- Confiram aqui, outros rankings de franquias de terror.
Injustamente, das cinco franquias dos principais ícones do slasher da história (Michael Myers, Ghostface, Jason, Leatherface e Freddy Kruger), O Massacre da Serra Elétrica é a que mais cai no fatídico rótulo do “só o primeiro presta”. No entanto, isso não é verdade. Se partirmos do princípio de que os filmes (ao contrário do que pensa o imaginário popular) não são, em sua maioria, protagonizados pelo assassino do motosserra, já temos um pontapé de versatilidade nas abordagens da denominada “mesma história”, não vista nas demais franquias citadas.
Fora que, de todas essas, O Massacre da Serra Elétrica foi a que trouxe mais marcos para mudanças no subgênero. Mais até do que Halloween. Falam muito do clássico de Michael Myers em 1978 como o definidor dos clichês do gênero dali para a frente, sendo que ele só existiu porque Leatherface surgiu antes, sendo ainda mais pioneiro com o seu primeiro filme em 1974. Falam muito de Pânico dando sobrevida ao gênero nos anos 90 graças ao seu poder satírico, sendo que o segundo filme O Massacre – dirigido também pelo seu criador –, foi fundamental para que o slasher fechasse a década de oitenta com seu domínio popular com filmes que cada vez se levavam menos a sério. Fora que foi O Massacre da Serra Elétrica que trouxe, no início do século, a tendência dos remakes sombrios (ou denominados slasher tardios), garantindo a criação de novas franquias importantes no subgênero nos anos 2000, como Pânico na Floresta, por exemplo. Portanto, O Massacre da Serra Elétrica merece mais respeito.
Com O Retorno de Leatherface recentemente nas telas da Netflix, a dupla dinâmica do terror (vulgo, eu, colunista que vos falo, Iann Jeliel e meu companheiro de crítica Leonardo Campos) se junta novamente para ranquear outra franquia do gênero aqui no Plano Crítico, do pior ao melhor. Antes de classificarmos os nove filmes, porém, vale destacar algumas observações importantes na montagem da lista:
- Primeiramente, óbvio, cada um elaborou seu ranking individual. Em cada ranking, os filmes ganharam uma certa quantidade de pontos, adquiridos de forma inversamente proporcional a sua colocação. Exemplificando: o 1º lugar levou 8 pontos e o 9° lugar apenas 1 ponto.
- Com a soma simples dos pontos, chegamos na primeira versão da ordem final. Ainda não foi a definitiva, porque houve um empate triplo. Para desempatar, levamos em conta a melhor avaliação individual de cada um entre os filmes em questão. Persistindo o empate, seria considerado a pior avaliação individual, colocando, lógico, abaixo no ranking.
- A ordem final não reflete na avaliação das críticas, visto que todas foram escritas pelo Leonardo e nós temos amplas divergências de opinião sobre a franquia.
- Diante disso, o ranking será acompanhado de comentários curtos abaixo das posições, representando minha opinião (Iann) sobre cada filme. Para conferir a opinião particular de Leo, haverá links para cada uma de suas críticas completas nos títulos. Não deixe de ler os comentários e acessar os textos após o ranking.
Essa como qualquer outra lista, não possui caráter definitivo. Concorda? Discorda? Ótimo! Deixe sua opinião nos comentários a respeito, além de pôr a sua ordem nos comentários!
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9° Lugar:
Leatherface – O Massacre da Serra Elétrica 3
(6 Pontos)
Apesar de não ter conseguido nenhuma última posição no ranking particular de cada um, o terceiro capítulo da franquia principal acabou sobrando como o “pior”. Com aspas porque particularmente nem o considero como um filme ruim, embora certamente dos fracos seja o menos marcante. O que demonstra como a nota de corte da franquia é alta. Há muitos aspectos interessantes aqui: desde a exploração mais específica da dinâmica familiar psicopata, buscando um âmbito realista (sem um caráter tão grosseiro como o primeiro), passando pela transformação de protagonismo do filme em caráter reativo (outras vítimas, não só a final girl vão para o confronto direto com os antagonistas) na proposta slasher mais pura. Fora a presença forte de um jovem Viggo Mortensen (sim, ele está nesse filme) como o psicopata principal dando vitalidade ao filme, que, apesar de começar mais genérico, é melhor em seu início e decai de ritmo no seu terceiro ato, onde teoricamente estão as suas boas ideias. Ou seja, acabou faltando um diretor mais capacitado na ornamentação da narrativa em crescente.
