dessas construções, enquanto os textos, críticos e informativos, completam a função de instigar o leitor. O livro convida a um passeio afetivo pelas ruas, despertando o sentimento de pertencimento e a responsabilidade pela preservação da identidade cultural. É louvável a iniciativa do autor em utilizar o Inktober para o desenvolvimento de um projeto tão relevante. Em tempos de produções independentes rasteiras e esquecíveis, o livro se destaca pela qualidade gráfica, pelo rigor de abordagem e, sobretudo, pelo seu potencial de mobilização. Espero que a obra inspire outras iniciativas do gênero, em diversas cidades do país. Nada como utilizar a arte como um instrumento de transformação social!

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3º – O Meu Pé de Laranja Lima

 José Mauro de Vasconcelos | Brasil | 1968

A mudança na abordagem que o autor faz, deixando-nos conhecer sua própria voz nas últimas linhas do volume, me tirou um pouquinho da trilha de glória em que seguia até então, mas isso não conseguiu derrubar marcantemente a qualidade do livro. O Meu Pé de Laranja Lima é um clássico cuja leitura rápida, acessível e muito tocante nos faz voltar no tempo e ver, com o coração em constante mudança, uma vidinha vencer os maiores vendavais que uma criança pode atravessar. É daqueles livros capazes de nos fazer sofrer com nostalgia e nos alegrar com a esperança que nasce após a tempestade.

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2º – A Imperatriz Escarlate

Paul Magrs | Reino Unido | 1998

A Imperatriz Escarlate é uma aventura que estabelece com perfeição uma complexa personagem e consegue fazer com que ela ganhe corpo ao ser embebida em mistérios, inclusive aproximando-se conceitualmente do Doutor. A hilária cena em que ela cita “aventuras suas” comentando eventos que se assemelham aos de Dalek Invasion of EarthTomb of the CybermenCarnival of Monsters e Planet of Spiders me arrancaram boas gargalhadas, especialmente porque o Doutor fica indignado com o “roubo” de suas memórias. Cheio de boas surpresas, leve e muito direto em tudo o que propõe (para alguns gostos, talvez seja um pouco lento na resolução do caso da Imperatriz), este livro é bem diferente daquilo que estamos acostumados a ler em Doctor Who. Uma história interessante em todos os sentidos do termo.

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1º – Educação Como Prática da Liberdade

Paulo Freire | Brasil | 1967

A ampla compressão da defasagem educacional da população brasileira e a alta capacidade de entendimento do patronato político nacional fizeram deste livro de Paulo Freire o primeiro grande ícone de sua bibliografia. Aqui, o autor começa analisando o ambiente do cidadão a ser alfabetizado. As forças políticas que movem as estruturas que querem letrá-lo. Os interesses econômicos ou mesmo a falta da interesse que guiam o investimento (ou abandono) das escolas brasileiras e seus professores. O andamento da democracia nacional. As relações entre patrões e trabalhadores, especificamente no aspecto de negociação, de entendimento dos direitos trabalhistas e capacidade de argumentação diante de assédios, injustiças e crimes. E então o autor completa a sua tese detalhando como a educação impacta na formação de cidadãos críticos, pensantes. Indivíduos que enxergarão e entenderão a sua realidade econômica, social, cultural, religiosa, familiar, e orientarão sua participação política para candidatos/partidos que propõem melhorias e acesso ao que ele tem ou não tem. Já aqui, é perceptível o quanto Paulo Freire era perigoso, não é mesmo?

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RITTER FAN

O ano de 2024 foi mais um ano intenso de leituras, mas menos, digamos, programático que o anterior, ou seja, eu me preocupei menos com um tipo de obra – já que 2023 eu tentei e consegui reduzir substancialmente meu preconceito com biografias – e foquei em algumas que eu queria já há muito tempo ler, aproveitando adaptações audiovisuais para assim fazê-lo, como foram os casos de O Dia do Chacal e Xógum. Claro que foquei também em lançamentos recentes que me interessaram, como o começo da nova saga espacial de James S.A. Corey, autor da série literária The Expanse e obras assustadoras como Guerra Nuclear: Um Cenário.

