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Lista | Mayans M.C. – 5ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Um final que não traiu a série.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • spoilers.

Mesmo tendo feito críticas para cada um de seus 50 episódios, acho que ainda teria muito a escrever sobre Mayans M.C., sólido spin-off de Sons of Anarchy que, milagrosamente, mesmo com a demissão de Kurt Sutter e a compra da Fox pela Disney lá por sua segunda temporada, foi renovada sucessivamente para mais três temporadas. No entanto, muito do que tenho a falar já foi mencionado ou por mim ou pelos meus fieis leitores que não hesitam em me presentear com ricos comentários semanais, pelo que decidi ser o mais objetivo possível.

Olhando de forma macro, para a série como um todo, Mayans sempre teve um grande problema, que foi a incapacidade tanto de Sutter quanto de Elgin James, que corajosamente continuou solitário no timão da obra, por diversas vezes inclusive dirigindo episódios, de desenvolver propriamente os personagens coadjuvantes da série derivada, especialmente os membros do clube de motocicleta que não são Ezequiel ou Angel Reyes. É perfeitamente compreensível que o foco permanecesse nos Reyes e, de certa forma, também na família Galindo, mas foi um pecado que a série, mesmo ao longo de suas cinco temporadas, não tenha conseguido enriquecer de verdade personagens como Bishop, Coco, Hank, Gilly e outros. Aliás, Elgin James, ao tentar corrigir esse problema, acabou criando mais problemas, pois introduziu novas linhas narrativas como as das vidas pessoais de Hank e Gilly, que, porém, acabaram não levando a lugar relevante algum.

Olhando para o micro, ou seja, especificamente para a derradeira temporada, seu maior problema foi, para mim, não ter conseguido trabalhar as diversas linhas narrativas criadas pelos quatro primeiros anos de maneira fluida e equilibrada ao longo de seus 10 episódios. A fragmentação narrativa era um problema sensível nas temporadas anteriores, mas era de se esperar que, com a oportunidade que James teve de conseguir uma terceira renovação para acabar sua série, ele tivesse se empenhado em levar a saga de EZ Reyes a um encerramento cadenciado. Infelizmente, porém, não foi isso que aconteceu e muito tempo foi empregado para lidar com narrativas paralelas que acabaram fazendo com que os finais mais importantes ficassem espremidos e corridos, como foi o caso da tão propalada guerra entre os Mayans e os Sons de San Bernardino liderados pelo insano do Isaac.

Mesmo assim, Elgin James perseverou e entregou uma temporada que, mesmo com seus diversos problemas – novos e herdados – em momento algum traiu a essência da série e do universo criado por Sutter. Tudo o que precisava acontecer acabou acontecendo e, por vezes, com requintes de crueldade, como foi o assassinato surpreendente de uma indefesa e grávida Sofía e, no final, a vitória absoluta de um maquiavélico Lincoln Potter. E, em meio a isso tudo, a temporada final ainda entregou excelentes e inesquecíveis momentos, como foram as mortes de Adelita, Felipe Reyes, Miguel Galindo e, claro, EZ Reyes, este último em quase um ritual satânico de expiação de pecados mortais.

E a temporada ainda conseguiu abrir espaço para sua verdadeira grande surpresa, que foi o trabalho dramático de Clayton Cardenas no papel de Angel Reyes. Não que o ator não tivesse mostrado categoria antes, mas, no derradeiro ano, ele basicamente tomou para si a responsabilidade de construir e desenvolver um arco de redenção para seu personagem conflitado e repleto de remorso que foi completamente fora da curva em relação a todos os demais na série, por vezes até mesmo mostrando-se mais nuançado do que Ray McKinnon e seu Potter que amamos odiar ao mesmo tempo em que odiamos amar. Cardenas foi, portanto, o tesouro da temporada, com James entregando ao ator textos ricos para convencer o espectador de seu drama e do valor de seu fim livre dessa vida bandida para dedicar-se ao pequeno Maverick que, ao que tudo indica, terá finalmente a chance de quebrar o perverso ciclo vicioso de sua família. Claro que o preço que Angel paga para conseguir escapar é altíssimo, mas isso só torna seu arco ainda mais valioso e inesquecível.

Terminarei meus comentários sobre a temporada por aqui, mas não sem antes fazer uma afirmação e responder uma pergunta.

A afirmação é que me peguei surpreso pela dificuldade que foi fazer o ranking abaixo. Mesmo que não tenha sido uma excelente temporada final, a grande verdade é que os episódios foram, todos eles, muito homogêneos em sua alta qualidade, cada um oferecendo aspectos que tornaram os encaixes muito difíceis. Essa é um daqueles Top 10 que, se eu revisar na semana que vem ou daqui a um mês, provavelmente quererei mudar alguma coisa (mas não o farei, podem deixar!).

