IMPORTANTE: Cada indicação abaixo usa apenas um parágrafo da respectiva crítica! É só clicar nos links para ler os textos completos!
Aproveitando o recente lançamento de Infiltrado, o colunista que vos fala, Kevin Rick, junto de meus colegas Fernando Campos e Davi Lima, decidimos assistir e ranquear a filmografia do cineasta britânico Guy Ritchie. Apesar de ser um diretor conhecido por seu estilo autoral extremamente forte entre filmes, até muitas vezes injustamente criticado por repetição formal, Ritchie construiu uma filmografia bastante diversificada. Comédias criminosas acompanham sua carreira desde o início, mas ele se aventurou em blockbusters, adaptações de personagens famosos como Aladdin e Sherlock Holmes, dramas psicanalíticos e até um (horrendo) romance estrelado por Madonna. Antes da ordem, vale destacar algumas observações importantes sobre os critérios usados na elaboração do ranking:
- Cada participante elaborou seu ranking individual, com, no mínimo, 10 filmes assistidos. Em cada ranking, os filmes ganharam uma certa quantidade de pontos, adquiridos de forma inversamente proporcional a sua colocação perante a quantidade de filmes assistidos;
- Exemplificando: Se a pessoa viu todos os filmes, o 1º lugar levou 12 pontos, o 2° lugar, 11 pontos, e assim sucessivamente até o último e 12° lugar, levando apenas 1 ponto. A mesma lógica se aplica a pessoa que viu 10 filmes ou 11 filmes, mas aí, a contagem do 1º lugar começaria a partir de 10 ou 11 pontos;
- Com a soma simples dos pontos, chegamos à versão da ordem final;
- A classificação final pode não refletir na avaliação das críticas, visto que, além de terem sido escritas por um não participante, os colunistas presentes, obviamente, têm divergências nas opiniões entre si;
- Haverá links para cada crítica nos títulos. Não deixe de ler os comentários e acessar os textos completos após o ranking.
E então, já viram todos os filmes do Ritchie? Alguém teve a coragem de começar, e a loucura de ir até o final, de Destino Insólito? Compartilhem sua opinião e ranking pessoais!
12º Lugar: Destino Insólito (2002)
Destino Insólito é um atentado ao Cinema, à Arte, à mulher e ao ser humano. Não existe sequer um valor de produção, um elemento da linguagem cinematográfica, a ser elogiado. As atuações caricatas e superficiais, a câmera genérica basicamente filmando a (falta) de roteiro, a montagem monótona que tenta salvar a decupagem lamentável, a imagem saturada que deixa o filme com uma estética de série de televisão dos anos 70, e por aí vai… Me desculpem a palavra, mas esse filme é uma desgraça. Não assistam isso aqui.
11º Lugar: Rei Arthur: A Lenda da Espada
Esta nova versão de Rei Arthur certamente traz muitas qualidades notáveis, especialmente quando aceita o fato de que é um filme de Guy Ritchie, mas que ao mesmo tempo surge perdida e confusa quando almeja resultados próximos de um épico medieval mágico. Tem personalidade e é capaz de divertir, mas é frustrante pensar como foi uma oportunidade perdida. Se por algum milagre uma continuação acontecer, que seja inteiramente sobre Arthur resolvendo as políticas de seu reino na base dos street smarts.
10º Lugar: Infiltrado (2021)
Guy Ritchie tenta construir em Infiltrado um longa diferente dentro de sua filmografia estilizada. Os exageros visuais, humor ácido e ritmo intenso são substituídos por um longa com atmosfera sombria e uma ação mais direta. Não fosse o segundo ato deslocado, a obra certamente entraria na lista de melhores do diretor, ainda que funcione. Aqui, é a mensagem sobre dinheiro que se assemelha aos demais trabalhos de Ritchie, mostrando como as consequências de um mundo ganancioso, em que capital vale mais do que vidas, acaba gerando um ciclo de violência em que todos são atingidos.
