- Confiram aqui, outros rankings de franquias de terror. SPOILERS DE TODOS OS FILMES!
Hello.
I want to play a game.
Idealizada inicialmente por James Wan e Leigh Whannell, Jogos Mortais foi a franquia pioneira do subgênero do terror denominado torture porn, marcado pela tortura física e pela violência explícita como dois de seus elementos narrativos centrais, dominante junto ao sobrenatural no cinema de horror neste século. Recentemente, tivemos a estreia de um novo filme pertencente a esse universo: Espiral – O Legado de Jogos Mortais. Um spin-off que, como seu subtítulo diz, tenta repaginar a saga dando continuidade ao legado de Jigsaw, mesmo com a ausência de John Kramer – seu “principal” serial killer.
No clima desta grande estreia, nós do Plano Crítico, como de costume, não deixamos escapar a oportunidade de trazer um novo ranking. Assim, fizemos um balanço geral sobre todos os nove filmes da franquia popular até o momento – incluindo seu novo filme –, classificando-os do pior ao melhor. Nesta lista, participaram novamente a dupla dinâmica no site fanática por terror, no caso, eu que vos escrevo, Iann Jeliel, e Leonardo Campos, responsável por criticar todos os nove filmes, além da ilustre colaboração do colunista Roberto Honorato que assistiu também a todos eles.
Antes da ordem, algumas observações importantes sobre critérios usados na elaboração do ranking:
- O curta de 2003, que originou tudo, não foi considerado. A ordem vale apenas para os nove longas-metragens;
. - Primeiramente, cada um elaborou seu ranking individual. Em cada ranking, os filmes ganharam uma certa quantidade de pontos, adquiridos de forma inversamente proporcional a sua colocação. Exemplificando: o 1º lugar levou 9 pontos e o 9° lugar, apenas 1 ponto. Com a soma simples dos pontos, chegamos na primeira versão da ordem final;
. - Ainda não definitiva, porque houve dois empates. Para desempatar levamos em conta a melhor classificação em ranking individual para os filmes empatados em questão. Persistindo o empate, seria considerada a pior classificação individual entre eles, colocando, lógico, a pior abaixo no ranking;
. - A ordem final pode não refletir na avaliação das críticas, visto que os três colunistas obviamente têm divergências nas opiniões;
. - Os comentários curtos abaixo das posições serão feitos por mim (Iann), representando parte da minha opinião, mas levando em conta a impressão conjunta dos colunistas envolvidos;
. - Haverá links para cada crítica do Leo nos títulos. Não deixe de ler os comentários e acessar os textos após o ranking.
Por fim, esta, como qualquer outra lista, não possui caráter definitivo. Concorda? Discorda? Ótimo! Deixe sua opinião nos comentários, com respeito, além de deixar sua ordem nos comentários! Vamos ao ranking!
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9° Lugar: Jogos Mortais 4
(7 Pontos – Desempate por Pior Colocação)
De todas as continuações, talvez seja a que menos saiba para onde expandir. Tanto que é o filme mais pesado em flashbacks, contando mais, desnecessariamente, sobre a motivação de John Kramer (Tobin Bell), que já era muito clara. Fora que a narrativa investe num paralelismo temporal das histórias deste, junto ao três, só a partir da metade, tornando as amarras entre os fragmentos absolutamente confusas, principalmente quando vai propor reviravoltas. Foi aqui que o detetive super sem graça, Hoffman (Costas Mandylor), virou o vilão principal. Para isso ter feito sentido, o malabarismo do roteiro teve que forçar demais a barra, tanto nas interconexões por retcom quanto na mão pesada do lado investigativo, que sempre foi o mais fraco da franquia.
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8° Lugar: Jogos Mortais 5
(7 Pontos)
A diferença deste para o quarto talvez seja a direção. Darren Lynn Bousman já havia pesado a mão nas suas montagens cheias de cortes em flashs e filtros carregados na fotografia, enquanto David Hackl aposta novamente em aspectos minimalistas. O filme apresenta talvez a melhor execução do lado investigativo na saga. O jogo de gato e rato entre o inexperiente Hoffman (Costas Mandylor) e Strahm (Scott Patterson) é até devidamente estimulante. O problema é que esse também é o mais fraco no lado bom da saga, que são os jogos. As mortes e os desafios são pouco criativos, e a reviravolta novamente peca pelo exagero tentando ser verossímil.
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7° Lugar: Jogos Mortais 7 – O Final
(9 Pontos)
Em algum momento, este para mim foi o pior filme da saga, como acham meus companheiros Leo e Roberto. Contudo, analisando em uma nova óptica na revisitação, talvez seja junto ao sexto o que mais abraçou o senso de galhofa do torture porn sem precisar levar para o lado verossimilhante do suspense. Hoffman (Costas Mandylor) vira praticamente um assassino slasher imortal e pouco se lixando para o senso de justiça que aprendeu com seu “mestre”, ao mesmo tempo se torna o justiceiro social que John Kramer (Tobin Bell) nunca foi, torturando de talaricos a racistas. A conclusão chuta o balde do senso de absurdo e traz consigo uma comédia (mesmo que involuntária) da desgraça alheia, culminando numa conclusão de saga tão sem noção quanto divertida.
