5ª Temporada
(não é uma média)
Em seu 5º ano, Fear the Walking Dead desapontou novamente ao, de um lado, insistir exageradamente no discurso do “bom samaritano” de Morgan e, de outro, falhar pela segunda vez consecutiva em apresentar um vilão que possa efetivamente ser chamado assim. Com metade da temporada dedicada a reunir a equipe novamente depois que alguns caem de avião em uma zona próxima a uma usina nuclear perigosamente perto de explodir e a outra metade dos episódios ficando à deriva com uma não-história e com não um, mas dois não-vilões, Andrew Chambliss e Ian Goldberg não conseguiram sequer demonstrar algum rumo, algum objetivo ao longo de intermináveis 16 capítulos.
Sem algum acontecimento chocante ou, no mínimo, realmente importante, a temporada toda pareceu mais uma tentativa de catequizar os leitores sobre a bondade inerente do coração humano, sobre as virtudes de se ajudar o próximo. Chegou próximo do novelesco com diálogos expositivos cansativos pregando uma filosofia que, nesse nível de exagero e considerando o ambiente hostil ao redor, parece completamente deslocada, quase uma brincadeira de mau gosto, algo que foi amplificado pelas chatíssimas gravações de Al que chegam até mesmo a se tornar peças publicitárias para o serviço de Cruz Vermelha oferecido por Morgan e companhia em competição aos de Virginia.
Mesmo com seríssimos problemas estruturais, a temporada ainda conseguiu brindar o espectador com um belíssimo episódio e outros três oscilando entre o bom e o muito bom e que ocuparam as quatro primeiras posições. Depois, foram quatro episódios levemente acima da linha do medíocre seguidos de cinco medíocres. Os três restantes foram abaixo da média. Em outras palavras, Fear the Walking Dead volta para o patético nível de sua 2ª temporada, em uma irritante gangorra qualitativa. Só resta esperar que, depois de duas temporadas com viés de queda, a próxima tenha qualidade ascendente.
Vamos então ao ranking dos episódios?
16º Lugar: Is Anybody Out There?
5X08
Só que o sal na ferida foi quando Logan revelou que o tal “segredo” era a localização de um lugar (uma usina?) com combustível bom o suficiente para permitir a continuidade do programa de ajuda ao próximo de Morgan de Calcutá. Afinal, desde que houve o salto temporal na série, na temporada passada, o assunto de combustível estragado foi introduzido inteligentemente no roteiro como vocês devem lembrar. Não? Não lembram? Façam uma forcinha. Foi lá atrás no episódio… É… Isso mesmo… Foi só aqui NESTE EPISÓDIO que essa novidade apareceu convenientemente como um ato divino milagroso graças às explorações dos amigos Dwight e John, dupla que, como todo roteiro bom para tornar-se papel higiênico de posto de gasolina, volta sã e salva exatamente no último segundo possível, com direito a pedido de casamento aéreo e o escambau.
15º Lugar: Channel 5
5X15
O culpado, obviamente, é o próprio personagem que mais parece um daqueles blogueiros idiotas que fazem todo o tipo de besteira perigosa para conseguir aquela foto, aquela filmagem para poder postar em redes sociais, volta e meia sendo atravessados por chifres de rinoceronte ou caindo de precipícios. Ao contrário de qualquer consideração sobre culpa de terceiros, Tom merece o primeiro lugar do Darwin Awards. Já foi tarde, Tom.
14º Lugar: Leave What You Don’t
5X13
Relembrem-se do episódio e digam-me: quantas vezes, em meros 40 minutos, armas foram apontadas de um lado a outro sem que sequer um tiro significativo fosse disparado? Logan entra na refinaria acompanhado de três ou quatro capangas e, sem suar, subjuga um grupo muito maior que tem ainda mais armas que eles. Quando outros “mocinhos” chegam, mais armas são apontadas, mais discussões intermináveis acontecem e só há algum tipo de ação porque, aparentemente, fogo e fumaça agora atraem mortos-vivos.
13º Lugar: You’re Still Here
5X11
Na trama, Alicia está sofrendo de transtorno de estresse pós-traumático depois de seu encontro com centenas de zumbis em Still Standing, o que a torna ainda mais inútil do que Morgan já que ela se recusa a matar até mesmo os mortos. No entanto, esse elemento introduz uma temática interessante que, até onde me consta, nunca havia sido abordada em uma série de zumbis. Acontece que, no lugar de realmente mergulhar no lado psicológico da coisa, os roteiros transformaram a personagem em um zero à esquerda que passou a se interessar por frases misteriosamente pintadas em árvores, frases essas que surgiram convenientemente do nada e que levantaram suspeitas pela internetosfera de que seria um sinal de que Madison, sua mãe, estava viva.