Sobre a resposta, bem, primeiro a pergunta constante de alguns leitores: qual é a série melhor, SoA ou Mayans? Bem, quem acompanha minhas críticas sabe que eu sempre achei que SoA, assim como Breaking Bad, teve uma temporada a mais do que deveria ter tido e isso acabou detraindo do que poderia ter sido um experiência extraordinária (eu sou um daqueles que não acha SoA tão sensacional assim). Dito isso, se Better Call Saul aprendeu com a série-mãe, dobrou a aposta, e acabou sendo melhor do que ela, o mesmo não aconteceu, no final das contas, com Mayans M.C. que, ao falhar no desenvolvimento de personagens secundários e ao acelerar a transformação de EZ Reyes no monstro que se tornou, além de sofrer para criar a convergência necessária das linhas narrativas, acabou ficando aquém de Sons of Anarchy, ainda que também muito boa. Trocando em miúdos, em uma comparação direta – que não gosto de fazer, vale dizer – se SoA, para mim, mereceria, no conjunto, 4 HALs, Mayans ficaria com 3,5.

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!

10º Lugar:
I Hear the Train A-Comin

5X01

Impressionante que a derradeira temporada de Mayans M.C. tenha chegado às telinhas menos de um ano depois do tumultuado e apressado quarto ano que teve como principal ponto negativo o mergulho de EZ Reyes no lado sombrio que o fez, ao final, emergir como presidente de seu clube de um lado tentado estabelecer conexão com o cartel Lobos Nueva Generación comandado por Soledad, agora ao lado de um ressuscitado Miguel Galindo, e, de outro, em plena guerra com uma facção dos Sons of Anarchy comandada pelo vingativo, violento e completamente louco Isaac Packer. No entanto, mesmo com esse retorno veloz, Elgin James, que escreveu e dirigiu I Hear the Train A-Comin fez questão de abordar cada detalhe do novo status quo e, ainda, adicionar alguns outros elementos.

9º Lugar:
My Eyes Filled and Then Closed
on the Last of Childhood Tears

5X06

I Want Nothing but Death foi um excelente, violento, surpreendente e tenso episódio de metade de temporada, pelo que era esperado que My Eyes Filled and Then Closed on the Last of Childhood Tears – prometo que esta é a primeira e a última vez que cito esse título gigante aparentemente retirado de Cebolas Enterradas, romance de Gary Soto, cuja sinopse inegavelmente relaciona-se com a história do protagonista da série – fosse uma espécie de descanso, uma calmaria antes da tempestade que está claramente se formando no horizonte e que inundará boa parte dos quatro últimos episódios da saga. E, de fato, o que temos é essa parada, esse “intervalo”, por assim dizer, para o espectador respirar um pouco, com o roteiro aproveitando para trazer vislumbres positivos, ou quase, dos futuros de diversos personagens.

8º Lugar:
Her Black Crackle and Drag

5X08

Eu poderia dizer que houve foco excessivo no velório de Creeper, por exemplo, mas essa seria uma conclusão apressada de minha parte. Ainda que o momento solene que não vimos para Coco não seja exatamente um ponto de virada, ele é um instrumento potente para reunir os Mayans em torno de um colega querido, alimentando uma raiva comum contra o inimigo, ainda que não exatamente o inimigo certo. Isso é muito bem simbolizado pelo retorno de Taza, depois de tentar uma vida nômade, mas percebendo que agora precisa fazer parte da comunidade fechada que deixou. Mas, mais ainda do que esse propósito uniforme de vingar Creeper, a belíssima sequência que começa com um plongée dos Mayans retirando o caixão do rabecão é sujada, aos nossos olhos, pela forma como EZ é endeusado pela irmã do falecido e como ele próprio faz uso de um brevíssimo discurso em que confessa “holisticamente” o que fez objetiva e diretamente.

7º Lugar:
I Must Go In Now For the Fog is Rising

5X09

Não que já não haja mortes suficientes em Mayans M.C., mas, com a série chegando ao seu final, um grande sacrifício era inegavelmente necessário e ele não poderia ser outro que não o de Ignacio Cortina, mais conhecido como Felipe Reyes, patriarca da família Reyes vivido sensacionalmente por Edward James Olmos. Sempre quieto e com palavras sábias originadas de uma vida dura e repleta de violência e arrependimentos que o levaram ao longo caminho da redenção, Felipe morreu da maneira que tinha que morrer, servindo como o último bastião de defesa de seu neto Maverick, em um episódio que vem logo em seguida à sua despedida de seu “filho bastardo” Miguel Galindo.

6º Lugar:
To Fear of Death, I Eat the Stars

5X07

E essa morte é temperada brilhantemente pela ausência de Adelita na vida de Angel neste mesmo fatídico dia, com o Mayan acordando com seu filho gritando, com febre e depois de vomitar. O desnorteamento de Angel é outro excelente momento de Clayton Cardenas, seja ele pegando o filho no colo, seja achando o dinheiro debaixo do colchão do berço, seja tentando comprar remédio para Maverick, seja, depois, conversando quase que monossilabicamente com seu pai que parece perceber muito claramente o que provavelmente aconteceu. E a tragédia maior é que, diante das circunstâncias do fim de Adelita, é capaz de Angel jamais saber o que aconteceu com ela, algo que repete o que já ocorrera antes quando ela foi capturada pelo Departamento de Justiça dos EUA.

