Nota da temporada
(não é uma média)
Em sua segunda temporada, Krypton continua seu caminho bom, mas infelizmente não ótimo, na abordagem das aventuras de Seg-El, o avô do Superman. Assim como na primeira temporada, os visuais seguem firmes e fortes, assim como os efeitos práticos e o CGI que, apesar de usados economicamente, deslumbram constantemente. Mas a série capitaneada por Cameron Welsh não consegue decolar de verdade, sempre mostrando potencial, por vezes até chegando próximo da excelência, somente para esborrachar-se logo em seguida graças a roteiros oscilantes, que pecam por artifícios convenientes demais que acabam fazendo ruir a credibilidade de todo o trabalho.
Na segunda temporada, Welsh demonstra até mais ambição que na primeira, trazendo Lobo como personagem “convidado” em uma ótima interpretação de Emmett J. Scanlan. O Maioral, que recebeu promessa de série spin-off, mas que foi cancelada sem nem ser produzida, foi um achado e fez com que o começo da temporada fosse diferenciado e muito divertido. Mas, depois, toda a trama dos rebeldes em Wegthor e, principalmente, a frustrante morte por dois minutos de Lyta-Zod fez com que todo o miolo fosse apenas morno. Claro que o uso efetivo e extremamente violento de Apocalypse em Blood Moon, depois que sua dolorosa origem foi contada em Zods and Monsters, a temporada levantou-se novamente, somente para cair no episódio final.
O resultado dessa gangorra foi uma temporada passável que, apesar de ser cheia de novidades, foi ligeiramente inferior à primeira. Mas o potencial continua lá, ainda que ele nunca vá ser realizado em razão do cancelamento da série pela SYFY em notícia que saiu no final do dia 16 de agosto de 2019. Uma pena.
Como de praxe ao final de cada temporada de série que acompanhamos por episódio, fizemos o ranking de episódios, do pior para o melhor. Concorda, discorda, muito pelo contrário? Então mande seus comentários e vamos conversar!
10º Lugar: Mercy
2X08
Mas havia soluções melhores. Uma Lyta de outra linha temporal, por exemplo, seria supimpa, algo que estaria muito mais dentro da proposta da série do que a dobradinha clone com Clemência Negra. Falando no parasita alienígena que Alan Moore criou para sua excelente história Para o Homem Que Tem Tudo, o bicho parece ser um artifício narrativo das séries da DC. Foi usada aqui e também em Supergirl não muito tempo atrás. O problema é que, em Mercy, esse uso não teve função narrativa maior do que permitir uma mudança de ares em termos de figurinos e cenários (que me lembraram os terríveis planos abertos de Naboo, em A Ameaça Fantasma), além de fazer o episódio chegar à duração padrão. A vida alternativa de Lyta foi inócua, óbvia e, pior, interminável, com a insistência de voltar a ela mesmo depois de ela acordar e já estar agindo como se nada de mais tivesse acontecido ao lao de sua mãe e Dev-Em.
9º Lugar: The Alpha and the Omega
2X10
Confesso que chegou ao ponto de eu torcer por Dru-Zod tamanha foi minha descrença diante de uma história tão mal costurada quanto essa. É como se eu estivesse lendo quadrinhos da Era de Ouro da DC Comics em que ameaças de escala cósmica eram resolvidas em algo com meia página, no máximo uma página inteira, com um plano escalafobético e hilário que, obviamente, não tem lugar em uma série moderna que parece querer levar-se a sério e, pior, tem tudo – absolutamente tudo – para conseguir alcançar esse objetivo.