12º Lugar: Today and Tomorrow
5X14
Entendo a excitação de Al em matar dois coelhos com uma cajadada só, mas custava mais cuidado na preparação da infiltração? E, mais ainda, custava usar o episódio para revelar um pouco mais do plano macro de Virginia e seus minions que, no final das contas, não têm relação alguma com o misterioso grupo de Isabelle? Certamente as filmagens de Al serão úteis mais para a frente, mas em uma temporada que parece estar à deriva, era importante que algum senso de perigo fora os zumbis de sempre nos fosse apresentado. Do jeito que está, Virginia parece a versão 2.0 de Logan que, por sua vez, tinha o mesmo grau de ameaça da velha louca da segunda metade da temporada anterior.
11º Lugar: The Little Prince
5X06
O grande problema não é as crianças irem embora ou Morgan e companhia decidirem reconstruir o avião em pedaços como se Althea, depois de revelar-se como uma alpinista de mão cheia, também fosse especialista em aeronáutica, basicamente como um MacGyver feminino pós-apocalíptico. O problema maior e mais desconcertante reside na bagunça que é o episódio todo, com alguns poucos minutos para cada situação como se Westfall tivesse recebido ordens para tentar compensar o “tempo perdido” pelo foco exclusivo em Althea e Isabelle. Afinal, não podemos esquecer que além de Strand e Charlie no armazém de Daniel (e, depois, no fatídico balão), Alicia com as crianças, Al com o avião e Morgan partindo para ajudar Maggie com a usina nuclear, ainda temos John Dorie ajudando Dwight a encontrar sua esposa.
10º Lugar: Ner Tamid
5X12
Afinal de contas, quando um episódio tem como seu ponto alto uma sequência que lembra uma partida particularmente lenta de Mario Bros., com June e John usando uma escada para navegar por uma área infestada de desmortos, fica evidente que há algo muito errado. E olha que eu gosto muito do casal, basicamente a melhor dupla que a série tem no momento. Mas eles não podem fazer milagre com o material que Chambliss e Goldberg, roteiristas do capítulo, entregam para eles trabalharem.
9º Lugar: Channel 4
5X09
Enquanto a situação principal se desenrola da maneira mais previsível possível, mas sem perder em divertimento explosivo, ganhamos enfadonhas entrevistas com os integrantes do elenco que passam a abordar seus propósitos de vida em sessões terapêuticas filmadas. Morgan está como um pinto no lixo já que seu projeto está dando certo, mas ele ainda não conseguiu desvencilhar-se dos fantasmas de seu passado, notadamente sua esposa e filho mortos. Alicia está traumatizada desde seu último encontro com uma horda de zumbis a ponto de se recusar até mesmo a matar os mortos, contribuindo para que a personagem torne-se mais inútil ainda que Morgan. Os demais, muito sinceramente, estão diante das câmeras como fillers humanos, já que não têm muito mais o que falar além de platitudes ou obviedades que já estamos cansados de ouvir.
8º Lugar: Skidmark
5X04
Daniel, por exemplo, que aparecera brevemente demais em Here to Help, volta com força total não como um fim em si mesmo, mas sim como o elemento introdutório de toda uma trama paralela que envolve um charuto (seria do Abraham?), armadilhas mortais sendo armadas em todos os 7 Eleven da região, uma razão misteriosa para ele ter ficado esse tempo todo no seu mega-armazém e uma aura de santo salvador para o ex-assassino que periga descaracterizar demais o personagem e colocá-lo ao lado do beatificado Morgan e sua postura “paz e a amor”. Seja como for, Rubén Blades está muito bem e consegue passar a “bondade com naturalidade” que Garret Dillahunt também consegue com seu John Dorie.
7º Lugar: The Hurt That Will Happen
5X02
Ainda que esse artifício faça algum sentido, já que o estado das usinas nucleares pós-apocalipse não havia sido ainda abordado do TWDverso, não pude deixar de sentir-me assistindo Z Nation, basicamente a versão “escracho total” de séries de zumbi. Admito que é mais uma implicância, pois o assunto foi tratado seriamente, sem nenhuma tentativa aparente de exageros, ainda que eu não tenha entendido perfeitamente a lógica de como alguém é contaminado no contexto apresentado. Além disso, o roteiro de Alex Delyle, responsável pelo excelente Buried e pelo mediano The Code, ambos da temporada anterior, não conseguiu dar cabo da situação sem fazer uso de conveniências narrativas como por exemplo Alicia não ter matado justamente o desmorto radioativo.