5º Lugar:
I See the Black Light

5X04

Para fazer isso, o roteiro de Meredith Danluck retorna à primeira temporada da série e foca no legado de Kevin “KJ” Jimenez, o agente do DEA que controlava EZ e que foi morto por Angel com um tiro na cabeça no potente Cuervo/Tz’ikb’uul, último episódio do ano inaugural. Já houve indicação disso no episódio anterior, graças à investigação que Katie vem fazendo para Creeper, e, ao conversar com a viúva de KJ e ter acesso às fitas dele, ela final e inequivocamente descobre sobre EZ. O que exatamente ela fará com a informação, ou seja, se a levará indiretamente ao clube ou se a utilizará como parte de algo mais oficial diante da agência para que trabalha ainda não está claro, mas é evidente que EZ encontra-se em uma sinuca de bico de que ele dificilmente sairá incólume (porque, se sair, a série dará um tiro no próprio pé).

4º Lugar:
Lord Help My Poor Soul

5X02

Ultrapassado o sempre mais difícil episódio de início de temporada, Lord Help My Poopr Soul é um capítulo mais focado e objetivo e, por isso mesmo, mais eficiente e poderoso que coloca famílias na linha de tiro, começando por mais uma sequência capitaneada por Isaac e sua maneira teatral e extremamente violenta de agir que resulta no isolamento maior dos Mayans com a saída do grupo de Inland Empire da guerra e encerrando com Angel e Maverick sendo tensamente ameaçados por Cole e seu comparsa e que leva o irmão de EZ a entrar e desespero e a pedir – não, exigir! – o fim da investigação sobre o canal de tráfico de drogas, na prática também o fim da guerra. É, em essência, um assunto só sendo abordado por diversas frentes.

3º Lugar:
Do You Hear the Rain?

5X03

Apesar de Do You Hear the Rain? ser um daqueles episódios mais fragmentados que tentam abraçar todos os núcleos, a direção do estreante nessa função Danny Pino – ninguém menos do que o próprio Miguel Galindo – lida bem com isso e cria uma narrativa fluida que flerta com o desastre, especialmente quando o fruto do plano de EZ leva a um acordo impossível de ser cumprido com Cole, ao mesmo tempo em que cria caminhos de esperança para Obispo e Angel, caminhos esses que parecem ser apenas engodos narrativos – no melhor sentido da expressão – para tornar a sanguinolência que provavelmente está por vir ainda mais relevante. Até mesmo o sucesso da “missão” de Letty e Hope, com a conexão cada vez mais próxima e alegre entre as duas, parece ser um prelúdio para uma escalada da violência tendo o cartel e Isaac como pivôs.

2º Lugar:
Slow to Bleed Fair Son

5X10

Como tive a oportunidade de afirmar algumas vezes em críticas anteriores, Elgin James vinha deixando muita coisa para ser resolvida nos episódios finais da derradeira temporada de Mayans M.C., mas que era necessário, por uma questão de justiça, esperar Slow to Bleed Fair Son para, em retrospecto, bater o martelo sobre o aparente problema que o showrunner parecia estar criando para si próprio. E, para já resumir a ópera, o capítulo final da saga de EZ Reyes de prospect a presidente do clube de motocicletas de Santo Padre faz o que pode para correr atrás do prejuízo e entrega grandes e inesquecíveis momentos que têm sua qualidade relativizada por uma consideravelmente irritante convergência narrativa – que nem é tão convergente assim, se quisermos ser sinceros – que depende sobremaneira de conveniências de roteiro para funcionar em termos dramáticos. O saldo é positivo como minha avaliação deixa clara, mas tenho para mim que a série teria se beneficiado tremendamente de um equilíbrio maior ao longo da temporada que não encurralasse suas linhas narrativas em alguns poucos minutos, levando a um final mais fluido.

1º Lugar:
I Want Nothing But Death

5X05

Retornando à direção, o que obviamente prenuncia a importância do episódio, Elgin James entrega um poderoso capítulo que marca a metade da temporada final de Mayans M.C. focado quase que completamente em Ezequiel “EZ” Reyes e sua continuada jornada ao inferno e às sombras. Pouco importa o que na prática acontecerá com o protagonista, se morrerá, se ficará isolado, se será preso ou se viverá com Emily em uma casinha de campo com uma cerca branca, pois EZ, a cada dia que passa, endurece mais seu coração e se afasta da grande promessa que um dia ele foi para sua família. Seus pecados são tantos que seu mundo encolheu e a verdadeira felicidade (aquela utopia que todo mundo cisma em perseguir) ou mesmo algo próximo ou que lembre de relance algo que possa ser talvez chamado de felicidade é impossível para ele.

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