Jean-Claude Van Damme surgiu em meio à moda dos chamados filmes de brucutu dos anos 80, mas que, mais ainda que colegas como Chuck Norris, usou seu domínio sobre as artes marciais para construir sua carreira. Desde 1985, em Retroceder Nunca, Render-se Jamais, filme que lhe valeu o primeiro personagem com nome próprio e que aparece em tela mais do que alguns segundos (em um de seus raros papeis de vilão, vale lembrar), o lutador belga nunca parou de estrelar filmes, várias vezes mais de um por ano e raramente “pulando” anos.
No entanto, assim como o citado Norris e também Steven Seagal, Van Damme sempre foi um “brucutu B”, ou seja, manteve sua vasta – mas não variada – filmografia focada em filmes de baixo orçamento, com grande parte de suas obras – notadamente a partir dos anos 2000 – sendo lançadas diretamente vídeo. Em antecipação ao lançamento de O Último Mercenário, em 30 de julho de 2021, fiz uma breve retrospectiva de nove filmes do ator, mas decidi continuar a partir de agosto daquele ano para cobrir toda sua filmografia, trabalho que durou até 13 de outubro de 2022 (uma crítica por semana, com alguns hiatos porque ninguém é de ferro).
Agora, portanto, é chegada a hora de ranquear todos os seus filmes, missão que recaiu exclusivamente sobre meus ombros. Mas, antes, vamos a algumas breves regras:
- Filmes em que o ator só fez pontas insignificantes para a história foram excluídos. O que é “ponta insignificante”? Bem, é o que eu decidir que é ponta insignificante, claro, mas, como regra geral, papeis não creditados, sem nome próprio de personagem ou que o nome do personagem seja o nome do ator, ou que ele seja apenas um de vários outros personagens semelhantes serão considerados como ponta insignificante;
- Filmes em que o ator só fez trabalho de voz foram excluídos, portanto, nada de Kung Fu Panda 2 e 3. A razão para isso é que a comparação acaba sendo entre banana e laranja;
- A única série estrelada por Van Damme – Jean-Claude Van Johnson – foi incluída na lista, pois ela pode ser vista como um filme alongado e, claro, porque a lista é minha;
- As avaliações individuais dos filmes nas respectivas críticas – a quantidade de HALs – não é determinante para a ordem do ranking;
- Os textos usados em cada colocação são apenas trechos das respectivas críticas. Para acessar o conteúdo completo, cliquem no título do filme ou série.
Agora vamos lá!
VII – AS GRANDES PORCARIAS DE JCVD
Aqui estão os filmes de JCVD que, se tiverem todas as suas cópias incineradas e as respectivas cinzas lacradas em uma caixa metálica e enterrada bem profundamente em algum deserto remoto, não farão falta alguma. Na verdade, isso faria bem à humanidade.
50º Lugar:
Assassinos do Espaço
(2012)
Também batizado por aqui como U.F.O. Invasão Alien, Assassinos do Espaço é um filme que, quando não está servindo como um repositório de maneirismos diretoriais histéricos de Dominic Burns, um fulano cuja carreira é repleta de absolutamente nada que seja minimamente relevante, é um festival de péssimas atuações por um elenco patético, com diálogos constrangedores de tão ruins (cortesia do mesmo Burns), personagens que são agressivamente apáticos, desinteressantes e mal construídos, além de computação gráfica de TK-85. É como assistir a um filme de um aluno particularmente pouco talentoso de primeiro ano de uma faculdade de cinema vagabunda que nunca formou ninguém que realmente ingressou na profissão.
49º Lugar:
Contato Mortal
(1988)
Eu poderia dizer que o filme pelo menos é engraçado em sua trasheira total, mas a verdade é que nem isso ele consegue ser. Com exceção das raras sequências com Van Damme fazendo espacate enquanto atira facas ou lutando – e as coreografias, aqui, são péssimas – o resto é tão modorrento que, quando eu achei que já estava acabando, nem meia hora havia passado dessa tortura cinematográfica. Porque o filme é isso: ele não é ruim porque nada realmente funciona, mas sim porque ele não consegue, sequer por um segundo que seja, fazer com que o espectador pelo menos levante a sobrancelha para demonstrar interesse em algo. A lentidão é fatal, com Kosugi mantendo-se uniformemente desinteressante em razão de um roteiro incapaz de entregar a ele um momento memorável que seja ao ponto de eu ter torcido com todas as minhas forças pelo Andrei de Van Damme.
48º Lugar:
Golpe Fulminante
(1998)
Pois é bem isso: não bastasse o texto terrivelmente ruim, Tsui Hark parece fazer questão de clicar em todos os botões disponíveis em sua câmera e, depois, ilha de edição, criando um longa que parece ter sido feito por um pré-adolescente testando pela primeira vez as funções disponíveis em algum aparelho eletrônico novo. São cortes abruptos, câmeras lentas, tomadas panorâmicas, ângulo holandês, close-ups, jump cuts e mais uma lista enorme de trejeitos que não cumprem nenhuma função que não seja a de chamar atenção para si mesmas e cansar o espectador antes mesmo que a tal corrida pelas ruas de Hong Kong acabe.
