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Lista | Melhores Leituras em 2023: Quadrinhos – Luiz Santiago

Entre um bonequinho e outro.

por Luiz Santiago
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Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2023, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer algumas lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado. Clique nos links dos títulos para ler as críticas! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de QUADRINHOS em 2023! E caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, clique aqui!

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Embora eu ainda leia bastante quadrinho, é inegável que minha quantidade de volumes conferidos/ano diminuiu bastante. Talvez até mais que a metade, se eu pensar nos anos de colossal atividade quadrinística (segundo meu Goodreads — antes da minha migração para o Skoob — o período de 2000 a 2018). E dentre as HQs que ainda fazem parte do meu escopo de leitura anual, os quadrinhos de super-heróis praticamente desapareceram da lista, se eu for comparar com a quantidade anterior. Como já disse em outra ocasião, eu ainda acho que isso é uma ressaca de HQs de bonequinhos… mas é uma longa ressaca. Quem sabe 2024 não seja o ano em que “A Retomada” acontecerá? Quanto às leituras de 2023, posso dizer que continuei fiel à minha “mania bonelliana“, já que a maioria dos títulos que consumi no ano foram da famosa casa italiana — no que não me arrependo em nada, só para deixar claro. Todavia, também dei um passeio por outras editoras e nacionalidades, e quando fui montar a presente lista, até me surpreendi com a entrada de duas obras de personagens com superpoderes (embora esses sejam bem diferentes dos heróis/heroínas convencionais, convenhamos). Vamos à lista!

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10º – Gilles Hamesh, Detetive (Totalmente) Particular

França | Alejandro Jodorowsky | Durandur | 1995

Este é um quadrinho para chocar, é verdade, mas não gratuitamente. Há um propósito de reflexão no exagero, e este é muito bem demonstrado na oposição dramática da derradeira trama. Esta é uma HQ que herda muita coisa da visão de Sade e Bataille para o corpo e o caminho que se faz dele entre a frieza da morte e a quentura do prazer. Uma história sobre uma realidade fétida, desprezível, mas inquestionavelmente nossa.

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9º – Labirinto

Brasil | Thiago Souto | 2017

O encerramento de Labirinto é bem emocionante. Como a composição de Góreck flerta com a dos super-heróis, a jornada que ele empreende no final, para salvar o amigo, ajuda a costurar a tese do autor sobre a memória, e representa de maneira visual o impacto do mundo dos sonhos. A coleção de memórias, de bons e maus momentos, de marcos reais ou de cenas fantasiadas por cada um de nós encontra espaço na reflexão feita por Thiago Souto nessa saga, que tem uma das aplicações de cores mais bonitas que eu já vi em um quadrinho. Labirinto é a viagem pela mente, pelos sofrimentos, sentimentos e outras dificuldades de um garoto com vívida imaginação e vontade de viver. É o trabalho de um inconsciente refletindo-se na vida real. A interação espantosamente bem ilustrada entre mundos distintos.

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8º – Cassidy: Omnibus – Vol.1

Itália | Ruju | Di Vincenzo | Barletta | Furnò | Armitano | Gregorini | Borgioli | Cavenago | 2010

Cassidy é um quadrinho que você começa a ler e não quer mais parar. Um daqueles dramas protagonizados por personagens fora da lei em que você torce pelo criminoso e não sente nenhum tipo de culpa moral. E vejam que o autor e os desenhistas não floreiam nada. Apesar de não ser sádico, Cassidy sempre mata quando acredita que é necessário, e sempre está pronto para dar um novo golpe, sempre está pronto para tentar conseguir mais dinheiro. Ao lado dos parceiros Aaron “Ace” Gibson e Juan Cuervo, Raymond Cassidy tenta fazer coisas que, em sua concepção, são o “acerto de contas” que a Morte lhe indicou fazer. No meio do caminho, porém, ele deixa espalhada uma pilha de corpos e muito prejuízo em dinheiro para alguns magnatas do crime. É de arrepiar.

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7º – Adam Wild: Os Diários Secretos de Livingstone

Itália | Gianfranco Manfredi | Vladimir Krstić | 2014

Gianfranco Manfredi cria um pequeno arco interno nessas edições de Adam Wild, considerando o “Elo Perdido” como uma costura maior, introduzindo novos personagens e desafios cada vez mais mortais para o explorador escocês. Na primeira parte da história, intitulada Os Diários Secretos de Livingstone, temos uma interessante surpresa, misturada com uma pequena linha de humor que já tinha ficado evidente como um dos núcleos fixos da série, desde Os Escravos de Zanzibar. Como o protagonista do título também possui um caminho de luta similar ao do icônico missionário e explorador David Livingstone (1813 – 1873) — especialmente no que se refere à batalha aguerrida contra a escravidão, mas ainda melhor nas atitudes, pois não tem nenhuma intenção em converter populações nativas ao cristianismo — a edição ganha força extra, embora não seja Adam quem está seguindo os passos do famoso aventureiro.