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8° Lugar:
Massacre no Texas
(7 Pontos)
Outro filme que tem ideias muito boas e uma execução que acaba não atingindo todo o potencial delas no papel. Se tratando de um filme de origem, a abordagem de fazer um mistério sob quais dos jovens é o verdadeiro Leatherface, sem dúvidas, é bem inventiva. Há uma visceralidade bem única nessa narrativa da fuga, numa inversão dos valores da franquia, colocando os supostos antagonistas (alguns já são psicopatas, outros serão consolidados como na dinâmica entre os personagens) como os perseguidos. Tem até um aspecto de coming of age que fica bem interessante quando deturpado pela situação de sobrevivência em condições extremas. Infelizmente, a proposta se esvai quando traz cedo demais sua principal revelação, deixando a impressão que para ela ser crível precisava de um melhor desenvolvimento específico impossibilitado pela ideia de esconder a virada. Além do que, há brechas muito óbvias deixadas pelo roteiro, ficando fácil antecipar se você assistiu aos outros filmes (o nome real do personagem é falado).
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7° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua
(8 Pontos)
De todos, esse é o único filme intragável da franquia para mim. E ele só está ainda em antepenúltimo porque meu companheiro gosta a ponto de colocá-lo no seu top 3 – há doido para tudo. Curiosamente me arrisco a dizer que é o primeiro filme em que o Leatherface, de fato, é o protagonista como vilão. Além de ser, igualmente ao mais recente, um retcom que tenta dar um cânone novo à história, continuando-a após os eventos do primeiro. Eu até gosto da tentativa de estabelecer essa mitologia, mas dessa forma extremamente problemática, moralmente e narrativamente. Não sei o que é mais absurdo: tratar um canibal e mutilador como uma vítima de um jogo de poder entre famílias insanas – ele só tem a cabeça de uma criança…. jura? –, ou colocar a protagonista (Alexandra Daddario) se tornando uma psicopata no mesmo dia que conhece o parentesco com o Leatherface, só porque “é de família”. Esses dois pontos, no entanto, são apenas o cúmulo de todo um festival de erros de montagem e cenas constrangedoras visando o inútil 3D – como aquela perseguição no parque. Por favor, considerem esse moralmente como o último colocado!
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6° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica: O Início
(9 Pontos)
Engraçado que é um bom filme em vários aspectos como exercício de gênero, menos como filme de origem. Na verdade, o título “O Início” é somente um clickbait ou um contextualizador de que essa história se passa antes do remake. Porque tirando umas ceninhas no começo com o Leatherface trabalhando num abatedouro e matando seu dono, não tem nenhuma “origem” contada, nem dele, que mais uma vez é coadjuvante da história, nem do Xerife Hoyt (R. Lee Ermey), que novamente, rouba cada cena com sua presença. A força do prelúdio, na verdade, estar em não precisar perder tempo tentando nos enganar sobre o caráter personagem, de cara já o jogando na ação de torturar o quarteto de jovens da vez, que por sinal, tem um background dramático minimamente interessante com a história dos dois irmãos desentendidos pelo contexto da Guerra do Vietnã.
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5° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno
(9 Pontos) – Desempate por melhor colocação
Bem como o segundo, esse quarto filme é o “patinho feio” da franquia por se entregar a uma proposta muito mais cômica do que focada no horror violento da família psicopata. Também não chega a ser uma comédia exatamente, desenvolvendo seus comentários satíricos nas entrelinhas dos estereótipos. Os dois mais inteligentes seriam: a subversão da “gostosa” que mostra os peitos gratuitamente durante o exercício slasher ao ser revelada como integrante do grupo de antagonistas e a presença de um Leatherface mais bobalhão e explicitamente drag queen à la Ed Gein, sendo o filme que mais explora esse lado da sexualidade do personagem e uma das suas participações mais marcantes.
Nesse sentido, não podemos deixar de mencionar a presença icônica de Matthew McConaughey no papel de assassino principal em uma performance sensacionalmente surtada, que dá verossimilhança a toda proposta mais extravagante do filme. Inevitavelmente, há muitos momentos que acabam pecando pelo exagero, além de faltar carisma na protagonista de Renée Zellweger (em início de carreira junto com o Matthew), mas, sem dúvidas, O Retorno é um filme a ser redescoberto tal como foi o próximo colocado.
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4° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica 2
(9 Pontos) – Desempate por melhor colocação
Guardadas as devidas proporções, Tobe Hopper fez algo muito semelhante na sua continuação ao que Sam Raimi fez com sua franquia Evil Dead: um remake do filme original, só que numa perspectiva cômica, satírica e até mesmo histérica daquela proposta. Claro, não é uma refilmagem literal e adere a continuidade de maneira direta na história, mas, tematicamente, há o mesmo comentário acerca da decadência moral americana, transfigurado para esse novo ponto de vista em um estudo comportamental da nova década. Se os horrores mostrados nos anos setenta faziam parte quase de um submundo escondido na sociedade americana, nos anos oitenta elas já se integram à normalidade do convívio social.