47º Lugar:
Cyborg: O Dragão do Futuro
(1989)
Cyborg: O Dragão do Futuro (claro que tinha que ter um subtítulo nacional que faz referência ao título nacional do filme mais famoso de Van Damme, mas que não se conecta com o ciborgue de forma alguma) é o suprassumo da trasheira feita nas coxas com orçamento pífio. Poderia pelo menos ser tão ruim que é bom, mas, a não ser que haja alguma razão para esse filme ser especial para alguém, como é o meu caso, ele é tão ruim que é péssimo mesmo.
VI – AS GRANDES RUINDADES QUE COMEÇAM
A CAMINHAR PARA O “É TÃO RUIM QUE É BOM”
Aqui começam os filmes de JCVD que não exatamente dão vontade de desligar a TV depois de 15 minutos em razão de alguma curiosidade mórbida, alguma situação minimamente intrigante ou simplesmente porque, se tem JCVD, então não pode ser tão ruim. Mas é quase lá…
46º Lugar:
Olhos de Dragão
(2012)
Mas o problema verdadeiro do longa está na direção de John Hyams, em sua segunda parceria com Van Damme, depois do fraco Soldado Universal 3. A ironia é que, no filme citado, o diretor parece contentar-se a ficar preso a um roteiro ruim e, aqui, quando tem algo um pouquinho melhor, resolve aloprar completamente e transformar Olhos de Dragão em um laboratório de experimentações audiovisuais que impede que o filme tenha identidade, lógica, estrutura e harmonia. O que Hyams faz é praticamente um pouco de tudo, desde o uso de filtros variados, inclusive o sépia que parece marcar essa fase do astro belga, passando por câmeras lentas, ângulo holandês, montagem histérica, nomes dos personagens surgindo na tela e mais um sem-número de desnecessárias técnicas misturadas que só servem mesmo para cansar visualmente o espectador que, com não mais do que 15 ou 20 minutos de filme, já começa a ficar com dor de cabeça.
45º Lugar:
O Vingador da Iugoslávia
(2017)
Malota não sabe economizar e tudo o que ele filma é lento e, ao mesmo tempo, vazio de informação. Quase tudo o que vemos é completamente oco, mal construído, com personagens recortados em papelão e um elenco uniformemente. Stormare é o melhorzinho deles simplesmente porque ele consegue fazer bem o estereótipo de canastrão, mas mesmo sua presença barbada é cansativa demais, devagar demais em tudo o que ele faz e pergunta para Suzanne que esmiúça sua estranha e mortal história ao lado de Philip no hospital. Em outras palavras, o que temos é um “interrogatório ilustrado” que se arrasta como um jabuti manco e que contém sequências de luta muito aquém do que Van Damme é capaz mesmo considerando sua idade à época do filme. E, com isso, as reviravoltas planejadas pelos roteiristas não encontram ritmo para serem introduzidas, sendo quase que literalmente marretadas nos momentos finais das maneiras mais pobres e didáticas possíveis, criando até mesmo uma correria desnecessária para encerrar a fita, o que demonstra de vez o descontrole de Malota sobre a decupagem.
44º Lugar:
Agente Biológico
(2002)
E o que mais irrita é que Misiorowski até consegue enganar com as sequências que antecedem a entrada de Jacques e Galina no trem, com um direção mais comedida, ainda que não sem seus trejeitos estranhos. O problema é que, na medida em que o filme avança, ele parece que vai se sentindo mais seguro e passa a exagerar e, ato contínuo, a meter os pés pelas mãos quando começa a mexer na montagem de maneira completa inconsistente. Ou é isso ou quem dirigiu o começo do filme foi o diretor de segunda unidade ou quem fez a edição do filme estava sob efeitos de alucinógenos, pois a colcha de retalhos estilística de Agente Biológico não tem justificativa. É complicado quando tudo o que queremos é apenas o básico e nem isso um cineasta consegue entregar…
43º Lugar:
Operação Fronteira
(20000)
Operação Fronteira tinha o DNA de um filme de ação genérico, mas divertido, uma mera desculpa para ver pancadaria e tiroteio ininterruptos por toda sua duração, mas os cromossomos herdados de seus pais roteiristas vieram com defeitos mortais de origem que impedem mesmo aquelas risadas nervosas involuntárias diante de tosquices extremas que se levam a sério. Tudo o que vemos em tela é aquilo que ele poderia ter sido com um pouquinho mais de esforço, o que torna a experiência ainda mais frustrante, se pensarmos bem.
42º Lugar:
Desafio Mortal
(1996)
Além dessa peculiaridade, o longa é também a estreia de Van Damme na direção, cadeira que ele só sentaria (até hoje) mais uma outra vez e que, sendo bem franco, ele deveria ter passado longe. Na verdade, como cineasta, ele até tenta mostrar-se esforçado, transformando o inepto roteiro de Steven Klein e Paul Mones, na primeira metade da projeção, em um simpático passeio turístico de Nova York ao Tibete nos anos 20 que justifica (mais ou menos) o título em inglês, que poderia ser traduzido como A Busca ou algo semelhante, ainda que seu personagem, Christopher Dubois, o líder adulto de uma gangue de crianças, não busque realmente nada, sendo muito mais um fugitivo que se torna um escravo e, depois, um lutador, encontrando, no meio do caminho o simpático e fleumático vigarista britânico “Lorde” Edgar Dobbs (Roger Moore, muito à vontade e muito divertido).