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6° Lugar: Espiral: O Legado de Jogos Mortais
(13 Pontos)
Darren Lynn Bousman parece acreditar que o legado de Jogos Mortais está na sua via investigativa e tenta revigorá-la sob uma perspectiva social mais direta, embora não modernizada. Chris Rock e Samuel L. Jackson são desperdiçados em dois sentidos aqui. Primeiro na parte cômica, que no roteiro se resume a frases de xingamentos replicados em suas bocas, sem o auxílio de um contexto engraçado. Segundo, numa via dramática, que os dois já foram ao longo da carreira muito capazes de entregar, mas que não conseguem graças à incompetência desse lado mais pessoal da narrativa, juntada em uma investigação para lá de enfadonha e que não discute legado algum para John ou para a franquia.
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5° Lugar: Jogos Mortais: Jigsaw
(16 Pontos)
A investida numa narrativa de execução mais sofisticada é bastante promissora. Na verdade, mais do que promissora, é perfeitamente executada nos primórdios desse oitavo filme. O jogo em questão está entre os mais interessantes da saga, com uma construção diferente, em que desafios não buscam uma urgência apelativa a mutilações dos anteriores, mas realmente exploram a situação adversa elaborada para a moralidade entre os personagens ali envolvidos. Há um mistério devidamente envolvente sobre o paradeiro de John Kramer (Tobin Bell) que puxa o lado investigativo para cima também, alçado mais na ciência psicológica do assassino do que exatamente na resolução do caso. É uma pena que o filme ao final não tenha coragem de realmente trazê-lo de volta, porque seria bem mais interessante isso (com qualquer desculpa que fosse) do que todo o novo retcom feito de um novo personagem que nunca existiu querendo passar seu legado numa vingança pessoal para qual ninguém liga, afinal, só foi deixada essa informação para o final.
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4° Lugar: Jogos Mortais 3
(17 Pontos)
Só de não possuir uma narrativa paralela investigativa já ajuda, mas o filme realmente busca uma nova dinâmica para a saga. Apesar de longo, o paralelismo escolhido fica entre um jogo pessoal de Jeff (Angus MacLadyen) de drama bem trabalhado, com uma dramática igualmente bem trabalhada envolvendo o vilão, e a necessidade de fazer uma cirurgia cerebral (também fazendo parte de um jogo e sendo uma das melhores cenas da franquia) carrega devidamente a atenção no ritmo. O conflito entre John (Tobin Bell), sua discípula Amanda (Shawnee Smith) e a cirurgiã (Bahar Soomekh), capturada por eles, foi uma ótima forma de intercalar o torture porn mais explícito assumido a partir daqui, sem torná-lo cansativo ou intenso demais, desproporcionalmente com o que havia de mais importante a se resolver. Definitivamente, esse também apresenta algumas das armadilhas e mortes mais criativas da franquia, só atrás de um outro filme que comentarei mais à frente.
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3° Lugar: Jogos Mortais 2
(17 Pontos – Desempate por Melhor Colocação)
Talvez seja o único filme da franquia que de verdade aproveite Tobin Bell como John Kramer, e só por isso ele merece a tríade de ouro. O exercício do jogo mortal ainda é minimalista, aumentando somente o escopo de participantes. De dois para oito. Cada um possui uma conexão que é um mistério envolvente o suficiente para ser crível, quando aliado ao drama do lado investigativo, em que o filho do policial (Erik Knudsen) responsável pelo caso está preso na jaula com sete criminosos por ele incriminados, dando uma urgência maior ao suspense. Há uma dualidade bem efetiva em Matthews (Donnie Wahlberg) tentando intimidar John, e ele respondendo com a chantagem de um jogo que já tinha acabado e só estava passando em gravação, uma sacada para lá de inteligente como climática. Falto ao longa explorar mais o cenário da casa e a relação de Amanda (Shawnee Smith) com Jigsaw, ainda assim esta é uma continuação digna.
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2° Lugar: Jogos Mortais 6
(21 Pontos)
A adição de Kevin Greutert na direção deu uma sobrevida à franquia. Também responsável pelo sétimo (do qual eu gosto), o diretor valoriza seus melhores elementos, executando-os igualmente nas valências mais potentes. O sexto filme consegue ser o mais intenso, tanto em ritmo quanto em sanguinolência, mas possui dosagem e discernimento objetivo bem aplicados nessa intensa violência para um senso de entretenimento mais honesto. Assumido ao exagero e ignorando um pouco a verossimilhança externa enquanto filme policial, Greutert extrapola (e explora melhor) criativamente as armadilhas, cenários, dilemas morais e mortes, numa montagem surpreendentemente bem-orquestrada (a melhor da franquia) para dar valor à crescente gamificada da estrutura tradicional entre duas temporalidades narrativas.
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1° Lugar: Jogos Mortais
(27 Pontos)
Por unanimidade, a ideia original continua e provavelmente continuará prevalecendo como o melhor filme dessa franquia. Minimalista e enigmático, James Wan ao invés de apostar na gráfica gore e marca registrada posterior da franquia, investe bem mais na atmosfera psicológica do jogo, composto por um enclausuramento claustrofóbico crescente, moralmente mais sufocante à medida que seus personagens identificáveis vão sendo bem desenvolvidos na situação de sobrevivência. Apesar de ter também uma fraca parte investigativa secundária, ao menos ela aqui cumpre o objetivo no filme de compor a aura misteriosa sobre quem é o assassino, algo fundamental para a culminação das respostas render uma das grandes reviravoltas da história do cinema. Tão boa quanto essa virada foi o caminho até chegar nela. Cautelosa, num filme tão simples, mas aproveitada perfeitamente por cada elemento da narrativa, para elaborar uma tensão bem mais complexa do que aparenta, que resultou num dos clássicos mais recentes do cinema de terror.