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Lista | Mayans M.C. – 4ª Temporada: Os Episódios Ranqueados

Um quarto ano trágico.

por Ritter Fan
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Avaliação da temporada:
(não é uma média)

  • spoilers.

Talvez o melhor adjetivo para qualificar a quarta temporada de Mayans M.C. seja “estranha”. Sim, foi um ano um tantinho quanto estranho para EZ e companhia, com Elgin James tomando atalhos para fazer seu protagonista descambar e vez para o Lado Sombrio, tornando-se presidente do clube com ideias mais do que ambiciosas – e violentas – para seu futuro, dando rasteiras em Marcus Álvarez, Bishop e colocando o próprio irmão em seu lugar depois de uma nada discreta ameaça.

No entanto, EZ não foi o único alvo das decisões estranhas do showrunner. O reaparecimento de Miguel Galindo como essencialmente um mendigo trabalhando em um convento no México foi estranho. A ressuscitação de Isaac, desta vez como um Sons of Anarchy vingativo, foi estranha. A morte de Manny – sim, eu sei que o ator tinha que sair da série, mas mesmo assim… – foi estranha. O fato de EZ e Felipe sequer aparentemente saberem que Adelita retorno com seu filho com Angel é estranho. E, claro, deixar uma série dessas com tantas portas mais do que escancaradas para um futuro incerto considerando o que ela é e que conglomerado de entretenimento agora a controla foi… não, estranho não, mas… assustador…

Por outro lado, estranhamente, a mesma ascensão meteórica de EZ – ou queda – levou a excelentes e cinematográficos momentos como a reunião no Templo em que ele finalmente toma o poder, anunciando basicamente guerra, dinheiro e poder, não exatamente nessa ordem. O brutal assassinato de Coco e, mais ainda, toda a forma como a morte foi conduzida até literalmente o último episódio da temporada, deixaram claro que a série sabe lidar de maneira rara com tragédias desse naipe, dando tempo ao tempo e fazendo com que a onda de choque afete todos ao redor. Adelita violentamente resgatando seu filho foi uma sequência inesquecível, com o drama dela com Angel “brincando de casinha” em seguida, casinha essa feita de palha e facilmente derrubável pelo sinistro Potter em uma ponta assustadora, ajudando o irmão de EZ a se recuperar de seu outro drama filial, desta vez com Nails, foi muito bem conduzido. E, finalmente, toda a “maldição dos Reyes”, culminando com Felipe finalmente contando que Miguel é seu filho, ecoou bem na estrutura da série.

Em outras palavras, em diversas estranhezas, houve diversos acertos o que resultou em uma temporada particularmente desequilibrada, mas não sem força ou drama. Espero que a renovação venha e que o próximo ano seja usado para finalmente fechar todas as portas dessa jornada autodestrutiva de EZ.

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Como fazemos em toda série que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!

10º Lugar:
A Crow Flew By

4X04

A revelação do paradeiro de Miguel Galindo, talvez o ponto focal do episódio, também me causou espécie porque eu não consegui comprar esse desenvolvimento sequer por um segundo. Quer dizer, então, que o milionário e todo-poderoso chefão do Cartel Galindo fugiu para um convento de freiras cuja Madre Superiora é sua tia e que ele, agora, faz trabalho braçal para compensar sua estadia (e a de seu filho mais velho) e, talvez, pagar seus pecados? Ele não tinha dinheiro guardado em algum lugar secreto e um plano de fuga minimamente decente? Ele precisar virar basicamente um boia fria barbudo chega a ser engraçado de tão improvável. E não ajuda em nada que o pessoal mal-encarado do LNG tem certeza de que ele está escondido ali, mas não tem coragem de encarar uma freira durona e arrastar seu inimigo mortal para fora.