41º Lugar:
Black Water: Perigo no Oceano
(2018)
Black Water: Perigo no Oceano, também conhecido por aqui como Na Escuridão do Oceano, é mais um filme de Jean-Claude Van Damme que demonstra ter potencial em sua premissa, mas que naufraga quase que exclusivamente em razão de uma direção completamente inábil que não consegue fazer o básico de longas de ação de baixo orçamento. O produtor Pasha Patriki decidiu testar suas habilidades no comando direto de uma obra cinematográfica e tudo o que ele conseguiu foi jogar no lixo não só um roteiro até razoavelmente interessante, ainda que bem falho, de Chad Law, como também a reunião do astro belga com Dolph Lundgren depois da franquia Soldado Universal e de Os Mercenários 2.
V – AS GRANDES RUINDADES TÃO RUINS
QUE CONSEGUEM SER BOAS
Aqui estão os filmes de JCVD que permitem que o espectador relaxe com ruindades que divertem.
40º Lugar:
Soldado Universal 3: Regeneração
(2009)
Soldado Universal 3: Regeneração foi mais uma tentativa tardia – e não a última, por incrível que pareça! – de se reviver a franquia, mas, assim como a outra continuação que ele próprio ignora, falha em ser a fagulha para tornar os zumbis robóticos em algo mais do que arremedos derivativos de uma boa ideia. E o que mais frustra é perceber que não seria muito difícil pelo menos repetir a estrutura da obra original, que já não era maravilhosa, mas pelo menos era melhor do que a usada aqui, como Hollywood não cansa de fazer por aí.
39º Lugar:
Força de Proteção
(2006)
Força de Proteção não consegue sequer ser uma mera diversão descerebrada. Seus problemas são tão gritantes e Van Damme demonstra estar tão pouco a vontade em seu papel que o que resta é a vontade que o longa-metragem, que muito claramente tem pelo 20 minutos a mais do que deveria ter, acabe logo. Não chega a ser a pior coisa que o belga fez até esse ponto de sua carreira, mas o filme faz bastante esforço para ser.
38º Lugar:
Soldado Universal: O Retorno
(1999)
Soldado Universal: O Retorno é, como o primeiro, um longa de baixo orçamento, mas, diferente do original, não há absolutamente nada de especial nele, sendo basicamente algo que parece ter sido feito às pressas a partir de uma ou duas boas ideias, só para Van Damme poder retornar ao seu clássico papel. Teria sido melhor que o ator, que já começava mais fortemente o declínio em sua carreira, ter se mantido resoluto em sua posição de não estrelar continuações…
37º Lugar:
Street Fighter: A Última Batalha
(1994)
Mas bobagem é a palavra-chave aqui e pelo menos nisso de Souza acerta. O filme não se leva a sério em momento algum e se mostra muito mais preocupado em criar figurinos bem próximos do que vemos nos jogos para seus protagonistas e antagonistas, incluindo aí o vestido-fetiche de Chun-Li e o monstruoso Blanka (Robert Mammone) que usa a infalível tecnologia moderna da série setentista O Incrível Hulk: tinta verde na pele e cabelo de Bombril tingido. Ao ser muito claramente uma autoparódia, mesmo que ela seja toda desengonçada e cansativa, o filme ganha seus pontinhos, pois não há nada mais irritante do que uma obra desse naipe e orçamento tentando um enfoque sério ou realista.
36º Lugar:
Segundo em Comando
(2006)
Aliás, essa característica da direção é o que realmente retira do filme toda a chance que ele tinha de ser mais do que um lançamento direto para vídeo. O diretor, em seu terceiro longa, parece estar filmando um episódio particularmente alongado de alguma série de ação genérica, daquelas em que qualquer sofisticação no uso de câmeras é considerado um verdadeiro sacrilégio no set de filmagens. Não ajuda que a montagem e a fotografia seguem essa mesmíssima cartilha, ou seja, fazendo o mínimo necessário para criar uma impressão de progressão narrativa sem nenhuma preocupação maior do que tornar compreensível que o personagem X está caminhando do lugar A ao B e, mesmo assim por vezes, metendo os pés pelas mãos.
35º Lugar:
Retroceder Nunca, Render-se Jamais
(1985)
Retroceder Nunca, Render-se Jamais acerta em cheio somente quando Corey Yuen está confortável em seu ambiente de lutas marciais. Fora dele, o filme é um desastre completo, uma vergonha alheia tão grande que chega a ser hilário, podendo muito facilmente cair naquela boa e velha categoria do “é tão ruim que é bom”. Pelo menos o longa serviu de trampolim para Van Damme protagonizar seus clássicos nos anos seguintes, desta vez fazendo aquele doloroso espacate do lado dos mocinhos.
34º Lugar:
Kickboxer: A Vingança do Dragão
(2016)
O Kickboxer original já não era um filme acima do mediano, pelo que era fácil um reboot melhorá-lo. Infelizmente, porém, A Vingança do Dragão, mesmo aproveitando bem tanto Van Damme quanto Bautista, acaba metendo os pés pelas mãos com uma direção inconstante, um roteiro pouco inspirado mesmo tendo um material tão fácil de lidar e, mais ainda, com uma atuação abissal do protagonista que deveria ter sua carteirinha de ator devidamente cassada e, ato contínuo, incinerada. No entanto, mesmo assim, o filme consegue ser recomendável para quem gosta de Van Damme, pois seu retorno à sua segunda e até agora última franquia cinematográfica é inegavelmente simpática.