8º Lugar: Will To Power
2X03
Mais do que isso, ficamos sem Lobo por 29 minutos seguidos! E o resultado disso foi mais interações cômicas entre Seg-El e Adam Strange que, como já disse algumas vezes, não conseguem se acertar no timing, com as piadinhas parecendo artificiais e deslocadas, mesmo que, isoladamente, pudessem em tese funcionar. É como ver dois comediantes amadores estreando no palco daquele jeito meio envergonhado, meio exagerado, sem conseguir encontrar um meio termo razoável para o que o roteiro pedia. Pelo menos as sequências de embate mental entre Seg e Brainiac funcionaram bem, abrindo espaço até mesmo para que Cameron Cuffe – vejam só! – conseguisse alguns breves momentos efetivamente fazendo jus à profissão, ainda que eu descofie que essa minha boa vontade momentânea com o ator seja decorrente do ótimo trabalho de Blake Ritson debaixo da maquiagem pesada e armadura luminosa do vilão verde.
7º Lugar: Danger Close
2X04
A trama de Seg em Kandor é que merece mais destaque, já que ela é brindada com um sonho-flashback para quando ele e Lyta se conheceram, o que traz um pouco mais de relevo e intimidade aos dois, algo que é utilizado de forma um pouco tacanha e fácil demais no reencontro dos dois, com direito a lençol de seda de motel e trocas de juras de amor. Quando, porém, Zod chega e Seg finalmente acorda para a realidade e percebe que ele não pode confiar em Lyta, a coisa começa a andar em um ritmo mais interessante, algo que é amplificado pela confirmação de que Brainiac ainda continua dentro de Seg, o que pode significar que Lobo não deve estar muito longe de “Crap Town”. É uma pena, porém, que a revelação de que Lyta passou por lavagem cerebral – era óbvio, não é mesmo? – venha tão rapidamente, pois isso poderia continuar sendo desenvolvido como um ponto importante de conflito entre ela e Seg ao longo de mais alguns capítulos. Agora que tudo foi revelado, a divisão de lados volta ao status quo do final da temporada anterior e caberá ao showrunner manter em alta a atenção do espectador, algo com que não só a volta de Lobo possa contribuir, mas também a chegada efetiva de Apocalypse, visto muito brevemente no prólogo de Ghosts in the Fire.
6º Lugar: A Better Yesterday
2X05
De toda forma, o roteiro de David Kob soube equilibrar bem as ações em cada ambiente, trazendo coesão narrativa e uma direção única para as várias linhas narrativas, todas elas gravitando ao redor da tirania do General Zod e seu programa de recondicionamento somático. Seg, graças a Brainiac, não sofreu lavagem cerebral e conseguiu chegar até seu futuro filho de maneira irritantemente fácil, algo que tem sido um padrão cansativo da série. O combate verbal e físico entre os dois, porém, deixo a desejar, pouco avançando a história geral e girando em torno de pequenos momentos de vitória de um e de outro que se revezaram de maneira previsível demais. O único momento realmente bom foi quando Brainiac novamente aparece de corpo inteiro, “conversando” com Seg, ainda que eu não entenda muito bem a razão do vilão revelar que está fraco e que precisa do avô do Superman muito mais do que ele gostaria. De toda forma, quando Brainiac transforma Seg em uma máquina de matar, para a total surpresa de Jayna e Dev, que chegam para eliminar Zod, temos alguns bons momentos de ação que, se não chegam a compensar o que veio antes, pelo menos divertiu.
5º Lugar: Zods and Monsters
2X07
Se fizermos força para aceitar a imensa – bota imensa nisso! – facilidade com que Zod captura Apocalypse, o roteiro nos leva, por intermédio do condicionamento cerebral do vilão, para mil ciclos atrás, quando antepassados da casa El e Zod (Wedna-El e Van-Zod – Toni O’Rourke e Dempsey Bovell, respectivamente), juntos, fazem o voluntário Dax-Baron (Staz Nair) passar por torturas inimagináveis que acabam transformando-o em Apocalypse. Esses flashbacks, apesar de previsíveis, são muito interessante por nos dar uma visão da antiguidade de Krypton e de como especialmente a casa El é capaz do que for necessário, doa a quem doer, para fazer o que considera certo. Além disso, apesar da origem do monstro que um dia mataria o Azulão ser diferente nos quadrinhos, percebe-se que o roteiro de Joel Anderson Thompson bebeu dessa fonte, alterando-a para a concisão narrativa e orçamento necessários, mas sem deixar a essência escorrer por entre suas palavras.
