Avaliação da temporada:
(não é uma média)
- Há spoilers.
A segunda temporada de Loki, que causou frenesi por causa de seus três últimos minutos – os únicos realmente excelentes dela -, esvaziou a série de suas mais fascinantes características: um espaço maior para Tom Hiddleston brilhar, a interação dele tanto com Sophia Di Martino quanto com Owen Wilson e uma narrativa que efetivamente desenvolvia seus personagens principais e trocou por uma narrativa que não sai de seu lugar, introduz novos personagens que mal são utilizados de verdade e derrama palavreado pseudo-científico e pseudo-filosófico para preencher seu enorme vazio criativo. É como um pneu girando em falso na lama que, a cada tentativa, aumenta a profundidade do buraco em que está.
Infelizmente, a alteração de status quo de Loki de Deus da Trapaça para Deus do Multiverso em um sacrifício que tem menos significado e menos peso dramático do que o sacrifício do Loki Prime perante Thanos, apesar de muito bem feito e muito bem bolado com Yggdrasil formando-se a partir dele sentado no trono do Final do Tempo e segurando as linhas temporais, é o pirulito que o dentista entrega depois de fazer as obturações todas na criança, ou seja, pouco demais, tarde demais. Claro que o último episódio e também o penúltimo, finalmente abrem espaço para Hiddleston, mas, novamente, o ator não tem muito material para trabalhar, mas mesmo assim faz seu melhor, sabendo que suas ricas interações com Di Martino, cuja Sylvie foi rebaixada a Grilo Falante histérico e Wilson, que se tornou figurante, foram para o beleléu.
E olha que estou falando de uma temporada curta, hein? Apenas seis episódios de duração padrão – alguns nem isso – que, mesmo assim, não conseguiram desenvolver seu protagonista para muito além do que ele já era no fim da temporada inaugural que, aliás, teria se beneficiado imensamente de um ou dois episódios a mais para chegar no ponto em que a segunda temporada chega enrolando de todo jeito possível e, ainda por cima, mantendo a ação no quartel-general da AVT TVA, que era uma novidade antes, mas, agora, é apenas economia de orçamento, com a adição de Ke Huy Quan no elenco que, por mais simpático que ele possa ser, termina de provar que é um ator de uma nota só.
O grande momento final do segundo ano de Loki, sozinho, é nota 10 e merece todos os aplausos, mas ele não chega sequer próximo de consertar o marasmo que foi a temporada, com sua inexplicável erosão de tudo aquilo que fez a diferença no primeiro ano. Como disse ao final da última crítica, o mínimo que eu espero, agora, é que esse novo Deus do Multiverso não seja desfeito com seu uso banal, seja como vilão ou herói, em uma nova temporada ou em diversos filmes. Se ele tiver que aparecer novamente, que seja triunfalmente como uma “entidade quase mítica de bastidor” em algum longa que feche com pompa e circunstância um grande arco narrativo como, em tese, seria Guerras Secretas.
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Como fazemos em toda série ou minissérie que analisamos semanalmente, preparamos nosso tradicional ranking dos episódios para podermos debater com vocês. Qual foi seu preferido? E o que menos gostou? Mandem suas listas e comentários!
6º Lugar:
Breaking Brad
2X02
Mas o problema é que, depois que o título aparece, o episódio volta ao normal da segunda temporada, ainda que O.B., ainda bem, tenha uma participação reduzida, mesmo que seja para abrir espaço para uma pouco inspirada sessão de “bom agente temporal/mau agente temporal” para fazer o tal personagem que conhecemos agora e, portanto, não temos nenhuma conexão e empatia, revelar o paradeiro de Sylvie. A palavra-chave é “enrolação” e, para isso, ganhamos mais diálogos intermináveis seja na sala de tortura, seja no refeitório de tortas. Mais uma vez, o roteiro de Eric Martin parece refestelar-se em pseudo-espertezas – como subverter as expectativas e fazer Mobius, não Loki, perder as estribeiras com Brad – que, se espremermos, não sai absolutamente nada que não seja a óbvia tentativa de fazer o episódio chegar ao seu tempo regulamentar.
5º Lugar:
Ouroboros
2X01
O episódio inaugural do novo ano das desventuras de Loki Laufeyson pelo tempo e espaço é, em poucas palavras, uma interminável verborragia supostamente esperta que destila mais regras, desta vez sobre o funcionamento da AVT e sobre como evitar que o protagonista continue “derrapando pelo tempo” como o vemos fazer ao longo da minutagem. Quando Ke Huy Quan é introduzido como Ouroboros, ou O.B., basicamente o mesmo personagem que ele vive no tão festejado e oscarizado filme sobre multiverso que ele co-protagonizou e começa a despejar linhas de diálogo como se estivesse tentando emular um locutor de corrida de cavalos, minha paciência foi para o brejo. E não ajudou em nada que a ótima conexão entre Loki e Moebius perca espaço nesse processo, com um frenesi caótico – no sentido ruim – na AVT sendo usado como um pano de fundo vazio de significados maiores para além do óbvio ululante.