IV – A GRANDE LINHA MEDIANA
Aqui estão os filmes de JCVD que, finalmente, chegam naquela confortável linha mediana do “nem ruim, nem bom”. São, normalmente, obras que tinham imenso potencial – algumas que até são muito bem quistas pelo público na filmografia do belga -, mas que jamais o realizam e, ao serem comparadas com outras obras do mesmo lutador-ator, acabam empalidecendo.
33º Lugar:
Jogo Sujo
(2014)
Mas então qual seria o problema do filme? Infelizmente, o mesmo Parmer, que também escreveu o roteiro, não sabia muito bem o que queria fazer em termos de história e acabou colocando em tela uma narrativa que é, quase toda ela, construção de atmosfera, com direito a flashbacks para o assalto, sem real desenvolvimento de seus personagens para além do básico e, pior ainda, sem pagar os dividendos que a obra parecia prometer. Tudo é, trocando em miúdos, lento demais e repetitivo demais para realmente funcionar, com os momentos de ação mais parecendo o trabalho de entropia do que algo que realmente decorre do que foi mostrado antes. E Parmer até poderia ter focado na autodestruição da gangue como sua linha mestra, mas a grande verdade é que ele parece primeiro atirar para todos os lados para, talvez tarde demais, encontrar o norte do que queria abordar e, quando isso acontece, o interesse pelo destino dos personagens já se foi há muito tempo.
32º Lugar:
O Último Mercenário
(2021)
O problema mesmo do longa está em tudo que gravita ao redor de Van Damme e da besteirada que é premissa da história, com o tal lendário e esquivo ex-agente secreto retornando à França depois que seu filho Archibald (Samir Decazza), que nunca conheceu o pai, perde a imunidade diplomática e a mesada governamental que fez parte do acordo de “desparecimento” de Brumére anos atrás e passa a ser perseguido pelas autoridades. É que, com exceção da jovem Assa Sylla como Dalila, que logo se junta ao mercenário para achar seu filho e da curiosidade que é ver a lendária Miou-Miou no longa como Marguerite, antiga amiga de Brumére, o restante cai por terra seja na cateogoria humor escrachado, seja na capacidade de Charhon de dirigir sequências de ação sem fazê-las parecer cansativas e repetitivas.
31º Lugar:
Vencer ou Morrer
(1993)
Mas mesmo sendo apenas joio em meio a uma seca de trigo, o filme é inegavelmente confortável. Sabem aquelas comidas processadas e nada saudáveis que volta e meia é tudo o que queremos por alguns minutos? Pois Vencer ou Morrer é bem isso, uma besteira qualquer para passar tempo sem compromisso, sem pedir mais do que um gostinho familiar na boca, ainda que fique aquela sensação de que não precisava de muito para ele ser mais do que apenas descartável.
30º Lugar:
Soldado Universal 4: Juízo Final
(2012)
Pouco importando se Juízo Final ignora ou continua os eventos de Regeneração, já que a série de filmes é uma até engraçada mixórdia completa em termos de continuidade, no mínimo dos mínimos é necessário apreciar que a produção desavergonhadamente (ou seria corajosamente?) pegou emprestados diversos elementos narrativos e visuais de nada menos do que Apocalypse Now para servir de infraestrutura de um filme da franquia e, mais ainda, sem seguir o caminho da paródia. Muito ao contrário, o longa incrivelmente se leva a sério e, mais ainda, lida com uma certa solenidade o que usa do clássico de Francis Ford Coppola, inclusive transformando o Andrew Scott, de Dolph Lundgren, em uma versão do fotógrafo encarnado por Dennis Hopper e o Luc Devereaux, de Jean-Claude Van Damme, na figura messiânica do Coronel Kurtz, de Marlon Brando. Há que se apreciar a coragem!
29º Lugar:
Replicante
(2001)
Pelo menos Lam larga um pouco seus maneirismos de diretor autoral (ou que acha que é autoral pelo menos) e entrega uma boa dose de pancadaria bem feita, com Van Damme, então já com 40 anos, não só fazendo bonito – para seus padrões, evidentemente – ao viver seus dois personagens, como também convencendo com seus malabarismos marciais usuais, mesmo que, como eu desconfio, ele tenha usado um dublê para os momentos mais, digamos, atléticos. No final das contas, é isso que sobra, na verdade, pois toda a concepção mais interessante por trás da premissa torna-se apenas um trampolim para a ação, sendo esquecida na medida em que o fiapo de história progride.
28º Lugar:
Bem-Vindo à Selva
(2013)
Bem-Vindo à Selva tinha todo o potencial de ser outra porcaria inenarrável que tem Jean-Claude Van Damme apenas em uma ponta para atrair seus fãs para uma enganação total como é o asqueroso Assassinos do Espaço. Mas o diretor Rob Meltzer e o roteirista Jeff Kauffmann, dois completos desconhecidos nestas respectivas cadeiras, acertam em dois aspectos fundamentais para elevar o longa para um patamar bem acima desse: honestidade e autocrítica. Esse binômio faz a “releitura” cômica de O Senhor das Moscas funcionar em um nível tosco, mas com seus bons momentos, com um grupo de executivos e funcionários de uma agência de publicidade que é levado para uma ilha deserta sob a liderança de Storm (Van Damme), ex-militar e especialista em “trabalho em equipe”, para aprenderem a depender um do outro e ampliar seus laços.