6º Lugar: Words Per Minute
5X10
Até a premissa do episódio funciona bem, já que é um bom uso da temática do “bom samaritano” que perpassa toda a temporada. No lugar dos insuportáveis discursos de auto-ajuda, temos uma eficiente desculpa para vermos a ideia materializar-se em ação. Um homem que viu a fita publicitária de Al entra em contato com o grupo dizendo que está morrendo e que gostaria de ser enterrado debaixo das estrelas. Poético e até um pouquinho brega, mas que soa bem e se encaixa harmoniosamente na lição que os showrunners desejam tão desesperadamente passar.
5º Lugar: Here to Help
5X01
E Here to Help é, basicamente, representativo desse vai-e-vem qualitativo da série como um todo, começando com excelentes sequências a partir do ponto de vista de dois meninos caçando na floresta que nos apresentam de maneira dinâmica ao novo status quo da série, como nossos heróis, ainda liderados por Morgan Paz e Amor, mergulhados de cabeça em sua missão de ser a Cruz Vermelha do apocalipse zumbi, o que inclui pilotar um avião e cair com ele quase na cabeça dos jovens. O acidente é bem trabalhado e não dá tempo para o espectador pensar exatamente no que está acontecendo dada a urgência da situação, a quantidade imensa de zumbis, o ferimento de Luciana, a fúria ensandecida de Alicia e a tentativa de Al e June de saírem do cockpit com a ajuda do sempre amoroso pistoleiro Dorie.
4º Lugar: Still Standing
5X07
O ponto focal, aqui, repousa em Alicia no que pode ser o começo do fim completo da família Clark na série se o spray de sangue que ela levou na cara realmente for radioativo. A personagem que deveria ter sido transformada em líder do grupo tem um belo momento catártico graças aos Garotos Perdidos que ela quer salvar a todo custo, mas não por razões puramente altruístas e sim para expiar seus pecados. Mesmo que tenha havido um pouco demais de texto expositivo nesse tocante quando ela conversa seriamente com Annie, a ação que se segue é muito boa, em um crescendo de desespero que fez todo o conjunto funcionar muito bem.
3º Lugar: Humbug’s Gulch
5X03
E foi divertido mesmo. Todas as sequências na cidadezinha de uma rua só, com direito a tumbleweed, trilha sonora evocando Ennio Morricone e John Dorie completamente em casa, como pinto no lixo, foram o supra-sumo da simpatia desmorta. E isso apesar dos discursos edificantes e do “amorzinho” que tivemos que ouvir aqui e ali, entre tiros e fugas pelo segundo andar. Eu poderia muito facilmente assistir uma temporada inteira da série só com as aventuras dos dois, de preferência durante um apocalipse zumbi no oeste americano no século XIX, mas sei que isso nunca acontecerá…
2º Lugar: End of the Line
5X16
End of the Line prova que não é preciso muito para fazer uma boa história passada no apocalipse zumbi. O retrabalho de conceitos já usados e até de clichês é suficiente quando o roteiro é bem azeitado e a direção sabe fazer proveito disso, como é exatamente o caso aqui. Para começar, o uso de Dwight como aquele que traz a esperança de volta ao grupo foi uma escolha inspirada por não só dar mais importância a um personagem muito interessante que soube migrar bem da vilania para a boamocice, como também por fazê-lo encontrar sua redenção final quando retorna aos amigos com os cavalos que, em uma simples, mas eficiente sequência de tensão, encontrara em seu caminho de fuga, de revolta com o que ele viu como sendo a desistência de Morgan.
1º Lugar: The End of Everything
5X05
O roteiro, escrito pelos showrunners, mostra toda a capacidade da dupla de escrever algo de grande significado, mas sem precisar esfregar esse significado na cara dos espectadores como eles vêm fazendo na direção geral da série com a história do “bom samaritano” que não cansou pelo que ela é, mas sim pela forma como ela é transmitida. Se o título fala no “fim de tudo”, o episódio é exatamente o começo de algo bem pequeno, uma história de amor proibido disfarçada de narrativa macro que pode deixar muita gente chateada pelo quanto que finge que vai revelar, sem, na verdade, revelar nada sobre o grande mistério que cerca as duas séries do zumbiverso de Robert Kirkman: afinal, que organização é essa responsável pelos helicópteros que levaram Rick Grimes embora na 9ª temporada de The Walking Dead?