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6º – Tex: O Soldado Comanche

Itália | Claudio Nizzi | Aldo Capitanio | 1995

Nos Estados Unidos, onde a presente trama se passa, pessoas negras, indígenas e asiáticos (mas não só! Dependendo do lugar e da época, o preconceito, a intolerância, o racismo e a xenofobia foram direcionados a judeus, irlandeses, comunistas, homossexuais, etc.) sentiram na pele o olhar julgador de pessoas que acreditam em falsas denúncias, apenas porque o denunciado é de uma cor ou de um grupo “socialmente propenso a cometer tal crime“. E quantas vezes a justiça oficial, a serviço do racismo e da segregação, não condenou indivíduos inocentes à prisão ou à morte? O Soldado Comanche nos faz refletir sobre as falsas acusações elencando um indígena cujo único problema foi a irresponsabilidade de fugir de um forte militar para casar-se com sua amada proibida. Por sorte, ele tinha dois homens justos, do lado da lei, para ir a fundo e encontrar os verdadeiros culpados pelo que aconteceu durante essa fuga.

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5º – Usagi Yojimbo: Círculos

Estados Unidos | Stan Sakai | 1990

Faz-se uma abordagem direta do passado de Usagi, expande-se e coloca-se em outro patamar a relação dele com o seu sensei, Katsuichi; e por fim, sua relação com Mariko. É nesse ponto que a reafirmação de Usagi como um andarilho coroa-se. Sua vila já não é mais um espaço para ele, não é o lugar onde deve se fixar para ter paz. Isso, se ele quiser o bem da amada — hoje casada com outra pessoa — e do filho, que ele só descobre aqui quem é. Vemos o fechamento de um ciclo para o personagem, de fato, abrindo as portas para uma nova fase de suas andanças, junto à promessa de que, eventualmente, voltará ao mesmo lugar de partida para reencontrar algumas pessoas de seu coração.

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4º – Miracleman: Sonho de Voar

Reino Unido | Alan Moore | Garry Leach | Alan Davis | 1982 – 1985

A revista Warrior, como qualquer antologia de quadrinhos, tinha um padrão de organização interna para garantir que as aventuras atingissem o número de páginas necessárias em cada edição, o que não limita tanto o texto, mas certamente tinha impacto um tanto negativo na arte — não a ponto de torná-la ruim, mas a ponto de amarrá-la na ordenação estética e no ritmo visual das ações, barreiras que não conseguiram anular a boa proposta dos artistas ou tornar Miracleman menos importante.

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3º – Promethea – Livro 2

Estados Unidos | Alan Moore | J.H. Williams III | 2000 – 2001

A base de reflexão é a evolução da existência, ou seja, da formação da sopa estelar que gerou a Grande Expansão, o Big Bang, até o renovo da sociedade contemporânea vindo com a revolução digital. É uma viagem imensa, poderosa e que encanta o leitor pelas inúmeras probabilidades analíticas sugeridas. Contudo, não é um texto fácil de se entender. A exigência aqui é que degustemos a poesia dos personagens e entendamos as camadas de significados atribuídos a essas coisas. Afinal de contas, nós estamos aprendendo também. Somos os discípulos da discípula. A terceira camada em uma linha de contato com a energia que transforma o mundo…

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2º – Na Mente de Sherlock Holmes – O Caso do Bilhete Escandaloso

França | Cyril Liéron | Benoit Dahan | 2019 – 2021

Na Mente de Sherlock Holmes nos apresenta uma forma diferente de ler HQs, tornando o andamento da trama instigante e constantemente interativo, fornecendo muito mais pistas para o leitor e dando detalhes através de imagens e pequenos títulos em livros e bilhetes. Uma viagem pela mente de um grande detetive da literatura que faz jus àquilo que promete entregar.

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1º – Warramunga 1856

Itália | Sergio Toppi | 1977

Warramunga 1856 canaliza as problemáticas políticas, sociais e econômicas trazidas para a região pelos colonizadores europeus e as fazem desaguar no lado pessoal, nos labirintos da alma. É como um aviso importante, mas propositalmente ignorado, tendo consequências desastrosas como resultado. Vemos nessa trama uma camada de justiça divina em meio à maldade de dois seres humanos. Acho muito interessante quando os aspectos realistas da nossa vivência são costurados de maneira orgânica ao lado oculto e inexplicável da existência. Nesta publicação de 1977, Sergio Toppi faz essa costura com a habilidade de um explorador de territórios, ideias e espíritos. O resultado não poderia ser outro além de uma obra-prima.

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