27º Lugar:
Vingança
(2004)
Já vimos esse filme antes dezenas e dezenas de vezes e Vingança não tem absolutamente nada de especial a não ser contar com Van Damme no protagonismo em uma fase mais madura em que ele realmente faz esforço para atuar – e não faz terrivelmente feio não, confesso – e ele ser alguns graus mais violento do que o padrão desse subgênero quando feito em Hollywood. Ou seja, ele oferece um pouquinho mais de recheio do que a média, mas só um pouquinho mesmo. E isso é justamente a surpresa aqui, conhecendo não só a história do declínio da carreira do lutador belga, como também o troca-troca de diretores que atrapalhou a produção, pois o que era de se esperar, uma tragédia completa, não acontece em momento algum, com os tiroteios, lutas, perseguições e torturas acontecendo em um ritmo bem cadenciado e com uma fotografia noturna bem afiada por parte de Emmanuel Kadosh.
26º Lugar:
Ruas em Guerra
(2019)
O grande – mas não tanto – trunfo de Ruas em Guerra é que Lior Geller, seu diretor e co-roteirista, realmente faz todo o esforço para tirar sua obra do lugar-comum, da mera “guerra de gangues que coloca crianças no fogo cruzado, fazendo com que um veterano de guerra sofrendo estresse pós-traumático interceda”. Esse esforço está presente em suas escolhas criativas para usar o baixo orçamento ao seu favor, limitando as locações à fortaleza meia-boca do chefe do tráfico local e às ruas ao redor e ao dar identidade visual à fita, seja pelo uso de uma fotografia em cor terrosa, seja pelo uso de câmera desnorteadora nas cenas de ação.
25º Lugar:
Até a Morte
(2007)
Apesar dos diversos problemas do longa, que abordarei mais para a frente, há que se elogiar não exatamente o roteiro, mas a premissa e a estrutura do que Dan Harris e James Portolese escreveram, já que o grande momento de mudança na vida do protagonista se dá quase na metade do filme, em que ele é baleado e entra em coma, gerando uma elipse de seis meses em que o vemos se recuperar e voltar à caça de Callahan como um homem renovado. Em outras palavras, não há a menor pressa aqui e há muito tempo para desenvolver o personagem e, ao mesmo tempo, abrir espaço para Van Damme novamente mostrar que, mesmo com suas limitações como ator, sabe viver papeis que exigem mais dele do que apenas sair na pancadaria com todo mundo que aparece à sua frente.
24º Lugar:
Kickboxer: O Desafio do Dragão
(1989)
Sob qualquer ponto de vista, porém, Kickboxer não é mais do que um remix menos inspirado de O Grande Dragão Branco, descaradamente pegando emprestado as mesmas inspirações de Retroceder Nunca, Render-se Jamais, ou seja, Karatê Kid: A Hora da Verdade e Rocky IV. No longa, depois que seu irmão campeão de kickboxing é paralisado pelo cruel lutador Tong Po (Michel Qissi) em uma luta na Tailândia, Kurt Sloane (Van Damme) parte para treinar muay thai com o pouco ortodoxo e recluso kru Xian Chow (Dennis Chan) de forma que ele possa se vingar e derrotar Po no ringue.
23º Lugar:
Inferno
(1999)
O último filme noventista de Van Damme pode até ter sido esquecido completamente pelas brumas do tempo, mas há nele uma combinação de fatores que o torna… hummm… especial, diferente e inusitado em meio a tanta coisa igual que o ator fez na década. Claro, não é nem de longe uma maravilha, mas não é a porcaria que Avildsen provavelmente achou que ficaria depois das interferências da produção. Deu até vontade de dar uma avaliação final mais alta, digamos meio HAL a mais, só que a bagunça tonal, a montagem perdida e a falta de rumo do longa me impediu, mas é definitivamente um 2,5 com viés de alta.
III – A GRANDE GALERIA DE FILMES BONS DE JCVD
Aqui começam os filmes de JCVD que realmente merecem ser classificados como pelo menos bons, o que acontece em uma quantidade surpreendente para quem só lembra das várias porcarias que o ator já protagonizou. Há verdadeiras pérolas nessa parte da lista, inclusive obras que, tenho certeza, muitos acham que deveriam ficar ainda mais acima em um ranking.
22º Lugar:
Sinav (A Prova)
(2006)
O lutador e ator belga aceitou participar da obra dirigida por Ömer Faruk Sorak sem receber qualquer cachê, por simplesmente ter gostado do roteiro e do esforço sincero que é feito aqui para trabalhar com surpreendente delicadeza aquele momento pelo qual quase muitos adolescentes pelo mundo passam quando estão para acabar a escola e ingressar na faculdade. Basicamente, como um deles diz em determinado momento, toda a vida deles é decidida em apenas algumas horas, o que significa que anos e anos de estudo, na verdade, podem ser resumidos a uma mera prova. A pressão da escola e dos pais é algo crescente e o texto de Yiğit Güralp consegue capturar muito bem essa ansiedade, algo que é amplificado, até certo ponto, pela direção altamente estilizada de Sorak.
21º Lugar:
A Irmandade
(2001)
Em linhas gerais, o longa é uma versão de baixo orçamento de Indiana Jones e a Última Cruzada, com filmagens em locação em Tel Aviv, Israel e participação especial de ninguém menos do que Charlton Heston como Walter Finley, o professor de arqueologia que recepciona Rudy Cafmeyer (Van Damme), que procura Oscar (Vernon Dobtcheff), seu pai desaparecido e também arqueólogo, no país. Mas Rudy não é Indiana Jones, mas sim um ladrão de relíquias bon vivant que começa o filme furtando um cobiçado ovo Fabergé da máfia russa. Ao chegar em Tel-Aviv, ele passa a ser alvo da polícia local enquanto investiga uma seita religiosa fundada por Charles Le Vaillant (Van Damme também, no interessante prólogo que começa em 1099), um cavaleiro europeu que “vê a luz” durante a Primeira Cruzada.