Apesar de não ter deixado as biografias e os livros sobre obras audiovisuais de lado, como minhas Menções Honrosas e Top 10 não me deixam esconder, tentei dirigir meu olhar para obras sobre a história do Japão (também na onda da adaptação de Xógum) e do Egito, país que acho absolutamente fascinante. Foi, por assim dizer, um ano muito variado que eu pretendo que continue em 2025, ou seja, um pouco sem rumo, com um pot pourri de tudo, talvez mergulhando em alguns mega-clássicos que sempre tentei, mas nunca realmente mergulhei.

Menções honrosas (em ordem alfabética):

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10º – Um Distúrbio na Força

Steve Kozak | EUA | 2023

Um Distúrbio na Força é uma fascinante leitura sobre um especial que nunca deveria ter acontecido, mas que, ao acontecer, mostrou logo de início o que o descontrole pode fazer com propriedades queridas. Steve Kozak, com o livro, coloca seu nome indelevelmente conectado com uma das maiores aberrações audiovisuais de todos os tempos e, no processo, oferece ao leitor uma visão muito completa sobre os bastidores de um enganosamente pequeno aspecto de uma das obras mais revolucionárias do cinema blockbuster que nasceu de maneira semi-independente e que se tornou o padrão da indústria até hoje em dia.

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9º – A Misericórdia dos Deuses

James S.A. Corey | EUA | 2024

Quando virei a última página de A Misericórdia dos Deuses, porém, arrependi-me de ter começado a ler quase no dia de seu lançamento, pois isso significa que, agora, terei que esperar um tempo razoável até a segunda parte (imaginando, aqui, que Corey não vai dar uma de Stephen King ou – cadê a madeira para eu bater? – de George R.R. Martin, claro). Quem sabe não é a oportunidade perfeita para eu tomar vergonha na cara e ler The Expanse, hein?

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8º – Rebecca

Autor | País orignal | Ano original

Se Rebecca é ou não fruto de plágio – e um dia lerei o romance de Carolina Nabuco para tirar minhas próprias conclusões -, a grande verdade é que a obra é uma fascinante leitura de mistério e suspense que só perde o fôlego mesmo na forma como Du Maurier trabalha a resolução da morte da personagem titular. Mas, até chegar a esse ponto, a abordagem da perda da inocência da narradora sem nome e sua inserção em um mundo quase alienígena e muito ameaçador para ela é um deleite narrativo atemporal que merece mesmo ser destacado no gênero em que se insere.

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7º – Pobres Criaturas

Alasdair Gray | Escócia | 1992

Mesmo que o ritmo narrativo por vezes seja atravancado por exageros explicativos, por assim dizer, Pobres Criaturas permanece como uma obra de grande qualidade literária por saber brincar com gêneros e estilos para transmitir uma mensagem importante e de inegável valor socioeconômico. Afinal, nada como fazer uso de ideias absurdas, bizarras e por vezes até desagradáveis como verniz para sistematizar, desenvolver e sedimentar os verdadeiros temas centrais de um romance, provando que a boa e velha diversão pode vir acompanhada de altas doses de pensamento crítico inteligente e profundo que deixa o leitor pensando sobre o que leu muito tempo depois que virou a última página. E tudo isso para dizer que eu não posso imaginar o que Yorgos Lanthimos será capaz de fazer com esse material…

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6º – O Tremor da Suspeita

Patricia Highsmith | EUA | 1969

Trata-se, também, de uma visão bastante clara e aguda da xenofobia, racismo, intolerância, militarismo e outros aspectos que marcariam com ainda mais força os EUA a partir da década de 60, com opiniões adversas inconciliáveis e a radicalização de posições alcançando-nos até os dias atuais, algo que é particularmente irônico considerando que a própria Patricia Highsmith partilhava de muitos desses preconceitos. Talvez não seja a autora vendo o caminho que seu país de origem enveredaria, mas, também, um exame consciente de sua própria posição, exame esse, porém, que, assim como no caso dos EUA, não a levaria a superar suas visões radicais, o que a torna alguém com autocrítica, mas sem nenhuma intenção de mudar. Ou, claro, livros como O Tremor da Suspeita sejam justamente sua maneira de exprimir sua intenção de enxergar o mundo de outra forma, mas, ao mesmo tempo, como Ingham, sua conformidade com o que vê em si mesma.