Mais do que isso, a banalização da violência se torna prazerosa, divertida – um próprio comentário sobre a premissa do gênero que pertence. Se a primeira cena dos jovens no carro atirando nas placas de trânsito “porque sim” e o primeiro encontro implicitamente “sexual” entre a protagonista e o Leatherface não deixa isso claro, o cenário remetente a um parque de diversões como a nova casa da família Sawyer e a vitória dos mocinhos dada pelo uso do símbolo da loucura (a motosserra) didatizam esse raciocínio, ao mesmo tempo que entregam uma “trasheira” (a batalha de serras!!) anárquica de qualidade. Infelizmente, só não está mais alto na lista porque o Leo, absurdamente o considera como o pior. Para mim, é moralmente o segundo colocado dessa lista!
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3° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica (2003)
(10 Pontos)
Tem méritos de ser o primeiro de uma tendência que sobreviveu de impactos estéticos imediatos: o gore mais grosseiro, o filtro da fotografia sem contraste e sombrio, a aparência crua dos personagens. Um exercício de gênero com bases tão apelativas inevitavelmente acaba envelhecendo mal, contudo, na origem dessa proposta de um novo exploitation, enxergo a intenção primária de realmente reinventar o que alçava o primeiro de outra maneira, afinal, ele também tinha a intenção veemente de chocar o público.
Por mais questionável hoje que seja a execução do método até esse resultado, eu gosto principalmente de como o filme tenta dar mais personalidade aos personagens (destaque positivo para a Jessica Biel), além de como a história se desenvolve num background situacional mais realista e inevitável do adentrar daquele horror, conduzido especialmente pelo Xerife Hoyt, o melhor vilão (como vilão) da franquia depois do Leatherface. Pena que isso acabe se estendendo demais. O clímax parece interminável e fica progressivamente menos interessante. Para mim, estaria bem mais abaixo na lista, mas o Leo o considera o segundo melhor, então, ele acabou no top 3.
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2° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface
(12 Pontos)
Por questão de encaixe, a requel da franquia finalmente traz o Leatherface pela primeira vez (com qualidade) ao que popularmente imaginam que ele seja: um vilão indestrutível como Jason e Michael Myers que sai matando as pessoas com um motosserra em uma estrutura de slasher tradicional. Imagino que o David Blue Garcia seja um fã autêntico da franquia, que sempre quis ver esse filme mais direto na sanguinolência e com seu maior ícone como protagonista absoluto das ações de violência. Para isso ele se aproveita desse contexto de legados sendo retomados para subverter um pouco as expectativas do seu público. Não chega a ser um filme ousado. Pelo contrário, ele quer ser o mais simples possível no que propõem (tanto que é o mais curto dentre os nove), mas utiliza esses preceitos falsos de nostalgia – o vilão mais velho, o retorno da “Laurie Strode” que nunca existiu, a homenagem específicas as cenas do primeiro filme – num cenário moderno com temáticas socialmente relevantes, inteligentemente para se vender.
Funciona, porque não passa de pinceladas com a função de potencializar o que importa: o banho de sangue – destaque imenso para a cena do ônibus. Por não estar interessado em aprofundar tais questões, além de não exatamente entregar (porque não tinha o que se entregar) as inserções de elementos do passado no presente, acaba frustrando a maioria, especialmente aquela que tem esse pensamento do que é a franquia no imaginário popular, acusando-o de ser “a mesma coisa” dos outros, sendo que, repito, só nesse e parte no 3D, Leatherface foi o assassino implacável e protagonista que acham que ele é.
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01° Lugar:
O Massacre da Serra Elétrica (1974)
(18 Pontos)
Lembro que foi um dos primeiros filmes de terror que assisti: e mesmo hoje depois de rever tantas vezes, o sentimento desesperador, principalmente depois quando a narrativa engrena a partir da perseguição de Leatherface a Sally Hardesty (Marilyn Burns) é praticamente o mesmo. Méritos totais da câmera caseira de Hopper, que dá um realismo cru quase documental a película, ficando ainda mais imersivo à medida que a escolha de enquadramentos fica cada vez mais aproximados as expressões hiperbólicas de pavor e insanidade dos personagens, capturando uma brutalidade animalesca da situação de forma crescente até a catarse no clímax.
É uma jornada para o lado mais primitivo do ser humano, simulando a vaca indo para abatedouro, da tradição familiar (literalmente) se alimentando da violência e sendo desmascarada por de trás de uma máscara de pele. A verdade é que esse ranking já começou com um dono no pódio. Por mais que ache a franquia com mais filmes bons do que ruins, o primeiro ainda é imbatível, a única unanimidade possível na saga e um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.