20º Lugar:
Soldado Universal
(1992)
O RoboCop genérico de Roland Emmerich é pura diversão descompromissada que mostra o seu valor ao saber integrar seriedade e pretensão com bobeira e trasheira sem que o longa sofra no processo, conseguindo sustentar-se como algo de razoável qualidade no estilo filme B de ser. Havia a chance, se houvesse orçamento e, mais do que isso, vontade, para trabalhar críticas sociais relevantes muito na linha do que Paul Verhoeven faz, mas fica evidente até pela versão alternativa que foi lançada posteriormente (e que não é objeto da presente crítica) que tudo que o roteiro tinha de um pouquinho mais complexo foi retirado da versão cinematográfica para que o longa pudesse agradar o maior número possível de pessoas, mas sem obrigá-las ao incômodo de pensar muito. Novamente, faz parte do jogo e Soldado Universal sem dúvida consegue ser o trigo no meio do joio.
19º Lugar:
O Alvo
(1993)
Como resistir a um filme que é a estreia hollywoodiana do cineasta chinês John Woo em que ele traz todos os seus cacoetes visuais, ou seja, câmeras lentas, pombos e pombos em câmera lenta e que é estrelado por Jean-Claude Van Damme com um hilário mullet, além de contar com o sempre bacana antagonismo de Lance Henriksen e de um dos atores que mais perfeitamente combina aparência e nome vilanescos, Arnold Vosloo? Some-se a isso a boa e velha trama de O Jogo Mais Perigoso (ou Zaroff), famoso conto de 1924 de Richard Connell sobre homens caçando homens e pronto, temos tudo o que é necessário para uma boa e por vezes muito engraçada diversão.
18º Lugar:
A Colônia
(1997)
Depois de John Woo, com O Alvo e Ringo Lam, com Risco Máximo, foi a vez de Tsui Hark, outro diretor chinês, mais precisamente de Hong Kong, estrear em Hollywood tendo Jean-Claude Van Damme como veículo e, ainda por cima, fazendo dobradinha com ninguém menos do que Dennis Rodman, jogador de basquete americano então no Chicago Bulls e que um dia se tornaria melhor amigo de Kim Jong-un, “Supremo Líder” da Coréia do Norte e tendo como antagonista Mickey Rourke, com uma invejável forma física. O resultado dessa combinação é uma mais do que completa mixórdia cinematográfica que, porém, inexplicavelmente, acaba funcionando em um nível “só aceite e se divirta” que volta e meia é tudo o que precisamos.
17º Lugar:
Aliança Mortal
(2013)
E não se trata aqui de um daqueles filmes em que Van Damme faz apenas figuração, ainda bem. Muito ao contrário, seu vilão louro (ou ruivo, não sei bem), descabelado, ambientalista, vegano colhedor de frutinhas na floresta e contra o uso de armas de fogo tem presença constante, basicamente roubando o filme para si, tarefa que não é lá muito complicada considerando o bom mocismo cansativo e sem graça do picolé de chuchu Scott, que acaba tendo que fazer a tal “aliança mortal” com Clay Decker (Orlando Jones se esforçando para não cair no genérico), cujas circunstâncias já explico. Sem dúvida que Xander, o vilão de Van Damme, é uma fusão ambulante de estereótipos, sendo eficiente em tudo, especialmente nas artes de matar teatralmente seus inimigos e de fazer caretas exageradas mesmo quando elas são completamente desnecessárias. Mas Aliança Mortal não seria divertido como é sem justamente essas bobagens gigantescas de um astro belga aparentemente muito à vontade ao se autoparodiar (o que ele já havia feito, só que de forma diferente, em Bem-Vindo à Selva, do mesmo ano).
16º Lugar:
Osso Duro
(2015)
Apesar da competência geral de Barbarash no comando desse tipo de filme de ação com orçamentos modestos, Osso Duro sofre mais de problemas de ritmo do que suas demais colaborações com Van Damme. Fica mais evidente a estrutura básica que intercala ação com longas conversas que nem sempre funciona muito bem e parece por vezes fazer o filme “esfriar”, somente para “esquentar” de novo vários minutos depois. Em outras palavras, o diretor tem um pouco de dificuldade de lidar organicamente com as qualidades dramáticas do roteiro em meio às sequências de ação, algo que fica particularmente destacado a partir do ponto em que Deacon e equipe se escondem na casa de veraneio de George. Mas, para não falar só de Barbarash, o roteiro por vezes escorrega em soluções mágicas para o dinheiro que Deacon precisa e uma estranha e sem sentido “onisciência” de Drake (Darren Shahlavi, que tragicamente faleceu antes da estreia), o principal vilão do filme.
15º Lugar:
Duplo Impacto
(1991)
Duplo Impacto tem uma premissa simples, mas bem executada, com uma pegada humorística muito bem vinda que faz com que o longa não se leve muito a sério, o que é sempre bom em se tratando de uma obra de ação de baixo orçamento. A dose dupla de Van Damme diverte sem exigir demais e entrega um palco simpático para o ator belga mais uma vez ter espaço para mostrar que é apenas um pouquinho mais do que um artista marcial que gosta de fazer espacates nos momentos mais completamente sem sentido.