9º Lugar:
Dialogue with the Mirror

4X07

Dialogue with the Mirror, por seu turno, é quase que exatamente o oposto. O roteiro de Debra Moore Muñoz e Richard Cabral é muito ágil e repleto de acontecimentos e surpresas, começando pelo atentado à Miguel Galindo no meio da estrada e terminando com o retorno de Adelita e seu filho para Angel, com os dois eventos das pontas sendo recheados pelo que parece ser o momento mais sombrio da vida de EZ, em que ele mata Gabriela a sangue frio e sem pestanejar para salvar seu irmão. Mas essa agilidade toda cobra um preço e esse preço é a banalização da violência que vem à reboque de um EZ razoavelmente descaracterizado, que, mesmo nos lembrando de sua graduação em faculdade de elite dos EUA, parece agir no calor do momento, sem pensar e sem planejar.

8º Lugar:
The Righteous Wrath of an Honorable Man

4X08

A transformação de EZ foi muito bem conduzida por Pino, que conseguiu extrair de J.D. Pardo uma gama de profundos sentimentos conflitantes que ressonaram como genuínos e naturais. Esse EZ não é mais alguém que pelo menos tenta seguir o caminho mais honrado. Agora, ele fará, sem titubear, o que for necessário ao seu clube, o que provavelmente significa, para ele, defender não só sua família de sangue, mas também a ele próprio, com a decisão de liquidar Canche de maneira a colocar essa morte na conta do Sons sendo tomada com esse espírito, ainda que, ironicamente, talvez seja isso que ponha tudo a perder mais para a frente.

7º Lugar:
Self-Portrait in a Blue Bathroom

4X03

Acho perfeitamente aplicável afirmar que o roteiro de Gerald Cuesta usa uma variação do artifício do emolduramento narrativo para contar as diversas pequenas histórias que precisa contar, deixando o caldo mais suculento para o começo, com Bishop semeando discórdia entre Santo Padre e Yuma e perdendo seu cargo de vice-presidente que é, ato contínuo, entregue a EZ em uma ascensão talvez meteórica demais do personagem dentro da hierarquia do clube e para o final, em que a missão de EZ, seu novo amigo Manny, do grupo de Yuma, e seu irmão Angel dá retumbantemente errada. Entre esses dois inegavelmente importantes eventos, o que Cuesta faz é nos oferecer visões de soslaio de todo mundo que ficou essencialmente ausente dos dois primeiros episódios e também alguns dos membros dos Mayans de Santo Padre, tumultuando um pouco o capítulo.

6º Lugar:
When the Breakdown Hit at Midnight

4X10

Sejamos justos com Elgin James. No alongado episódio de encerramento da quarta temporada de Mayans M.C., ele foi capaz de fechar algumas importantes linhas narrativas. A mais importante, claro, foi a que fez EZ chegar ao posto mais alto dos Mayans, primeiro livrando-se violentamente da ponta solta que era Jay Jay, depois destronando Marcus Álvarez com a cláusula killswitch que foi abordada lá atrás como uma bem cultivada Arma de Tchekhov e, finalmente, traindo Bishop ao atraí-lo para o seu lado sob a falsa promessa indireta de colocá-lo como presidente, somente para elevá-lo ao cargo de segundo em comando. Depois, tivemos finalmente a revelação, diretamente da boca de um derrotado e profundamente melancólico Felipe que ele é o pai de Miguel Galindo, o que faz de EZ e Angel seus meio-irmãos. Falando em Miguel, temos seu efetivo retorno “à vida”, com a recuperação de seu filho e a fatídica ligação para Emily, exigindo que ela volte. Finalmente, mas não menos importante, tivemos Creeper entregando-se à polícia e assumindo a culpa exclusiva por tudo que seus irmão fizeram e o enterro de Coco que leva Letty a jogar a culpa do ocorrido nos ombros dos Mayans e, ato contínuo, depois de aceitar de volta o carro verde-limão (ou chartreuse, se você for besta), resgata Hope da beira de seu retorno ao vício, mostrando que ela tem toda a intenção de endireitar sua vida agora que perdeu tudo.