4º Lugar: In Zod We Trust
2X06
E, melhor ainda, apesar de iniciar a história com um discurso moralista de Val-El condenando o ato de Jax, a primeira atitude que o veterano cientista toma desde que voltou da Zona Fantasma, a roteirista Nadria Tucker termina condenando-o ao mesmo papel de pessoa capaz de fazer o que é necessário por um bem maior que Jax é. Afinal, se nada mudar ou for “retconado”, ao destruir o elevador espacial, ele matou centenas de inocentes que lá trabalhavam. Nada mal para emprestar uma pegada surpreendentemente sombria e pesada à série, não é mesmo?
3º Lugar: Light-Years from Home
2X01
O passo é acelerado e há muito o que abordar em relativamente pouco tempo. Se é difícil acreditar que Lyta está realmente de corpo e alma ao lado de seu filho, apesar de sessão de tortura que presencia para tentar descobrir o paradeiro não só de sua mãe como também do monstro Apocalypse. Parece uma mudança radical demais, rápida demais para ser algo que naturalmente decorra dos acontecimentos anteriores, mas não é impossível, ainda que seja perfeitamente possível entrever que ela, alguma hora, mudará de ideia ou revelará que estava ao lado do filho apenas para evitar o pior. Mas Dru-Zod está perfeito no papel que, desde o primeiro segundo em que apareceu na série, estava destinado a ter. Sua liderança cruel – trata-se de uma efetiva ditadura maquiada, afinal de contas – e seu desejo de dominar as estrelas é lógico e vívido nos olhos de Colin Salmon, que tem uma presença física que comanda respeito.
2º Lugar: Ghost in the Fire
2X02
Lobo é escrachado, desbocado, sexualmente explícito e extremamente violento, além de ter um fator de cura que faria inveja em Wolverine, tudo mostrado sem nenhum tipo de filtro nas sequências em Colu em que ele tem oportunidade de interagir com Adam e Seg, engolindo tão completamente os dois personagens que a revelação de que Brainiac de alguma forma fundiu-se com Seg fica em segundo plano, talvez terceiro. Sem dúvida que o showrunner está cumprindo um mandamento da produtora, que é usar Krypton como plataforma de lançamento da série solo de Lobo, mas esse objetivo escancarado não parece forçado e nem perdido, já que tudo funciona de maneira fluida e hilária, desde o apelido que Seg-El ganha imediatamente (a legenda oficial diz “Seagull”, mas eu ouvi Siegel, de Jerry Siegel, co-criador do Superman, o que faria todo sentido), a troca de Krypton por “Craptown” (claramente o nome de um musical com bonecos), passando pela “azaração” ou zoação de Lobo em cima de Adam, até a forma como o Maioral indica gestualmente que Brainiac está dentro de Seg. E Scanlan está obviamente divertindo-se no papel, absolutamente à vontade com a maquiagem “borrada” branca e preta com lentes vermelhas e cabelo de mendigo, em um excelente trabalho de composição visual que não se esquece nem mesmo da caveira protetora de virilha (mas estou ainda pacientemente esperando ver a moto dele!!!).
1º Lugar: Blood Moon
2X09
A sequência da chegada do monstrengo que um dia mataria o Superman é imponente e cuidadosamente decupada de maneira a tirar o máximo proveito do bom, mas não tão alto orçamento para CGI e efeitos práticos. Vemos tudo o que precisamos ver, o que significa, na prática, que todo o embate corporal é escondido espertamente pelo jogo de câmera que nos aproxima da batalha campal, mas sempre privilegiando os humanos e suas mortes violentas, deixando Apocalypse para ser visto apenas de relance. Sem dúvida alguma, Welsh, que senta na cadeira de diretor da série pela primeira vez, mostra ter controle preciso sobre seu ofício, transformando a superfície – e depois o subterrâneo – da lua em um banho de sangue que faz jus à origem violenta do vilão.