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5º – O Dia do Chacal

Frederick Forsyth | Reino Unido | 1971

No entanto, mesmo distante e de certa forma frio e substancialmente na forma de relato jornalístico, O Dia do Chacal funciona muito bem como um thriller de fazer o leitor não só não parar de virar as páginas, como começar – ou intensificar – a roer as unhas, especialmente quando a convergência das metódicas investigações de Lebel e os cada vez mais improvisados atos do Chacal começa a efetivamente acontecer, levando a momentos que são tão excitantes quanto frustrantes, dependendo do lado que o leitor torça. Frederick Forsyth não poderia ter tido um começo melhor em sua prolífica carreira de escritor de romances de ficção que geraria uma série de outros clássicos thrillers que, porém, arrisco dizer, não teriam o mesmo tipo de destaque que sua obra de estreia merecidamente amealhou.

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4º – Tecnopólio: A Rendição da Cultura à Tecnologia

Neil Postman | EUA | 1992

Tecnopólio: A Rendição da Cultura à Tecnologia não é para ser compreendido e internalizado como verdade absoluta como, infelizmente, muita gente compreende e internaliza notícias de redes sociais com 140 caracteres, mas o livro de Neil Postman é, sem dúvida alguma, uma atraente maneira de nos fazer parar um pouco para pensar no meio em que vivemos e em nossa dependência dos aparelhinhos que estão 24 horas por dia ao nosso lado, sendo a primeira coisa que pegamos quando acordamos e a última que deixamos na mesa de cabeceira quando vamos dormir, e tudo sem que, depois de horas a fio usando-os, tenhamos absorvido real conhecimento. Sim, estamos em uma ditatura da tecnologia e nós precisamos pelo menos ter consciência de sua existência para termos alguma chance de filtrar aquilo que efetivamente tem valor.

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3º – Ainda Estou Aqui

Marcelo Rubens Paiva | Brasil | 2015

No entanto, esse é, sem dúvida alguma, um problema menor em Ainda Estou Aqui que, de outra forma, é um livro cativante da primeira à última página, do tipo que deixa o leitor triste não só pelos assuntos dolorosos que aborda, como também por chegar ao fim dessa inesquecível conversa com um grande amigo de anos que acabamos de conhecer por meio de palavras tão bem colocadas. Aliás, o poder do texto de Marcelo é tanto que parece que toda sua família ainda está aqui e que podemos conversar com eles – esses nossos amigos – quando quisermos.

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2º – Diário de Hiroshima

Michihiko Hachiya | Japão | 1950

Diário de Hiroshima é um raro relato em primeira mão de um dos maiores exemplos de autodestruição da humanidade e, como tal, simplesmente precisa ser lido não só por aqueles que se interessam pela Segunda Guerra Mundial, como também por qualquer um que quiser começar a compreender a magnitude  do que ocorreu a partir de uma visão “micro”. O Dr. Michihiko Hachiya, que viria a falecer somente em 1980, aos 77 anos, deixou como legado sua experiência no Inferno na Terra na esperança de que aprendamos com nossos erros. Oito décadas depois, tenho dúvidas se realmente aprendemos algo…

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1º – Xógum – A Gloriosa Saga do Japão

James Clavell | Reino Unido | 1975

Xógum – A Gloriosa Saga do Japão é uma obra valiosa por criar uma belíssima ponte entre Ocidente e Oriente, por ensinar história em meio a uma aventura épica ficcional com profundos alicerces em fatos e por introduzir personagens cativantes, mesmo quando são odiosos. É realmente um daqueles romances que, quando o leitor percebe, foi tragado completamente para um mundo do qual não quer mais sair, tanto que chega a ser irresistível colocar em lista de leituras futuras um sem-número de obras literárias vindas diretamente do Japão para complementar, expandir e até mesmo contradizer as “aulas” de James Clavell.

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