5º Lugar:
The Calling of Saint Matthew

4X09

Eu não sabia o que queria ver, mas, quando o roteiro de Gerald Cuesta e Sara Price transformaram a nova proposta de conexão do clube com o cartel em uma maneira de criar uma divisão interna ainda maior, percebi que era justamente isso que a temporada precisava. Enquanto antes a cisma interna tinha em Álvarez uma figura apaziguadora, agora o líder e fundador, ao que tudo indica, está completamente isolado, com EZ, seu protegido, sendo seu maior opositor. Creio que estamos próximos de uma moção radical pelo novo vice-presidente do clube, tentando afastar Álvarez da presidência e tomar a chefia do grupo, de forma a reestabelecer a conexão. Se isso acontecer, mesmo que o resultado prático seja o retorno de Santo Padre ao jugo do cartel, creio que terá valido a pena. Vamos esperar.

4º Lugar:
Hymn Among the Ruins

4X02

Quando o “quatro meses depois” apareceu na tela ao começo de Hymn Among Ruins, minha primeira reação foi de frustração, especialmente depois de um episódio inicial tão interessante justamente por lidar com a guerra civil entre os Mayans de frente e em minúcias. Uma elipse temporal me pareceu preguiçosa em uma análise imediata, com base unicamente na indicação de passagem de tempo. Mas eu subestimei Elgin James, claro, que retorna à direção, desta vez com roteiro de Debra Moore Muñoz e entrega um episódio que tem gostinho de soft reboot, mas não um marretado na narrativa e sim algo que decorre dela naturalmente.

3º Lugar:
Death of the Virgin

4X05

Mas nossa, Elgin James estava particularmente macabro quando bolou esse episódio, que mais parece um buffet de demonstrações variadas de amor seguidas de tragédias, começando pela fusão dos dois conceitos com Adelita assassinando os pais adotivos de seu filho – a mãe ninguém menos do que a agente federal Anna Linares – e terminando com os Sons of Anarchy, em um ataque covarde aos Mayans, metralhando a comemoração do Dia dos Mortos em Oakland e chacinando Coco que acabara de ter uma terna (e brega, mas fofamente brega) ligação com Hope, o que certamente destruirá todas as esperanças (com trocadilho) de ela permanecer longe das drogas. Entre uma coisa e outra, o garoto Tomás é assassinado pelo Cartel Sonora para que seu pai Martín fosse capturado, levando Miguel a finalmente procurar sua tia para se confessar, vemos um pai pedir ao filho que o mate na ponta da faca, algo que Gilly impede no último segundo e, claro, somos brindados com a trágica história da morte da filha de Sofia, contada enquanto EZ segura o cachorro para que acompanhemos lenta e torturantemente sua eutanásia.

2º Lugar:
Cleansing of the Temple

4X01

E o showrunner tinha três escolhas em Cleansing of the Temple. A que reputo mais fácil seria iniciar o episódio com uma elipse de forma a “pular” a guerra e começar lidando com suas consequências, talvez com um flashback aqui e ali para composição e contextualização. A segunda em dificuldade seria fazer o “meio a meio” e trabalhar tanto a guerra quanto suas consequências diretas. A terceira, que achava improvável pela dificuldade em todos os quesitos, acabou sendo a escolhida por James, ou seja, mostrar detalhes da noite incessante de batalhas do pessoal de Santo Padre contra o pessoal de Yuma e de outras localidades. Foi, portanto, uma grata surpresa, com uma direção caótica, mas por isso mesmo excelente do próprio showrunner.

1º Lugar:
When I Die, I Want Your Hands On My Eyes

4X06

E não é que as mortes não sejam artifícios narrativos, pois elas obviamente são, mas o importante é que elas não sejam banalizadas. Coco, que sequer vemos novamente, em uma escolha muito boa do roteiro de Elba Román-Morales, tem sua morte ecoada em todos os personagens, cada um lidando de seu jeito com a situação e deixando a pergunta no ar sobre o que fazer agora. A mera tentativa de Álvarez de tratar o assunto da maneira menos gravosa, fazendo de tudo para evitar uma guerra contra os Sons of Anarchy, gera uma excelente discussão. Afinal, será que a resposta para a violência é mesmo mais violência? E é particularmente importante que a oposição à sua aparente calma venha principalmente de EZ, que sempre agiu com inteligência, mas que sugere uma retaliação de monta, uma que pode ou dar muito certo ou muito errado, sem meio termo.

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