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Lista | Melhores Leituras em 2023: Livros – Fernando JG

Peso psicológico.

por Fernando JG
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Esta lista NÃO é apenas de leituras de obras lançadas em 2023, seja no Brasil, seja no exterior. Claro que podem aparecer obras lançadas neste ano, mas a proposta é apenas ranquear as melhores leituras ou releituras de janeiro a dezembro, independente de quando o volume em questão chegou ao mercado. Clique nos links dos títulos para ler as críticas! Já deixo também o convite para vocês compartilharem nos comentários as suas listinhas de 10 melhores leituras de livros em 2023! E caso queiram ver as nossas outras listas sobre o tema, clique aqui!

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Em 2023 eu li poucas coisas planejadas previamente. Se tinha vontade de conhecer algo ou reler alguma obra, então assim eu o fiz. Sem muitos planos, seleções prévias ou necessidade de leitura obrigatória, fui pegando da prateleira tudo aquilo que estava sentindo um genuíno desejo de ter em mãos por um mês ou mais. Pela primeira vez desde que pensei a minha primeira lista em 2020, livros de filosofia figuram nas melhores leituras do ano. 

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10º – Na Colônia Penal

Franz Kafka | Alemanha | 1919

Kafka é desde sempre um daqueles autores que te tiram de órbita, um daqueles que é impossível sair indiferente. Em a Colônia Penal, um condenado sem motivo aparente encontra-se preso a uma máquina de tortura. Um processo silencioso paira sobre o ar e a angústia de não saber nem a respeito de sua própria pena tampouco as razões do porquê está sendo julgado concebe um clima opressor à obra. In media res, a estrutura do conto é já um artifício central para o efeito do enredo. Kafka nos convida a acompanhar de braços atados o desenrolar burocrático de uma justiça injusta que imobiliza todos dentro e fora da estória. 

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9º – O Horla

Guy de Maupassant | França | 1887

Como é, exatamente, a narração de um pesadelo na literatura? Nesta novela de Guy de Maupassant, tida como a sua obra-prima, presenciamos de perto um homem que, numa livre associação entre a realidade e a fantasia, passa a ver e ouvir uma coisa a que chama de “Horla”. Invisível a olho nu, a coisa adquire feições diabólicas no imaginário do homem, que não sabe se está louco ou se de fato o Desconhecido está à sua volta. Uma novela que discute o duplo por excelência, o Horla é novela fundamental para refletir os limites da razão e da desrazão na constituição do sujeito literário moderno. 

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8º – Assassinato no Expresso Oriente

Agatha Christie | Reino Unido | 1934

“A conclusão de Assassinato no Expresso do Oriente é muitíssimo satisfatória em termos de entretenimento e engajamento do leitor, já que o público também é feito criminoso, colocando-se do lado dos passageiros do trem, dando a sua própria facada imaginária. A discussão, aqui, apesar de trazer à tona elementos morais e éticos de peso, também reaviva o nosso adormecido instinto de vingança, que é manipulado com precisão pela autora na conclusão cheia de significados deste romance policial. Não é à toa que a chamam de Rainha do Crime. Ela realmente fez por merecer.”

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7º – O Anticristo

Friedrich Nietzsche | Alemanha | 1895

Tenho muito a dizer sobre Der Antichrist. Não caberia em um parágrafo toda minha mera e pobre opinião pessoal a respeito de uma das obras mais polêmicas de Nietzsche. Polêmica não porque renega o cristianismo, mas porque rejeita ideias fundamentais que equilibram a sociedade pós 1945. Em resumo, o cristianismo deturpa toda a natureza humana e faz dos homens piores. Sendo assim, o filósofo volta-se contra a religião, contra o pathos cristão a que chama de Fé, e com isso ataca brutalmente valores como piedade e compaixão em nome de um ser humano que supere o próprio homem. O tal do “Übermensch” (super-homem) está acima da moral. A figura mais próxima desse ideal de homem encontra-se materializada ao longo do catastrófico século XX. Fundando uma “estética” nietzschiana, se é que eu posso falar em estética neste caso, o belo, para o filósofo, é a busca e o próprio Poder. Um dos melhores livros do meu ano, mas igualmente um dos mais repulsivos que já li. 