4º Lugar:
Heart of the TVA
2X04
Renslayer, por seu turno, retorna amarga, destrutiva e violenta depois de descobrir que ela capitaneou a Guerra Multiversal e entregou a vitória à Aquele que Permanece, somente para seu mestre apagar sua memória e fazê-la trabalhar para ele para todo o sempre. Esse foi o resultado do misterioso cliffhanger do episódio anterior e algo que me pareceu grande demais, importante demais para ser apenas o foco de algumas linhas de diálogos e de um VT dela e Aquele que Permanece conversando no Fim do Tempo. Não, eu não esperava um flashback atochado de computação gráfica mostrando Renslayer liderando um exército de variantes de Kang contra outro exército de mais variantes de Kang, mas eu esperava sim algo que ressonasse mais, que fosse trabalhado de maneira mais protraída no tempo, sem transformar Renslayer na “mulher traída que sai para se vingar do marido”, pois é isso que ela acaba fazendo ao eliminar Dox e seus seguidores e ao sequestrar Victor por alguns minutos. Foi pouco demais para duas personagens muito interessantes que acabaram eliminadas da corrida cedo demais e fácil demais (adorei o momento HAL 9000 da Senhorita Minutos, vale dizer), ainda que elas provavelmente retornem nos dois episódios para algo mais digno.
3º Lugar:
1893
2X03
Para começo de conversa, o mero fato de que 1893 quase não se passar no quartel-general da AVT já é uma lufada de ar fresco. Eu não aguentava mais aquela repartição pública que, se foi algo interessantíssimo e original na primeira temporada, na segunda estava parecendo mais uma medida de economia da produção que se recusava a sair dali. Ambientar o episódio em dois momentos do século retrasado em Chicago, primeiro em 1868, com a Senhorita Minutos instruindo Ravonna Renslayer a jogar um manual de instruções da AVT pela janela de um jovem Victor Timely e, depois, no ano do título, com as duas tentando arregimentar o personagem para sua causa, com Loki e Mobius ao seu encalço, é uma daquelas escolhas que plenamente demonstram onde o orçamento da série foi empregado.
2º Lugar:
Science/Fiction
2X05
A abordagem é na linha de filosofia de botequim, sei muito bem, com Loki finalmente compreendendo que suas ações fundamentalmente egoístas é que o impede de ter uma vida completa, que sua propensão a se agarrar ao passado é o que o impede de seguir para frente ou, no caso em particular, viajar no tempo ao bel prazer, algo que apenas temos que aceitar como uma metáfora e deixar quieto. Sim, é um episódio em que um Loki desgarrado no tempo e no espaço precisa reunir seus amigos da AVT de universos diferentes, com apenas Sylvie reconhecendo-o e finalmente trazendo-o para a realidade nua e crua, para, no final, deixá-los a ver navios e retornar para o ponto anterior ao blecaute multiversal, mas é somente ao cumprir essa missão, somente quando tudo está perdido que ele finalmente aprende sua lição e passa a ser seu próprio mestre. Como disse, é filosofia de botequim ou um ou dois capítulos daquele livrinho chinfrim com um título parecido com “Cinco Lições para Compreender-se e Libertar-se” ali na na prateleira de autoajuda da livraria da esquina, mas essa premissa permite que Hiddleston literalmente tenha seu tempo para ser o Loki verdadeiramente protagoninsta e não um mero coadjuvante em sua própria série.
1º Lugar:
Glorious Purpose
2X06
Dito isso, Glorious Purpose versão 2.0 é, inegavelmente, o melhor episódio da temporada. Se ele fosse o nono e último episódio da temporada anterior – e bastariam pouquíssimas mudanças para que o mesmo resultado pudesse ser alcançado -, ela seria melhor do que foi. Como o último episódio da enrolação danada que foi a segunda temporada, ele também funciona, mas ele basicamente torna inútil os cinco capítulos anteriores. Sei perfeitamente que muitos argumentarão que se ele não passasse a ter o poder de viajar no tempo, se não aprendesse a controlá-lo, necessitando, para isso, conhecer O.B. e Victor Timely, ele não chegaria ao ponto em que chegou, mas meu contraponto é que tudo o que os cinco primeiros episódios da temporada fizeram foi tornar seu caminho mais longo sem um propósito maior para isso.