James Wan é um dos um dos últimos inovadores na linguagem do horror e inegavelmente um dos melhores diretores a tratar as convenções do gênero. Sua visão artística é visionária, principalmente em termos de produção. Ele criou três das franquias de terror mais populares no século, que trouxeram consigo dois dos subgêneros mais dominantes nele – o torture porn e a volta do sobrenatural no que eu chamo de “terror de susto” –, além de terem tendenciado a indústria a apostar mais em produções de baixo orçamento no nicho, dado o grande lucro garantido com seu envolvimento. Um terreno que abriu portas para o surgimento de vários outros nomes promissores de diretores e sintomaticamente trouxe o crescimento da Blumhouse, produtora que expande seu legado de popularização do gênero sem precisar envolvê-lo.
Cineasta cheio de maneirismos, exímio manipulador de mistérios, potencializador de clichês, iconólatra na concepção de seus monstros, com muito talento técnico e inventividade na utilização da câmera móvel, o que lhe gerou bons frutos também no cinema de ação, com grandes blockbusters pipoca de personalidade, graças ao seu estilo. Recentemente, estreou nos cinemas seu mais novo filme, e com isso, surgiu a oportunidade para rememorarmos a sua carreira como diretor, em formato de ranking, elencando seus 10 filmes – sim, por incrível que pareça, ele só tem 10 filmes – do pior ao melhor.
Antes de prosseguir, vale alguns avisos:
- Existe um filme chamado Stygian, do ano 2000, que é teoricamente o primeiro filme dele. Ainda feito na Malásia, seu país de origem. Contudo, esta película foi perdida e não pode ser encontrada em canto nenhum. Logo, foi desconsiderada para a seleção, assim como os curtas-metragens do diretor;
- O ranking foi elaborado única e exclusivamente por mim, colunista que vos falo, Iann Jeliel. O único que viu todos os filmes do diretor;
- Sendo assim, ele não representa a opinião do site como um todo, apenas a minha. O que justifica a classificação final eventualmente não refletindo a avaliação das críticas, ou mesmo, na ordem diferente de alguns filmes, envolvidos em outras listas;
- Os comentários curtos, abaixo das posições, refletem as justificativas pessoais da minha ordem. No entanto, haverá links para cada crítica individual de cada filme nos títulos. Não deixe de ler os comentários e acessar os textos completos após o ranking.
Estamos entendidos? Deixe sua opinião sobre a minha ordem nos comentários, com respeito, além de colocar a sua para a gente debater. Vamos ao ranking!
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10° Lugar: Velozes & Furiosos 7
Mesmo estando no panteão entre os melhores filmes da franquia Velozes e Furiosos por fatores emocionais fora dele – a comoção após a morte de Paul Walker –, além da inegável inventividade de James Wan e seu estilo, que se esforça e chega perto de conseguir imprimir veracidade, intensidade e malemolência na formatação deste entretenimento alienado, ainda é o mesmo Velozes e Furiosos e seus defeitos de sempre. No bom nível do diretor, é o pior com sobras.
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9° Lugar: Sobrenatural: Capítulo 2
Talvez seu único filme de terror ruim. Muito porque ele não tinha tanta maturidade para encorpá-lo dentro de uma vertente mais de ação, que não combina com a continuidade desta história, que apesar de continuação, se refuga em explicações desnecessárias do passado das assombrações do primeiro, além de pecar em exageros, como demonstra a performance superafetada e a pior da carreira de Patrick Wilson.
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8° Lugar: Sobrenatural
A partir desta oitava posição, todos os filmes são, no mínimo, muito bons. A diferença de um para outro é um mero detalhe. Sobrenatural acaba “sobrando” abaixo por conta das escolhas do seu segundo capítulo tão entrelaçadas ao final espetacular deste, diminuindo o seu peso. Apesar de ter uma construção e execução interessantíssima dos elementos de “terror convencional”, a parte mais original do longa, no caso, o mundo paralelo do sobrenatural, é mais bem explorado no próximo, mesmo sendo um filme inferior a este.