9º Lugar: Revólver (2005)
Revólver é o experimento falho de Guy Ritchie na criação de um filme psicologicamente instigante, negando qualquer traço original de seus trabalhos anteriores. A linguagem díspar usada pelo cineasta merece elogio apenas pela premissa tentadora, a vontade de conceber uma fita que brinca com as expectativas dos fãs e pelos divertidos personagens – Mark Strong é incrível como o hitman sensível e tímido. Revólver não é um filme ruim por ser distinto da filmografia de Guy, ele apenas é ruim. No entanto, o fato de ser um gênero que Guy tem uma voz tão reconhecível torna a experiência ainda pior.
8º Lugar: Aladdin (2019)
Dada a quantidade de personagens cativantes, a atmosfera e a trilha-sonora, a iconografia de Aladdin possibilitou a obra superar anos e anos no imaginário popular. Por sua vez, a nova versão consegue se suceder em coisas que o longa original não conseguiu ou, em outros casos, nem tentou. Já a parte da iconografia se perde consideravelmente em números musicais problemáticos e outros equívocos. A animação era mais despreocupada que esse remake. Já aqui, visa-se impulsionar mensagens sobre quais são os destinos das pessoas, os seus lugares, o que é poder. Isso esbanja mais compromisso. Jafar, porém, é um símbolo daquilo que tenta ser uma coisa a mais e não consegue nem ser o que já era. O personagem tem mais complexidade, tem um passado que o associa a Aladdin e incrementa o seu enredo, as suas motivações. Isso tudo, contudo, é explorado sem muito capricho. E se o antagonista originalmente era apresentado com um senso de ameaça marcante, a interpretação de Marwan Kenzari não se equipara. Entre acertos e erros, o mundo de Aladdin não é o ideal, no entanto, introduz um outro olhar às noites na Arábia.
7º Lugar: Rock’n’Rolla: A Grande Roubada
As piadas de drogas, excessos e rock’n’roll mantém uma regularidade do humor até o ato final, mas Rock ‘n’ Rolla vai perdendo seu carisma e a ironia com o arco maçante de Johnny, tanto pela interpretação cansativa e maneirista de Toby quanto pela falta de equilíbrio de Ritchie na montagem de diferentes blocos, como dos ex-empresários de Quid (Jeremy Piven e Ludacris) que não impactam a trama, e deixam o clímax mal montado com a junção de todos. Ironicamente, pensando na linguagem de Ritchie, é um filme que se beneficiaria de menos personagens, pois é um longa extremamente divertido na dinâmica do Wild Bunch e nas ironias com clichês e convenções do própria filmografia do cineasta britânico, mas que infelizmente não se compromete ao fantástico trio de Butler, Hardy e Elba, até mesmo escanteados no desfecho do filme. Ainda assim, há muito a gostar na mesmice e autoparódia de Ritchie.
6º Lugar: O Agente da U.N.C.L.E. (2015)
Como diretor, Ritchie encontra-se bem mais contido do que suas surtadas cômicas em Snatch ou Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Tudo bem que o diretor e roteirista insiste em apostar em sua batida técnica de repetir cenas para nos revelar “um truque de mágica” escondido ali (mesmo que este seja bem perceptível algumas vezes, como a primeira aparição de Hugh Grant), mas, no geral, é uma condução segura e elegante, especialmente em sequências como o encontro inicial entre Solo e Illya no Muro de Berlim ou uma corrida contra o tempo claramente inspirada em Curtindo a Vida Adoidado. Só deixo registrado aqui que U.N.C.L.E. tem a perseguição de carro mais estranha que já vi na vida, como se Goddard resolvesse bagunçar toda a disposição espacial e cinematográfica desse tipo de cena.
5º Lugar: Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras
Todavia, como disse anteriormente, o embate antagônico ganha um ar de verdadeira ameaça com o tortuoso e astuto Moriarty. Como um belo jogo de xadrez, simplificado ao mesmo no ótimo ato final entre os dois personagens, Moriarty se prova um temível adversário, até sádico em vários momentos, com o drama bem estabelecido do filme em torno de Holmes encontrando um rival à sua altura. O contexto político e de um período pré-guerra instituem a ótima trama de dois oponentes decidindo o destino de milhões, e, apesar de não ser um whodunnit propriamente dito, o conflito grandiloquente de Holmes e Moriarty mantém o espectador instigado até o desfecho que condensa uma possível guerra mundial em um despojado jogo de xadrez. Apesar do teor mais genérico, exageros fúteis e o humor caricato na perda de equilíbrio de Ritchie, realmente quase não tendo nada da essência de Doyle, Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras mantém a audiência com um mediano divertimento blockbuster, sustentado pelo ótimo embate dramático de um desconcertado Holmes e o megalomaníaco Moriarty.