14º Lugar:
Garantia de Morte
(1990)
Garantia de Morte está lá naquele metiê dos filmes de prisão que existem porque os tropos do gênero são absolutamente irresistíveis. Está longe, bem longe de ser algo memorável, mas pelo menos não está também próximo aos piores exemplares que são lançados por aí como o abominável Rota de Fuga 2: Hades, mantendo, portanto, um nível de qualidade até alto para a carreira de Van Damme.
13º Lugar:
O Grande Dragão Branco
(1988)
O Grande Dragão Branco, ao ser econômico e focar na retratação de exatamente aquilo que é o coração do roteiro, ou seja, as lutas, e tratá-las com ótimas coreografias que são capturadas muito bem pelas lentes de Arnold, com Van Damme dando seu show de “atuação” e de habilidades marciais, diverte tremendamente, não à toa sendo uma obra lembrada, de uma forma ou de outra, por muita gente que viveu a época de seu lançamento. Está aí um daqueles filmes que, mesmo tendo um caminhão de defeitos, não enjoa nunca por simplesmente ter a honestidade de abraçar sua premissa com unhas, dentes e espacates.
II – A GRANDE GALERIA DE FILMES MUITO BONS DE JCVD
Aqui estão os filmes (e uma série!) que merecem destaque ainda maior na carreira de JCVD do que os do capítulo anterior desta lista. São alguns longas clássicos, claro, mas também outros mais recentes e infelizmente menos reconhecidos em sua filmografia.
12º Lugar:
Kickboxer: A Retaliação
(2018)
Essa conjunção de fatores, por mais surreal que possa parecer, realmente funciona. Normalmente reclamo que, em continuações, Hollywood tenta sempre fazer mais do que foi feito no filme anterior, em uma espécie de competição interna que joga a substância pela janela para privilegiar a forma. No entanto, sempre há exceções que confirmam a regra e é o que ocorre aqui em Kickboxer: A Retaliação, já que Logothetis tem plena consciência dos absurdos que ele coloca em tela e tira o maior proveito deles, seja usando e abusando de câmeras lentas, de borrifos de sangue e de golpes impossíveis, o que inclui matar o protagonista não uma, mas duas vezes(!!!), seja fazendo com que Lambert e Van Damme tenham um infelizmente breve demais duelo de espadas que, claro, só existe para evocar um pouquinho o clássico Highlander: O Guerreiro Imortal. Em outras palavras, o longa não se leva a sério e, portanto, não pede que os espectadores o levem a sério, algo que já fica evidente na quase surreal sequência de abertura com direito a um tango de Kurt e Liu em um trem de luxo que, na verdade, é um “devaneio” premonitório de Kurt durante uma luta em Las Vegas contra o carioca Renato “Babalu” Sobral.
11º Lugar:
6 Balas
(2012)
No final das contas, 6 Balas é um Jean-Claude Van Damme superior e, em certa medida, surpreendente especialmente considerando o ponto em que o ator estava em sua carreira já em franco declínio. Trata-se de um longa que usa uma premissa que por si só carrega um conteúdo de aviso e relevância e que trata do assunto com alguma solenidade, sem tentar romantizar o tráfico humano de crianças e sem apenas usar essa questão como uma mera plataforma para o protagonista destruir uma cidade inteira.
10º Lugar:
O Legionário
(1998)
Mesmo com sua curta duração, porém, Van Damme e os três atores que formam o quarto legionário principal, além de Berkoff como o sargento, dão conta de fazer O Legionário ser mais do que mais uma obra descartável na carreira do lutador, algo que o diretor Peter MacDonald, em seu terceiro e último longa cinematográfico, percebeu e explorou ao máximo. Com os anos 90 chegando ao fim, é bom saber que Jean-Claude Van Damme ainda foi capaz de protagonizar uma obra que merece ser destacada em sua variada – e, na grande maioria das vezes, sofrível – filmografia.
9º Lugar:
O Guardião do Tempo (Timecop)
(1994)
O roteiro de Verheiden ainda tem a vantagem de não investir muito tempo nas “tecnobaboseiras” que dão base à viagem no tempo, preferindo só pontuar aquilo que importa para o filme, o que até pode abrir espaço para alguns questionamentos (como para onde vai a cápsula que permite a viagem), mas que, no final das contas, abre espaço para o drama de Walker ser contado a contento e com uma boa dose de pancadaria variada e bem coreografada. A fotografia noturna do próprio Hyams na ação climática final, que ecoa os eventos do início do filme é surpreendentemente muito boa, o que inegavelmente ajuda o espectador a comprar o fechamento narrativo que, como disse, é mais do que esperado.
8º Lugar:
Jean-Claude Van Johnson (1ª e única temporada)
(2017)
A metalinguagem é a regra na série e sua premissa é espelhada na vida real. Jean-Claude Van Damme vive ele mesmo, agora em sua rica, mas solitária aposentadoria em mansão com encanamento que faz jorrar água de coco (sim!) no lugar de água. Reencontrando sem querer Vanessa (Kat Foster), o amor de sua vida e também agente secreta, ele decide voltar à ativa como Van Johnson, sua persona agente secreto, usando a filmagem de uma adaptação michaelbayana de Huckleberry Finn (impossível não querer ver esse filme acontecer de verdade) como disfarce para investigar uma rede de tráfico de drogas na Bulgária. Lá, ele e Vanessa se reúnem com o franzino cabeleireiro Luis (Moises Arias) e a ação começa.