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7° Lugar: Sentença de Morte
O primeiro experimento de James Wan em filme de ação, que já mostra seu talento nessa outra valência de cinema. Movido por provocações sociais bem colocadas e uma ação instintiva e reativa dentro de um contexto realista, Sentença de Morte é um filme intenso, urgente, eufórico, que consegue ser extremamente violento, mesmo sem ter tanto sangue em tela quanto outros genéricos derivados de histórias de vingança, que apelam para ter relevância.
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6° Lugar: Gritos Mortais
O filme mais significativo para compreender por que a visão artística de James Wan é tão comunicativa com as massas fora ou dentro do nicho do terror. Evidencia a sua capacidade de utilizar um amplo repertório de referências e técnicas para envolver o telespectador numa experiência, no mínimo, momentaneamente assustadora, ou que busca estímulos imediatos com eficácia. Apesar de ter fragilidades de roteiro expostas pelo método evidenciado, considero-o um exercício de gênero honesto, além de particularmente ter sido bem marcante na primeira assistida.
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5° Lugar: Aquaman
O maior mérito de James Wan em Aquaman foi conseguir, com pouca margem para falhas, encaminhar uma revitalização da essência dos personagens em meio a um universo compartilhado completamente bagunçado. Graças a sua condução estilosa nas cenas de ação e equilibrada na carga de efeitos visuais, o conversador com peixes ganha um filme bem mais empolgante do que apontava o figurino. Um verdadeiro espetáculo visual e heroico.
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4° Lugar: Invocação do Mal
Diferente do que foi a lista do Invocaverso, por esta lista representar minha única e exclusiva opinião, coloco o primeiro atrás do segundo. E os motivos estão mais em méritos do outro do que nos deméritos deste, que honestamente são parecidos: problemas no terço final, dependência da estrutura “susto ou não susto” – apesar da utilização inteligente do recurso de jumpscare para a elaboração da atmosfera – e o recheio essencialmente derivado. Lógico, dentro das suas características, poucos filmes de terror “para se ver com a galera” são melhores do que este.
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3° Lugar: Invocação do Mal 2
Como dito, prefiro um pouquinho, e no detalhe, o segundo filme. Valorizo bastante a tentativa de fazer um épico do gênero, com longa duração, beijando ainda mais características e elementos classicistas do terror de entidade da década de setenta, sob uma lente sofisticada e moderna. Gosto de como a ambientação trabalha melhor o sentimento de claustrofobia da casa junto da ameaça “maior” e mais protagonista da Freira – no primeiro, Annabelle e um demônio genérico dividiam mais a tela –, além do drama familiar concentrado em apenas uma figura, a meu ver, ser mais potente, muito graças também à extraordinária performance de Madison Wolfe.
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2° Lugar: Jogos Mortais
A estreia de James Wan resultou num dos clássicos mais recentes do cinema de terror, abrindo portas para um novo subgênero somente por apresentar uma visão original à narrativa com serial killers. Apesar de ter alguns problemas estruturais que o dataram um pouco, há méritos gigantescos, bem maiores do que somente ter uma memorável reviravolta e um grande vilão, como os caminhos que levam até isso e a construção icônica de Jigsaw e seu envolvente e moralmente sufocante jogo sádico de enclausuramento, psicologicamente arrebatador. O primeiro Jogos Mortais é um marco icônico do terror. Minimalista, enigmático e inesquecível.
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1° Lugar: Maligno
Pode parecer empolgação de momento, mas acredito enfaticamente que o mais novo filme de James Wan reúne todo o seu repertório em uma amálgama criativa e versátil dos gêneros que ele melhor sabe trabalhar: o terror, a ação e o suspense policial. Personificando suas melhores características de maneira ousada e original, Maligno é um passeio historiográfico de referências constantemente transformando a atmosfera do exercício de gênero, mas mantendo uma aparência unitária, única. Certamente, para a cultura pop não terá o mesmo apelo que outros do diretor, mas qualitativamente é seu trabalho mais maduro, sendo já particularmente meu filme favorito dele.