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6º – Diário de Um Retorno ao País Natal

Aimé Césaire | França | 1939

Poema revolucionário do poeta martinicano Aimé Césaire, o texto reflete sua negritude e a condição de seu povo num poema melancólico e político sobre seu retorno à sua vila natal. Através de uma poética épica, Césaire concentra na obra um dos temas mais importantes da sua literatura: o sentimento afro diaspórico. Poema aclamado pelos seus conterrâneos franceses, sobretudo por Breton, Diário de Um Retorno ao País Natal é um canto decolonial sobre as raízes de um sujeito dividido entre o lá e o cá, dilema tão conhecido desde os primeiros poemas do mundo, mas que aqui é ressignificado a partir do olhar pós colonial. 

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5º – Fausto I (releitura)

Johann Wolfgang von Goethe | Alemanha | 1808

“Fausto é um dos marcos literários mais profundos da história da humanidade. Compreender algumas camadas da obra é algo que requer paciência e dedicação. Para aqueles que conseguem, a recompensa é grandiosa, afinal, conhecer o universo do homem que “cedeu a alma ao demônio” em troca de magnitude intelectual é refletir sobre a própria condição do ser humano moderno. Escrita ao longo de 60 anos, veiculada na época em dois volumes, hoje integrados, Fausto expõe concepções históricas, políticas, sociais e filosóficas de Goethe, um alemão que pensava muito além do seu tempo, uma espécie de visionário.”

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4º – Luto e Melancolia (releitura)

Sigmund Freud | Alemanha | 1917

Talvez este seja o texto mais importante dos últimos dois anos para mim. Eu o reencontrei pela terceira vez este ano e pude ler com mais serenidade e razão. O ensaio freudiano investiga os conceitos de luto e melancolia, sobretudo suas diferenças. Freud persegue isso a que chama de “objeto de desejo” para decifrar o porquê do sofrimento humano quando a linha afetiva que conecta um sujeito ao outro é rompida. A ideia de reconstrução do Eu após a ruptura é a tarefa mais árdua da resolução freudiana. É remover a sombra que recai sobre o Ego. Ainda que seja um texto profundo, mas fácil de ser lido, ficamos apenas na camada superficial do problema, afinal, esta é, como muitas das obras de Freud, apenas mais uma das dezenas de ideias para que sejam melhor desenvolvidas posteriormente. Por tratar de sentimentos comuns a todos, considero Luto e Melancolia uma obra seminal a qualquer um. 

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3º – Me Chame Pelo Seu Nome

André Aciman | Estados Unidos | 2007

Literatura de formação escrita de uma maneira genial e absolutamente bonita. Um jovem rapaz se encanta por um estudante de doutorado que vem passar, a trabalho, as férias de verão na sua casa a convite de seu pai. Juntos, numa arcádia italiana, descobrem a paixão ao desenvolverem uma relação amorosa idílica durante algumas poucas semanas. A alegoria sobre a beleza é o ponto alto da obra. Há todo um delicado subtexto que visa colocar esses dois homens num contexto em que apenas o apolíneo e o hedônico importam: está aí a função da descrição tão acurada que faz por exemplo do pé de Oliver, como uma écfrase, uma descrição de uma obra de arte. Um excelente romance que nos deixa satisfeitos. 

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2º – Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime

Immanuel Kant | Alemanha | 1764

Nesta obra imaculada da estética moderna, Immanuel Kant complexifica e desmistifica ideias que Longino e Burke trataram anteriormente. O que é esse sentimento de temor e prazer que parece romper a alma quando estamos diante de uma grandeza inigualável da natureza? As anotações de Kant explicam, em parte, como funciona a faculdade do juízo diante de fenômenos capazes de provocar o sentimento do belo e do sublime, e noutra parte influenciam toda uma tradição literária romântica interessada, desde o início da Escola, no inefável e na transcendência do sujeito. 

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1º – Nadja

André Breton | França | 1928

Romance-colagem. Romance-cinema. Romance surrealista. O último instante da inteligência Europeia. Divertida, sensual, perigosa e romântica, a obra ultra moderna de Breton narra seu encontro aleatório com Nadja, mulher fatal, pelas ruas de Paris quando seus corpos se cruzam no meio da multidão. Escrito num estilo de livre associação, com bastante imagem ao longo das páginas, é uma espécie de biografia posta em forma literária. Entre diversos outros aspectos que a caracterizam como moderna, talvez este seja o seu principal triunfo. Despojado e leve, tudo no romance parece um delírio, até suas páginas finais. Ficamos sem saber se Nadja é real ou ficcional. De todo modo, pelo enorme prazer que me causou sua leitura, fica eleito como melhor livro do meu ano de 2023. 

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