7º Lugar:
Jogos Letais
(2011)
Jogos Letais é um surpreendente filme da fase mais avançada da carreira de Jean-Claude Van Damme que não deixa nada a dever a várias de suas melhores obras clássicas. Aliás, em muitos aspectos, o longa é mais maduro e mais interessante do que a pancadaria que normalmente corre solta em grande parte de sua filmografia. É só uma pena que sua carreira já estivesse em franco declínio, o que contribuiu para que o filme passasse razoavelmente despercebido.
6º Lugar:
Risco Máximo
(1996)
Como acontece nos melhores filmes do ator, ele mostra a que veio em termos dramáticos quando se afasta efetivamente das meras desculpas para que uma sequência de luta aconteça. Não que ele seja um grande ator – longe disso! – mas ele inegavelmente tem carisma e esse carisma consegue transformar-se em atuação minimamente competente quando ele tem algum espaço para trabalhar seriamente entre chutes e socos. Arriscaria dizer, portanto, que ele tem sua melhor atuação em Risco Máximo, pelo menos até este ponto de sua prolífica carreira, graças a um roteiro que sabe dosar as sequências de ação e à direção de Lam que não se perde na estrutura narrativa, apesar das infinitas, mas felizmente variadas, sequências de ação.
5º Lugar:
Morte Súbita
(1995)
O resultado é um mais do que sólido “Duro de Matar em um Estádio” que posiciona Van Damme mais uma vez como um herói de ação que não necessariamente precisa depender de golpes, chutes e espacates impressionantes e mostra que, mesmo sendo uma cópia quase servil de uma estrutura já bem estabelecida, pode divertir bastante se houver um um Peter Hyams da vida por trás das câmeras. Morte Súbita, obviamente, não chega perto da qualidade de sua maior inspiração, mas, dentre as ninhadas de cópias, ele é definitivamente um filhote que se destaca e merece reconhecimento.
4º Lugar:
Prisão Infernal
(2003)
Prisão Infernal pode não ter ganhado quase destaque algum quando de seu lançamento, que foi direto em vídeo em boa parte do mundo, como a maioria dos filmes do ator a partir dos anos 2000, mas ele merece ser redescoberto seja porque é um representante legítimo dos “filmes de prisão”, com todos os ingredientes que esperamos resultando em uma apetitosa jornada, seja porque é um Van Damme diferenciado, que realmente mostra que o belga é mais do que apenas um rostinho bonito com corpo atlético que faz espacates em câmera lenta.
3º Lugar:
Leão Branco, o Lutador sem Lei
(1990)
Trata-se do primeiro crédito de roteirista de Van Damme, ao lado de Lettich, além de ser o primeiro longa dirigido por Lettich, com a dupla muito claramente tentando desgarrar-se do puro estereótipo do grande lutador marcial que marca esse início de carreira do ator belga. Além de lidar com lutas de rua, ainda que permitindo que Van Damme faça suas acrobacias de praxe, a história oferece espaço para… rufem os tambores… o ator realmente mostrar que consegue mesmo atuar e que eu não preciso mais colocar sua qualificação entre aspas. Lógico que não é um trabalho dramático espetacular, mas Van Damme consegue mostrar que tem latitude, que sabe ser mais do que um rostinho bonito, mas impassível e monossilábico que faz caras e bocas enquanto bate e apanha em ringues.
I – AS GRANDES OBRAS DE JCVD
Aqui estão as joias da coroa da longeva e intensa filmografia de JCVD, dois filmes que mostram de uma vez por todas que o lutador belga pode sim ser um bom ator e que usam sua fama como instrumentos narrativos em histórias autoconscientes e respeitosas de quem ele é. Esses são, no final das contas, os filmes pelos quais o Belga do Espacate realmente merecia ser lembrado.
2º Lugar:
Lukas
(2018)
Lukas, por essas e outras razões, é uma joia infelizmente esquecida na intensa carreira cinematográfica de Jean-Claude Van Damme que merece ser destacada em meio às suas dezenas e dezenas de longas. Não é o típico filme do belga por ser de queima-lenta, não depender de lutas e de sequências que existem somente para agradar seu público cativo, e por mostrar um cuidado audiovisual raro em sua filmografia, cuidado esse que inclui dar valor a seu astro. O filme de Julien Leclerq é, sem a menor sombra de dúvida, um dos pontos mais altos de uma carreira que, desafortunadamente, só é lembrada pelo público em geral por espacates, dancinhas e caretas em câmera lenta.
1º Lugar:
JCVD
(2008)
Van Damme tentaria ser Van Damme novamente em uma obra audiovisual, a série Jean-Claude Van Johnson infelizmente cancelada ao fim de sua primeira temporada, mas como autoparódia. JCVD, ao revés, é um filme de ação genuíno usado como uma desculpa para um drama real de um ator que há muito passara de seu auge, mesmo continuamente trabalhando em uma indústria que nunca o reconheceu de verdade. A melancolia que subjaz no longa é corajosa, diria, e resulta em uma obra superior em seu subgênero e, também, na vasta – mas repetitiva e com altos não tão altos e baixos muito baixos – filmografia de um ator-brucutu que sabe exatamente quem ele foi e ainda é, talvez por não conseguir se desvencilhar da rotulagem a que acabou sujeito.