4º Lugar: Snatch: Porcos e Diamantes
O roteiro humorístico afiadíssimo, a caracterização única, os nomes ridículos, o diálogo profano e inaudível, o uso de temas musicais para diferentes integrantes, além, claro, das magníficas atuações, edificam e até mesmo te fazem esquecer de como a obra como um todo é um tanto estranha na sua forma somada a temática, pois funciona espetacularmente nas diferentes tramas exageradas. Muitas pessoas rotulam Snatch: Porcos e Diamantes como “mais do mesmo” na filmografia de Ritchie, o que é, honestamente, um argumento ridículo, pois identidade própria não significa mesmice. A questão é que o diretor testou e abusou do seu estilo de tal forma que criou uma baguncinha no cerne estilístico e cinematograficamente linguístico da película, mas é uma baguncinha gostosa, divertida e eternamente clássica. Uma das melhores obras violentamente cômicas já feitas.
3º Lugar: Sherlock Holmes (2009)
No mais, o Sherlock de Guy Ritchie desafia o espectador, especialmente o fã do personagem, ao trazer uma embalagem totalmente oposta do esperado, daí o ótimo tom irônico, e até paródico se pararmos para pensar na mudança de ações da obra para uma comédia. O cineasta britânico emprega sua linguagem de humor criminoso sujo e malandro para uma narrativa de deduções sempre dinamizadas como ação, na sua proposta de uma adaptação cômica e blockbuster de Holmes. Ainda que tropece no drama e no desenvolvimento antagonista, Sherlock Holmes (2009) é aquele tipo de obra que deixa decepções em relação a mudança de identidade do personagem, mas se nos atentarmos a proposta de Guy Ritchie, vemos a essência de Sherlock Holmes em evidência, só que envolta de uma experiência frenética, heroica, sórdida, estilizada e, como típico de Ritchie, com muito humor e ironia.
2º Lugar: Magnatas do Crime
Reclamações puristas a respeito da autoindulgência de Guy Ritchie (voltar ao início do primeiro parágrafo) entram naquele tipo de lista que entendemos trabalhar com fatos, mas que por trazerem à tona uma prática cinematográfica encontrada em todo cineasta com uma assinatura reconhecível e recorrente, acaba tornando o argumento contraditório ou hipócrita. O olhar do diretor para a sua própria obra serve ao argumento de Magnatas do Crime como elemento central do jogo, expondo peças de diversão que tornam a comédia de máfia distinta do que vemos frequentemente no mercado, e algumas escolhas que mostram o diretor procurando renovar sua maneira de contar (e especialmente de revelar) um grande mistério.
1º Lugar: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes é um clássico por muitos motivos, como o trabalho espetacular de Guy Ritchie, principalmente ponderando que esta é sua estreia em um longa-metragem, mas os personagens esdrúxulos, ambíguos, moralmente dúbios, são o que vem à memória ao relembrar o filme. Jason Statham e Vinnie Jones iriam aproveitar carreiras longínquas após isto, mas todo o elenco merece louvor, ainda que lhes faltem o alcance artístico que se espera de grandes atores, eles aproveitam cada frase do roteiro afiado e elevam a obra para seu status atual de clássico. O debute de Guy Ritchie não poderia ser melhor, e até hoje é lembrado por muitos como o melhor trabalho do cineasta – no meu ranking pessoal é o segundo, pois sou um fanático por O Agente da U.N.C.L.E. Ótimas obras deste subgênero vieram antes, e muitas vieram depois, algumas do próprio Ritchie, mas raramente algo que equipara-se à fenomenal experiência sensorial e violentamente cômica exibida aqui. Citando Big Chris, foi emocionante; extremamente emocionante e divertido, diria eu.